Capítulo 13 - O Resgate Inesperado
Alguns dias depois, o assunto mais comentado nos setores e nos corredores da empresa na última sexta feira de trabalho antes das férias coletivas da empresa era a tão aguardada festa. Afinal após aquele dia todos iriam para as festividades relacionadas a Natal e Reveillon, retornando apenas depois de quatorze dias de descanso em suas férias coletivas.
As mulheres só sabiam falar sobre roupas e acessórios que estavam comprando, aguardando ansiosamente a entrega dos itens pelo correio. Já os homens só sabiam falar sobre o quanto pretendiam beber, as apostas sobre quem ficaria bêbado primeiro já circulavam. Mesmo que a princípio fosse uma festa apenas para os funcionários do C.A.P., com o passar dos dias, convites e solicitações foram feitas e várias pessoas de outros setores acabaram conseguindo acesso, transformando o evento em uma grande confraternização da empresa em um sítio que ficava não muito longe da cidade.
Ana se arrumou do jeito que pôde em seu pequeno apartamento, sentindo um misto de ansiedade e esperança. Sua mãe, que sempre foi uma costureira habilidosa e atenta aos sonhos da filha, costurou um vestido feito de viscose, um tecido parecido com a seda porém com um preço mais acessível, em tons de pêssego e branco. Como Ana era apaixonada pela cultura japonesa, pediu algo que lembrasse os vestidos cerimoniais do Japão, com mangas largas bastante características. Ainda que feito para ser discreto e não marcasse muito suas curvas, o vestido conseguia se ajustar com perfeição ao corpo de Ana, realçando sua delicadeza sem vulgaridade.
Mizuki, por sua vez, optou por usar um terno mais justo em seu corpo, com um degradê que começava com um preto profundo em seus ombros e terminava em um vermelho vibrante em seus pés. Feito sob medida, ele caía como uma luva em seu corpo, conferindo-lhe uma elegância impecável e uma aura de poder. Ela sempre era pontual, mas já acostumada com o atraso crônico de seus funcionários, decidiu chegar alguns minutos mais tarde. No entanto, para sua surpresa e um leve aborrecimento, alguns funcionários, por mais inacreditável e inédito que pudesse ser, tinham chegado mais cedo do que o horário combinado e já estavam visivelmente embriagados, o som de suas risadas e conversas altas ecoando pelo ambiente encobrindo até o som da música ambiente que o DJ contratado estava tocando. Ao contrário de sua formalidade padrão, ela havia decidido fazer ‘vista grossa’ naquela noite.
Mizuki viu que havia uma poltrona discreta no fundo da área coberta e tratou de se sentar por lá, observando o movimento com uma paciência calculada. Alguns minutos depois, viu que Ana havia chegado. Ver a jovem naquele vestido, que, apesar de não ser exatamente o modelo tradicional do Japão, capturava a essência da cultura que tanto fascinava a estagiária, aquela visão fez as bochechas da Diretora corarem levemente. A jovem mulher que havia acabado de entrar no sítio estava tão bela que o desejo imediato de Mizuki foi se levantar, ir ao seu encontro e tomá-la em seus braços, um desejo que a surpreendeu. Obviamente, ela apenas sorriu para si mesma e balançou a cabeça para afastar o pensamento, mantendo a compostura que a caracterizava.
“Controle-se Hinata” pensou na forma como se sentia sempre que via ou estava na companhia de Ana. Passou a atribuir vários dos seus pensamentos e impulsos à Hinata Matsuzaki.
Ana olhava para todos os lados, procurando algum rosto conhecido em meio à multidão. Ela mal conhecia todos aqueles que estavam ali, muitos deles de outros setores e outros ela nunca havia visto pelos corredores.
"Será que todos aqui realmente são funcionários?", ela perguntou a si mesma com aquela dúvida pairando em sua mente.
De longe, viu Lucrécia segurando seu cachorrinho no colo, um filhote de poodle toy com uma roupinha exageradamente chamativa. Ela falava extremamente alto com uma mulher a sua frente, a voz estridente de Lucrécia se destacando na algazarra da festa.
"Coitadinho desse doguinho.", Ana pensou, com um leve sorriso de pena.
Não sabia dizer ao certo, se conseguiu ou não esconder um sorriso genuíno quando seus olhos avistaram sua chefe. Para Ana, Hinata estava devastadoramente linda naquele terno, uma visão que a hipnotizou. Antes que Ana tivesse a chance de dar um passo em qualquer direção, Jorge e seus amigos se aproximaram, um trio inseparável de zombaria, prontos para começar com a zoação.
