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Entre Votos e Silencios por anonimo2405

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Palavras: 9065
Acessos: 337   |  Postado em: 08/11/2025

Dividida Entre Dois Corações

Hospital Sírio Libanês — 08h12

A claridade branca da manhã atravessava as grandes janelas do oitavo andar e desenhava retângulos de luz nas paredes pálidas do corredor. O ar tinha cheiro de café morno misturado ao álcool hospitalar, e o murmúrio dos monitores vinha em ondas, intercalado pelo ranger leve dos sapatos de borracha das enfermeiras.

Silvia estava sentada na ponta de uma das poltronas da sala de espera, o corpo projetado para a frente, as mãos entrelaçadas como se segurassem alguma coisa que pudesse cair  Não olhava o celular sobre o colo. Fixava o olhar num ponto qualquer do chão, tentando conter o tremor nas pernas.

Ao seu lado, Lúcia tamborilava os dedos no braço da cadeira, rezando baixinho, quase sem som, o crucifixo preso entre os dedos. O rosto da mãe parecia o retrato exato da resistência: olheiras fundas, mas o olhar firme.

O médico surgiu pelo corredor, de jaleco engomado e gestos contidos, e as duas se levantaram ao mesmo tempo, como quem desperta de um sonho tenso. A voz dele era calma, treinada, com aquela serenidade que se aprende depois de anos dando notícias em tons controlados.

— Ele está acordando — disse, com um breve sorriso. — A pressão reagiu bem durante a noite. Ainda não pode receber visitas, mas o pior já passou.

Silvia sentiu o corpo amolecer, uma vertigem rápida. O ar entrou fundo, como se o pulmão finalmente lembrasse o que era respirar.

A mãe levou a mão à boca, os olhos marejados.

— Graças a Deus… — murmurou. — Graças a Deus.

O médico assentiu, fez algumas recomendações e seguiu adiante. O som dos passos dele se perdeu no corredor, e só então Silvia sentou de novo, devagar, como quem se recoloca no próprio corpo.

O alívio vinha em ondas, mas algo ainda latej*v* sob a pele — uma inquietação fina, insistente. Ela pegou o celular, o gesto automático. A tela acendeu, revelando o que já sabia: nada.

Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. 

Nem um “bom dia”.

Por um instante, manteve o aparelho entre as mãos, os polegares imóveis. Pensou em ligar. Pensou em escrever. Mas a lembrança da última conversa atravessou o pensamento como uma sombra.

Olhou pela janela, o reflexo do sol nas vidraças, as folhas brilhando sob o vento. A cidade lá fora parecia acordar devagar, indiferente à sua pequena tragédia doméstica.

— Ela não ligou? — perguntou a mais velha, sem desviar os olhos do crucifixo. Silvia demorou um instante antes de responder.

— Não. — O tom foi neutro, quase ausente. — Deve estar ocupada.

A mãe se inclinou um pouco, pousando a mão sobre o braço da filha. O toque era morno, firme.

— Olha pra mim — disse, num tom brando, quase doce. — Seu pai tá melhorando. É isso que importa agora.

Silvia assentiu, mas o olhar fugiu. A ausência pesava mais do que queria admitir. Apertou os olhos, inspirou fundo, e quando abriu de novo, deixou escapar um sorriso curto, educado — o tipo de sorriso que serve só pra não preocupar ninguém.

Do corredor, o ruído de um carrinho metálico ecoou. O café da manhã chegava, o cheiro de pão torrado misturado à assepsia. Silvia se levantou, ajeitou o casaco e prendeu o cabelo num coque rápido — o mesmo gesto mecânico de todas as manhãs. 

Dentro dela, porém, o movimento era outro: uma mistura de cansaço, raiva e solidão.

O dia prometia ser longo.

Apartamento Verena e Silvia — 09h41

A claridade atravessava as frestas das persianas como lâminas finas, cortando o ar em faixas de poeira suspensa. O silêncio era denso, tão absoluto que parecia amplificar o som do próprio respirar.

Verena dormia de bruços, o corpo estendido quase sem forma sobre o sofá que afundava sob seu peso. A camisa social, completamente desabotoada, deixava à mostra a pele quente e úmida das costas — franzida em leves marcas onde o tecido amassado se encaixava. A calcinha box preta, simples e justa, desenhava as curvas das nádegas expostas, revelando vulnerabilidade e descuido.

Os fios de cabelo, emaranhados e desalinhados, caiam em mechas irregulares, algumas grudadas pela oleosidade, outras espalhadas como confetes bagunçados sobre a almofada torta. O rosto, virado para o lado, estava parcialmente escondido pelo óculos de aro fino, que pendia perigosamente quase escorregando pelo nariz. As lentes refletiam a luz da manhã, tremeluzindo enquanto ela lutava entre o sono e a consciência. As olheiras profundas contrastavam com a expressão leve, uma serenidade frágil que rejeitava o desastre que estava por vir.

O primeiro som que despertou Verena não foi sua respiração irregular, mas o vibrar suave do celular contra o piso. Um zumbido curto, seguido por outro, insistente, que aos poucos se fundia ao silêncio da manhã, transformando-se num elemento tangível no ar ao seu redor.

Demorou alguns segundos até que as engrenagens da percepção fossem acionadas. O corpo pesado, quase alheio, tornava lento o fluxo do sangue, como se pensamentos e músculos disputassem entre si o direito de funcionar. Virou o rosto, e a luz filtrada pelas persianas irrompeu sem piedade, cegando-a momentaneamente.

O chão à sua frente era um campo de destroços silenciosos: a garrafa tombada em um detalhe de âmbar sujo, o copo esquecido, com um resquício de líquido escuro preso nas bordas, e o celular piscando em azul, um farol tecnológico numa paisagem de caos íntimo.

Pegou o aparelho com mãos frias, ainda trêmulas, e viu o nome “Rafaela” brilhando na tela. Suspirou fundo, fechando os olhos por um instante, como se pudesse afogar o peso daquilo tudo sob a pálpebra cerrada. A última coisa que queria — talvez a única — era a obrigação de falar.

Atendeu no quarto toque, a voz rouca, vazia, embargada.

— Fala.

Do outro lado, a fala de Rafaela era direta, prática, fria como uma lâmina que não queria cortar além do necessário:

— Você tá viva?

O silêncio que se fez a seguir teve o peso de séculos, e mesmo sem a resposta direta, Rafaela entendeu tudo. Verena apoiou o cotovelo no joelho e afundou a testa na palma da mão, esmagando o rosto como se quisesse esconder a própria existência daquela pergunta brutal.

— Defina “viva” — respondeu com voz baixa, quase um sussurro dolorido.

— Eu te liguei dez vezes. São quase dez horas.

— É, eu percebi. — disse, arrastando as palavras, consciente demais da própria fragilidade. 

Houve hesitação do outro lado.

— Você bebeu?

Verena soltou um riso sem humor, áspero, que reverberou na linha.

— Se eu disser que não, você acredita?

Suspirou, como quem entrega um pedaço da alma sem reservas.

— Porr* Verena! Quer que eu passe aí?

— Não. — A resposta foi rápida demais, e logo se tornou um murmúrio: — Não precisa.

O silêncio que veio a seguir foi denso, pesado, quase um pacto silencioso entre duas almas marcadas. Ela se endireitou, o corpo ainda trôpego, e deixou os dedos correrem pelo cabelo como quem tenta arrancar o peso da lembrança do dia anterior — uma lâmina cega que corta sem aviso.

Rafaela pareceu captar a mudança na atmosfera, na respiração, no gesto.

— O que tá acontecendo com você?

Ela demorou para responder, a voz emergindo lenta e dolorosamente:

— Nada que eu possa consertar.

A frase saiu baixa, desarmada, sincera demais para ser negada. Do outro lado veio apenas um suspiro profundo e o som distante de papéis sendo organizados, um ruído banal que parecia absurdo diante daquele momento.

