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Entrelinhas da Diferença por MalluBlues

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Palavras: 4197
Acessos: 386   |  Postado em: 30/10/2025

Capitulo 9

Por Luísa:

 

Passei a semana inteira supervisionando processos internos, o que basicamente significava resolver pepinos que ninguém queria assumir, apagar incêndios causados pela incompetência alheia e, de quebra, lidar com Roger, o criador de orçamentos surreais. Aparentemente, na cabeça dele, trabalhávamos em Hollywood e não na Pelle Serenità. Ele enviou um orçamento ridiculamente inflado para as gravações e, obviamente, precisei aparar os excessos. Cortei aqui, reduzi ali e fiz algumas mudanças estratégicas, o que o deixou com a cara de quem tinha acabado de engolir um limão inteiro.

 

E, claro, Roger foi chorar para minha mãe. Como se isso fosse adiantar alguma coisa. Mal sabia ele que, quando o assunto é economia, minha mãe se torna uma aliada implacável do corte de custos. Se dependesse dela, estaríamos todos trabalhando à luz de velas para economizar energia.

 

Mas nada disso era pior do que o verdadeiro tormento do dia: almoçar com Bia.

 

Sim, porque, aparentemente, eu cometi algum pecado em outra vida e agora estou pagando essa penitência.

 

Ela ainda teve a audácia de sugerir que nos encontrássemos na minha casa ou na dela. Respondi com um sonoro não e marquei em um restaurante próximo a empresa. Um almoço de uma hora seria mais do que suficiente. O tempo máximo que eu estava disposta a suportá-la sem cogitar o exílio voluntário.

 

Às 11h50, meu celular vibrou. Mensagem dela.

 

Bia: estou aqui, amor.

 

Ótimo. Até quando essa mania de me chamar assim ia continuar?

 

Aliás, demorou, mas finalmente alterei o nome dela no meu celular. Agora era apenas Bia. Sem emojis, sem frescura, sem nada que sugerisse qualquer vestígio de sentimentalismo.

 

Soltei um suspiro, encarei meu reflexo no espelho e ajeitei o cabelo. Com certeza, alguém tiraria uma foto e, se era para ser exposta, que fosse com o mínimo de dignidade.

 

Eu vestia um conjunto de alfaiataria off-white perolado, elegante na medida certa. O blazer adicionava um toque formal, equilibrado pela suavidade da blusa de seda branca por baixo. Nos pés, mocassins creme confortáveis.

 

Soltei um suspiro longo e saí da minha sala.

 

Vamos ao abate.

Ao descer e me deparar com Bia, fui recebida com um sorriso tão exagerado que quase precisei de óculos escuros para encarar. E, claro, antes que eu pudesse recuar, ela se aproximou e plantou um beijo no meu rosto. Demorado o suficiente para que as meninas da recepção parassem o que estavam fazendo para observar. Ótimo. Mais um show gratuito patrocinado por Bia Albuquerque.

Fingi que não vi os olhares curiosos e segui em direção ao carro dela sentindo meu rosto molhado e quente no local que ela tinha beijado. 

Bia estava vestindo um vestido midi azul índigo, justo o bastante para evidenciar cada curva, mas sofisticado o suficiente para não ser vulgar. O decote era estratégico, mostrando pele o suficiente. Nos pés, saltos finos. Precisava admitir que ela definitivamente sabia como causar. 

Entramos no restaurante, um daqueles lugares modernos e minimalistas, com iluminação quente e um cheiro de trufa pairando no ar. As mesas tinham tablets para os clientes fazerem os pedidos.

Peguei o aparelho e deslizei o dedo pela tela, selecionando uma água com gás, gelo e limão e um risoto funghi. Assim que finalizei, passei o tablet para Bia sem cerimônia.

— Agradeço, amor. — Ela murmurou, pegando o aparelho da minha mão, com seus dedos tocando os meus de propósito, segurando por um segundo a mais do que o necessário.

