Capítulo 13
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 13
Bruna entrou correndo pelos corredores do Hospital Helena Sontag e só parou quando ouviu Ricardo lhe chamando.
-- Bruninha. Espera - segurou-a pelo braço.
-- Como está meu pai Ric? - perguntou nervosa.
-- Calma Bruna. Ele está bem - passou o braço por cima do ombro da loira e a conduziu pelo corredor central - Foi apenas um susto. O doutor Felipe, cardiologista, agiu rapidamente e todos os exames de praxe já foram realizados.
-- Graças a Deus - passou a mão pelo rosto, sentindo-se aliviada.
-- Vai lá falar com o doutor Felipe, ele está na sala - deu um empurrãozinho carinhoso na garota.
-- Vou sim. Obrigada Ric - Bruna bateu na porta da sala do doutor Felipe e entrou.
-- Bruna, minha garota - o cardiologista a recepcionou de braços abertos.
Doutor Felipe é um médico experiente e amigo de longa data de Nestor. Está no Helena Sontag há anos e é um dos cardiologistas mais conceituados do Rio de Janeiro.
-- Doutor Felipe como vai? - abraçou o cardiologista que a conhecia desde criança.
-- Muito bem meu anjo - afastou-se um pouco e a olhou de alto a baixo -- Was für eine schöne frau (Que bela mulher).
-- Danken Sie Ihnen Arzt (Obrigada doutor).
-- Estou vendo uma ruguinha de preocupação nesse rosto lindo - passou a mão pelo rosto da garota.
-- Não é pra menos - sorriu - Levei um susto enorme.
-- Entendo a sua preocupação - retornou ao lugar aonde estava sentado anteriormente, entrelaçou os dedos sobre a mesa e olhou sério para a filha de Nestor - Serei sincero com você Bruna - estava com o semblante preocupado - Seu pai está à beira de um infarto. Tenho alertado incessantemente, mas ele não me ouve. Nestor é muito teimoso e continua levando essa vida estressante e sedentária.
-- Terei uma conversa séria com ele doutor Felipe, eu prometo - falou desolada.
-- Mais uma coisa... - ele suspirou profundamente e esticou o braço até alcançar as mãos de Bruna - Converse com sua mãe e sua irmã e peça a elas que evitem qualquer situação que gere estresse ou pressão desnecessária.
-- Eu não acho que o problema esteja lá em casa doutor - não concordou com o médico - Mas, mesmo assim vou pedir. Lá em casa dificilmente discutimos ou fazemos cobranças a papai.
-- Eu acredito, mas é melhor "pre-ve-nir" - falou pausadamente. Praticamente soletrando.
-- Entendi, entendi - pausou, inclinou-se um pouco para a frente e perguntou: -- Posso olhar os exames?
Doutor Felipe coçou o pescoço com o dedo indicador.
-- Claro...claro - esfregou as mãos - Só que hoje não será possível. Enviei para ser laudado.
-- Que pena. Olharei outro dia então - levantou, estendeu a mão para o homem de cabelos grisalhos - Até mais doutor.
-- Até Bruna -- olho-a fixamente.
Bruna saiu da sala do doutor Felipe e foi à procura do pai.
Na Barra...
-- Qualquer coisa me liga. Ok? - Victória suspirou fundo - Beijo ---- desligou e ficou olhando para o celular.
-- Não precisa nem me falar - Thiago estava indignado - Esse cara é um chato isso sim.
-- Não fala assim Thiago. Tudo bem que essa doença do Mô veio atrapalhar todos os meus planos, mas, ele não tem culpa disso.
-- O que vai fazer agora? Desistir de tudo?
-- Não, imagina. Desistir jamais. Só não posso terminar com ele agora. Vai que ele dá um treco.
-- Que dó. Logo agora que a gente estava tão animado - sentou no sofá jogando a cabeça para trás.
-- O que é isso não fica assim desanimado que nem baile sem cordeona.
-- O final de semana em Niterói está de pé não é gaúcha?
-- Claro seu bobão - abraçou o amigo - Não vou perder por nada desse mundo.
-- Acho bom mesmo. Estou muito ansioso.
-- Olha, olha. Veja lá o que vai aprontar guri.
Victória disse enchendo o rosto de Thiago de beijos. Ele a olhou direto com cara de quem ia aprontar algo.
Bruna encontrou o pai falando no celular. Assim que a viu entrar, desligou e a olhou sorrindo.
-- Filha que surpresa - levantou e foi em direção a ela de braços abertos.
-- Me chamaram - aconchegou-se entre os braços do pai - Doutor Nestor e aquela velha máxima que diz: "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço." Não é mesmo papai?
-- Minha filha, trabalhar sempre foi um prazer para mim - deu um beijo na cabeça da caçula.
-- E deve ser mesmo pai, mas até o prazer deve ter um limite - sorriu -- Todos têm um limite de tolerância a partir do qual o psiquismo e a saúde são prejudicados. Tenta se desligar um pouco pai. Parece que médicos existem para tratar das pessoas doentes e, portanto, estão simplesmente proibidos de ficarem doentes.