— Eu tô indo pra Alesp. Olha, sei que o lance com o pai da Silvia não deve tá sendo fácil, mas eu preciso de uma direção, o bicho tá pegando aqui. Vê se consegue ir pelo menos umas 2h hoje. Mas, se for pra ir desse jeito, melhor não.

Verena assentiu, apesar de saber que a amiga não poderia ver o gesto.

— Eu sei.

A ligação terminou, e o silêncio retornou com força redobrada, preenchendo cada centímetro do apartamento que ainda cheirava a ressaca e arrependimento. O celular permaneceu por um instante em sua mão, escorregando lentamente de volta ao sofá.

Ela se recostou, olhos fixos no teto vazio, onde sombras dançavam com a luz morna da manhã. O som do próprio coração — irregular, estranho — batia em seu peito, um tambor inquieto na vastidão do silêncio.

Lá fora, São Paulo despertava clara demais, como se o mundo inteiro insistisse em seguir seu curso, indiferente à mulher que, ainda presa naquela cama improvisada, não conseguia sequer enfrentar o peso do dia que nascia.

Apartamento Verena e Silvia — 09h53

O telefone vibrava, pontuando o silêncio com seu incessante sussurro, mas Verena permaneceu ali, paralisada, por mais alguns segundos. Seus dedos, trêmulos, hesitaram antes de tocar a tela, como quem teme interromper um silêncio que, por mais doloroso que seja, parece também protegê-la.

Sentada de pernas dobradas no sofá, o cabelo desordenado escorria sobre o rosto, obscurecendo-lhe o olhar que fixava nada, perdido em um espaço entre o agora e uma memória difícil de decifrar.

Com as mãos trêmulas, agarrou o celular. A tela acendeu lentamente, revelando o nome de Silvia, ainda no topo das conversas, como um lembrete de uma presença que parecia maior do que qualquer distância física. O espaço vazio entre elas parecia um abismo, uma fronteira invisível que o tempo e a distância não conseguiam preencher.

Por alguns segundos, Verena permaneceu ali, apenas observando. Depois, começou a digitar, devagar, com a hesitação de quem pisa em terreno instável, temerosa de cada passo.

“Sil, sei que você deve estar exausta. Eu também não dormi direito. Fiquei pensando na nossa conversa, em tudo que ficou pelo caminho.

Sei que não ajudei em nada. Que devia ter ficado do seu lado, mas acabei fazendo tudo errado.
Como tá seu pai?
Se for possível, quero passar aí hoje. Só para te ver, nem que seja na recepção.”

As palavras saíram com uma precisão quase dolorosa. Cada uma carregando o peso do arrependimento, do cuidado, do medo — um peso silencioso, que se expandia na tela. Não havia confidência, apenas o silêncio entre as frases, que dizia mais do que qualquer texto poderia captar, mais do que qualquer lágrima poderia mostrar.

Verena tocou na tecla para enviar, e o som sutil do envio ecoou como uma respiração contida na vastidão do silêncio. Ela deixou o aparelho repousar ao lado da garrafa quase vazia, sobre o sofá, e recostou-se lentamente, como quem busca por forças na calmaria de uma manhã inevitavelmente ingrata.

A claridade do dia não poupava ninguém, era implacável em sua transparência. O mundo lá fora seguia seu curso indiferente, enquanto cada ruído da rua parecia, de forma cruel, julgar cada silêncio dela.

Apartamento Verena e Silvia — Suíte — 10h05

A água escorria em cascata sobre Verena, deslizando pelo corpo como uma corrente fria e implacável, lavando não só a pele, mas a sombra que a envolvia. Encostada no vidro do box, com as mãos firmes apoiadas, ela permaneceu imóvel por um instante, deixando que cada gota fosse uma faca que cortava a névoa de desesperança.

A pele molhada brilhava, marcada por vermelhidões que a tensão da noite anterior deixara. As costas arqueadas, os ombros endurecidos, a coluna se esticava contra a superfície lisa, cada músculo revelado em linhas tensas e doloridas. O cabelo, agora pesado e grudado, delineava o contorno do pescoço e escorria para as costas, formando mechas negras contrastando com o brilho da água.

A água descia pelos braços, percorria as curvas do tronco, escorrendo pela barriga e envolvia cada centímetro da pele, escancarando as cicatrizes, marcas e falhas, expostas e reais. O peito subia e descia em respirações profundas, o rosto firme, olhos semicerrados, enquanto o tempo se diluía ali, naquele instante preciso em que a ferida encontrava a cura.

Verena apoiou a testa no vidro frio, sentiu o choque que a despertava, uma corrente elétrica que sacudia cada célula. A água parecia lavar o drama, dissolver a fraqueza, substituindo-a por uma rigidez quase cruel — a rigidez de quem resolve transformar dor em armadura. O corpo todo vibrava, não mais entregue, mas em vigília.

A mão esquerda se fechou em punho, os dedos apertando com tal força que as articulações sob a pele branca ficaram em evidência. O rosto endureceu, a expressão muda, impiedosa. Ali estava a mulher que recusava o sofrimento passivo, que se erguia da própria ruína para ser, enfim, implacável.

Apartamento Verena e Silvia — Quarto do casal — 10h15

No silêncio deliberado do quarto, Verena se movia com uma precisão quase ritualística. Cada gesto — a toalha passando lentamente sobre a pele, retirando a umidade residual — carregava um significado de purificação, de transformação. 

A água escorria em fios finos, simbolizando não apenas a limpeza física, mas o desprendimento das sombras que a assombravam. Era como se, naquele instante, estivesse se libertando das amarras invisíveis do dia passado, enfrentando a própria essência até suas últimas raízes.

Ao escolher a roupa, cada detalhe era uma decisão calculada, uma afirmação de domínio sobre si mesma. A camisa branca de corte impecável e austera, refletia uma necessidade interior de controle — um escudo que não só transmitia autoridade, mas também escondia vulnerabilidades que ela se esforçava por manter sob controle. 

Os botões, fechados com uma precisão quase obsessiva, simbolizavam uma barreira contra o caos, enquanto a abertura sutil do colarinho revelava uma vulnerabilidade controlada, um lembrete de que sua força residia na capacidade de dominar suas próprias emoções.

A calça de alfaiataria escura, ajustada às pernas longas, era uma extensão da sua ambição: sólida, elegante, pronta para enfrentar o mundo. Os sapatos de couro brilhantes — escolhidos com o mesmo rigor — eram uma arma silenciosa de imposição, elevando-lhe a postura, controlando a narrativa do próprio corpo. Como uma estrategista, ela analisava cada detalhe, cada linha, buscando na aparência uma extensão de seu poder interior.

O cabelo, secando ao natural, caía em ondas que rompiam a austeridade do conjunto, uma suavidade que contrabalançava sua postura imponente. Era, ao mesmo tempo, sedutora e impiedosa — uma dualidade que conhecia bem. Sua mente pulsava com uma calma tida como ferocidade: cada movimento pensado para fortalecer sua imagem, cada escolha uma estratégia de autoconstrução. Verena sabia que sua força não vinha apenas da aparência, mas de uma essência que ela cultivava com disciplina férrea.

Ao ajustar o blazer, seu reflexo no espelho não mostrava só uma mulher pronta para a carreira, mas uma guerreira que forja seu próprio destino. Uma presença que, ao cruzar a porta, não precisa de palavras para impor respeito. Seu olhar, firme como computador de guerra, carregava a certeza de quem já se conhece profundamente — e sabe que, quando deseja, sua imposição pode ser tão implacável quanto uma força invisível que penetra as mentes e os corações.

Cada detalhe que vestia era um lembrete silencioso: ela não apenas se prepara para o que virá. Ela é o evento mais interessante. A deputada que, com cada vértebra ereta, reafirma uma verdade intransferível: ela é o poder, a atração e a força que ninguém consegue resistir.

Hospital Sírio-Libanês — Cafeteria, 11h00

O cheiro de café filtrado se misturava ao de álcool hospitalar, e o som abafado dos passos ecoava no chão encerado. A cafeteria do térreo era um refúgio estranho — entre o alívio e o luto.