Levantei os olhos para encará-la. Ela sorriu de canto, daquele jeito como se estivesse sempre por cima e no controle da situação.

— Como foi sua semana? — Bia perguntou, deslizando o dedo pelo tablet enquanto analisava o cardápio.

— Tudo tranquilo. E a sua? — respondi.

— Muitas coisas, mas nada comparado à semana que vem. Você também vai, né? Ansiosa, amor?

E lá estava ela, finalmente mencionando a bendita gravação na praia. Roger tinha reservado uma ilha praticamente intocada, dessas que parecem saídas de um documentário sobre paraísos escondidos. Areia branquíssima e água cristalina. Só mar, sol e uma equipe inteira com câmeras na nossa cara.

— A palavra que define o sentimento não é exatamente "ansiedade". — Estreitei os olhos, mantendo meu olhar nela mais tempo do que o necessário.

Bia soltou uma risada alta, melodramática, jogando a cabeça para trás como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do século.

— Ai, amor, você é sempre tão maravilhosa. — E, claro, o tom de voz dela estava propositalmente alto, garantindo que todos no raio de cinco metros nos ouvissem.

Ela pousou o tablet no suporte e deslizou a mão sobre a minha, um toque leve, quase casual, mas que fez minha pele se arrepiar em resposta. Traíra. Meu próprio corpo estava contra mim.

— Vi que a previsão indica um dia bem quente. Com certeza vou querer um drink e um mergulho depois de todo o trabalho. — Ela lançou um olhar sugestivo antes de inclinar a cabeça sutilmente. — E já temos a foto de hoje. Pode dar o check.

Segui seu olhar e vi uma mulher sorrateiramente tirando uma foto nossa.

— Que ótimo. Trabalho cumprido. — Retirei minha mão debaixo da dela com calma, encerrando o toque de forma cirurgicamente calculada.

O garçom chegou com nossas bebidas e pratos. O meu risoto estava impecável, no ponto certo, cremoso e perfumado. Já Bia, tinha pedido um espaguete ao molho sugo.

— Amo macarrão! — ela anunciou animada. Incrivelmente, tinha algo que eu já sabia sobre Bia: tinha paladar infantil.

Comemos em um silêncio carregado de olhares e sorrisos que pareciam tão espontâneos quanto uma campanha publicitária. Tudo milimetricamente coreografado para quem estivesse assistindo de camarote.

Foi então que percebi: Bia tinha conseguido sujar o queixo com molho.

— Está sujo. — Fiz um sinal discreto com o dedo.

Ela sorriu maliciosa, pegou o guardanapo e o estendeu para mim.

— Limpa pra mim.

Arqueei uma sobrancelha, segurando o guardanapo entre os dedos e encarando-a de volta.

— Claro.

Encostei o tecido no queixo dela com um toque quase teatral, deslizando devagar o suficiente para transformar o momento em algo digno de um comercial de perfume.

A cena era perfeita. O casal perfeito.

E, honestamente? Uma farsa perfeita também.

Quando Bia estacionou em frente à Pelle Seretinà e desligou o carro, a cabine mergulhou em um silêncio que só foi quebrado pelo som da notificação no meu celular.

Automaticamente, olhei a tela e vi que ela tinha me encaminhado uma mensagem.

— Te enviei uma mensagem, depois dá uma olhada. — Ela falou casualmente, como se não estivesse tramando absolutamente nada.

— Tudo bem… Quer me adiantar e contar do que se trata? — perguntei, sem muita paciência para joguinhos.

Bia sorriu daquele jeito que só ela conseguia, com um sorriso preguiçoso e malicioso, como quem sabe exatamente o efeito que causa.

— Não, amor. Prefiro que veja com calma depois e me responda. — E, claro, finalizou com uma piscadinha.

Óbvio. Porque ela nunca fazia nada de forma direta. Sempre precisava desse toque extra de provocação, esse suspense irritantemente… sedutor.

— Então tá. — Revirei os olhos, fingindo desdém, mas sentindo um calor inesperado subir pela nuca.

Ficamos ali, nos encarando. Intensamente. Por tempo demais.

O que, exatamente, eu estava esperando? Outro beijo? Não, não, não. Eu definitivamente não poderia estar caindo nessa armadilha.

Que ridículo. Meu próprio cérebro jogando contra mim.

Engoli seco, pisquei algumas vezes e, antes que minha sanidade resolvesse escorregar de vez, abri a porta do carro e saltei para fora como se estivesse fugindo de um incêndio.

— Tchau. — soltei, alto e claro, decretando o fim da cena.

Bia nem hesitou. Com a voz cheia de doçura ensaiada, respondeu sem esforço:

— Tchau, amor.

Praguejei mentalmente.

Ótimo. Agora eu precisava retornar à Pelle Seretinà e encarar o restante de uma tarde de muito trabalho.

Assim que me joguei na cadeira do escritório, soltei um suspiro longo e dramático, já antecipando o que estava por vir. Peguei o celular na bolsa e, claro, lá estava a notificação dela.

Uma imagem.

Um convite.

Já revirei os olhos antes de abrir, porque se tratando de Bia, qualquer coisa podia ser uma armadilha. Toquei na tela e lá estava: um design elegante, sem exageros, o que me deixou levemente surpresa.

Olhei no calendário para confirmar o que minha intuição já sabia.

O aniversário de Pietro era hoje.

E a comemoração seria amanhã.

Mas, ao contrário do que eu esperava, não seria A festa.

Ele optou por um jantar intimista no Bistrô Brisa & Sabor, que pertencia à amiga de Bia, Juliana.

Ou seja, o tipo de ambiente onde a proximidade se torna inevitável.

Suspirei e digitei a resposta.

Luísa: Parabéns para o Pietro! 🎂

Nem dois segundos depois, a resposta chegou.

Bia: Vou repassar as felicitações a ele, amor! Ah, e sua presença é fundamental amanhã para o próximo check. ✅😘

Óbvio. O check. Porque tudo entre nós precisava ser tratado como uma campanha publicitária de sucesso.

Não respondi. Eu podia simplesmente não ir? Não, não podia.

*

Por Bia:

Eu estava empolgada com o aniversário de Pietro. Sim, empolgada. Apesar das gafes monumentais dele sempre que o assunto era minha carreira, não dava para quebrar nosso sagrado ritual de aniversários. Tradição é tradição, mesmo quando envolve constrangimento gratuito.

Este ano, ele decidiu que não queria nada de festão megalomaníaco, nada daquela aglomeração de conhecidos aleatórios que fingem intimidade por uma noite e no dia seguinte já esqueceram até que você existe. Queria algo "mais intimista, mais gostoso", com gente que realmente se importava ou que pelo menos fingia muito bem. O bistrô da Juliana era a escolha óbvia: ambiente aconchegante, comida impecável e a dose certa de sofisticação para impressionar sem parecer que estávamos tentando compensar algo.

Eu relutei, obviamente, mas Pietro insistiu que a presença dela era absolutamente indispensável. E "ela", nesse dramalhão todo, era ninguém menos que minha namorada fake. Ah, que maravilha.

Sim, ela. Minha namorada de araque, meu tormento pessoal ambulante, a pessoa que provavelmente preferia mastigar vidro temperado a passar uma noite ao meu lado fingindo felicidade conjugal. Tentei argumentar? Claro que sim. Tentei uma fuga estratégica? Aham. Mas Pietro tem essa mania irritante de insistir nas piores ideias, e no fim das contas, lá estava eu, digitando o convite com a plena consciência de que isso transformaria a noite numa sequência de erros.

