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Segredos no Mar por Raquel Santiago

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Palavras: 3752
Acessos: 266   |  Postado em: 29/10/2025

Capitulo 45

O dia amanheceu frio, com o vento vindo do mar trazendo aquele cheiro salgado que só Unalaska conhecia. Heather e Mei foram juntas na velha caminhonete vermelha da capitã, o motor roncando pelo caminho estreito até a casa de Xiao. O clima dentro do carro era de expectativa. Heather dirigia em silêncio, enquanto Mei olhava pela janela, nervosa.

— Você está bem? — Heather perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

— Só um pouco ansiosa. — Mei respirou fundo. — Não sei o que esperar. Depois de tudo o que aconteceu com Xiao, não quero brigar novamente, mas ele precisa entender que não sou mais uma adolescente e que voce não é minha irmã mais velha. — Mei só queria que o irmão aceitasse o fato de que, apesar da diferença de idade de oito anos entre elas e de Heather ter visto e acompanhado a sua infância e inicio da adolescencia, ela não era parente e as duas não estavam fazendo nada de errado. 

Heather esticou a mão e apertou a dela com firmeza.

— Ele te ama, Mei. Pode ter se confundido, pode ter agido mal, mas ainda é seu irmão. Hoje é a chance da gente esclarecer as coisas com ele. E se o Xiao te aborrecer, pode deixar que coloco ele no lugar dele. — Heather brincou.

A engenheira sorriu de canto, agradecida.

Quando chegaram, a casa estava viva de vozes e cheiros. Jie, a esposa de Xiao, abriu a porta com um sorriso caloroso, abraçando Mei de imediato e depois cumprimentando Heather. Do corredor surgiu correndo o pequeno Hao, com sua esperteza e pura energia.

— Tia Mei! Tia Heather! — gritou o garoto, pulando nos braços da tia engenheira, que quase caiu de tanto riso.

Heather o pegou no colo logo em seguida, rodando-o no ar, fazendo o menino gargalhar alto. O clima pesado que Mei carregava começou a se dissolver naquele instante.

Na sala, a mãe de Mei já esperava, emocionada ao ver a filha entrar. Ela a abraçou forte, demoradamente, como se ainda tivesse medo de perdê-la. Heather ficou em pé ao lado, discreta, mas foi surpreendida quando a senhora Wang também lhe dirigiu um sorriso doce e um leve toque na mão.

Quando todos estavam acomodados na sala, o cheiro de peixe fresco, arroz e legumes, vindo da cozinha, tomava conta da casa. Hao corria de um lado para o outro, levando bloquinhos de montar para mostrar à tia Mei. Jie sorria tentando controlar o filho, e a mãe de Mei observava a filha com olhos marejados, tocando sua mão como se ainda não acreditasse que ela estava de volta. Tinha sido um grande susto quando a guarda costeira citou o nome do Queen Seas no rádio. De início, eles disseram que dois barcos estavam envolvidos em um naufrágio. Imediatamente a Sra. Yu ligou para o seu filho Xiao e os dois montaram ficaram no cais aguardando mais notícias. Somente quando os homens do Killer Crab foram resgatados que eles souberam que o Queen Seas tinha sofrido um atentado de Connor, mas que todos estavam bem e voltando para casa em segurança. O alívio das famílias que estavam ali foi geral. Todos se confortaram e aguardaram a chegada dos seus familiares.

Xiao permanecia em silêncio, apesar de ainda impactado com os últimos acontecimentos. Seus olhos evitavam os de Mei e os de Heather, como se as palavras que precisava dizer pesassem demais para atravessar a garganta. Ele sabia que tinha cometido uma série de erros com a sua melhor amiga e sua irmã, mas não sabia como começar a se redimir. Depois de inumeras conversas com Jie, o homem só queria unir a sua família novamente.

Heather percebeu que Xiao estava afastado. Conhecia o amigo tempo suficiente para saber quando ele estava travado. E ela não tinha vindo até ali para fingir que nada havia acontecido. Antes que o almoço fosse servido, achou melhor resolver as pendências. 

Com um movimento firme, levantou e foi até o amigo.

— Xiao — disse em voz baixa, olhando diretamente para ele. — Posso falar com você, la fora?

O silêncio se instalou por um instante. Mei ergueu os olhos, surpresa, mas não disse nada. Jie olhou para o marido e apenas assentiu, encorajando-o. Xiao respirou fundo, desviando o olhar para a brincadeira do filho, mas acabou se levantando também.

— Está bem. — murmurou.

Os dois saíram pela porta dos fundos e caminharam até o quintal. O vento frio de Unalaska bateu no rosto de Heather, mas dentro dela o que queimava era outra coisa. Xiao encostou-se à cerca de madeira, braços cruzados, tentando manter a postura firme. Heather ficou de frente para ele, os olhos azuis fixos nos dele, como se fosse impossível escapar.