Silvia estava sentada perto da janela, o jaleco de visitante dobrado sobre o colo, o rosto sem maquiagem, os olhos fundos de quem havia dormido pouco. O copo de cappuccino à frente já começava a perder o calor, formando uma fina película na superfície.

Mariana chegou discretamente, tirando os óculos escuros e o casaco leve de linho, o rosto dividido entre preocupação e ternura.

— Você tá péssima, mas continua linda. — disse, num tom que misturava ironia e carinho, enquanto puxava a cadeira.

Silvia sorriu sem força.

— Eu me sinto péssima mesmo.

— Como ele tá? — Mariana ajeitou o cabelo, apoiando o queixo na mão.

— Melhor. — Silvia respondeu, sem convicção. — O médico disse que reagiu bem à medicação, que talvez tirem os tubos hoje à tarde.

A amiga assentiu, mas não desviou o olhar. Já conhecia aquele modo ensaiado de falar — como se Silvia recitasse o boletim médico para se proteger daquilo que realmente a feria.

— Que bom, Sil. — A amiga assentiu, sincera. — Eu fiquei com o coração na mão quando soube. Mas e você? — perguntou com a suavidade calculada de quem sabe onde está pisando. — Como você tá?

Silvia girou o copo nas mãos, observando o movimento do café.

— Mas, pra uma boa notícia dessas, você ainda tá com uma carinha péssima.

Silvia soltou um risinho curto, quase imperceptível.

— Obrigada pela gentileza.

— Eu sou prática, não gentil. — Mariana apoiou o queixo na mão, estudando-a com atenção. — Quer me contar o que mais tá acontecendo?

Silvia hesitou.

Olhou pro copo à frente, passou o dedo pela borda de porcelana.

— Nada demais. Só... muita coisa ao mesmo tempo..

— Ah, ótimo. — disse Mariana, com ironia leve. — “Nada demais” é sempre o prenúncio de um desastre.

Silvia riu, mas o riso se desfez rápido.

— É só... cansaço.

— Cansaço, claro. — Mariana acenou, fingindo anotar mentalmente. — Fica perfeita pra capa de revista: “Mulher cansada disfarça o caos interior.”

Silvia balançou a cabeça, sorrindo com mais sinceridade agora. Mariana, vendo o pequeno sinal de rendição, baixou o tom:

— Fala sério, Sil. Eu te conheço. Sei quando o problema é trabalho, quando é sua mãe... e quando é outra coisa.

O olhar de Silvia oscilou por um instante, e Mariana percebeu. Deu um gole no café e murmurou, com um sorriso de canto.

— Pronto. Já entendi.

— Entendeu o quê? — Silvia perguntou, tentando manter o tom neutro.

— Que não é o hospital. Nem o cansaço. — Mariana apoiou os braços sobre a mesa, inclinando-se um pouco. — É o mesmo olhar de sempre, depois que vocês brigam.

Silvia respirou fundo, abaixando o olhar. Não confirmou, nem negou. Mariana continuou, sem agressividade, apenas com aquela firmeza que nascia do afeto.

— Quer fingir que não é sobre a Verena, tudo bem. Eu espero. Mas você tá com o rosto dela estampado Ma Cherry.

Silvia respirou fundo, como quem se rende sem forças. O riso que veio em seguida foi pequeno e sem alegria.

— Você não perde tempo, né?

— Eu só economizo o seu. — Mariana apoiou o queixo na mão, olhando-a com doçura. — Posso estar enferrujada de São Paulo, mas não esqueci todas as vezes em que te vi quebrada.

Silvia deu de ombros, tentando disfarçar o incômodo.

— Nem tudo na minha vida gira em torno dela, viu?

— Ah, claro. — Mariana arqueou a sobrancelha. — E eu sou a Madre Teresa de Pinheiros.

Silvia não conteve uma risada breve, sincera, pela primeira vez em dias. Mas logo depois, o riso se desfez. Ficou o silêncio. O olhar perdido, outra vez.

Mariana pousou o guardanapo sobre a mesa e foi direta, mas com voz suave.

— O que aconteceu, Sil?

Silvia manteve o olhar baixo, mas a voz saiu num sussurro.

— Eu não quero falar sobre isso agora.

Mariana apenas assentiu, respeitando o limite, mas sem se afastar.

— Tudo bem. — disse, calma. — Só não finge pra mim. Porque eu já te vi nesse lugar antes. E eu sei que, quando você fica assim, é porque alguma coisa desandou.

Silvia girava o copo nas mãos, observando o café já frio A espuma tinha sumido, e o fundo escuro refletia um rosto que ela quase não reconhecia.

— A gente só teve um desentendimento — disse, por fim, tentando dar leveza à frase. — Coisa boba. 

Mariana assentiu devagar, sem interromper. O olhar da amiga era de quem media cada palavra antes de soltá-la.

— Um desentendimento — repetiu, com um meio sorriso. — Palavra bonita pra tanta coisa que dói.

Silvia levantou os olhos, surpresa com o tom, mas Mariana logo disfarçou, mudando de posição na cadeira.

— Eu sei que você tá num momento delicado, com seu pai e tudo o mais. — continuou, com suavidade. — Mas, mesmo assim, não dá pra te ver desse jeito e fingir que tá tudo bem.

Silvia respirou fundo.

— Mari, às vezes eu acho que a vida simplesmente cansa de tentar me fazer enxergar as coisas, sabe? Que a gente tenta fazer tudo certo, mas... parece que sempre falta alguma coisa.

Mariana ficou em silêncio por um instante. Depois, com aquela franqueza elegante que só ela sabia usar, soltou:

— Falta alguém te enxergar de verdade.

Silvia desviou o olhar, como se a frase tivesse acertado em cheio. Mariana continuou, a voz mansa, sem pressa.

— Você é uma mulher incrível, Silvia. Inteligente, generosa, bonita em todos os sentidos. Mas parece que vive pedindo licença pra existir, principalmente com ela.

Deu um gole no café e concluiu, num tom quase carinhoso:

— E você merece mais do que isso.

Silvia tentou sorrir, mas o sorriso veio torto, frágil.

— Obrigada. — disse, e a palavra soou sincera, ainda que baixa.

Ficou alguns segundos quieta, os olhos voltando pro copo. As palavras da amiga ecoavam como um espelho: “merece mais”.

Sim, merecia. 

Mas o que mais desejava era que Verena fosse justamente essa pessoa. E era essa a parte que doía. Porque, mesmo quando tentava se convencer do contrário, uma parte de si ainda acreditava. Ou queria acreditar.

Mariana observou o silêncio e entendeu. Não insistiu. Limitou-se a tocar a mão da amiga sobre a mesa — um gesto discreto, de presença.

Do lado de fora, o sol começava a bater mais forte sobre o vidro da cafeteria. Silvia piscou algumas vezes, e por um instante, o reflexo da própria imagem misturou-se ao da rua lá fora. Era difícil saber o que estava mais distante: a cidade, ou o que sentia.

— Ela me mandou uma mensagem mais cedo. — disse, sem erguer os olhos.

Mariana não precisou perguntar “quem”.

— E você respondeu?

Silvia negou com a cabeça.

— Não. Eu nem devia ter lido. Só que... — parou por um instante, procurando as palavras certas. — É sempre igual, Mari. Ela faz tudo desabar, depois manda uma mensagem simples, e eu fico paralisada.

A amiga se recostou na cadeira, cruzando os braços.

— Isso tem nome, Sil. Se chama controle emocional. E você sabe que a Verena é perita nisso.

Silvia soltou um meio sorriso cansado.

— Não acho que ela faça de propósito. Acho que ela só... não sente o que eu sinto.

Mariana balançou a cabeça.

— Sil, eu te conheço há anos. Sei como você fica depois das brigas. — Ela pousou a mão sobre a dela, com cuidado. — E sei que agora você tá tentando me convencer de que ainda há algo pra salvar

Silvia manteve o olhar baixo.