Ah, o teatro! O romance de fachada que eu precisava sustentar diante das pessoas com quem mais convivo. Às vezes me pergunto se não seria mais fácil entrar para o circo. Pelo menos lá o show tem hora para acabar. Mas, convenhamos, seria infinitamente mais trabalhoso explicar toda essa situação agora. Imagina a cena: "Oi, pessoal, lembram da Luísa? Então, na verdade a gente se odeia, mas fingimos namorar porque... bem, é complicado." Não, obrigada.

Então, Luísa ia. Se ela queria ou não? Francamente, problema dela. O convite já estava brilhando na tela do celular dela, e eu não fazia a menor questão de suavizar nada. Pelo menos Pietro teve bom senso de não chamar minha sogrinha fake, Valéria. Aí já seria gente demais, paciência de menos e uma overdose de atuação que nem a Fernanda Montenegro aguentaria.

Pietro e eu passamos a sexta-feira toda elaborando o menu com Juliana. Massa! Prático, democrático e delicioso. Uma decisão estratégica brilhante: várias opções de acompanhamento, molhos para todos os gostos e macarrão suficiente para alimentar um pequeno exército de amigos famintos. E os docinhos, claro. Porque que tipo de monstro faz aniversário sem docinhos? Não podia faltar camafeu, meu vício pessoal. Uma pequena joia açucarada, delicada por fora e absurdamente viciante por dentro, tipo eu mesma, só que mais doce e menos problemática.

No fim da noite, enquanto revia a lista de convidados e me perguntava se alguém ia notar a tensão sufocante entre Luísa e eu (spoiler: alguém sempre nota), decidi enviar uma mensagem. Mais para cutucar a onça com vara curta do que para qualquer outra coisa, porque aparentemente esse era meu talento natural quando se trata de Luísa.

Bia: Preparada para a festa de amanhã?

Ela demorou um tempo para responder e eu quase desejei que tivesse me dado o presente de um vácuo infinito. Mas não, a vida não é tão generosa assim.

Luísa: Repassou meus parabéns para o Pietro? Espero que ele aproveite.

Ah, que fofa. Nada de "nos vemos lá", nada de "claro, Bia, estarei lá fingindo que gosto de você por algumas horas". Nem um emoji educado. Suspirei profundamente e digitei de volta.

Bia: Claro que sim, amor. Te espero lá. Vestido vermelho fica ótimo em você. ❤️

Porque se é para fingir, que assim façamos. E se é para irritar, que seja com charme.

Terminei de subir uns vídeos de publis que já estavam agendados (o algoritmo não descansa, mesmo quando minha sanidade mental está em greve), tomei um banho no piloto automático, daqueles banhos existenciais onde você fica quinze minutos parada embaixo do chuveiro questionando suas escolhas de vida, mastiguei qualquer coisa sem nem sentir direito o gosto e me joguei na cama completamente exausta. Como se tivesse corrido uma maratona, só que sem a parte fitness.

 

Cheguei ao bistrô me sentindo renovada após uma noite de sono maravilhosa. Escolhi um vestido preto de alcinhas, justo na medida certa para valorizar o que eu queria e confortável o bastante para me movimentar com desenvoltura. Nos pés, um salto médio. O cabelo estava solto, ondas perfeitamente calculadas para dar aquele ar de "acordei assim" (quando, na verdade, levei meia hora ajeitando no espelho).

 

Assim que entrei, encontrei e cumprimentei alguns amigos e dei um meio abraço em Pietro, que estava no modo "festeiro profissional", rodopiando pelo salão e falando com todo mundo ao mesmo tempo. Juliana, a chef e dona do bistrô, estava ocupada resolvendo os últimos detalhes do jantar. 

 

E então, no canto mais sombrio do local, como uma entidade mal-humorada pronta para me assombrar, estava ela.

 

Luísa.

