Capítulo 14
-- Marcela? -- Samantha e a garota falaram juntas. -- Ai que bom que é você que está aqui. -- Apenas a garota continuou. -- Cadê o papai e a mamãe? -- Perguntou. Mas a pergunta de Samantha era: Tá fazendo o que aqui?
-- Preferia que seus pais estivessem vindo? Vim ver como estava a minha irmã desnaturada, mas pelo visto, está sendo bem cuidada. -- Marcela disse séria aproximando da menina ficando ao lado da cama onde ela estava deitada e depois olhou Samantha.
-- Sua irmã? -- Samantha estava deveras surpresa. -- Marcela você nunca me disse que tinha uma irmã. -- Samantha disse fitando-a.
-- Você se conhecem? -- A garota perguntou olhando de Samantha para Marcela.
Samantha apenas voltou a concluir seu trabalho deixando a pergunta para Marcela responder.
-- Sim... mas não vem ao caso agora. -- Marcela olhava a irmã. -- Como você sai de moto com aquele idiota, Lizandra? Ele nem carteira tem e você sabe disso. Você é menor de idade, está vendo no que deu sua aventura sem noção? -- Marcela parecia uma outra mulher ao olhos de Samantha, preocupada com a irmã, dando sermão e tudo mais... A garota apenas ouvia de cabeça baixa. -- E se estivesse acontecido coisa pior? Como seus pais iriam ficar? Como eu ficaria?
-- Eles já sabem? -- Perguntou preocupada.
-- Não, ligaram para mim.
-- Graças a Deus. -- Promete que não vai contar pra eles? Por favor?
-- E como você vai explicar esses arranhões todo e esse enorme corte na sua perna? -- Marcela disse a avaliando.
Samantha já havia terminado e levantou fitando Marcela, estava surpresa com suas atitudes, mas não falaria nada. Olhou a menina e sorriu, percebendo uma certa semelhança entre elas.
-- Não sei. -- Lizandra respondeu triste.
-- Realmente não tem como esconder, Lizandra. -- Samantha concordou. -- Levou doze pontos e você vai precisar andar apenas de short para não machucar, se quiser que não fique uma cicatriz forte. E nada de movimentos bruscos nos próximos dois dias, repouse, ouviu bem? Vai precisar voltar para tirar os pontos. -- Samantha esclarecia.
-- Ok. Droga, meus pais vão me matar.
-- Que nada, eles não vão saber! -- Marcela disse sorrindo.
-- Como não? -- Samantha e Lizandra perguntaram.
-- Você ficará no meu apartamento, eles não vão me visitar mesmo. -- Deu de ombros. -- E com a rotina deles, vão agradecer você não ficar em casa, os cobrando atenção. Quer? -- Marcela indagou olhando a irmã.
-- Legal. -- Comemorou e abraçou a irmã.
-- Mas com uma condição.
-- Hii, qual?
-- Nada de moto pelos próximos dez anos, ou até você tirar sua própria carteira.
-- Tudo bem. Mas o Cris pode ir me visitar?
-- Tudo bem, mas sem moto, já disse!
-- Tá. Ele ficou pior do que eu, coitado. Mas juro que não estávamos errados, o cara lá do carro que passou na nossa frente e ai nós batemos. -- Lizandra comentava.
-- Como ele está? -- Marcela perguntou olhando Samantha.
-- Um pouco pior, mas está bem, os pais dele já está com ele. -- Samantha começou a arrumar uns materiais numa bandeja e a jogar outros no lixo.
-- Posso ir vê-lo? -- Lizandra perguntou.
-- Não. Sinto, mas você terá que ficar em repouso, perdeu muito sangue e não pode movimentar a perna por muito tempo. -- Samantha explicou a olhando.
-- Tudo bem. -- Conformou-se.
-- Fique à vontade. -- Samantha tirou as luvas e pôs no lixo. -- Lizandra, só terá alta daqui a umas três horas. Vou levar isso e depois volto para receitar uns remédios.
-- Ok. -- Foi o que Marcela disse.
Samantha pegou a bandeja e saiu. -- Esquisito, muito esquisito! -- Disse alto ao sair da sala.
-- O que é esquisito? -- Sheila perguntou começando a andar ao lado de Samantha.
-- Você sabia que a Marcela tem uma irmã? -- Samantha parou fitando a amiga.
-- Eu não!
-- Leva isso para mim. -- Samantha pediu para um técnica de enfermagem que estava perto delas. -- Obrigada. -- Agradeceu. -- Pois ela tem uma irmã. Acabei de descobrir isso, enquanto fazia uma sutura em uma paciente e ela me aparece chamando a menina de irmã e dando sermão, toda responsável, parecia outra pessoa... Juro, não era a Marcela que namorou comigo! -- Samantha falou convicta.
-- Besteira, ela quer te confundir e voltar pra você, está representando, só porque sabia que poderia te encontrar aqui, ou já esqueceu de hoje de manhã?
-- É... -- Samantha ponderou. -- Você tem razão... Mas a irmã parece gostar dela... Marcela, nunca me falava sobre os pais, a família, e eu também nunca perguntei. -- Lembrou. -- Agora isso me é tão... esquisito!
-- Para de devaneios, Samantha. -- Sheila a repreendeu.
-- Sério, Sheila, como eu consegui conviver com uma pessoa e não saber nada sobre ela? E não estou falando só da Marcela, tem a Cida, a Janaina, enfim... Me diz, eu sou tão indiferente com as pessoas que não são da minha família, convívio? -- Samantha inqueriu olhando Sheila.
-- O que que é Samantha? Crise de essência agora? Claro que não! Você é Médica, adora ajudar as pessoas, exemplo é que tem uma desconhecida na sua casa. É só seu modo de viver a vida, também não precisa sair indagando todos que ver pela frente, existe um tempo de convivência para isso, pessoas vem e vão, às vezes ficam, ou deixam apenas lembranças... A vida é assim. Agora para com isso, ok?
Samantha riu. -- Tem razão.
-- Mas agora me diz, tá fazendo o que na emergência?
-- Arhrh. -- Samantha lembrou sobre o problema que tinha que resolver. -- Os dois médicos escalados para ficar aqui não vieram. Sheila, preciso acabar com isso, só porque é a área destinadas ao atendimento público muitos não se dedicam para fazer seu trabalho. A mais isso não vai ficar assim! Sheila quero uma reunião com todos os responsáveis por cada setor, e principalmente, esses dois, amanhã, a tarde, pode ser às quinze horas!