— Talvez eu esteja tentando me convencer de que ainda dá pra amar alguém sem se perder inteira no processo.

— Mas dá? — Mariana perguntou, firme.

A resposta veio num sussurro:

— Não sei mais.

O silêncio que se seguiu foi interrompido apenas pelo barulho de uma colher batendo numa xícara distante. O som das máquinas de café parecia o único sinal de vida ali dentro.

Mariana observou a amiga por um instante, depois soltou devagar: 

— Eu vi o jeito que você ficou depois da última briga. Não era só raiva. Era... desamparo. E agora tá igual.

Silvia assentiu, o olhar marejado.

— Ela me desarma, Mari. Sempre consegue. Mesmo quando eu juro que não vai mais. Que não vou mais ceder.

— Então talvez já esteja na hora de parar de jurar. — respondeu a amiga, com calma. — E começar a agir.

Silvia respirou fundo, apoiando o rosto nas mãos por um instante. O café já estava frio, o hospital seguia seu ritmo lá fora, e ela continuava ali — presa entre o amor e o cansaço.

O silêncio durou o suficiente para ficar confortável. Mariana agitou-se distraída no guardanapo, rasgando-o em finas tiras, Silvia observava o café frio, perdida em pensamentos que não confessaria nem sob juramento.

Então o celular vibrou. Um toque longo e insistente, que parecia cortar o ar da cafeteria.

Silvia olhou por instinto. 

O nome na tela piscou: Amor.

Seu coração acelerou antes que pudesse controlá-lo. Por um segundo, o ímpeto quase venceu. A mão se moveu um pouco, mas parou no meio do caminho. Apenas observou o visor brilhar na mesa — aquele pequeno retângulo que parecia conter todo o passado e o que restava do presente.

O toque continuou. Um segundo. Dois. E então cessou.

Silvia respirou fundo, tentando disfarçar o tremor no gesto de empurrar o aparelho para o canto da mesa.

Mariana, sem dizer nada, a observava atentamente. O olhar era calmo, mas sabia demais. Esperou alguns segundos, antes de soltar, num tom leve, quase brincalhão:

— Era sua princesa encantada?

Silvia soltou o ar, rindo baixo, um breve riso cansado.

— Só você para me fazer rir uma hora dessas.

— É um dom. — respondeu Mariana, apoiando o queixo na mão. — Mas, convenhamos, o timing dela é invejável.

Silvia balançou a cabeça, rindo de leve, mas o olhar já estava longe, fixo no nada. O silêncio cresceu novamente entre as duas, não desconfortável, mas denso. Mariana, experiente, não quebrou. Sabia que às vezes o melhor que podia oferecer era uma companhia tranquila.

Silvia mantinha os olhos fixos na xícara, fingindo concentrar-se naquele resto de café que já não tinha mais gosto de nada. Mariana observando a amiga percebeu o discreto rubor subindo pelas maçãs do rosto, gesto de quem tenta respirar devagar para disfarçar o que sente.

A mesa ficou em silêncio por alguns segundos. Então o toque voltou. Mais urgente, como se o aparelho insistisse em reabrir uma ferida que não cicatrizou.

Silvia engoliu seco. Não olhou para ele imediatamente, mas o som parecia ecoar dentro dela.

Mariana suspirou, o olhar se alternando entre o aparelho e a amiga. Então, num movimento lento, quase cúmplice, afastou a cadeira.

— Eu vou no banheiro — disse, naturalmente ensaiado. — Já volto.

Silvia levantou o olhar ao mesmo tempo.

— Mari, não precisa.

Mas Mariana sorri, aquele sorriso terno de quem entende mais do que gostaria.

— Relaxa, Sil. Tá tudo bem. — piscou levemente, e saiu com passos leves, a blusa leve balançando ao ritmo da ironia silenciosa do gesto.

Silvia estava sozinha. O celular não parava de tocar na mesa, a vibração tremendo no tampo de mármore como um coração descompassado.

O rosto dela queimou. Sabia exatamente o que a amiga fizera: um gesto de carinho disfarçado de licença. E isso a fez se sentir ainda mais fraca — por querer atender, por não conseguir resistir.

O toque persistiu. Silvia respirou fundo, fechou os olhos por um instante e estendeu a mão. Quando os dedos tocaram o aparelho, o som pareceu crescer, como se o próprio hospital tivesse parado para ouvir.

O celular ainda tremia, insistente, como se o nome na tela tivesse vida própria. Respirou fundo, forçando-se. “Não atende. Não atende.” Mas a mão, pesada e autônoma, deslizou sobre a mesa e, sem pensar muito, atendeu.

— Alô...

Pausa. Do outro lado, a voz veio baixa, hesitante, familiar demais. Silvia fechou os olhos, apoiando o cotovelo na mesa, a mão livre cobrindo parte do rosto.

— Sim, estamos bem. — respondeu, tentando manter o tom neutro. — Uhum, ele tá melhorando.

Fez uma pausa. O som distante da máquina de café cobriu parte da fala do outro lado. Silvia ouviu, mas não quis responder de imediato.

— Eu sei. — murmurou, o cansaço na voz. — Mas agora não é hora pra isso.

A aliança girou no dedo, fria. Ela olhou para as próprias mãos, sentindo a fraqueza.

— Porque... — Silvia sentiu a garganta apertar. — Porque eu tô no limite, Verena. Entendeu? Tô esgotada. E eu sei que se a gente conversar agora, eu vou acabar cedendo, e vai sair tudo errado de novo.

Silvia fechou os olhos, o corpo enrijecendo.

— Não. Não é que eu não queira. Não é falta de vontade. É só... é cansaço de lutar, sabe?

A voz insistiu. Silvia apertou o guardanapo entre os dedos.

— Porque não é o momento, Verena. — Um tremor leve escapou na fala. — Porque eu não tô pronta pra te ouvir.

Outra pausa. A cada frase ouvida, Silvia sentia o ar faltar um pouco mais. O olhar fixo na mesa, a respiração presa, o coração acelerado.

— Não... — repetiu, quase num sussurro. — Eu sei que você tá tentando, mas agora não.

Do outro lado, a voz suavizou, quase um carinho. Silvia respirou fundo, buscando a firmeza que não tinha.

— Eu preciso desligar. — sussurrou, a voz quase suplicante. — De verdade. Eu preciso desligar antes que eu…

Fechou os olhos com força, ouvindo a súplica da esposa se intensificar. O impulso de ceder veio, como sempre vinha — aquele tom doce, íntimo, perigoso. Sentiu o peito apertar com uma dor aguda, a dor da fraqueza. Bastava uma palavra, uma única palavra carinhosa, e o coração traia a memória de tudo o que aconteceu.

Ela respirou fundo novamente, tentando resgatar a lucidez que a havia levado até ali.

— Eu preciso desligar. Tá? — sussurrou, a voz quase inaudível. — Eu preciso desligar antes que eu... que eu tome uma decisão errada.

Fechou os olhos com força, como se buscasse fôlego, e disse mais uma vez:

— Verena, por favor...

Ouviu a voz insistir — baixa, doce, perigosa. E isso foi o bastante 

Engoliu em seco.

— A gente fala depois, tá? Eu preciso desligar. Fica bem.

Encerrou a chamada. Silêncio absoluto.

Ficou parada, o celular ainda na mão, o rosto inclinado sobre a mesa fria. O corpo inteiro tremia, exausto, vencido pela constatação: a mente dizia basta, mas o coração, ah, o coração ainda pertencia à voz do outro lado da linha.

Quando Mariana voltou, encontrou a amiga quieta, recomposta pela metade. Silvia ajeitou o cabelo, disfarçando o olhar marejado.

— Tudo bem? — perguntou a amiga, sentando-se.

Silvia sorriu sem graça, o tipo de sorriso constrangido que dói.

— Tudo. — respondeu. — Ou quase.

Mariana assentiu, com um olhar compadecido, sem perguntar mais nada. E o som distante do hospital voltou a preencher o ar, como se nada tivesse acontecido.