Relembrando um adágio popular: "Duas coisas me custa crer, religioso pecar e médico adoecer." Ambos, o religioso (padre, pastor, rabino) e o médico, são seres humanos, e mesmo imbuídos dos seus respectivos papéis acabam por apresentar as "falhas humanas".
-- Nunca me imaginei levando um pito da minha garotinha - sentou e puxou a garota para o colo - Eu sei meu amor que estou exagerando, mas as vezes tenho a impressão que o dia parece ter muito menos do que 24 horas e o ano, sem exagero, me dá a sensação de ter apenas seis meses.
-- Vou apertar o botão "desligar" - girou a orelha do pai como se desligasse um botão - Tira umas férias papai, quebra essa rotina. Tenha um período de reestabelecimento e de recarga de energias. Depois volta novinho em folha - acariciou o rosto do pai com carinho - Não quero te perder papai. Você ainda nem tá velhinho de bengala.
Nestor sentiu uma pontada de remorso, era como se estivesse traindo a filha. O amor dela era o único que sentia ser verdadeiro, fiel e que valeria a pena, mas suas atitudes sempre pendiam para o erro de dar mais valor ao poder e aos amores fúteis.
-- Vou indo pai. Agora estou mais tranquila. Vai pra casa descansar. Ao menos uma vez na vida, pensa em sua saúde e não somente na de seus pacientes - beijou o pai e saiu pensativa.
Precisava conversar com a mãe e com Priscila, elas precisavam mudar de atitude com relação ao pai. O ambiente em casa tinha que mudar, há isso tinha.
Mais tarde no Leblon.
-- Não acredito que ele teve coragem de fazer isso? - Priscila estava revoltada com o pai.
-- Prí, não fala assim - Sabrina previa problemas - Pode ser verdade e aí você vai ficar com a consciência pesada. Sem contar que a Bruna vai ficar chateada com você.
Priscila parou para pensar por alguns instantes. Não pelo pai, pois tinha certeza que era armação dele, mas pela irmã. Bruna ficaria uma fera se ela sequer sonhasse que a irmã estava cogitando a hipótese do pai estar mentindo.
-- Você está certa - concordou - O melhor mesmo é fazer cara de paisagem e segurar o riso quando a Bruna vier falando do papai dela.
-- Você fala com uma ironia que me assusta Prí -- Sabrina riu da careta da amiga.
-- Não sou irônica, papai me deixa assim - fez um gesto com a mão de deixa pra lá.
-- Fiz as reservas da pousada para o final de semana - deu um pulo e sentou ao lado de Priscila no sofá - Três quartos.
-- Deixe-me ver se adivinho - segurou o queixo com uma das mãos - A Bruna fica em um chalé com a Vic, o Ric em um chalé com o Thiaguinho e eu...Que difícil...Estou quebrando a cabeça para adivinhar.
-- Pára né Priscila, não vai querer estragar o fim de semana deles - deu um sorriso vitorioso.
-- E eu acredito - deu uma gargalhada - Nem vem que não tem. Vou com o meu namorado.
-- Você nem tem namorado Priscila.
-- Arrumo, peço um pela internet, alugo, sei lá qualquer coisa. Menos dormir sozinha com você. Da última vez passei a noite inteira no banheiro, sentada no bacio brincando de Candy Crush no celular.
-- Sério? E eu pensando que o marisco da janta havia lhe feito mal - falou decepcionada.
-- Quem está com dor de barriga?
Bruna entrou, jogou a mochila no chão e jogou-se no colo de Priscila.
-- Ninguém. Sua irmã que se acha -- cruzou os braços fortemente - Tô nem aí pra ela.
-- Acho bom mesmo, sua safada -- sacudiu um dedo como se fosse um porrete.
-- Isso mesmo maninha. Me defende -- beijou o topo da cabeça da irmã e mostrou a língua para Sabrina.
-- Tudo bem. Então eu durmo em um chalé com a gostosa da Victória e você dorme com a mana - falou para provocar Bruna.
-- Claro que não. Você dorme na Pick-up - levantou e pegou a mochila do chão.
-- Perereca suicida, se joga e quica, se mata e quica / Perereca suicida, se joga e ...
Sabrina começou a cantar e dançar fazendo coreografias pela sala.
-- O que significa isso? - Priscila não entendeu.
-- É uma coreografia que eu e a Sabrina estamos ensaiando - acompanhou a amiga em alguns passinhos - É a pereréca suicida, né Sabrina.
-- É, mas pode se tornar plano suicida - entrelaçou as mãos atrás das costas - depende.
-- Sua traidora, chantagista - Bruna passou por ela e sussurrou em seu ouvido - Vou subir, tomar banho, me perfumar e ir até a Tijuca.
-- Bruna, o pintinho não tinha perna foi ciscar e caiu - Sabrina deu uma gargalhada.
-- Engraçadinha. Quem acha tudo goz*do é faxineira de motel - saiu correndo para o quarto subindo os degraus de dois em dois.
-- Estou vendo o dia que ela vai ganhar um corridão lá da Tijuca - Priscila olhou para a escada com uma expressão de lamento.