-- Ok, mas não vai esperar seu pai, ele sempre gosta de estar presente. -- Sheila advertiu.
-- Não Sheila, não dessa vez. Vou acabar com essa folegarem, aqueles que trabalham neste hospital, não vão querer mais sair da linha de novo, e melhor, aqueles que ainda reclamarem por trabalhar no máximo seis horas por dia com material e estrutura de qualidade, já vão se acostumando com o tumulto de pessoas num pequeno espaço, que são muitos hospitais que infelizmente ainda existe nesse País. Porque não vou pensar duas vezes em demitir esses médicos, Sheila, não vou mesmo! -- Samantha disse séria.
-- Ok. -- Sheila sabia que Samantha falava sério. -- Ainda vai ficar aqui?
-- Vou, vai ser o jeito, mas só até as seis. Espero que o responsável por ficar nesse horário, me apareça.
-- Vai chegar. -- Sheila disse. -- Mas me conta, meu pescoço tá à salvo? -- Sheila perguntou e Samantha riu.
-- Está sim. Pra falar a verdade ela me surpreendeu, eu cheguei e ela correu para me abraçar, nem falou nada, só depois que pediu desculpa, acho que seria por ter deligado o celular.
-- Mas vocês não conversaram?
-- Pra falar a verdade não, não precisou, não com palavras!
-- Hum... Ela está com o Olavo?
Samantha olhou a hora. -- Não mais, droga, ela já saiu a dez minutos, deve estar na minha sala.
-- Vou lá e digo que você está aqui. -- Sheila já ia saindo.
-- Ei, tá doida? A Marcela, está no quarto aqui do lado.
-- Ah é! E o que eu faço? Ela vai querer te ver e você não pode sair daqui.
-- Será que vai acontecer alguma tragédia se eu sair por uns quinze minutinhos? -- Samantha perguntou fazendo um drama e sorriu.
-- Acho que não, vai lá, eu fico aqui. -- Sheila sugeriu. -- Qualquer tragédia, eu te chamo, só espero que vocês estejam vestidas! -- Sheila disse e Samantha gargalhou.
-- Isso eu já não prometo. -- Falou e saiu ao encontro de Amanda.
* * * *
Amanda estava na sala de Samantha sentada na cadeira em frente ao computador, brincando de paciência. Sua consulta já havia terminado e não tinha encontrado nem Samantha, nem Sheila. Então resolveu passar o tempo jogando, e enquanto fazia isso, relembrava sobre o progresso que havia conseguido na consulta com o Olavo, ele tinha a ajudado bastante. E de repente teve uma ideia, fechou a guia do jogo e abriu outra.
-- Natelly do Vale Bartovisk... Acho que é assim, enter! -- Amanda havia digitado o único nome que lembrava no “google”. -- Vamos ver. -- Falou procurando algo que lhe chamasse a atenção. -- Natele do Vale Gouveia? Não, esse não, vamos ver esse. -- Clicou novamente. -- Naty Barbosa? Pior ainda... -- Amanda olhava a tela, mas não encontrava nada de interessante. -- Gente que adolescente é essa que não tem uma rede social? -- Amanda divagava. -- Natalia Gomes? Não... Vai, Amanda, pensa ai, porque sua filha não tem uma vida pública? Nada? -- Amanda percorria com o cursor procurando o nome da filha ou algo sobre ela. -- Vamos tentar, Natelly Bartovisk. -- Amanda digitou. -- Hum, Nateli, com “i”? Não, com “i” não... CIA Bartovisc? Saco! Eu desisto! -- Amanda disse rendida fechando a janela de sua pesquisa, sem perceber que mais em baixo havia um nome que podia lhe interessar: Construções e Advocacia Franco & Bartovisk.
-- Desiste do que? -- Samantha perguntou entrando.
-- Amor. -- Amanda levantou e foi até ela a recebendo com um beijo. Samantha a abraçou a apertando mais contra seu corpo.
-- Assim eu vou querer entrar aqui e sempre ser recebida desse jeito.
-- É?
-- Sim. -- Samantha a beijou novamente.
-- Então, sempre que eu estiver aqui, eu te recebo com um beijo, pode ser?
-- Pode.
-- Quer me beijar de novo?
-- Claro, temos que praticar! -- Samantha, a beijou mais intensa, a conduziu até a mesa e a sentou nela. -- Ainda no beijo. -- Eu te amo. -- Falou a olhando sorrindo, lhe fazendo um carinho no rosto.
-- Também te amo. -- Sorriu. -- Tenho novidades.
-- Têm?
-- Sim, consegui lembrar mais algumas coisas.
-- Fico feliz. O que você lembrou? -- Perguntou curiosa.
-- O nome completo da minha filha e mais outras coisas. -- Disse risonha. -- Depois te conto com calma, pode ser? Quero curtir mais você!
-- Claro, agora quero mais beijinhos. -- Samantha disse sorrindo.
* * * *
Agatha brincava com algumas crianças na frente da escola de Inglês, enquanto esperava, Susan.
-- Agatha? -- Uma menina a chamou se aproximando. -- Aquele homem que falar com você. -- Apontou para a lateral da escola onde a parte era cercada por grades de ferro. Agatha olhou na direção apontada e um homem bem vestido num terno lhe sorriu.
-- O que ele quer comigo? -- Agatha perguntou para a colega.
-- Não sei, disse que era amigo de sua mãe.
-- Hum. -- Agatha deu de ombros e foi até o homem, mas manteve uma distância considerada das grades. -- Quem é você? -- Perguntou olhando o homem, alto, barba bem feita, cabelos pretos, olhos castanhos, ele sorriu.
-- Sou amigo da sua mãe, Samantha, ela pediu para mim vim aqui te buscar, vamos? -- Falou com uma simpatia não verdadeira.
Agatha o olhava desconfiada, lembrando que sua mãe sempre lhe falava que não era para ela conversar com estranhos.
-- Não... Mamãe me diz que não devo falar com estranhos e você é estranho! -- Disse convicta.
O Homem desfez o sorriso, percebendo que a menina tinha audácia, mas tinha que se controlar se queria cumprir seu propósito.
-- Não fofa, eu sou amigo dela tá ligado. -- Se repreendeu mentalmente por ter falado o “tá ligado”, mas continuou. – Então, não sou um estranho... -- Disse voltando a sorrir. -- Vou te provar que sou legal. -- Pois a mão no bolso e tirou um bombom. -- Comprei pra você, vamos e eu te dou, e posso até comprar uma caixa todinha pra você, quer?