Estacionamento do Hospital Sírio-Libanês — 11h42

O sol refletia nos carros prateados do pátio, e o vento morno carregava um cheiro leve de gasolina e folhas secas. Verena estava encostada na lateral do veículo, de braços cruzados, o celular ainda na mão. Os óculos escuros escondiam o olhar, mas não o semblante tenso.

A ligação havia terminado há menos de um minuto. O som do toque interrompido ainda ecoava no corpo, como um zumbido persistente. Ela respirou fundo, tentando recobrar a compostura, mas o ar parecia pesar.

Passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás como se pudesse clarear a mente. Apoiada na lataria quente, falou sozinha, num tom rouco.

— Claro que ela não quis me ver...

O sorriso breve que se formou foi mais amargo que irônico. Sabia que tinha magoado Silvia, talvez mais do que imaginava. Mas também sabia que o orgulho da esposa era frágil — bastava um gesto, uma palavra no tom certo, e o muro começaria a ceder.

Guardou o celular no bolso, tirou os óculos e apertou os olhos contra a luz. O rosto estava abatido, mas o olhar... o olhar mantinha um brilho obstinado, o mesmo que usava em plenário quando decidia que nada a faria recuar.

— Eu só preciso ser mais convincente. — murmurou. — E não parecer culpada.

Endireitou-se, ajeitou o colarinho e pegou a chave do carro. A cada movimento, reconstruía a armadura. Passo a passo, recuperava a versão de si que sabia usar como escudo: firme, polida, persuasiva.

Antes de entrar, olhou o reflexo no vidro da janela. O rosto sereno, o cabelo no lugar, o sorriso ensaiado voltando aos poucos. Só os olhos traíam — ainda marejados, ainda pedindo desculpas por dentro.

Verena respirou fundo, fechou o punho e, com a calma de quem decide o próximo ato, sussurrou para o próprio reflexo.

— Hoje eu vou consertar isso.

Entrou no carro e ligou o motor. O som grave do veículo cobriu o último resquício de hesitação. E, pela primeira vez naquela manhã, parecia saber exatamente o que iria fazer.

Rodovia Ayrton Senna — 11h52

O carro avançava pela pista expressa, e o ruído constante dos pneus contra o asfalto fazia um som quase hipnótico. Verena dirigia com uma mão no volante e a outra apoiada no câmbio, o olhar perdido em algum ponto que não existia. O sol refletia no painel, o ar-condicionado soprava um ar  morno. O rádio, desligado.

As ideias iam e vinham em espiral, como os carros passando ao lado — rápidas, perigosas, sempre à beira do descontrole. Ela tentava ordenar os pensamentos: Silvia primeiro, depois Valentina. Mas tudo se misturava.

Silvia.

A briga, a voz magoada do outro lado da linha, a recusa em vê-la. Precisava de algo sincero, mas que não soasse como fraqueza. Um gesto que dissesse “ainda me importo”, sem precisar das palavras.

Pensou na cafeteria do hospital. Silvia sempre pedia o mesmo café com leite, morno, e deixava o açúcar intacto. Se lembrava da marca do chocolate que ela gostava de comer escondido — amargo, com pedacinhos de laranja. 

Podia comprar o doce e deixar na recepção com um bilhete. Sem assinatura. Silvia saberia.

Mas era o outro nome que insistia em ecoar — Valentina. 

A lembrança veio como um flash rápido: o medo no olhar da menina, a marca no pescoço, a porta do carro se abrindo. Verena prendeu a respiração, o nó subindo na garganta. A culpa vinha junto.

Por tudo.

Pelo que fez, pelo que sentiu, pelo que não conseguiu conter.

Com ela não havia atalho, nem desculpa fácil. O erro fora mais fundo. E o que mais a torturava era saber que, mesmo com a culpa, a vontade de vê-la não passava.

O semáforo à frente ficou amarelo. Verena freou devagar. Pegou o celular no painel e ficou olhando para a tela apagada, sem coragem de tocar.

Precisava pensar. Não podia se aproximar de novo — não daquele jeito. Mas também não suportava a ideia de deixá-la acreditar que tudo havia sido só violência, e não o desespero desajeitado de quem sentia demais.

Apertou o botão lateral e a tela acendeu, refletindo nos olhos cansados. A última conversa ainda estava lá, intacta. Ficou olhando a tela por um tempo, o polegar hesitando sobre o teclado O coração batia rápido, o corpo inteiro em conflito com a própria razão.

Digitou.

“Eu sei que te assustei. E que não tenho o direito de pedir perdão outra vez.”

Apagou.

“Você não merecia aquilo. E eu não sou aquela mulher.”

Apagou de novo.

“Eu não quero te assustar, nem invadir seu espaço. Só precisava te pedir desculpa mais uma vez. Pelo que aconteceu, pelas coisas que eu fiz, disse e pelas que não consegui dizer.Se um dia você conseguir me ouvir sem medo, eu quero te explicar o que houve. Eu errei, você não merecia ser tratada daquela forma. Eu não sou aquela mulher Valentina.”

Parou. 

Leu devagar. 

A frase ficou ali, solta na tela, crua, verdadeira. Não sabia se teria coragem de mandar. Havia sinceridade ali, e medo também. Mas, acima de tudo, havia saudade. Além disso, sentiu que havia encontrado o tom certo: não o da culpa, mas do cuidado. Leu uma, duas, três vezes antes de enviar Por um instante, pensou em apagar, mas o dedo já tinha pressionado o botão.

Sabia que não deveria ter feito aquilo. Se afastar era o melhor caminho. Mas também sabia que há culpas que não se apagam com silêncio — e amores que não obedecem à razão.

Largou o celular no banco ao lado e recostou a cabeça, o olhar preso no retrovisor. O reflexo mostrava a mulher que o mundo conhecia — impecável, decidida, impenetrável. Mas atrás dos óculos, havia outra: exausta, quebrada, e disposta a reconstruir cada pedaço — mesmo que ninguém soubesse. Um sorriso amargo se formou nos cantos da boca, do tipo que é também uma sentença. Sabia que tinha feito besteira. De novo. Mas era como se cada erro viesse com a promessa de um pequeno alívio e, por alguns minutos, ela aceitava pagar o preço. 

Escola Estadual Professor Luiz Roberto Pinheiro — Quadra coberta, 12h00

O barulho das bolas quicando e dos tênis arrastando pelo piso ecoava pela quadra abafada. A turma do segundo ano C já estava no fim da aula de Educação Física, mas Valentina parecia em outro lugar. Sentada no banco lateral, com o moletom fechado até o pescoço, fingia anotar algo no caderno que trouxera por hábito.

O calor era sufocante. O sol do meio dia batia oblíquo, tingindo o ginásio de amarelo e poeira. Mesmo assim, ela não tirava o casaco. Nem prendeu o cabelo. Desde a última discussão com a amiga, Carol observava tudo de longe — o silêncio, o isolamento, a forma como a amiga evitava olhares.

Quando o professor apitou o fim da aula, Valentina guardou as coisas rápido, sem olhar pra ninguém, e caminhou em direção ao banheiro. Carol hesitou por alguns segundos, mas acabou indo atrás.

O corredor estava vazio, o som da quadra ficando distante. Ao empurrar a porta devagar, Carol parou — a amiga estava diante do espelho, de costas, com o moletom meio aberto e o cabelo caindo sobre o ombro.

Por um instante, Valentina não percebeu a presença dela. Levantou o cabelo devagar, com cuidado, como quem ainda se acostuma ao próprio reflexo. O espelho devolveu a imagem de um pescoço pálido, delicado — e ali, quase escondida pela gola, uma marca arroxeada, recente.

Carol sentiu o estômago revirar. Entrou de vez, sem saber o que dizer. A porta bateu atrás dela. Valentina se virou num sobressalto, o rosto assustado, as mãos subindo automaticamente para cobrir o pescoço.

— Carol... — a voz saiu trêmula, quase um pedido. — O que você tá fazendo aqui?