— Vou ser direta — começou ela. — A gente se conhece melhor do que ninguém. E você sabe que me machucou. Mais do que qualquer tempestade, mais do que qualquer acidente no mar.

Ele abriu a boca para responder, mas Heather ergueu a mão, cortando-o.

— Não, você vai me ouvir primeiro.

Xiao cerrou a mandíbula, em silêncio.

Heather respirou fundo, a voz firme, quase vibrando.

— Você me expôs. Expôs a Mei. Gritou para a tripulação como se a gente estivesse cometendo algum crime nojento, como se o que temos fosse errado. Você não pensou no que aquilo faria com a sua irmã, nem comigo. Você me chamou de traidora, de aproveitadora. Como se eu tivesse esperado ela crescer só para... — a voz falhou por um segundo, mas Heather se recompôs. — Só para usar a irmã do meu melhor amigo.

As palavras caíram como navalhas no ar gelado. Xiao abaixou os olhos, o peso da vergonha estampado no rosto. Ele sabia quando Heather estava chateada, e com certeza, ela estava. A amiga nunca deixava que ninguém se metesse com eles na infância, sempre protetora e corajosa com os valentões da escola que implicavam com ele. Mas agora, toda essa raiva estava direcionada para Xiao e Heather tinha todo o direito de está chateada.

Heather se aproximou um passo, a voz mais baixa agora, mas ainda mais dura:

— Você sabe o quanto eu amo a Mei. Você sabe, Xiao. Eu já provei isso diversas vezes enquanto crescíamos, mas depois que ela voltou, esse amor se tornou diferente. Só que as suas palavras naquele dia... — ela respirou fundo. — Quase destruíram tudo.

Xiao passou as mãos pelo cabelo, nervoso.

— Eu estava com raiva, Heather. Eu... me senti enganado. Você era minha amiga desde sempre. Eu confiava em você como parte da família. E, de repente, eu descubro que você está com a minha irmã...

Heather o interrompeu, a voz afiada:

— Você descobriu porque a gente não tinha tido coragem de contar ainda. Não porque era errado, mas porque a gente sabia que você ia reagir assim. Porque você ainda enxerga a Mei como uma garotinha que precisa ser protegida de tudo. Porque acha que somos irmãs por temos crescido juntas, mas não somos e sabe disso.

Ele ergueu o olhar, ofendido:

— Ela é minha irmã, Heather! Eu tenho o direito de me preocupar!

Heather não recuou. Aproximou-se ainda mais, encarando-o a poucos centímetros de distância.

— Você tem o direito de amar a sua irmã, Xiao. Mas não tem o direito de humilhá-la. Não tem o direito de me tratar como se eu fosse um monstro. Mei não é uma criança. Ela é uma mulher feita, forte, corajosa. E nos amamos.

O silêncio caiu pesado. O vento uivava entre as tábuas da cerca.

Heather respirou fundo, tentando controlar a própria emoção.

— Se você continuar agindo desse jeito, vai perder a Mei. — disse com firmeza. — Ela não vai deixar você controlar a vida dela. E eu não vou deixar ela sofrer por sua causa. Você precisa escolher se quer fazer parte das nossas vidas, porque o que sentimos não vai passar.

Os olhos de Xiao marejaram. Ele virou o rosto, como se estivesse tentando engolir tudo aquilo. A voz saiu rouca, quebrada:

— Eu sei que errei. Mas na hora... eu só conseguia pensar que estava perdendo vocês duas. Você é a minha melhor amiga, Heather. A pessoa em quem eu mais confiava no mundo. E eu senti como se tivesse sido deixado de lado. Queria que tivessem me contado.

Heather piscou, o coração apertado.

— Você não foi deixado de lado, Xiao. Eu sou sua amiga e a Mei sempre vai ser sua irmã. Sempre. Mas você precisa entender: a Mei é o amor da minha vida, nós só queríamos um pouco de tempo para processar os sentimentos. Não é uma fase, não é um erro, não é uma traição. É real. E se você não conseguir aceitar isso, aí sim você vai me perder também.

Xiao ficou em silêncio por um longo tempo. A respiração pesada, o olhar perdido. Então, lentamente, passou as mãos pelo rosto e soltou um suspiro profundo.

— Você tem razão. — murmurou. — Eu fui um idiota. Disse coisas que nunca deveria ter dito. Eu... eu não sei se consigo consertar tudo, mas eu quero tentar.

Heather assentiu, a tensão no corpo finalmente cedendo um pouco.

— Então começa pedindo desculpas. Para mim. Para a Mei. Para todos que ouviram aquele show que você deu.

Ele deu um meio sorriso triste, com os olhos marejados.

— Você ainda sabe dar ordens como ninguém, Capitã.