Agatha o fitava ainda séria, mas sorriu ao ver o chocolate e o desfez ao lembrar de outro aviso da mãe.
-- Não posso aceitar coisas de estranhos, mamãe sempre me diz isso também! -- Explicou.
O homem bateu forte na grade com a mão direita, exaltado, assustando Agatha que, deu dois passos para trás. Ele vendo que estava estragando tudo, sorriu mais calmo.
-- Era um bicho, ele me picou e eu o matei, está no chão, não vai mais machucar ninguém. -- Sorria descarado.
-- Mentiroso! -- Agatha pronunciou gritando. -- Minha mãe disse que não posso sair daqui, nem da escola, nem da natação e nem de casa, se não for com ela, com a tia Alex, tia Susan, tia Julia, tio Murilo, vovô...
-- Tá já entendi! -- Interrompeu com raiva. -- Sendo assim, você vai passar a noite ai, tá ligado? Porque ela me pediu para te buscar, mas você não quer ir, é uma filha malcriada, sacou? Menina mau, tchau. -- Mais uma tentativa frustrada, ele pensou furioso e saiu, enquanto Agatha o olhava afastando-se.
-- Agatha?
Agatha foi despertada pela voz de Susan a chamando no portão.
-- Tia! -- Gritou correndo a seu encontro.
-- Mocinha, parando. -- O porteiro disse quando ela chegava no portão, ainda fechado. -- Nome? -- Perguntou com um tablete em mãos.
-- Ah seu Gregório, toda vez isso? Meu nome o senhor sabe. -- Agatha disse o fitando aborrecida e o homem sorriu.
-- Regras da casa, mocinha. -- Fingiu seriedade e Susan riu, assim como ela, também achava chato. Mas era procedimento da escola, a criança falava o nome ou a pessoa que ia buscar falava o nome da criança e ele verificava a lista de pessoas permitidas.
-- Agatha Christine de Amélia Cooper Linhares. -- Agatha falou e bateu o pé cruzando os braços.
-- Nome de princesa. -- Gregório ressaltou e Susan riu mostrando sua identidade a ele que, dispensou.
-- Senhora, Susan Alencar, como vai? -- Ele a cumprimentou abrindo o portão, já se conheciam, fazia Agatha falar o nome só porque se divertia com a indignação dela.
-- Bem, obrigada... Vamos lindinha desfaz esse bico vai, se não, não ganha uma coisa que eu trouxe. -- Susan a alertou.
-- O que é? -- Agatha perguntou sorrindo.
-- Primeiro da tchau.
-- Tchau seu Gregório. -- Disse olhando o homem sobre o portão, que lhe deu um aceno de cabeça sorrindo e ela pôs-se a acompanhar Susan, que a conduzia até o carro segurando sua mão.
-- Tia o que é, é bombom?
-- Não. -- respondeu abrindo a porta traseira do carro.
-- Ah... Posso ir na frente?
-- Não.
-- Quando eu vou poder andar na frente, então?
-- Depois dos doze anos eu acho, daqui a seis anos. -- Susan explicou colocando o cinto de segurança na afilhada.
-- Vai demorar! -- Agatha reclamou. -- Então, o que a senhora trouxe pra mim? -- Insistiu quando Susan entrou no carro.
-- Olha. -- Disse pegando uma caixa no banco do passageiro e entregando para ela.
Agatha abriu rapidamente o objeto e seus olhos brilharam de felicidade quando viu o que era.
-- Tia... maneiro! Agora eu posso desenhar como a senhora faz, legal! -- Agatha a olhou. -- Obrigada! -- E voltou a fitar a caixa em sua perna. Olhava os vários lápis, três borrachas, esfuminho, três grafites, um apontador.
Susan a olhava contente, por fazê-la feliz. Tinha planos para logo mais poder comprar presentes para sua futura filha ou filho.
-- Tia me ensina a desenhar bonito como você? -- Pediu a olhando.
-- Claro que sim! Vamos começar assim que chegarmos, quer? -- Perguntou ligando o carro e saindo.
-- Muito bacana. -- Agatha olhava feliz seu novo material. -- Tia a senhora me ensina a desenhar também uma casa bonita, igual à que você faz?
-- Ensino sim, meu anjo. -- Susan a olhava pelo espelho retrovisor. -- Como foi a aula hoje?
-- Boa, hoje nos revisamos as saudações, mas eu já sabia, então nem precisava eu ter vindo. -- Não tirava os olhos do presente e Susan riu percebendo.
-- É mesmo, então vamos testar. Bom dia!
-- Good morning!
-- Boa tarde!
-- Good Afternoon!
-- Boa noite!
-- Good evening! Usamos ao encontrar uma pessoa ou chegar em um local. E good night! Ao despedir-se à noite.
-- Olha, parabéns! -- Susan a elogiou. Agatha pronunciava perfeitamente. -- Obrigada!
-- Thank you.
-- Muito obrigado!
-- Thank you very much.
-- Seja bem vindo.
-- You are welcome…
-- Até logo! -- Susan continuou.
-- Ah tia, não quero mais fazer isso não.
-- Ok. -- Riu. -- Já provou que sabe.
-- Tia um homem me disse que a senhora não vinha me buscar e que eu ia passar a noite lá na escola, que eu era uma filha malcriada... -- Agatha contou lembrando.
-- Que homem? -- Susan a olhou pelo retrovisor alarmada.
-- Não sei, não conhecia.
-- Me conta tudo, desde o começo.
Agatha descreveu tudo que havia acontecido e Susan a escutava atenta.
-- Fez bem em não aceitar o bombom e não chegar perto dele. -- Susan estacionou o carro e olhou para a menina. -- Olha pra mim. -- Agatha a olhou. -- Você é uma ótima filha, não é malcriada e nem má, ele queria ter ofender, por você não ter ido com ele. -- Susan explicou, e fez um carinho na afilhada. -- Nunca, ouviu bem, nunca fale com estranhos, ou aceite qualquer coisa, não aceite ir a lugar nenhum com ninguém que não seja eu, sua mãe, seus tios, avós... Promete que vai fazer sempre do mesmo jeito que fez hoje?
-- Prometo! -- Agatha respondeu determinada e sorriu.
-- É isso ai. -- Susan falou e arrancou com o carro, estavam quase chegando.
* * * *
Samantha havia ficado com Amanda durante vinte minutos e voltou para a emergência do hospital. Amanda ficou em sua sala, entretida conversando com Sheila, pois decidiu esperar Samantha para irem juntas, Samantha ainda insistiu para ela ir, que Sheila poderia leva-la, mas sem sucesso.