-- Acho que isso não vai acontecer. A Vic gosta muito dela e vai saber contornar a situação caso não queira experimentar as maravilhas de um romance lésbico -- segurou o queixo de Priscila com calma fazendo-a fita-la e fez um biquinho.
-- Eu mereço isso - a morena obrigou-se a sorrir.
Horas depois na Tijuca.
-- Eu hem. Para que toda essa produção? - Thiago assim que entrou no apartamento da amiga notou a sua elegância.
-- Obrigada, mas não exagera. Estou bem básica - voltou para a frente do espelho.
-- Vai aonde tão básica assim, então? - ironizou.
-- Vou dar uma volta com a Bruna. Ela vem me pegar daqui a pouco.
-- Posso ir junto? - perguntou e preparou-se para levar uma bronca.
-- Tá brincando né? - olhou para ele pelo espelho.
-- Só perguntei - choramingou.
-- Porque não sai com o Ric?
-- Estou me fazendo de difícil. Depois que levei a surra daqueles caras fiquei traumatizado.
-- Que bom que aprendeu, apesar de eu achar que com o Ric não há perigo algum. Ele é um autêntico Gentleman!
-- Você também acha?
-- Acho. E se eu fosse você o agarraria com unhas e dentes.
-- Estou me guardando para o momento certo.
-- Ui, isso foi profundo Thiago - brincou.
A campainha tocou.
-- Atende lá Thiaguinho, deve ser a Bruna. Diz pra ela que já vou - começou a passar o batom.
-- Olá. Que surpresa você aqui - Bruna olhou para os lados - Victória?
-- Está terminando de se arrumar desde as 18:00 - olhou no relógio - Agora são 20:00, até as 22:00 ela termina.
-- Não tenho pressa. "A noite é uma criança, o bar é um brinquedo. Não sou eu que bebo pouco, é o bar que fecha cedo." - cantou.
-- Sem graça - Thiago falou emburrado.
-- Thiago você anda muito chato ultimamente, receito para você... - fingiu estar preenchendo uma receita - Sexo pelo menos 3 vezes por semana.
-- Que história é essa doutora? - Victória enroscou os braços ao redor do pescoço de Bruna e lhe deu um beijo no rosto.
-- Estou dando uns conselhos para o meu amigo Thiago - retribuiu abraçando-a pela cintura.
-- Podemos ir Bruna - Victória pegou a sua bolsa de cima do sofá e deu um beijo em Thiago - Se cuida.
-- Vamos. Não faz arte Thiago - Bruna deu um tchauzinho com a mão.
Bruna dirigiu até Copacabana e parou o carro próximo ao calçadão. Entrou em um barzinho e comprou duas garrafinhas de Whisky Jack Daniels.
-- Gosta? - ofereceu uma para Victória.
-- Adoro.
-- Vem comigo - entrelaçou a sua mão a dela.
Atravessaram a rua, se dirigindo até a orla da praia. Começaram a andar, conversando assuntos sem muita importância.
Existe sempre movimento nas areias de Copacabana durante o dia ou no calçadão durante a noite, como pessoas tomando cerveja ou sucos, cantando, comendo, pessoas caminhando e passeando, enfim, se distraindo e se divertindo.
-- Vamos sentar aqui? - Bruna apontou para um banco.
-- Legal né Bruna, essa ideia de iluminar a faixa de areia. Foi um sucesso, agora pode-se ver pessoas jogando futebol ou vôlei de noite.
-- É verdade, os quiosques são uma atração à parte para quem gosta de petiscos, sucos, beber um chopp ou tomar um drink à beira mar. Alguns em determinadas horas tem alguma música ao vivo tipo banquinho e violão.
-- Você conhece algum? Adoraria ouvir música ao vivo a beira mar - Victória empolgou-se com a ideia.
-- Claro, tem um quiosque logo alí na frente - Bruna encantou-se com o sorriso de felicidade de Victória. Ela parecia uma criança ansiosa por um presente - Vamos até lá - ofereceu a mão para a morena levantar.
Deram as mãos e caminharam pela areia até chegarem a um quiosque que estava lotado, música ao vivo e o pessoal na maior animação acompanhando o cantor com palmas e batuques na mesa.
Victória estava com os olhos brilhantes. Adorava esse tipo de programa, achava o máximo.
Bruna buscou duas cadeiras e sentaram-se de frente para o rapaz que naquele momento cantava Fullgás da Marina Lima.
-- Ele canta muito bem e eu amo essa música.
-- Eu também - Bruna olhou para ela e sorriu lentamente, pegou nas mãos dela e cantou:
Meu mundo você é quem faz
Música, letra e dança
Tudo em você é fullgás
Tudo você é quem lança
Lança mais e mais
Só vou te contar um segredo
Não nada, nada de mal nos alcança
Pois tendo em você meu brinquedo
Nada machuca nem cansa...
Victória estava com o olhar fixo na linda e deliciosa garota a sua frente. Ergueu a mão e a passou com amor sobre o rosto da loira.
Fim do capítulo
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