Heather arqueou a sobrancelha, séria.

— Não são ordens, Xiao. É a única chance que você tem de recuperar a sua irmã.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas o vento preenchendo o espaço. Então, Heather deu um passo atrás, respirando fundo.

— Vamos voltar. O almoço está esperando.

Xiao assentiu, os ombros pesados, mas o olhar mais suave. Ele sabia que Heather tinha dito a verdade. E a verdade, por mais dura que fosse, era tudo o que ele precisava ouvir.

(---)

Quando Heather e Xiao saíram para o quintal, Mei sentiu o estômago se revirar. A tensão entre os dois era como uma tempestade prestes a desabar, e ela sabia que, quando finalmente explodisse, as consequências cairiam sobre todos.

Mas Hao surgiu correndo pelo corredor, interrompendo os pensamentos pesados.

— Tia Mei! — exclamou, com um caminhãozinho vermelho nas mãos. — Olha o barulho que ele faz! Vruuum!

Mei se abaixou e abriu um sorriso para o sobrinho, tentando afastar a ansiedade.

— Esse é o caminhão mais rápido que eu já vi. — elogiou, empurrando o brinquedo pelo tapete. — Ele consegue ganhar até corrida de caranguejo!

— Não! — Hao protestou, rindo. — Caranguejo não corre, tia! Ele anda de ladinho!

Heather teria feito piada disso, pensou Mei, e o coração lhe apertou.

Jie apareceu logo atrás do filho, carregando uma travessa de frutas cortadas. Sentou-se ao lado de Mei, oferecendo-lhe um pedaço de maçã.

— Ele ficou tão animado quando soube que você vinha. — comentou com um sorriso suave. — Perguntou desde cedo se a "tia engenheira" já estava chegando.

Mei riu baixinho, mordendo a fruta.

— Eu devia vir mais vezes.

— E vai vir. — a mãe dela interveio, vinda da cozinha com um pano de prato nas mãos. Os olhos estavam marejados, mas o sorriso era terno. —  Seu irmão vai cair em si.

Mei segurou a mão da mãe, emocionada, mas não conseguiu deixar de olhar para a janela. O vento balançava as cortinas, e lá fora, no quintal, o silêncio era absoluto. Seu peito se apertou de novo.

— Só espero que eles não briguem... — murmurou, quase sem perceber.

Jie apoiou a mão em seu ombro.

— Eles são parecidos, sim. Mas se existe alguém que pode falar com o Xiao, essa pessoa é a Heather. Confia nela.

Mei assentiu, mas o nó no estômago não se desfez.

Foi então que a porta se abriu. Heather entrou primeiro, o rosto sério, mas controlado. Xiao veio logo atrás, cabisbaixo, os ombros pesados. Os olhares da família se ergueram para eles, mas ninguém perguntou nada. O clima falava por si só.

O almoço prosseguiu, com risos tímidos e pequenas conversas que Jie e a Sra, Yu tentavam iniciar. Hao roubava a atenção com suas brincadeiras, Jie fazia comentários para quebrar o gelo e a mãe de Mei perguntava sobre a última temporada de pesca. Xiao participava, mas pouco. Estava ali de corpo presente, mas o espírito parecia distante, como se digerisse o peso do que havia acabado de conversar com Hetaher.

A capitã segurou a mão de Mei que estava repousada em sua coxa. Ela queria que sua namorada ficasse mais tranquila. Xiao tinha entendido o seu ponto e esperava que ele conversasse de coração aberto com a irmã.

Xiao esperou até que todos terminassem de recolher a mesa. Jie estava distraída na cozinha com a mãe de Mei, Hao corria de um lado para o outro, com Heather atrás dele. Foi então que Xiao se aproximou da irmã.

— Mèi mei... — a voz saiu baixa, contida. — Vem comigo. Quero falar com você, em particular.

Ela o encarou por alguns segundos, desconfiada. Havia mágoa em seus olhos, mas também uma ponta de esperança. Assentiu, sem dizer nada.

Ele a conduziu até o pequeno escritório da casa, uma sala apertada, com estantes cheias de livros e papéis de trabalho espalhados pela mesa. Xiao fechou a porta atrás de si, respirando fundo antes de se virar para a irmã.

— Eu... não sei nem por onde começar. — admitiu, passando a mão pelos cabelos, nervoso. — Mas sei que preciso te ouvir.

Mei cruzou os braços, apoiando-se na mesa, a expressão dura.

— Ouvir? — repetiu, com ironia amarga. — Você devia ter feito isso antes, Xiao. No dia em que resolveu me expor na frente da tripulação inteira, como se eu estivesse fazendo uma coisa horrível.

O irmão fechou os olhos por um instante, como se as palavras fossem socos.

— Eu estava com raiva.

— Não. — Mei o cortou, a voz firme. — