Capitulo 14
Por Luísa:
Tomar um banho relaxante era exatamente o que eu precisava. De alguma maneira tinha que tentar tirar aquela sensação de formigamento na minha pele diante dos toques “acidentais” da Bia. O grande problema com ela era justamente essa incerteza diante das suas reais intenções.
Depois do banho, sentei na cama para trocar minha prótese. O processo em si já era mecânico para mim, mas hoje eu tinha uma observadora atenta.
— O que foi? — perguntei sem erguer os olhos, sentindo o peso do olhar dela sobre cada movimento meu.
— Nada — ela respondeu com uma naturalidade suspeita. Depois acrescentou: — Ainda dói?
Ergui o rosto, arqueando a sobrancelha.
— Agora não. Só fica desconfortável às vezes. — Ajustei os encaixes até ouvir o clique familiar e me levantei, testando o equilíbrio.
Bia conferiu algo no celular, provavelmente a hora, embora eu duvidasse que fosse só isso.
— Vou tomar uma ducha rápida também — avisou, já se dirigindo ao banheiro. — Dá uma olhada no Instagram. Postei um vídeo e uma foto nossa. Comenta lá, amor.
E piscou. Realmente, ela estava se divertindo às minhas custas e ainda teve a audácia de piscar antes de desaparecer atrás da porta.
Suspirei e peguei meu celular, conferindo primeiro as mensagens de Célia. Tudo tranquilo. Mamãe havia passado a manhã entre jornais e o computador, o que me deixou mais aliviada. Elas estavam prestes a almoçar. Relaxei um pouco antes de enfrentar a tal postagem de Bia.
E lá estava: um vídeo e uma foto que, para qualquer observador externo, retratavam um casal completamente apaixonado. A legenda dizia: Paraíso com ela.
Sério?
Mordi o lábio, dividida entre rir ironicamente e revirar os olhos. Optei por curtir e deixar um emoji de coração. O suficiente para manter as aparências.
Vinte minutos depois, ela saiu do banheiro usando apenas lingerie preta e uma toalha enrolada no cabelo. Porque, aparentemente, levar roupa para vestir no banheiro quando você divide um quarto com alguém com quem não tem intimidade era um conceito totalmente estranho para ela.
Completamente contra minha vontade e qualquer resquício de bom senso, meus olhos percorreram seu corpo antes que meu cérebro ativasse o alerta de perigo.
O que estava acontecendo comigo? Eu estava... secando a Bia?
Sim. Estava.
E, naturalmente, ela percebeu.
Maldita.
Desviei rapidamente, fingindo um súbito e profundo interesse na tela do celular.
Bia caminhou até o armário e escolheu um vestido azul curto de linho que deslizou pelo corpo dela. A peça parecia feita sob medida, moldando-se perfeitamente às suas curvas. O decote em V era ousado na medida certa, enquanto as alças finas deixavam seus ombros à mostra.
Como se não bastasse a apresentação ao vestir a peça, ela soltou a toalha e passou os dedos pelos fios úmidos, que caíram naturalmente sobre os ombros. O aroma de coco e baunilha preencheu o ambiente.
— Pronto. Agora pode me olhar. — Falou com aquele tom provocador, aproximando-se e sentando ao meu lado na cama, sem qualquer pressa. O perfume dela ficou ainda mais intenso, e senti um arrepio percorrer minha espinha.
Perfeito. Meu corpo estava sabotando minha razão.
— Então podemos ir. — Murmurei, tentando me levantar antes que outra parte minha decidisse se rebelar. Mantive o olhar fixo em qualquer coisa que não fosse ela.
— Espera. — Sua voz veio acompanhada de um toque quente e delicado no meu braço.
Automaticamente voltei a me sentar, mas afastei o braço devagar, como toca em algo perigoso. Olhei brevemente para ela, apenas o necessário para não ser grosseira, e desviei novamente.
— O que foi, Beatriz?
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Nossa... "Beatriz" em vez de "Bia"? Estamos regredindo, amor.
Revirei os olhos.
— O que foi, Bia? — Dessa vez suspirei e mantive o olhar nela, mesmo sabendo que era arriscado.
— Lá embaixo provavelmente terá muita gente... então achei importante termos um pouco mais de contato, sabe...
— Do que está falando? — Perguntei, sentindo minha respiração vacilar quando sua mão retornou ao meu braço.
— Será importante demonstrarmos que sentimos desejo uma pela outra. Com toques... — O polegar dela traçou um caminho lento pela minha pele. — Com olhares... — Fixou os olhos nos meus, e havia algo ali. Algo que me prendia.
Tentei falar, mas nenhum músculo obedecia.
— Você consegue demonstrar que me deseja? — A voz dela saiu mais baixa, mais rouca.
— Eu...
— Pode me olhar daquele jeito de antes, quando saí do quarto.
— Você...