-- Samantha? -- Marcela a chamou.
-- Pois não? -- Samantha respondeu formalmente.
-- Acho que a Lizandra está com febre.
-- Vou ver isso. -- Samantha se dirigiu para o quarto onde estava a garota e Marcela a acompanhou. -- Ei... -- Falou ao entrar na sala, tocou a testa dela e estava realmente com febre e alta. -- É normal, mas não é bom.
-- Minha perna tá doendo! -- Lizandra admitiu olhando Samantha.
-- O corte foi grande e o efeito da anestesia já passou por isso a dor, e essa febre é seu corpo trabalhando sobre essa região. -- Samantha mostrou o corte na perna. – E também por causa do inchaço. -- Samantha pegou uma seringa e preparou um medicamento. -- Mas com isso a dor vai passar e sua febre baixar. -- Samantha interrompeu o soro que ela tomava e aplicou o medicamento e depois conectou o soro novamente.
-- Eu pensei que ia me furar de novo. -- Lizandra disse aliviada e Samantha riu.
-- Não, já furamos de mais por hoje. -- Sorriu.
-- Quando posso ir pra casa? Aqui é chato!
-- Não reclama, você caçou, aguenta! -- Marcela a repreendeu, mas de uma forma educada.
-- Eu só queria andar de moto, não cacei nada.
-- Infelizmente com essa febre e essa perna doendo e inchada, você não vai mais a lugar nenhum nas próximas quinze horas. -- Samantha explicou.
-- Não! -- Lizandra pronunciou de uma forma dramática se jogando na cama e fazendo as outras duas rirem. -- Ai. -- Sentiu a perna.
-- Nada de mexer essa perna mocinha! -- Samantha advertiu.
-- Liz, tá vendo o que sua aventura nos causou? Uma noite mega divertida num hospital. -- Marcela reclamou.
O quarto que Lizandra estava havia apenas a cama que ela estava e uma cadeira do lado, não era um quarto para se passar a noite, muito menos, com um acompanhante.
-- Vou transferi-la para outro quarto. -- Samantha falou olhando Marcela que, incrivelmente não havia feito nenhuma gracinha até o momento.
-- Isso! -- Lizandra concordou. -- Um que tenha televisão, por favor! -- Suplicou.
Samantha não pode deixar de rir.
-- Mais é folgada! -- Marcela disse a olhando.
Samantha ia dizer que ela tinha para quem puxar, mas preferiu ficar calada.
-- Só tem quartos assim na ala particular, queridinha -- Marcela avisou a irmã.
-- Vai Marcela, paga, ou você vai querer passar a noite sentada nessa cadeira. -- Lizandra mostrou a cadeira e Marcela fez uma cara de desgosto.
Samantha só as observava, iria mudar a garota de quarto sim, mas não cobraria nada de Marcela.
-- Está bem! -- Marcela concordou. -- Samantha, um quarto com televisão e um sofá cama bem grande. -- Pediu. -- Eu vou pagar! -- Avisou.
-- Legal! Valeu maninha. -- Olhou Samantha que, até então estava surpresa com o aviso. -- Doutora, que horas tem a comida hein? Eu estou com fome.
-- Lizandra! -- Marcela a repreendeu e Samantha riu, não da menina, mas do jeito de Marcela, definitivamente aquela mulher a sua frente não era a Marcela que conhecia!
-- Posso providenciar isso também, tem algum pedido especial, senhorita? --Samantha perguntou fingindo ser uma garçonete.
-- Samantha, não da corda! -- Marcela preveniu.
-- Ok, já volto! -- Samantha saiu. -- Paloma, quero um quarto com televisão, banheiro e sofá cama. -- Samantha pediu para responsável do cadastro.
-- Gente rica, hein? -- Paloma indagou providenciando.
-- Pra dizer a verdade nem eu sei!
-- Nome do paciente?
-- Lizandra... Espera. -- Samantha caçava o prontuário da menina no meio dos outros em suas mãos. -- Lizandra de Sousa Mezzomo. -- Samantha falou e rapidamente lembrou que Marcela, tinha apenas o último sobrenome. Seu nome completo era, Marcela Soares Mezzomo. Achou estranho, mas isso não era mais de sua conta nem de seu interesse.
-- Nome do acompanhante?
-- Marcela Soares Mezzomo.
-- Quarto 69. Qual a forma de pagamento? -- Paloma precisava saber.
-- Débito! -- Marcela foi quem respondeu logo atrás de Samantha com um cartão na mão.
Samantha não parava se ser surpreendida pela mesma. -- Paloma, será cartão à débito! -- Confirmou.
-- Ok, até quando?
-- De agora até amanhã, às oito. -- Samantha respondeu.
-- Ok... Assine aqui e aqui. -- Paloma indicou onde Marcela deveria assinar. -- Obrigada. Quer pagar agora ou depois?
-- Agora. -- Paloma pegou o cartão de Marcela.
-- Sua senha. -- Pediu e Marcela digitou rapidamente. -- Ok.
-- Mais alguma coisa?
-- Não, senhora. -- Paloma respondeu e fitou Samantha. -- Quer que eu providencie a transferência?
-- Sim, peça que sejam cuidadosos. -- Samantha ainda estava, confusa.
-- Ok.
Samantha olhou Marcela, tentava entender aquilo tudo.
-- O que foi? -- Marcela perguntou.
-- Não, nada!
-- Sam, queria tanto que me desse mais uma chance... -- Marcela falou e se aproximou de Samantha tentando pegar em seu rosto. Mas Samantha afastou-se sem deixar ser tocada pela mesma.
-- Volte para onde sua irmã, já já vão transferi-la, quando ela estiver no outro quarto peça algo para ela comer. -- Falou ríspida e se afastou. Aquela sim, era a Marcela que conhecia, atrevida, persuasiva. Mas dispersou esse pensamento ao lembrar de algo, sorriu, tinha coisas importantes a fazer.
* * * *
-- Legal, Amanda! -- Sheila disse após ter ficado a par de todos os avanços que Amanda havia feito, ao lembrar várias coisas sobre a filha, tanto mais cedo, quanto na consulta. -- Se você continuar assim, vai lembrar-se de tudo rapidamente. Pena que não encontrou nada na internet. -- Falou com pesar.