A amiga ficou parada por um segundo, processando o que via.

— Eu que devia perguntar. — respondeu, tentando controlar o tom. — O que aconteceu com você?

Valentina desviou o olhar, abaixando as mangas, como se isso pudesse apagar a pergunta.

— Nada.

— Não mente pra mim. — Carol deu um passo à frente. — Eu te conheço, Valen. Isso não é “nada”.

Por um instante, ficou imóvel, tentando entender o que via. Depois, a voz escapou, baixa, incrédula:

— Isso... isso é um ch*pão no seu pescoço?

Valentina congelou. A mecha de cabelo caiu de volta, cobrindo a marca. As bochechas ficaram vermelhas num segundo.

— O quê? — tentou disfarçar, a voz falhando. — Não... não é nada.

Carol deu um passo à frente.

— Como assim “não é nada”? — o tom saiu entre espanto e nervosismo. — Eu tô vendo, Valen.

Valentina desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. Não tinha parado pra pensar que aquilo era um… Nem conseguia pensar na palavra sem sentir o rosto inteiro arder. Apenas abaixou a cabeça, o cabelo cobrindo metade do rosto.

— Eu não quero falar sobre isso.

— Mas alguém te fez isso! — a voz de Carol subiu, involuntariamente. — E pelo amor de Deus, Valen, você tá tremendo.

Carol respirou fundo, tentando conter a própria agitação. Deu mais um passo, mas o olhar da amiga — entre o medo e o constrangimento — a fez parar.

— Foi alguém da escola? — perguntou Carol, a voz baixa, tentando conter a raiva que crescia.

Valentina balançou a cabeça, negando rápido.

— Não.

— Então quem foi? — insistiu. — Me diz quem fez isso.

Valentina respirou fundo, os olhos marejando. Por um instante, pareceu prestes a responder. Mas o som de uma torneira pingando quebrou o clima, e ela recuou, apertando as mangas do moletom.

— Por favor, Carol... não pergunta. — disse, quase num sussurro. — Eu não quero falar.

Carol ficou imóvel. O coração batia forte, a mente cheia de hipóteses que ela não queria acreditar. E o pior era o olhar da amiga — o tipo de olhar que pedia ajuda, mas implorava para não ser ajudada.

— Quem foi que fez isso? — perguntou, num sussurro firme. — Me fala.

Valentina manteve o olhar no chão.

— Ninguém.

— Ninguém? — Carol deu meio passo à frente. — É quem eu tô pensando, não é?

O silêncio foi resposta suficiente. Valentina não ergueu os olhos, mas o jeito com que prendeu a respiração entregou tudo.

Carol recuou um pouco, como se o oxigênio tivesse sido arrancado do corpo.

— Caralh*, Valen... — sussurrou, a voz falhando. — A Verena fez isso com você?

Valentina fechou os olhos, o rosto contraindo num gesto de vergonha e desespero.

— Para, Carol... por favor.

— Não, não vou parar! — explodiu a amiga, sem conseguir conter o tremor da própria voz. — Ela é uma covarde, Valen. Uma covarde!

Valentina  tentava conter o choro. Cada palavra soava como um golpe — e não só contra Verena, mas contra ela mesma, contra o que sentia, contra a confusão que nem sabia nomear.

— Para... — repetiu, com a voz embargada. — Eu não quero ouvir.

Carol respirou fundo, tentando se conter, mas as lágrimas também começavam a arder. Olhou para a amiga — tão frágil, tão distante de tudo que costumava ser — e sentiu uma mistura insuportável de raiva, medo e impotência.

— Ela não tinha o direito. Olha como você tá Valen. — disse por fim, mais baixo, quase para si mesma.

Valentina não respondeu.

Ficou ali, imóvel, com o moletom fechado até o pescoço e os olhos marejados, sem conseguir explicar, sem conseguir defender ninguém — nem a si própria. Carol ainda tentava respirar direito, os olhos alternando entre o reflexo das duas no espelho e a figura frágil de Valentina.

— Valen... — a voz veio mais baixa, trêmula. — Ela... ela fez mais alguma coisa com você?

Valentina levantou os olhos num sobressalto, sem entender de imediato.

— O quê?

— Eu tô perguntando... — Carol hesitou, a voz falhando. — Se teve... mais alguma coisa.

Por um segundo, o tempo parou. Valentina deu um passo atrás, o rosto em choque.

— Claro que não! — respondeu, a voz saindo entrecortada. — Não, Carol, pelo amor de Deus, não foi isso!

Carol levou a mão à boca, arrependida da própria pergunta, mas ainda tomada pelo medo.

— Eu só... — tentou explicar. — Eu vi a marca, e você tá assim, tremendo, sem querer falar nada... Eu pensei...

— Não pensa! — interrompeu Valentina, a voz quebrando. — Eu não quero que você pense nada!

O eco da frase bateu nas paredes frias do banheiro. As duas ficaram em silêncio, ofegantes Carol passou a mão no rosto, a respiração pesada.

— Desculpa. — murmurou, por fim. — Eu não devia ter perguntado desse jeito.

Valentina virou-se de costas, apertando as mangas do moletom, tentando se recompor.

— Eu só quero esquecer, tá? — disse, com a voz fraca, quase infantil. — Fingir que nada disso aconteceu.

— Eu não consigo fingir, Valen. — respondeu Carol, num tom entre súplica e desespero. — Eu olho pra você e vejo que tem alguma coisa muito errada.

Valentina não respondeu. Ficou parada diante do espelho, o olhar perdido, as lágrimas contidas no limite. O rosto pálido refletia mais do que vergonha — refletia o medo de si mesma, o medo do que sentia. Carol se encostou na parede, ainda tremendo, sem saber o que fazer.

— Quando foi? — perguntou, tentando manter o tom baixo.

Valentina não respondeu. Abaixou o olhar, o cabelo caindo à frente do rosto.

— Valen, olha pra mim. — insistiu Carol. — Onde foi? Quando você encontrou com ela?

A pergunta ficou suspensa entre as duas, cortando o ar. Valentina engoliu em seco, as mãos apertando o tecido da blusa..

— Eu não quero falar sobre isso.

— Você precisa. — Carol se aproximou mais um passo, agora a voz saindo em tom de desespero. — Você tem noção do que é isso? Do perigo que é?

— Perigo? — repetiu Valentina, com um meio riso trêmulo. — Você fala como se ela fosse um monstro.

— Eu falo como alguém que te ama e que não quer te ver destruída, Valen! — respondeu Carol, sem conter o tremor. — Você não conhece ela.

— E você conhece? — retrucou, com uma firmeza inesperada.

Carol piscou, surpresa com o tom. Valentina respirou fundo, tentando controlar o choro, mas a voz já vinha embargada.

— Você fala como se soubesse de tudo, mas não sabe o que aconteceu, Carol. Não sabe o que ela disse, o que eu senti...

— Eu sei o suficiente pra entender que ela é uma mulher feita, uma deputada, e que você é uma menina de dezesseis anos! — cortou Carol, a voz alta demais. — Isso por si só já é errado!

Valentina deu um passo atrás, o olhar ofendido, ferido.

— Errado pra quem? Pra você? Pra igreja? — a voz saiu trêmula, mas carregada de dor. — Eu não pedi pra sentir nada disso!

— Valen... — começou Carol, mais calma, mas ainda com a voz firme. — Você precisa se afastar dela.

Valentina não reagiu de imediato. Apenas piscou devagar, como se a frase tivesse demorado a atravessar o espaço entre elas.

— Eu tô falando sério. — insistiu Carol. — Essa mulher não tá te fazendo bem.

Valentina apertou as mãos no próprio corpo, o coração disparado. Ouvir aquilo em voz alta doía mais do que imaginava.

— Depois de tudo que eu vi… — continuou Carol. — Desde o estágio, você mudou. Fica pálida, assustada, tá sempre triste. E agora... — fez um gesto vago em direção ao pescoço. — Isso.