 

Pernas cruzadas, olhar entediado, aquele clássico ar de "eu preferia estar em coma do que aqui". Vestia uma calça de alfaiataria e uma blusa branca que parecia sofisticada demais para uma festa de aniversário, o que só podia significar uma coisa: ela veio obrigada. Para completar o visual "sou insuportável e sei disso", segurava uma taça de vinho como se fosse um escudo contra qualquer interação social desnecessária.

 

Ótimo.

 

— Nem parece que está se divertindo, amor — soltei, me aproximando com um sorriso falsamente doce.

 

Ela nem se deu ao trabalho de olhar para mim. Apenas girou o vinho na taça com a tranquilidade de quem gostaria de me jogar dentro dela e beber depois.

 

— Estou me divertindo horrores. Não percebe?

 

Ai, que vontade de derrubar esse vinho na blusa dela.

 

Sentei ao seu lado, fingindo um ar inocente enquanto nossas pernas se encostavam. Um arrepio me subiu pela espinha, mas eu ignorei. Não era hora de perder o foco.

 

— Que bom que está se divertindo. A noite está só começando.

 

Nossos olhares se cruzaram, e a tensão foi instantânea. Um mix perigoso de ironia, provocação e algo que eu definitivamente não queria analisar agora.

 

Do outro lado da mesa, Pietro falava com alguém, mas em algum momento parou e nos olhou de rabo de olho. Aliás, não só ele. Algumas pessoas pareciam estar prestando atenção demais na nossa interação.

 

Luísa percebeu os olhares, mas parecia não se incomodar com isso. Típico de quem nasceu com o gene da indiferença totalmente desenvolvido.

 

— Faz tempo que chegou? — perguntei, inclinando-me à sua frente como se aquilo não fosse a pior ideia da minha noite.

— Uns 30 minutos. — Ela respondeu sem emoção, girando a haste da taça entre os dedos.

Ah, então ela já estava ali, acumulando mau humor. Ótimo.

— Eu acabei me atrasando um pouco. Desculpe te deixar esperando.

— Não se preocupe. Estou acostumada e adoro minha companhia.

Tradução: “Prefiro estar sozinha do que na sua presença.” Suave como uma tijolada no meio da testa.

Revirei os olhos internamente e peguei o cardápio sobre a mesa. Melhor focar no que realmente importa: comida.

— Você já escolheu o que quer? — perguntei, mesmo sabendo a resposta.

— Não.

Direta, como sempre. Me pergunto se a essa altura da farsa eu já devia estar acostumada com isso. Resisti à vontade de suspirar e me afundei nas opções do cardápio.

— Acho que vou de carpaccio de abobrinha na entrada e ravioli de ricota e espinafre com molho de manteiga e sálvia — comentei, já imaginando o sabor na boca.

Senti o olhar dela sobre mim, pesado, avaliador. Levantei os olhos devagar, arqueando uma sobrancelha.

— Gostou da minha escolha, amor? Quer que eu escolha por você? Posso ser sua consultora gastronômica particular.

— Por favor! — Ela revirou os olhos dramaticamente e pegou o cardápio da mesa.

Ponto para mim. Placar: Bia 1 x 0 Luísa Insuportável.

Ela analisou as opções com um suspiro longo demais para ser normal. Típico. Depois de alguns segundos, ergueu o olhar de volta para mim.

— Vou querer uma salada caprese no espeto e gnocchi ao molho funghi.

Cruzei os braços sobre a mesa e sorri, aquele sorriso irritante que sei que ela odeia.

— Ótima escolha, amor! — pisquei, antes de erguer a mão para chamar o garçom.

Ela só balançou a cabeça, murmurando algo inaudível que, pelo tom, definitivamente não era um elogio.

Repassei nossos pedidos e, em poucos minutos, a comida começou a chegar, invadindo a mesa com um aroma irresistível que parecia zombar do silêncio pesado que se instalava entre Luísa e eu. 