— Ué, pessoal, ninguém me avisou que essa seria uma festa à fantasia. — Jorge disse, com um sorriso malicioso, olhando para o vestido de Ana. Todos ao redor riram, um coro de risadas que feriram os ouvidos de Ana.
— Jorge, hoje não, tá? — Ana disse, tentando manter a calma e dar a volta nos rapazes, que bloqueavam seu caminho.
Jorge a segurou pelo braço, visivelmente embriagado, com seu hálito de álcool atingindo Ana. — Ainda não deixei você sair, estamos só conversando. — Ele disse com a voz arrastada e um sorriso desafiador.
— Não estamos no trabalho e aqui você não manda em mim e de maneira nenhuma me agrada conversar com você. — Ana disse, puxando seu braço do aperto de Jorge com firmeza, demonstrando que sua paciência havia se esgotado.
— Não pense que eu me esqueci que você me mandou calar a boca no outro dia. — Ele disse como quem salivava veneno. — Você me deve no mínimo um grande pedido de desculpas, não acha?
Ele tentou segurar novamente o braço da jovem mas antes que o homem tivesse chance, Hinata apareceu, sua voz calma, mas firme, puxando assunto com o homem, interrompendo a tensão.
— Excuse me, hi Jorge, posso fala com você? — Ela olhou primeiro para Ana, e em seus olhos foi possível ver uma preocupação genuína, um vislumbre de cuidado. Ela então voltou seu olhar para o homem, elogiando o quanto ele tinha trabalhado bem no setor e que seu esforço foi notado, claramente uma mentira deslavada, mas necessária para desviar a atenção. Mesmo sabendo que sua chefe só estava dizendo aquilo para chamar a distrair Jorge, ouvir Hinata elogiando outra pessoa fez Ana sentir algo que nem sabia que tinha, um sentimento novo e incômodo que a surpreendeu por sua simples existência… Estava com ciúmes.
Ainda que quisessem ficar juntas durante a festa, ambas sabiam que não poderiam. Afinal, os funcionários iriam desconfiar de tanta proximidade entre as duas considerando que elas trabalhavam em segredo apenas após o expediente e durante o dia cada uma seguia com seus afazeres normais.
A festa seguia com Ana tentando se enturmar, com sorrisos forçados e conversas superficiais, enquanto Hinata permanecia em sua poltrona, quase como uma ‘rainha’ observando seu reino. Alguns funcionários passavam para cumprimentá-la, e por mais que ela tentasse disfarçar, seus olhos procuravam Ana pelos arredores.
Ana, por sua vez, tentava andar pelos grupos, puxar assunto, mas a superficialidade das conversas a entediava. Até que, de repente, viu o cachorrinho de Lucrécia, o poodle toy, andando perigosamente perto da piscina e escorregando na borda, um pequeno grito escapando de seus lábios. O coração dela automaticamente começou a acelerar quando viu o pequenino tentando nadar com aquela roupinha ridícula que sua dona havia colocado nele, o tecido encharcado o arrastando para baixo. O pequenino não tinha forças para aguentar nadar com todo aquele tecido incomodando, e ainda estava nadando para o centro da piscina, desorientado. Foi quando ela viu o poodle afundando, um nó de pânico apertando sua garganta. Sem pensar duas vezes, Ana deixou sua pequena bolsa com seus pertences no chão e pulou na água, para salvar o pequenino.
Com ele em suas mãos e acima do nível da água, Ana o colocou na margem, onde Lucrécia, histérica, gritava.
— AH!! MEU BEBÊ! Como você foi brincar na piscina sem a mamãe! — Lucrécia exclamava, pegando o cachorro sem ao menos olhar para Ana, a preocupação direcionada apenas ao animal.
Ana não recebeu nem mesmo um ‘obrigada’. Muito pelo contrário, antes mesmo de sair da água, ouvia Jorge e seus amigos caçoando dela, a voz de Jorge cortando o ar:
— Lá vai a heroína da nação! — todos riram, suas gargalhadas ecoando pelo ambiente.
— Queria chamar atenção pra sua fantasia pulando na água? — Outro dos amigos de Jorge zombou, e gargalharam novamente.
Ana nadou até a escada para sair da piscina, enquanto ouvia os risos, a humilhação queimando em seu rosto.
— Se diz tão inteligente, mas não era só pegar o cachorro pela borda da piscina? — A voz de Jorge foi a última que ela ouviu, cheia de escárnio.
