Confissões, Confrontos e Corpos Entrelaçados
A manhã na casa de Ariel começou com um silêncio confortável. Ela saiu do quarto ainda sonolenta, caminhou até a cozinha com passos arrastados. Encontrou Ana já de pé, preparando o café com uma eficiência que parecia desproporcional ao horário.
— Bom dia… — Ariel disse, coçando os olhos.
— Bom dia… — Ana respondeu, sem tirar os olhos do pão que passava manteiga com precisão quase militar.
Ariel a observou por alguns segundos. Havia uma distância diferente ali. Algo no jeito de Ana parecia travado.
— Você tá estranha comigo ou é só impressão minha? — Ariel perguntou, inclinando a cabeça.
Ana parou por um segundo, mas logo voltou ao movimento.
— Impressão sua… Por que eu estaria?
— Por causa da Ísis? — Ariel arriscou, sem rodeios.
Ana riu, mas o sorriso foi afiado.
— Ariel, eu não tenho problema nenhum com a Ísis. Eu sei reconhecer uma boa concorrência… Competir com alguém como ela é até… excitante. Se ela ganhar, tudo bem. Mas… eu tô torcendo por mim.
Ela mordeu o pão com gosto, olhando Ariel com um brilho desafiador.
— Nossa… impressionante essa competitividade toda… às sete e meia da manhã. — Ariel respondeu, meio rindo, meio sem saber o que sentir.
— Pois é. Mas eu não tô estranha, só tô muito ocupada. Inclusive… hoje eu vou passar o dia de novo lá na sede do Coven. — Ana disse, enquanto já lavava a louça com a mesma rapidez.
Em poucos minutos, escovou os dentes, pegou a bolsa e se aproximou de Ariel. Beijou-a de leve. Um beijo íntimo, sem pressa, mas sem desejo, só afeto. Um beijo de quem está partindo.
Ariel acompanhou com os olhos até Ana desaparecer pela porta. E mal teve tempo de digerir o momento.
A campainha tocou.
Ela abriu a porta e congelou.
— Ísis? Não te esperava aqui… — disse, cruzando os braços.
Mas o sorriso da outra foi torto e o olhar, cheio de malícia.
— Tenta de novo, bonitinha… Meu nome começa com "O". — A voz da Oráculo saiu com um tom sedoso de provocação.
Ariel revirou os olhos.
— Se você não é a Ísis… não é bem-vinda aqui. — Tentou fechar a porta, mas a outra empurrou com facilidade, atravessando o limite da entrada.
— Não seja sem educação… Eu só quero conversar, lindinha. — Oráculo disse, escorando-se na parede como se estivesse prestes a fazer uma performance.
— O que você quer comigo? Até onde sei… você é o encosto da Lia. E claramente… não gosta de mim.
— Verdade… a Lia é… hmm… melhor. Tem um fogo… — Oráculo fingiu gem*r, se curvando teatralmente contra a parede. — Mas você… você tem algo também. Dá pra entender por que a Ísis tá tão vidrada.
Ariel respirou fundo, tentando conter a irritação.
— Fala logo o que você quer… ou desaparece daqui…
Mas antes que terminasse a frase, ela percebeu. Os olhos da outra mudaram. O brilho lascivo sumiu. A postura mudou. Ísis parecia estar de volta.
Ariel hesitou por um segundo e então abriu mais a porta.
— Entra.
Ísis entrou constrangida. As mãos tremiam um pouco.
— Eu… eu só queria… desculpa, Ariel. Eu não devia estar aqui. Eu vou embora…
— Não… fica. — Ariel disse, com um suspiro. — Você não tem culpa.
Sentaram-se à mesa da cozinha. Ariel serviu café para as duas. O silêncio inicial foi quebrado por Ariel.
— Você tem tomado seus remédios direito, Ísis? — Perguntou com tom preocupado.
A bruxa baixou o olhar, mordendo o lábio inferior.
— Não… Eu tenho sido irresponsável, às vezes.
— Você tem que se cuidar, Ísis. — Ariel lançou um olhar terno, mas logo depois, desviou o olhar, lembrando de tudo. — E… sim… ainda tô chateada.
Ísis respirou fundo.
— Eu queria tentar me justificar… de novo.
Ariel fez um gesto com a mão.
— Tudo bem… Se isso vai te fazer feliz, justifique.
Ísis encarou o rosto dela por alguns segundos. Os olhos mudavam de intensidade, como se estivesse reunindo coragem.
— Ariel… Eu tenho estado muito instável… e com tudo o que vem acontecendo dentro de mim… Acabei relembrando coisas que vivi com a Lia… E… ela também estava emocionalmente despedaçada. As coisas se confundiram. Foi só aquilo. O suficiente pra entendermos que… nós duas… não existimos mais daquele jeito. — Ela fez uma pausa longa, respirando fundo antes de continuar. — Eu nunca quis te machucar. Nem trair sua confiança. Nem eu… nem a Lia também. No fim… não era sobre você… nem sobre nós duas… Era sobre cada uma de nós… individualmente.