Enquanto devorávamos nossas escolhas, Pietro, subiu ao palco improvisado e fez seu discurso pomposo, agradecendo a presença de todos. E eu, entre uma garfada e outra, me perguntava: o que Luísa deu de presente para ele? Algum kit da linha masculina da Pelle Serenità, talvez? Ri do pensamento.

No meio disso, percebi Luísa lançando um olhar de relance enquanto eu sorria. Olhá-la de perfil era um deleite perigoso: o olhar intenso, aquela pele bronzeada e a boca rosada, um verdadeiro convite para problemas que eu não precisava na minha vida. Ela virou o rosto e me pegou olhando. Ok, flagrada e culpada.

As palavras de Pietro se dissolveram num murmúrio distante, enquanto o silêncio entre nós crescia. Naquele instante, breve e eletrizante, em que nossos olhares se encontraram, senti uma mistura de desejo e provocação, como se, mesmo na encenação, a verdade se revelasse discretamente nas entrelinhas.

— Esse seu olhar… — comentei, quase num sussurro, como se estivéssemos compartilhando um segredo.

Luísa respirou fundo, e o leve sorriso que se formou nos cantos dos lábios dela carregava uma provocação sutil, mas inegável.

— O que tem? — ela perguntou, com um tom calmo, porém repleto de uma ironia que me fazia repensar cada palavra.

— É provocativo, intrigante e... irresistível, sem precisar de alardes ou grandes declarações. — Finalizei, com um brilho desafiador nos olhos.

Nossa troca de olhares ficou ainda mais intensa, uma espécie de duelo silencioso onde nenhuma de nós queria ceder. Mas, claro, Pietro e Juliana escolheram esse exato momento para se aproximar da mesa, colocando fim ao nosso joguinho visual.

— Bia e Lu, estão gostando da festa? — Pietro perguntou, sorridente, ignorando completamente a tensão pairando no ar.

A simples menção dele chamando Luísa de "Lu" foi o suficiente para ela estreitar os olhos na direção dele. Se olhares matassem, Pietro estaria sendo velado na segunda-feira.

— Sim, está tudo ótimo, Pietro. — Ela respondeu, em um tom educado, mas tão frio que quase senti uma brisa gelada passar.

— Gostando da comida? — Juliana perguntou, animada, claramente imune ao climão.

— Muito! Maravilhosa como sempre, Juliana! — respondi, pegando a deixa para aliviar a situação.

— Que bom! — Ela sorriu satisfeita. — Bia, por acaso você ainda tem contato com o hospital de Porto Grande?

Arqueei uma sobrancelha, estranhando o assunto.

— Tenho sim. Por quê?

— Um conhecido precisa refazer uma cirurgia plástica no nariz e queria uma segunda opinião.

— Ah, claro. Vou te passar o contato de uma colega. — Peguei o celular e rapidamente enviei o número de Mônica para ela.

Durante toda a conversa, Luísa permaneceu em silêncio, mas eu conseguia sentir o incômodo irradiando dela. Seu olhar deixava claro o quanto se sentia deslocada naquele momento.

— Prontinho. — Virei para ela e sorri.

— Bom, vou ver se os outros convidados também estão satisfeitos. Agradeço, Bia. — Juliana disse, já se afastando.

— Disponha! — respondi, vendo-a sumir entre as mesas.

Pietro, no entanto, permaneceu ali, alternando o olhar entre mim e Luísa, como se tentasse decifrar alguma coisa. Percebendo que o silêncio entre nós se tornou quase constrangedor, resolveu também sair pela tangente:

— Também vou falar com os outros convidados. Muito feliz com a presença de vocês, monas. — Estalou os olhos e lançou um olhar significativo para mim antes de desaparecer.

A forma como ele me olhou me fez abaixar e levantar a cabeça em um riso contido. Quando voltei minha atenção para Luísa, percebi que ela me observava como se estivesse analisando cada detalhe do meu rosto.