-- Pois é. -- Amanda suspirou. -- Tudo que eu mais quero é lembrar de tudo! -- Amanda anunciou. -- E ao mesmo tempo, tenho medo. -- Confessou. -- Será que tenho mais alguém além de minha filha? Será que estão me procurando? E porque essa demora toda da polícia em dar um parecer logo, e terminar com esse suspense todo? Internet não ajudou em nada. -- Completou conformada.
-- Não fica assim, logo tudo se resolve, vai ver. -- Sheila quis animá-la.
-- É tem razão! -- Sorriu. -- Sheila, ainda não te pedi desculpa por achar que você e a Sam...
-- Não precisa, não fiquei chateada. -- Riu. -- Eu e Samantha? Sem chances!
Amanda riu. -- Eu sei!
-- Tem certeza que quer esperá-la? Ela vai sair só as seis. -- Sheila avisou.
-- Tenho sim... Mas juro que não estou vigiando vocês duas! -- Completou explicando-se.
Sheila riu. -- Eu sei, nem pensei nisso! Relaxa. -- A tranquilizou e assustaram-se com o telefone tocando. -- Consultório da doutora Samantha Cooper. -- Sheila atendeu.
-- Sheilinha. -- Uma voz masculina a cumprimenta.
-- Quem e vivo sempre aparece. -- Sheila falou sorrindo. Era, Murilo, irmão de Samantha.
-- A que maldade... -- Murilo riu. -- Cadê sua chefe? O celular dela só dá ocupado.
-- Na emergência, o que deseja vossa pessoa com minha chefe?
-- É que papai e mamãe vão chegar amanhã da trigésima lua de mel. -- Sheila e Murilo riram alto. -- E sabe como é né? Decretaram feriado nacional, ninguém da família pode trabalhar, temos que dar as boas-vindas para os velhos, se não...
Sheila riu novamente, tudo era questão de comemoração, qualquer coisinha que fosse, tinha que reunir a família, seja para um almoço ou jantar.
-- Verdade...
-- Ei, papai até hoje me enche o saco porque faltei no almoço de comemoração da fundação da empresa, égua. -- Riu. -- Eu esqueci e a Jack também... A desculpa de comemorar com os funcionários e trabalhando não rolou.
-- Mas vocês hein? Até eu fui nesse dia, e vocês não... -- Sheila riu. -- Mas me conta, que horas é?
-- Rum, é o dia todo, papai já ligou avisando, eles chegam às dez. Ninguém pode faltar, nem trabalhar, como ele mesmo diz: Temos que comemorar a vida meus filhos a morte chega para todos, para uns antes, outros depois, mas é certa. Por isso, aproveitaremos enquanto há tempo. -- Murilo começou a falar e Sheila o acompanhou, ao terminarem os dois riram novamente.
-- Tá ok, vou falar pra ela.
-- Obrigada. Ei e nem pense que você escapa hein? Foi a primeira que ele citou depois dos filhos.
-- Mentira.
-- Foi sim. Falta pra tu ver, o velho te pega nas reclamações. E leva o pentelho do Edu, quero detonar ele no xadrez.
-- Tá bom! -- Sheila riu.
-- Tchau.
-- Tchau. -- Sheila desligou ainda sorrindo.
-- Quem era? Estava tão feliz. -- Amanda observou a olhando sorrindo.
-- Murilo, irmão da Sam.
-- Ah sim, vi ele em algumas fotos, a Agatha me mostrou.
-- Ele ligou para avisar que seu Henrique e dona Regina chegam amanhã, e como sempre, querem reunir a família, para um almoço. -- Sheila explicou. -- Parabéns, vai conhecer seus sogros!
-- O que? -- Amanda perguntou quase gritando e Sheila riu do espanto dela. -- Ei, não tem graça. E se eles não gostarem de mim? E ainda tem essa de eu não lembrar de nada... -- Estava mais nervosa agora. -- Sheila eu vou falar o que da minha vida? Que tenho uma filha sem lá com quem e... e... -- Amanda andava de um lado para o outro. -- Eu não sei nem meu nome verdadeiro... Droga, eles vão querer me manter longe da filha deles, isso sim! -- Realmente acreditava no que disse.
-- Amanda? -- Sheila chamou e ela nem lhe deu atenção de tão nervosa. -- Amanda? -- A chamou mais uma vez, mas só que mais alto e a tocando fazendo ela parar de andar. -- Calma... -- Amanda suspirou vencida. -- Eles vão te amar, vai ver, é só ser... Você. Ser quem acredita, quem vem sendo até agora, conquistou a todos, sem exceção, não precisar ter medo. Os pais da Sam, são muito legais, você vai amar conhecê-los e eles a você. -- Sheila disse convicta e Amanda acalmou-se mais. -- E ainda tem o fato de que, eles vão perceber a felicidade de Samantha, então, como te afastariam dela, por faze-la feliz? Não, claro que não! -- Concluiu e a abraçou, tentando acalmá-la.
-- Tem certeza? -- Amanda ainda estava receosa.
-- Absoluta! -- Disse ainda no abraço.
-- Devo ficar com ciúmes? -- Samantha perguntou ao entrar na sala assustando-as, desvencilharam as olhando sorrindo.
-- Menina... -- Sheila disse cínica e Samantha entrou na onda, fazendo cara de espanto. -- Como não me disse antes que a Amanda era...
-- Sheila! -- Amanda a interrompeu com certo receio.
-- Era tão dramática! -- Sheila completou e caiu na gargalhada. -- Sam, ela quase morreu quando eu disse que ela ia conhecer os sogros!
-- Ei? -- Amanda questionou. -- Também não exagera! -- Defendeu-se. -- Sheila ainda ria. -- Amor? -- Amanda pediu ajuda para Samantha que, a olhava sorrindo levemente.
-- Linda, Sheila tem razão, você vai conhecer meus pais, eles vão adorar você, vai ver, por que eu já te adoro! -- Samantha disse a abraçando pela cintura e a fitando com carinho.
-- Eu sei, mas não queria conhecê-los assim, sem lembrar de nada. -- Explicou. -- O que eu vou dizer amanhã, quando você me apresentar?
-- Amanhã? -- Samantha estava confusa.
-- Murilo ligou, seus pais chegam amanhã, às dez. -- Sheila quem avisou. -- E como sempre, reunião em família durante o dia todo.
-- Amanhã? E a reunião?
-- Vai ter que adiar, você mais do que eu, conhece seu pai. -- Sheila advertiu.
-- Tem razão. -- Samantha suspirou. -- Que seja. -- Deu de ombros e olhou Amanda. -- Assim eu te apresento para eles. -- Samantha disse contente e a beijou com calma. -- Vai ver como eles vão gostar de você. Não se preocupe. -- Samantha sorriu apaixonada. -- Podemos ir.