Ariel ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo cada palavra.
— Tudo bem… Eu entendi. Acho que nem tô mais tão chateada por isso. O que me feriu foi a Lia… por tudo o que eu já tinha confidenciado pra ela antes. Me senti traída por ela… mais do que por você. — Ela respirou fundo, firme. — Mas… quanto a nós duas… Sabe… Acho melhor a gente não continuar com isso.
O silêncio que seguiu foi denso. Ísis levantou devagar, caminhou até Ariel e parou perigosamente perto.
— Mas a gente nem começou nada… Não faz sentido parar agora… — Ísis sussurrou antes de colar os lábios nos dela.
O beijo foi urgente, cheio de energia represada. As mãos de Ísis deslizaram pelas laterais de Ariel com uma fome contida. Ariel correspondeu, puxando-a pela camisa, sentindo a pele quente logo abaixo.
Com um movimento rápido, Ísis já tinha tirado a blusa de Ariel. As duas tropeçaram até o sofá. Ariel caiu de costas, arfando, com Ísis por cima.
A língua de Ísis desceu pelo pescoço da mais nova, traçando um caminho de desejo até os seios, mordendo de leve, ch*pando até ouvir um gemido alto.
Os dedos de Ísis foram ágeis, invadindo-a com uma precisão que fez o corpo de Ariel arquear em resposta. Os quadris de Ariel se moveram por impulso, acompanhando o ritmo que Ísis ditava. O orgasmo veio rápido, mas forte, rasgando um grito de prazer da garganta de Ariel.
Quando o corpo dela ainda tremia, Ariel trocou de posição de um jeito decidido.
— Você sempre fica por cima? — Perguntou com um sorriso malicioso, antes de empurrar Ísis contra o sofá e se posicionar entre as pernas dela.
Ariel desceu com a boca até o centro da outra, provando o mel que escorria com vontade.
Ch*pou com força, brincou com a língua de um jeito que fez Ísis gem*r, agarrando os cabelos dela.
Ariel continuou, sugando com intensidade, sentindo cada estremecer, cada contração, só parou quando Ísis gem*u alto, tremendo de um jeito descontrolado e puxando Ariel para cima para um beijo longo e profundo.
As duas ficaram ali, nuas, ofegantes, abraçadas, um emaranhado de pernas e respirações descompassadas.
****
O som da porta abrindo foi como um choque elétrico.
— Ariel? — a voz de Ana ecoou suave, distraída. — Eu esqueci um grimório da Penélope aqui…
A porta se abriu completamente antes que o aviso pudesse surtir efeito. Ana subiu os primeiros degraus, os olhos ainda presos na mochila que trazia pendurada no ombro. Só quando ergueu o olhar para a sala foi que o mundo pareceu parar.
A cena diante dela era um choque de realidades, Ariel e Ísis estavam nuas no sofá, os corpos entrelaçados, o cabelo de Ísis despenteado como uma auréola sombria em volta do rosto, e Ariel tentando cobrir-se às pressas, sem sucesso, com uma almofada.
— Ah… — Ana piscou algumas vezes, o rosto ardendo em vermelho, mas um sorriso irônico ameaçava escapar. — Meu Deus… Desculpa. Eu… não queria… atrapalhar. — A frase saiu entrecortada, como se lutasse entre o constrangimento e o riso. — Só vou pegar o que vim buscar.
Virou-se rápido demais, tropeçando no próprio passo e sumindo escada acima.
Ariel vestiu-se rapidamente e Ísis, por sua vez, tinha uma calma felina de quem não se abalava por ser vista, vestindo-se sem pressa.
Quando Ana desceu novamente, segurando o grimório contra o peito como um escudo, tentou passar direto rumo à porta.
— Ana… espera. — A voz de Ariel a alcançou antes que pudesse escapar.
Ana parou, respirou fundo e se virou, o olhar firme, já recuperando o controle. Ariel deu um passo à frente, e por um instante, o ar pareceu vibrar entre as duas. Ísis observava da sala, o sorriso discreto.
Ana virou-se, com o mesmo sorriso tranquilo de sempre.
— Ariel… você não precisa se justificar. Tá tudo bem.
— Não… Não é isso… — Ariel respirou fundo, sentindo o coração acelerar. — Eu só… Não quero que você fique chateada comigo… Nem nada… Porque… Eu também… tô apaixonada por você.
Ana congelou por um segundo, mas logo sorriu.
— Bom dia pra você também. — Disse apenas e saiu, deixando Ariel ali, de coração acelerado e cabeça girando.
O que Ariel não sabia era que Ana não estava chateada, mas sentia-se vencida. E a imagem das duas no sofá confirmava isso, mas agora aquela declaração inesperada, só haviam deixado Ana ainda confusa.
De volta à sala, Ariel sentou ao lado de Ísis no sofá.
Nenhuma das duas disse nada.
Apenas ficaram ali, lado a lado, compartilhando um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra.
Fim do capítulo
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