— O que foi? — Peguei um guardanapo e passei pelo canto da boca. — Tenho algo sujo no rosto?

— Não, não. — Ela balançou a cabeça, mas manteve o olhar fixo em mim. — Só estava me perguntando onde e quantas.

— Onde e quantas o quê?

— Onde e quantas plásticas você já fez.

Dei uma risada curta.

— No meu rosto e corpo, nenhuma. Mas já realizei o procedimento, sim.

O olhar confuso dela foi tão genuíno que me fez soltar um pequeno suspiro de decepção.

— Você realmente não sabe nada sobre a minha vida, né? Estou honestamente magoada com a sua falta de espírito stalker, amor. — Levei a mão ao peito, encenando uma tristeza dramática. — Que tipo de namorada fake você é?

— E o que eu deveria saber que ainda não sei?

— Minha formação, por exemplo. Sou médica. Fiz residência em cirurgia plástica reconstrutiva. Por isso, já realizei procedimentos de cirurgia plástica. Nos outros, não em mim.

Luísa arregalou os olhos, e eu não consegui segurar um sorriso de satisfação ao ver o espanto estampado no rosto dela.

— Espera… Você é médica?

— Uhum.

— E por que, tendo essa formação, você escolheu trabalhar com isso?

— "Isso" sendo o quê, exatamente? — Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha, preparando-me para mais um round de julgamentos gratuitos..

— Ser influencer. Viver de imagem, de publicidade, de futilidade…

Suspirei e a encarei por alguns segundos antes de responder.

— Porque é algo que eu amo. Fiz faculdade por obrigação. Minha família inteira tem médicos, é tipo uma tradição hereditária. Na hora de escolher a especialização, optei por algo que tivesse relação com o que eu realmente gosto. Inclusive, meu início como influencer era focado nesta área.

— Que é aparecer e falar de aparência?

Pisquei lentamente e apertei meus lábios, fingindo paciência.

— Não. — Me inclinei ligeiramente para frente, diminuindo a distância entre nós. — É ajudar as pessoas a se aceitarem como são. A gostarem mais delas mesmas. Agora eu dou dicas de maquiagem, cuidados com a pele e saúde, mas a intenção nunca foi deixar ninguém num padrão impossível. É fazer com que se sintam bem como são, a realçar a beleza que já têm.

O olhar de Luísa suavizou por um segundo, como se algo na minha resposta tivesse pegado ela completamente desprevenida.. Mas, como boa teimosa que era, logo voltou a erguer o queixo e me encarou com um brilho desafiador nos olhos.

— Hum... — Ela murmurou, cruzando os braços e me analisando.

— É isso. — Dei de ombros e pisquei, levando a taça de vinho à boca.

Luísa desviou o olhar e, em um movimento calculado, pegou o celular na bolsa. O som da notificação acendendo a tela iluminou seu rosto por um segundo.

— Meu motorista já está ali fora me esperando.

Eu fiz um som qualquer de desinteresse, girando o vinho na taça e fingindo que a informação não me incomodava. Pelo menos era isso que eu gostava de fingir.

— Hum… — Respondi, como se a vida fosse um eterno desinteresse blasé.

Ela se levantou com a elegância impecável de sempre, ajeitou a bolsa no ombro e me lançou um último olhar, como se estivesse esperando por algo.

— Tchau, Bia.

— Tchau, amor.

O canto da boca dela se ergueu em um sorriso de pura ironia. Mas, em vez de responder algo afiado como sempre fazia, ela apenas balançou a cabeça e caminhou até a saída.

Eu, obviamente, mantive a pose. Apoiei o cotovelo na mesa, tomei outro gole do vinho e fingi que não estava acompanhando cada movimento dela com o canto do olho.

E então, quando a vi prestes a sair, veio a dúvida e arrependimento.

Será que eu devia ter levantado e acompanhado ela? Com certeza deveria.

Droga.

Fim do capítulo


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