— No coquetel também retribuiu meu beijo de um jeito tão gostoso...
Ela estava jogando tão sujo.
Estreitei os olhos, recuperando minha consciência e me afastando da armadilha. Ridícula. Como se eu fosse cair nesse charme barato. Jamais.
— Quando necessário, faço sacrifícios e treino muito bem minha atuação para fingir que tenho qualquer tipo de sentimento por você. — Levantei e caminhei em direção à porta.
Bia piscou várias vezes, visivelmente surpresa. Pigarreou e inclinou a cabeça ligeiramente, com o olhar de provocação.
— Melhor assim, amor. — O tom dela era doce como veneno bem diluído.
***
O restaurante estava insuportavelmente lotado. De onde havia surgido tanta gente? A praia estava tão tranquila pela manhã, mas agora parecia que haviam distribuído convites gratuitos para um festival. Conseguimos uma mesa bem no centro da agitação. Perfeito. Se antes existia alguma esperança de manter distância, agora tínhamos uma plateia inteira para alimentar a farsa de casal apaixonado.
Avistei Pietro, Roger e Renan em uma mesa próxima, rindo alto e gesticulando animadamente. Visivelmente embriagados. Ou quase. Assim que nos notaram, acenaram entusiasmados.
Fizemos nossos pedidos. Bia escolheu tilápia ao molho de limão siciliano com salada e arroz com amêndoas, acompanhada de vinho rosé. Eu optei por cuscuz marroquino com legumes grelhados e uma soda italiana.
O almoço transcorreu numa troca ensaiada de sorrisos e olhares fabricados. Entre uma garfada e outra, Bia deslizou a mão sobre a minha. Senti seus dedos quentes contra minha pele.
— Minha comida estava deliciosa, amor. E a sua? — O olhar dela brilhava.
— Muito boa. Leve e saborosa. — Forcei um sorriso, libertando minha mão devagar.
Meus olhos recaíram sobre o garçom trazendo à nossa mesa uma taça de vinho. Outra?
— Não deveria misturar bebidas.
Bia arqueou uma sobrancelha, levando a taça aos lábios com calma irritante antes de responder:
— Está com medo que eu perca o controle?
Ela riu baixo, aquele riso que misturava diversão e zombaria.
— Não. Só quero ter certeza de que não ficará bêbada às duas da tarde no meio de toda essa gente. — Alternei o olhar entre ela e meu celular.
— Não se preocupe. — Ela tomou um gole antes de repousar a taça, seus dedos deslizando casualmente pelo vidro. — Não farei você passar vergonha, nem aqui nem na praia. Estou exausta. Vou subir e dormir um pouco com o ar-condicionado no máximo. Acordei mais cedo que o habitual e, mesmo me hidratando durante o ensaio, fiquei tempo demais no sol.
Fiz um som vago, entortando os lábios.
— Hum...
Bia ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— O que foi agora?
— Nada. — Peguei o celular e terminei minha soda que já estava morna. — Eu também tinha pensado em ficar no quarto. Preciso terminar os balanços da empresa, mas não quero atrapalhar seu descanso. Posso pegar meu notebook e trabalhar em outro lugar.
Ela sorriu de lado, aquele sorriso que sempre significava provocação.
— Boa sorte para se concentrar com esse pessoal todo espalhado por aqui. — Gesticulou indicando a multidão barulhenta.
Suspirei, observando ao redor.
— Então, o que sugere?
— Cuidado ao me perguntar isso. — Bia apoiou o queixo na mão, me observando divertida. — Tenho muitas sugestões.
Abri a boca para responder, mas fechei sem saber como reagir. Meu cérebro processava lentamente as possíveis insinuações, e pisquei várias vezes, sentindo um calor subir pelo pescoço.
— Mas falando sério... — Ela continuou, rindo da minha hesitação. — Pode ficar lá. Você não vai me atrapalhar. Na verdade, é até melhor. Imagina nós duas em cantos diferentes do resort? Todo mundo estranharia.
Ela terminou o vinho e se levantou. Ao passar por mim, parou logo atrás. Perto. Perto demais. Senti o calor do corpo dela antes mesmo de ouvir sua voz.
Inclinando-se na minha direção, sussurrou no meu ouvido:
— Além disso, o normal é que um casal no início do namoro passe o dia no quarto se amando bem gostoso. Vamos, amor?
Droga.
Uma sensação quente percorreu minha espinha, descendo até regiões que preferia ignorar. Meu corpo reagiu antes de qualquer racionalidade.
Maldita.
Engoli seco e me forcei a soltar um riso curto, fingindo despreocupação.
— Vamos, Bia. — Respondi, mantendo um tom leve.
Levantei num impulso, determinada a não dar a ela o prazer de ver meu rosto corado. Mas sabia que ela vinha logo atrás, me seguindo e se divertindo com a situação.
Fim do capítulo
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