Valentina respirou fundo, o olhar ainda fixo no espelho. Por dentro, uma onda de culpa e saudade se misturava, deixando o corpo trêmulo. Tinha medo, sim — do que sentira, do que vivera, do que podia acontecer, mas o simples pensamento de não ouvir mais a voz de Verena, de não vê-la, de não sentir aquele olhar, aquele toque... era insuportável.

— Eu não consigo, Carol. — murmurou, a voz quase sem ar.

— Consegue sim. — rebateu a amiga, com doçura tensa. — Você só acha que precisa dela.

Valentina virou-se devagar. O olhar marejado, o rosto dividido entre vergonha e teimosia.

— Eu não acho. Eu... — hesitou, as palavras presas na garganta. — Eu só não sei como parar de sentir.

Carol respirou fundo, fechando os olhos por um instante. Queria gritar, abraçar, sacudir a amiga até que ela entendesse, mas nada parecia suficiente.

— Ela é casada, Valen. — disse, num sussurro. — Casada. E adulta. Isso não é amor, é abuso.

Valentina estremeceu. A palavra ficou suspensa no ar, cortando o ar como lâmina. Carol respirava fundo, tentando se controlar, mas a raiva crescia. Olhou para Valentina — o olhar baixo, o corpo encolhido, a vergonha estampada em cada gesto — e sentiu o sangue ferver.

— Você acha que ela se importa? — perguntou, a voz subindo. — Aquela mulher não pensou duas vezes antes de trair a própria esposa! O que te faz pensar que não faria o mesmo com você? Você acha mesmo que ela vai te assumir?

Valentina levantou o olhar num sobressalto, o rosto em choque.

— Para, Carol...

— Não! — cortou a amiga, a voz embargada de raiva. — Não vou parar! Você tá defendendo uma mulher que mente pra todo mundo, que tá brincando com a sua cabeça, com seus sentimentos...

— Você não entende! — explodiu Valentina, as lágrimas finalmente escapando. — Não fala como se soubesse o que aconteceu!

— Eu não preciso saber cada detalhe pra entender o que ela é! — retrucou Carol. — Covarde, manipuladora...

— Para! — gritou Valentina, cobrindo os ouvidos com as mãos. — Por favor, para!

O eco das palavras bateu nas paredes frias do banheiro. Carol se calou, ofegante, assustada com a própria intensidade. Valentina respirava rápido, o rosto úmido. Carol deu um passo pra trás, a voz agora mais baixa, trêmula.

— Eu só não quero te ver machucada, Valen. É pedir demais?

Valentina abaixou as mãos devagar, o olhar marejado e cansado.

— Você acha que eu não tô machucada? — perguntou, num tom que não era de raiva, mas de dor. — Todo dia eu acordo tentando não pensar nela. E não consigo.

Carol desviou o olhar, sentindo o peso da confissão. Por um instante, o silêncio voltou, pesado e cheio de tudo que nenhuma das duas sabia como consertar.

Valentina enxugou o rosto com a manga da blusa.

— Você pode odiar ela o quanto quiser. Eu só... não consigo.

— Então ela conseguiu o que queria. — murmurou Carol, amarga.

Valentina ergueu os olhos, magoados.

— Não fala como se eu fosse um erro que ela cometeu.

— E o que você é então, Valen? — perguntou a amiga, sem ironia, apenas cansada.

A pergunta ficou no ar. Valentina abriu a boca para responder, mas nada saiu. Só o som de sua própria respiração, rápida e trêmula, preenchendo o espaço entre as duas. Do lado de fora, um grupo de alunas passou rindo pelo corredor, e o contraste entre o riso e o silêncio dentro daquele banheiro era quase cruel.

Carol respirou fundo, tentando se recompor.

— Desculpa. — disse, mais calma. — Eu só tô com medo.

Valentina virou o rosto, engolindo as lágrimas, o peito apertado. Sabia que a amiga tinha razão. Mas saber não fazia a dor diminuir.

— Eu não quero falar mais sobre isso. — disse, com a voz rouca. — Por favor.

Carol assentiu devagar, mas não conseguiu esconder a tristeza.

— Tudo bem. Mas promete que vai tentar se afastar. Pelo menos tentar.

Valentina não respondeu. O silêncio foi a resposta mais honesta que tinha.

Carol suspirou, baixando o olhar.

— Eu só quero você bem, Valen. — murmurou. — Só isso.

Valentina apertou os olhos, tentando conter o choro, e virou-se de novo para o espelho. A própria imagem parecia uma estranha — pálida, cansada, com o reflexo de alguém que amava o que devia temer.

Rodovia Ayrton Senna — 12h15

O sol batia em cheio no para-brisa, e o reflexo prateado dos carros à frente obrigava Verena a semicerrar os olhos. O ar-condicionado soprava no máximo, mas o calor de novembro atravessava tudo — pele, tecido, paciência.

O letreiro de um posto vinte e quatro horas surgiu à frente. Verena diminuiu a velocidade, sinalizou e desviou para a alça de acesso, o carro deslizando para o acostamento com a precisão automática de quem dirige no piloto da culpa. 

Estacionou devagar sob a sombra rala de uma árvore. Respirou fundo e ficou alguns segundos observando o reflexo do letreiro vermelho no vidro. Não planejava nada daquilo, mas agora o impulso era quase físico.

Parou ao lado da loja de conveniência, desligou o motor e ficou ali, por alguns segundos, com as mãos ainda no volante. A mensagem para Valentina ainda estava na tela do celular, pousado no banco do passageiro. Verena lançou um olhar breve para o visor e soltou um riso curto, amargo.

— Parabéns, Castilho. Outra decisão brilhante.

Pegou novamente o aparelho, abriu o navegador e digitou rápido, com os dedos firmes:

Farmácia próxima posto Ayrton Senna.

O resultado apareceu em segundos. O mapa mostrou uma a trezentos metros dali, junto à conveniência do posto. Respirou fundo, jogou o cabelo para trás e desceu do carro, os sapatos marcando um som seco no asfalto.

O ar estava quente, denso, com cheiro de gasolina e fritura velha de uma lanchonete ao lado. Caminhou até a farmácia com passos firmes, com o mesmo andar de quem vai resolver um problema, não comprá-lo.

Lá dentro, o contraste da luz branca e do ar-condicionado gelado fez o corpo estremecer. As prateleiras eram um labirinto de cores: analgésicos, vitaminas, cosméticos. Caminhou pelo corredor até parar diante da seção de testes.

Uma fileira inteira de embalagens discretas, coloridas, impessoais. Ficou alguns segundos parada, observando como quem tenta decifrar um código.

— Posso te ajudar, senhora? — perguntou uma atendente jovem, com um crachá torto e olhar cansado.

Verena virou-se, com o meio-sorriso educado que usava em comissões e coletivas.

 — Não, obrigada. Já encontrei o que procurava.

A voz saiu calma, quase suave.

Pegou uma das caixas, conferiu o nome do fabricante — mania de quem lê rótulos até em momentos de crise. Leu as letras na caixa discreta como quem revisa um documento importante — método, controle, vício de precisão.

Foi ao caixa.

O atendente —  um rapaz de jaleco azul — passou o código sem levantar os olhos.

— Só isso? — perguntou, distraído.

— Só.

— Quer nota fiscal?

Verena negou com a cabeça.

— Não. Obrigada.

Pagou em dinheiro e deixou o troco sobre o balcão. O sol voltou a atingi-la assim que saiu. Por um segundo, precisou fechar os olhos.

De volta ao carro, colocou o pacote sobre o banco e ficou observando o nome impresso na embalagem. Aquilo não era apenas um teste — era uma jogada. Baixa, calculada. Cruel. E, ainda assim, o único movimento que lhe parecia possível.

Pegou um envelope no porta-luvas, a caneta dourada e escreveu com letra impecável, sem tremer:

Pra futura mamãe Silvia.

Se ainda quiser tentar, estou pronta.

O coração bateu mais rápido. Leu a frase duas vezes e apoiou a caneta sobre o joelho. O som distante dos carros se misturava ao da própria respiração.