Ana não olhou para ninguém. Ela só buscou sua pequena bolsa e saiu com as roupas encharcadas, pingando água pelo caminho. Tentou ligar o aplicativo para conseguir um carro, mas o visor do seu celular mostrava a mensagem “não foram encontrados motoristas disponíveis nessa área”, aquele era um golpe final em sua esperança já despedaçada. Decidiu então voltar andando para a cidade, sentindo o frio aumentar à medida que a noite avançava. Depois de caminhar alguns minutos pela estrada escura, ela viu o movimento de um carro vindo em sua direção. Isso a fez lembrar de quando pegou carona com Hinata pela primeira vez, uma memória que trouxe um pequeno vislumbre de esperança.
“Pare de ser iludida Ana!” ela pensou, balançando a cabeça para afastar aquela idéia de que enfim seria salva.
Ao contrário das suas expectativas, era mesmo sua chefe que veio encontrá-la, ela havia presenciado toda a cena mas saiu da festa de forma discreta e estratégica. Quando enfim o carro parou ao seu lado e o vidro escuro se abriu mostrando uma Hinata com um olhar de preocupação intensa.
— I'm sorry, I couldn't get out of the party that fast. (Desculpe, não consegui sair tão rapidamente da festa.)
Ana entrou no carro da chefe sem dizer nada, ela não estava irritada pelo atraso de Hinata, na realidade estava extremamente grata por ela ter vindo ajudá-la, mas continuava sentindo um nó na garganta e uma enorme vontade de chorar, e por mais que segurasse suas lágrimas, algumas acabaram escapando. Seguiram em silêncio, apenas o som suave do motor e os soluços do choro de Ana.
“Eu sinto muito Ana, não pude intervir.” Mizuki pensou enquanto dirigia, seu coração doía ao se lembrar de como trataram a jovem na festa. Quando chegaram na cidade, a diretora perguntou, com uma voz suave, tentando puxar assunto ao mesmo tempo que desviava do ocorrido:
— What are you going to do for the holiday? (O que vai fazer de bom no feriado?)
— V… vou vis… zitar m.. meus p..pais. — Ana gaguejou, já batendo queixo de frio, apesar do clima quente do verão. Mizuki percebeu que durante todo o percurso o ar condicionado do carro estava ligado na temperatura mínima possível e, juntando isso ao fato de Ana estar ensopada, poderia ter deixado a jovem ligeiramente hipotérmica. Mizuki dirigiu até sua própria casa entrando com o carro dentro de sua garagem.
— Vamos para dentro. — Mizuki disse, a voz firme, sem espaço para discussão.
— N.. Não pre…cisa.. e.. eu tô b…bem. — Ana tentou recusar, a voz quase inaudível devido ao tremor.
— Não foi pergunta. Vamo! — Mizuki insistiu, com um olhar que não admitia contestação.
Ana quis argumentar, mas estava com tanto frio que seu raciocínio já não estava tão bom assim, e o corpo começava a ficar dormente. Acabou acompanhando a mulher para dentro da luxuosa casa.
A casa era bem ampla e os móveis pareciam todos planejados, elegantes e modernos. Hinata a levou para um quarto no andar de cima, que parecia ser de hóspedes, e a empurrou direto para o banheiro, dizendo apenas, com uma doçura incomum em sua voz:
— Roupa sua é muito bonita, mas agora banho quente é melhor. — ela disse antes de sair fechando a porta atrás dela.
As bochechas de Ana teriam ficado vermelhas por ouvir sua chefe elogiando seu vestido, se ela não estivesse com tanto frio naquele momento. Apressou-se em tirar a roupa encharcada e ir para debaixo da água morna, sentindo o alívio imediato do calor em sua pele. Saiu apenas com a toalha que havia no banheiro, enrolada no corpo, e viu que em cima da cama um pijama limpo e macio havia sido separado para que ela o vestisse.
"Um pijama… então acho que ela não vai me deixar ir para casa hoje." Ana pensou com uma mistura de surpresa e um leve contentamento.
A calça e a camisa com botões ficaram justos em seu corpo, mas de uma forma geral lhe serviram razoavelmente bem. Se olhou no espelho e soube o porquê de Hinata não permitir que ela fosse embora, seus lábios agora sem batom estavam pálidos e um pouco azulados. Seu corpo ainda estava todo arrepiado de frio. Desceu as escadas que levavam até a sala e viu que Hinata havia preparado um chá, fumegante na xícara. Ana não questionou por não gostar de chá e gostar ainda menos sem açúcar, apenas tomou, fazendo caretas enquanto a mulher ao seu lado ria daquela cena, um riso leve e genuíno que aqueceu o coração de Ana muito mais do que aquele líquido quente.