-- Então vamos. -- Amanda concordou.
-- Sheila reunião cancelada, na verdade tudo cancelado né! -- Riu.
-- Verdade. Vou avisar do cancelamento e também vou pra casa. -- Relatou.
-- Obrigada. -- Agradeceu a amiga. -- Vamos? -- Perguntou a Amanda.
-- Vamos. -- Amanda foi até Sheila e lhe deu um abraço se despedindo e agradecendo o carinho.
-- Até amanhã Sheila. -- Samantha a abraçou também lhe dando um beijo no rosto.
-- Tchau amor. -- Sheila retribuiu o carinho.
Samantha e Amanda saíram de mãos dadas, conversaram coisas banais no percurso da sala até o carro.
-- Amor, agora lembrei, quem era no carro de trás aquela hora? Conhecia? -- Amanda perguntou rindo ao estarem no carro.
-- Não sei, não conhecia. -- Samantha riu. -- Eu fiquei com muita, muita raiva. -- Samantha confessou olhando Amanda, queria um lhe dar beijo e faria isso.
-- Que foi? -- Amanda indagou ao ver o olhar de Samantha para ela, tinha desejo neles, carinho, amor...
Samantha sorriu e a puxou para mais perto, a fitou bem próxima, podiam sentir a respiração uma da outras. Samantha roçou seus lábios nos de Amanda e os afastou. Olhou para os olhos dela sorriu e desviou o olhar para a boca, Amanda fechou os olhos e esperou o beijo, mas Samantha apenas a olhava fascinada.
-- Você é tão linda! -- Samantha falou baixinho e Amanda suspirou abrindo os olhos.
-- Você também é. -- Sorriu. -- Eu te amo. -- Fez um carinho em seu rosto.
-- Eu poderia ficar a minha vida toda, apenas te olhando. -- Confessou. -- Nunca tinha sentido essa paz, esse amor... só sinto com você, por você! Eu te amo.
-- Você pode me olhar depois e me beijar agora? -- Amanda pediu num sussurro, enquanto aproveitava o carinho que, Samantha fazia em sua nuca, fechou os olhos e entreabriu a boca esperando o beijo que, Samantha fez questão de concretizar, assim que, ouviu o pedido de sua amada.
Amanda sentiu os lábios de Samantha roçar nos seus num beijo calmo, sem pressa e logo em seguida ela pedir passagem com a língua, que foi permitida sem atraso. Amanda, sentiu as mãos de Samantha sobre sua nuca, lhe fazendo um afago gostoso, enquanto que com suas mãos segurava o rosto de Samantha com carinho, amor... Depois de um tempo, que não souberam dizer qual, ela se separaram.
-- Vamos? -- Samantha perguntou, tinha planos para a noite dela, incluindo o pedido especial de Amanda.
-- Vamos. -- Disse e ajeitou-se no banco e colocou o cinto de segurança. Samantha a imitou ligou o carro e arrancou.
* * * *
Num ambiente afastado do centro da cidade, um lugar quase deserto, dois homens conversavam dentro de um carro.
-- Mas tu é um imbecil mesmo, dois dia a seguindo e até agora não conseguiu pegar a pirralha! -- O que estava sentado ao volante, falava exaltado.
-- Calma ai chefia. -- O outro defendeu-se. -- A pirralha “vevi” com gente por perto, não posso chegar sem ninguém me ver como tu quer não, tá ligado? E aquela peste é atrevida, não quis nem chegar perto de mim hoje, gastei meu trocado num bombom dos finos e nada, e por falar nisso tu vai me pagar sacou? -- Revelou
-- Escuta aqui seu infeliz. -- O homem o pegou colarinho, agarrando o terno que ele mesmo tinha comprado para o outro parecer mais apresentável e não despertar suspeitas. -- Eu não vou pagar nada, você ainda não cumpriu com o seu propósito! -- Ameaçou furioso.
-- Escuta aqui tu, meu chegado, eu posso ir agora mesmo na casa da gostosona lá e contar que tu me mandou sequestrar a filha dela. -- Sorriu satisfeito ao ver o homem a sua frente o soltar com receio. -- Quem sabe até descolar uma graninha. --Completou querendo tirar vantagem da situação.
-- Está bem! -- Estava revoltado por estar perdendo o controle da situação, mas iria usar isso a seu favor. -- Olha, eu pago o triplo se você me trazer a garota amanhã mesmo, não importa como você faça. Eu quero aquela pirralha no meu poder, entendeu?
-- O triplo? -- Estava fascinado com a proposta. -- Pode deixar, já tenho até um esquema, tá ligado, amanhã mesmo te trago a menina! -- Admitiu.
-- Ok... -- Sorriu. -- Mas não a machuque, isso deixa comigo!
-- Pode deixar, não machuco criancinhas não, tenho uma filha também, tá ligado? Eu amo ela.
O outro homem riu cínico. -- Tô ligado não! -- Falou ríspido. -- Agora sai do meu carro e faça o seu trabalho sujo. E já sabe, nunca me viu, não me conhece, nem sabe meu nome. Vai ser muito bem pago para isso!
-- Tá! – Saiu do carro.
* * * *
-- Agatha vai tomar banho, sua mãe está pra chegar. -- Susan alertou, desviando a atenção de seu próprio desenho e olhando a menina entretida fazendo, também, um desenho, sorriu. -- O que você está desenhando dessa vez? -- Perguntou realmente interessada. A afilhada estava desenhando desde que havia chegado do curso de inglês, há duas horas. A mesa da sala de jogos estava repleta de papeis já utilizados por ela.
-- Uma casa, igual às que a senhora faz... -- Respondeu sem tirar a concentração do que estava fazendo. Estava com a régua e um lápis em mãos e riscava para todos os lados, em um quadrado que já havia feito.
Susan levantou e foi até ela, ficando em pé logo atrás, avaliando o desenho. Sorriu, num misto de surpresa e contentamento. Agatha era muito observadora, e conseguiu colocar no papel, o esboço interno de uma casa, com quarto, sala, cozinha, banheiro... Embora de uma forma simples, mas incrivelmente surpreendente para a idade que tinha.
-- Agatha, incrível, parabéns!