Encostou a cabeça no banco, fechou os olhos e soltou o ar devagar.

— Você é um monstro. — murmurou.

Mas não parecia um insulto, parecia constatação.

Mas não rasgou o papel. Guardou o envelope, ligou o motor e entrou de novo na estrada. O hospital não ficava longe. E, naquela manhã quente de terça-feira, Verena Castilho decidiu que, se o amor era uma guerra, o ataque seria sua melhor defesa.

Fim do capítulo

Notas finais:

Oiee! Boa noite!

Espero que estejam todos bem. Gente, tô com tanto sono, que mal consigo escrever agora rsrs. Tô louca pra responder os comentários incríveis de vcs, mas não posso fazer de qualquer jeito, porque não tem como, vcs são tão incríveis, então o mpinimo é eu tentar responder a altura rsrsr. Mas amanhã estarei lá!

Obrigada pelo carinho!

Abraços, fiquem com Deus! S2


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Comentários para 37 - Dividida Entre Dois Corações:
HelOliveira
HelOliveira

Em: 09/11/2025

Verena tá jogando muito sujo com a Sílvia, torcendo para que ela caia nesse golpe, ela nao merece isso ..

Valentina não tem noção pra onde está se deixando ser leveda

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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

As defesas de Silvia estão bem fragilizadas para conter um ataque nessa proporção.  -  No entanto ela pode ter uma surpresa, nessa certeza de que essa jogada é gol na certa.- Ela não conta que existe o elemento surpresa.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Pois é. Verena já tá contando com a Vitória certa, mas não sei não. Dessa vez acho que não vai ser tão fácil quanto ela tá pensando. Vamos ver né.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Esse golpe foi muito baixo. - Ela vai apelar sem dó nem piedade.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Golpe baixíssimo.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Eita, Carol vai no encalço de Verena, ela que não brinque com os sentimentos de Valen. 


Olha apesar de Valentina não conseguir ainda nomear o que aconteceu ( até Carol abrir os olhos do que aquilo no pescoço dela foi um "chupão"), ela continua desejando estar com Verena apesar do medo e da vergonha que ela sente.


Houve um embate entre ela e Carol, em relação ao "conhecer" Verena.  - Queria entender se rola algo além da amizade de Carol para Valentina? Será que está surgindo sentimentos? - Por que esse desejo de proteção dela, creio que perpassa o campo da amizade. Há algo mais do que deixa transparecer 


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Então, acredito que a amizade delas é tipo a da Silvia com a Mariana. Apesar que parece tbm rsrsr, que esse cuidado vai além. Mas assim, eu acredito que seja só amizade mesmo. Talvez até tenha ciúmes sim, mas só de amigas.

Valentina tadinha, já não consegue se ver mais sem a Verena. Complicado


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Estou pasmada com a engenhosidade de Verena, primeiro ela iria lidar com Silvia, depois com Valentina. - A mensagem que ela escreveu sou bem aos próprios ouvidos dela, pois apesar de revelar verdades, não a colocava como culpada. - Quer dizer que com Valentina ela não poderia pegar atalho? Kkkk! - Ela não conhece o terreno o suficiente, por isso que ela não tem como fazer isso.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Kkkkkkkkk. Bom, considerando que a Valentina é bem sensível, ela já viu que tem que ter o máximo de cautela, senão o bicho pega.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

OMG! Kkkk! Só não usou o tom certo?

Que maquiavélica obstinada. - Ela vai utilizar o recurso infalível para convencer. - Ela vai puxar na corda que destitui todas as outras- Mas será que dessa vez Silvia a abraçará de volta? Eis a questão.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
É, eis a questão. Acho que a Silvia vai tentar resistir, mas sinceramente, acho que ela vai acabar cedendo de novo.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Silvia resistiu sofregamente aos avanços de Verena. - Foi penoso reparar o quanto ela é dependente emocionante de Verena. - E não querer enxergar isso é o que traz mais sofrimento para a vida dela, porém foi bom ela ter atendido a esposa, pois ter encarado as investidas dela para uma reconciliação, ela permaceu firme, apesar de quase ser dissuadida pelas conversas cirúrgicas de Verena.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Exatamente isso. Esse é o ponto. A Silvia tem uma dependia emocional muito grande pela Verena, que infelizmente sabe disso e usa a seu favor. Acho isso terrível, pq gosto muito da Silvia. Não julgo ela, pessoas em situações assim muitas vezes precisam até de algum tipo de apoio de alguém de fora pra sair da relação, pq não é fácil.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Esse controle emocional que Verena exerce sobre Silvia é algo deliberado ou Silvia não quer acreditar nisso? Porque o que tudo indica é algo que ela faz, porque conhece os pontos fracos da esposa, então, de forma consciente ela manipula os sentimentos de Silvia.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Então, pelo andar da carruagem, parece que a relação da Silvia com a Verena não é tão simples. Acho que a Silvia até sabe, mas prefere fechar os olhos sabe.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Mariana seria a pessoa que vê Silvia como ela merece? - Porque tenho a leve impressão que ela tem sentimentos que vão além da amizade.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Huuum, então, eu acredito que ela sinta só amizade mesmo, mas tem hora que parece né, que ela sente alguma coisa a mais. Mas assim, se eu tivesse que apostar, seria na amizade mesmo. Daquelas bem fortes sabe.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Hahaha! Até eu não conseguiria resistir a deputada, depois dessa personificação toda. - Ela se vestiu de todo um ritual - Ela sabe como encorporar uma persona. - Esse empoderamento é uma destruição ensaiada. - Mas fico rendida ao poderio dessa mulher.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Rsrsrsrs. Ela sabe o charme e o poder que tem e quando quer usar a seu favor, é difícil não se render mesmo rsrsrs.


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Sem cadastro
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Em: 09/11/2025

Hahaha! Até eu não conseguiria resistir a deputada, depois dessa personificação toda.  -  Ela se vestiu de todo um ritual - Ela sabe como encorporar uma persona. - Esse empoderamento é uma destruição ensaiada. - Mas fico rendida a esse poderio dessa mulher.

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jake
jake

Em: 09/11/2025

Sinceramente quero que a Sílvia de um fim nessa situação...Tenho MTA raiva da deputada e tbm da Valentina.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Oiie, boa noite!

Olha, também não concordo com as atitudes da Verena. Ela erra muito e parece que não se importa. A Valentina, não tenho raiva dela, eu até entendo essa confusão dela. Mas tem hora que dá vontade de dar uma sacudida nela rssr.

E a Silvia, nossa, fico com muita pena, pq parece que ela tem algum tipo de dependência emocional pela Verena. Fico triste por ela. Ela merece ser feliz.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Nossa, Verena tem mil facetas. Essa, dela ressurgir da própria dor, dos próprios espectros. -  A armadura dela é implacável -  Pois ela combate os sentimentos como forma de proteção contra ela mesma. - A fortaleza dela ao mesmo tempo que a faz ascender é a que também a levará a ruir, " porque aquilo que resiste, persiste"


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Siiim. Ela é uma pessoa que não admite perder nem estar errada. Sempre vai sair por cima. E isso faz com que ela esconda mais as emoções.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Silvia com esperanças de Verena ligar para ela. - Só que o que ela não sabe é que a esposa está escornada na casa delas e com uma baita de uma ressaca.


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Silvia é uma mulher tão incrível. Nunca vou concordar com essas atitudes da Verena. E bebida só traz mais problemas.


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Zanja45
Zanja45

Em: 09/11/2025

Oi, autora, bom dia!

Espero que tenha tido um bom descanso!

Responda mesmo, senão irei perturbar teu sono. Rsrsrs!

S2. 

Abraços!


anonimo2405

anonimo2405 Em: 09/11/2025 Autora da história
Oieee, boa noite!

Ahh tive sim, obrigada! :)

Kkkkkkk Jamais deixaria de responder comentários tão incríveis quanto os seus!

Abraços! S2


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