Hinata disse que Ana poderia ficar à vontade e que ela iria subir e tomar um banho também.
— Posso ligar a TV? — Ana perguntou, buscando uma distração.
— Hai! (Sim!) — Hinata respondeu, um leve entusiasmo em sua voz.
Alguns minutos depois, sua chefe voltou, mas agora com um pijama semelhante ao dela, ao qual ficou muito mais largo em seu corpo e sem nenhuma maquiagem no rosto. Não que isso modificasse em alguma coisa sua pele, afinal, a pele de Hinata já era naturalmente livre de imperfeições, exibindo uma beleza natural e serena.
Ana, ainda agarrada com a xícara de chá, enrolando para tomá-lo, ainda tremia de frio. Viu que a japonesa trouxe um cobertor mais grosso para embrulhá-la, aquele era um gesto de cuidado que não parecia ser de uma chefe para uma funcionária.
Hinata estava se sentindo apavorada porque nada do que tentou havia aquecido Ana o suficiente para ela melhorar totalmente, o tom arroxeado ainda persistia em seus lábios. Diminuiu a intensidade das luzes, buscando um ambiente mais acolhedor. Pesquisou em seu celular uma lista com as formas eficazes de cuidar de alguém com hipotermia. Havia tentado todas com exceção de uma, mas não era a hora de sentir vergonha, ela precisava que Ana melhorasse.
— Gomen ne, Ana demo, kimi o yoku suru tame ni saigo ni mōhitotsu tameshite minakya. — (Me desculpe, Ana, mas preciso tentar mais uma última coisa para te fazer melhorar.) Mizuki disse de forma rápida, a voz um pouco tensa, mas determinada.
Enquanto Ana ainda estava tentando entender o que ela havia dito, Hinata, com um movimento decidido, levantou a coberta em que Ana estava embrulhada. Abriu os botões da própria blusa do pijama, ficando apenas de sutiã, ignorou o fato de estar ultrapassando centenas de limites profissionais, Ana estava tão espantada com tudo que nem conseguiu reagir, seus olhos arregalados de surpresa ao ver uma boa parte da pele exposta aquela luz fraca. Hinata abriu também os botões do pijama de Ana, e nesse ponto, ela tratou de ajeitar o cobertor no sofá e se deitou, pedindo que a jovem Ana deitasse ao seu lado. Tudo aconteceu rápido, enquanto Ana ainda tentava processar todas as informações. Hinata a abraçou, sentindo sua pele tocando a de Ana, os braços da jovem envolviam o pequeno corpo de Hinata, buscando por calor.
Seus corpos se tocavam, Ana conseguia sentir a respiração quente de Hinata, sentia o perfume suave de flores na pele dela. Seu coração batia acelerado, enquanto a pele quente de Hinata tocava a sua. Sem pensar demais sobre o fato de estar deitada seminua, abraçada com sua chefe, Ana sentiu um sentimento de aconchego nos braços de Hinata, era um momento em que ela se deixou ser envolvida por completo. Não se sentia desconfortável, apenas segura e aquecida.
Hinata, mesmo que a pele de Ana ainda estivesse ligeiramente fria ao toque, sentia que o seu próprio corpo estava em chamas, haviam tantas partes suas tocando a pele macia de Ana que tudo naquele momento a fazia sentir ainda mais calor. Sentiu-se totalmente à vontade estando ali daquela forma, como se já fosse algo comum.
Algum tempo depois, embaladas pelo calor uma da outra, elas adormeceram.
Fim do capítulo
Bom dia! Boa tarde! Boa noite!
Levanta a mão pro alto.... quem esperava um bjo das duas kkkk
Temos um calendário de publicações pra esse mes de Dezembro então quem não viu corre lá no insta e se programem @emi_alfena
E até semana que vem, prometo que a espera vai valer a pena kkkk
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Jsilva
Em: 07/12/2025
Ana sempre injustiçada aff .mais todo ato de heroísmo tem sua recompensa né? Kkk amei!! Não foi um beijo mais o clima tava molhado ou quente?ea situação q se encontra no momento kkkk( quando era criança/ adolesntece sempre sonhei viver um ato heroico desse ???????????? ser salvadora de um resgate de alguém com hipotermia.
EmiAlfena
Em: 07/12/2025
Autora da história
O clima estava frio e quente ao mesmo tempo kkkk
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EmiAlfena Em: 07/12/2025 Autora da história
Kkkkkkkk tá todo mundo preparado né