-- Ah tia tá feio. -- Disse em desagrado avaliando o desenho. -- Não está igual ao seu... olha aqui tá torto. -- Mostrou onde ficava a cama. -- E isso aqui não parece um banheiro, não sei fazer o vaso. -- Apontou. -- E esse sofá parece que está de cabeça para baixo. -- Disse fazendo um bico e cruzando os braços, típico de quando estava indignada com alguma coisa. Susan riu, pois realmente, ela tinha razão quanto ao que falou. Mas ainda assim, era admirável seu desenho. Susan virou a cadeira que Agatha, estava sentada a fazendo ficar de frente para ela.
-- Olha gatinha, foi seu primeiro desenho. Não fica assim vai. Eu gostei, muito mesmo, achei incrível. Você ainda está treinando, logo logo, poderá fazer um desenho perfeito, igual aos meus.
-- Tem certeza? -- Perguntou ainda receosa.
-- Tenho! -- Susan a beijou na testa sorrindo. -- Agora vai tomar seu banho eu arrumo isso aqui. -- Mostrou a bagunça.
-- Tá bom. -- Saiu correndo.
Susan riu, Agatha não pensou duas vezes na oferta. Pegou o desenho e ficou o olhando. -- Ela leva jeito! -- Sorriu feliz e pegou começou a avaliar mais atentamente cada desenho feito pela menina. -- Isso é um gato ou um cachorro? -- Virava o de todos os lados. -- Esnobel. -- Susan leu o nome no papel. -- Ah, é um gato! -- Riu. Passou para o próximo, era uma casa, simples mesmo. Pegou outra folha e sorriu comovida. Tinha três desenhos no formato de pessoas, aquele tinha sido o primeiro desenho do dia. Havia duas mulheres maiores e uma menina no meio delas, ela era segurada pelas mãos de ambas as duas. E embaixo de cada figura os respectivos nomes, “Samantha, Agatha e Amanda”. E mais embaixo um pouco, estava escrito “Eu e minhas mães”. Depois de ler isso, Susan teve que segurar-se para não deixar cair as lágrimas que marejavam seus olhos. Suspirou e passou rapidamente para o próximo, era o desenho que ela mesmo havia feito e ajudado Agatha termina-lo. Agatha lhe pediu para fazer o a imagem de Amanda, ela fez apenas o esboço e Agatha o detalhou com sua ajuda, tinha ficado bastante parecido com ela, pois elas haviam feito apenas com as lembranças que tinham de seu rosto... Susan arrumou tudo e foi para a sala.
-- Olá Su. -- Samantha disse entrando junto com Amanda e vendo a amiga.
-- Oi. -- Cumprimentou a amiga e namorada.
-- Cadê minha filhota? -- Samantha perguntou sentando-se junto com Amanda no sofá, Susan já estava.
-- Tomando banho... Ela desenhou até ainda agora, desde de que chegou da escola.
-- Desenho? -- Samantha estava surpresa. -- Essa é nova. -- Sorriu. -- Ah tá querendo que ela seja arquiteta né? -- Samantha brincou.
Susan riu. -- Pois fique você sabendo que, ela é ótima! Pode sim, seguir a mesma profissão que a minha. -- Susan, gabou-se.
-- Ei? Nem vem. Ela vai fazer medicina. -- Samantha entrou na brincadeira. -- Onde já se viu... Engenheira...
-- Arquiteta, besta! -- Susan esclareceu.
-- Agatha, vai ser Advogada! -- Amanda disse pensativa. Pois até o momento só observava a discursão das duas.
-- Advogada? -- Samantha e Susan, indagaram juntas, olhando Amanda.
-- O que? -- Amanda perguntou, dispersando seus pensamentos.
-- Porque Advogada? -- Susan indagou em desagrado.
-- É, porque Advogada? -- Samantha insistiu curiosa.
-- Ah, sei lá. -- Amanda disse indecisa. -- Acho legal. -- Confessou.
-- Hum... tá ai, você é advogada, só pode ser Advogada. -- Susan disse a olhando sorrindo. -- É você tem cara de advogada. -- Completou.
-- Será? -- Amanda estava confusa... Susan poderia ter razão.
-- Claro. -- Susan levantou, vestiu seu blazer, pôs-se na frente delas, fez um coque no cabelo, uma pose formal. -- Rum rum. -- Limpou a garganta fazendo Samantha e Amanda rirem. -- Meritíssimo, sabemos perfeitamente que, diante dos fatos a senhorita Agatha. -- Agatha havia chegado a sala e Susan a chamou para ficar do seu lado e continuou. -- Como eu estava dizendo, a senhorita aqui presente, terá que ser submetida a exame de idoneidade. Pois há conflitos “carreirográfos” entre as mães e a madrinha de minha cliente... -- Susan dramatizava diante delas que riam divertidas e Agatha também.
-- “Carreirográfos”? -- Samantha indagou rindo. -- Essa pala...
-- Protesto! -- Susan falou interrompendo Samantha. -- Meritíssimo, uma das mães de minha cliente que persuadi-la em sua decisão. -- Susan falava olhando para o sofá ao lado, como se ele fosse realmente um Juiz. -- Isso, sem tirar o fato de que, está ofendendo esta pessoa que vos fala. -- Susan completou e depois olhou as duas, que já riam, não aguentou e caiu na gargalhada também.
-- Tia porque estava fazendo isso? -- Agatha perguntou assim que as três acalmaram-se.
-- Porque nós queríamos descobrir qual das profissões você vai seguir.
-- E que profissão é? -- Perguntou interessada.
-- Arquiteta!
-- Medica!
-- Advogada!
Cada uma das mulheres disse uma coisa ao mesmo tempo e Agatha as olhou confusa, isso fez com que, elas rissem novamente.
Cida, que estava na sala desde que Agatha chegou riu vendo a confusão da menina e interveio.
-- Menina Agatha... -- Aproximou-se mais um pouco. -- Quando chegar a hora, você, e ninguém mais. -- Disse olhando cada uma das três mulheres da sala e continuou. -- Tomará a decisão de qual profissão seguir, seja ela, uma das três ou outra!
-- Falou bonito, Cida! -- Susan levantou batendo palmas. -- Ela vai ser Arquiteta! -- Samantha pegou uma almofada e jogou nela que não viu e foi atingida. -- Ai. -- As outras riram... Cida retornou a seus afazeres na cozinha ainda rindo.
-- Mãe eu fiz um monte de desenhos, a tia Susan me ajudou. -- Disse contente. -- Ela disse que minha casa ficou... -- Agatha, não soube dizer a palavra exata. -- Tia qual foi mesmo a palavra que a senhora disse? -- Perguntou para Susan.
-- Incrível. -- Susan respondeu.
-- É mãe, ficou Incrível! -- Repetiu alegre.
-- Foi mesmo? Meus parabéns então. -- Samantha disse feliz. -- Me dá aqui um abraço, ainda não me deu. -- Agatha pulou nos braços da mãe e lhe deu um beijo enquanto a abraçava. -- Hum, está cheirosa!
-- Eu passei perfume, aquele que a senhora comprou naquele dia, quando foi ao shopping com a Amanda. -- Explicou
-- Hum, muito bom!
-- E cadê o meu beijo mocinha? -- Amanda indagou. Agatha fez o mesmo que tinha feito com a mãe. -- É, realmente está muito cheirosa essa menina. -- Comprovou sentando Agatha a seu lado.
-- Está sim... precisamos tomar um banho e nos passar um perfume para ficar a altura. -- Disse Samantha sorrindo.
-- Murilo me ligou. -- Susan mudou de assunto.
-- Ah é, ele ligou lá pro hospital, Sheila me disse. -- Samantha admitiu.
-- Pois é... Amanda você vai conhecer seus sogros! -- Susan disse rindo.
-- Sheila disse a mesma coisas, não me deixa nervosa também. -- Pediu.
-- Relaxa...
-- Mãe, vovô e vovó já chegaram foi?
-- Amanhã filha, eles chegam amanhã.
-- Legal. -- Celebrou. -- Amanda a vovó tem um gato chamado esnobel, eu desenhei ele também. Quer ver?
-- Filha, depois você mostra, Amanda quer tomar banho. -- Samantha lembrou que Amanda havia lhe dito no elevador.
-- Não amor, posso ir depois. -- Amanda esclareceu. -- Vamos lá gatinha, ver seus desenhos. -- Agatha levantou e Amanda a acompanhou.
-- Samantha. -- Susan chamou a amiga que olhava as duas se afastarem.
-- Hum. -- Disse a olhando.
-- Aconteceu algo muito estranho envolvendo a Agatha.
-- Algo estranho? O que Susan? -- Perguntou alarmada.
Susan contou em detalhes tudo o que Agatha tinha lhe contado. -- Foi o que sua filha disse... -- Susan terminou observando Samantha que, andava de um lado para o outro a sua frente. -- Samantha, sei que está nervosa, mas tá me deixando tonta. -- Susan disse e Samantha parou a sua frente.
-- Susan, quem é esse sujeito? O que ele quer com a minha filha? -- Voltou a andar novamente. -- Droga... um dia desses tive a sensação de estar sendo seguida, mas pensei que era coisa da minha cabeça... E agora isso? Eu estava certa Su, aquele carro estava mesmo seguindo o meu! -- Admitiu preocupada. -- O que eu faço?
-- No momento se acalmar. Senta aqui. -- Disse batendo a mão no sofá ao seu lado. -- Nossa Agatha é esperta, segundo ela, nem chegou perto do homem, muito menos se rendeu por um bombom, ela seguiu seus concelhos, primeiro se orgulhe dela.
-- Eu já me orgulho, Su! -- Confessou sorrindo.
-- Eu sei... -- Abraçou a amiga. -- Segundo, fique mais atenta, isso serve para nós todos. -- Desfez o abraço. -- Amanhã mesmo ligue para todas as escolas dela e reforce dizendo que não devem deixa-la sozinha em hipótese alguma e muito menos que a entregue para pessoas não permitidas, mesmo que jurem que você mandou. – Susan dava a sua opinião. -- Na escola de inglês ele não conseguiria isso, mesmo se ela quisesse sair com ele, você sabe como funciona lá. -- Samantha balançou a cabeça em confirmação. -- Mas na aula de natação, não tem segurança nenhuma, todos entram e saem a hora que querem. -- Explicou. -- Quem for com ela, não pode sair de perto nem por um segundo.
-- Su... -- Samantha respirou fundo. -- Porque minha filha? Porque querem sequestrar, fazer sei lá o que, com ela? -- Perguntou inconformada.
-- Sam... sua filha é dona de 5% do hospital, herdeira da sua parte 15% com as da família 65% com as da empresa...
-- Tá já entendi. -- Samantha interrompeu a amiga e as duas riram.
-- Pois é. E se esse homem ou sei lá quem, investigou, sabem que você pagaria qualquer valor pra ter sua filha de volta.
-- Você tem razão, mas isso não vai acontecer Su! Não vai ter outro jeito. -- Levantou determinada.
-- Vai fazer o que?
-- Amanhã mesmo vou procurar uma agência de segurança particular e contratar uma frota! -- Samantha confessou e Susan não pode deixar de rir, era tensa e dramática a situação da amiga. E dela também, pois amava e muito a afilhada, era uma filha para si.
-- Concordo, mas enquanto isso, atenção quadruplicada na nossa menina! -- Susan proferiu.
-- Ok, vou falar com a Amanda e com a Agatha também, reforçar os concelhos, você fala com a Julia e amanhã falamos com o restante da família.
-- Tudo bem.
-- Ei? -- Samantha falou lembrando de algo. -- Su, faz um favor pra mim. -- Pegou a chave do carro na bolsa. -- Vai lá no meu carro e traz tudo que estiver no porta mala, não pude trazer a Amanda ia ver. -- Admitiu sorridente.
-- Ahhh vai fazer um festinha particular né safada! -- Susan falou em deboche e levou um tapa na pena da amiga. -- Au. -- Vai ter brinquedos também? -- Levou outo tapa, porém mais forte no mesmo lugar. -- Ai... Para de me bater!
-- Besta, não é da sua conta! -- Sorriu descarada. -- Vai logo, e não deixa a Amanda ver. Quando voltar leva pro quarto de hospedes que depois eu pego.
-- Tá. -- Susan pegou a chave e levantou...
-- Mãe? -- Agatha chegou a chamando.
-- O que foi filha?
-- Mãe, a Amanda não fala comigo, e não para de chorar olhando meu desenho. -- Explicou meio aflita.
-- Chorando? Mas, o que? -- Perguntou e olhou Susan que não saiu ao vê-la chegar, esta já sabia de qual desenho se tratava. -- Eu vou lá! -- Samantha saiu até Amanda.
-- Não, Agatha! -- Susan impediu a menina de seguir a mãe. -- Sua mãe vai resolver. -- Explicou sorrindo. -- Vem, vamos lá embaixo buscar uma surpresa que sua mãe preparou para a Amanda? -- Sorriu e Agatha também já a acompanhando.
Fim do capítulo
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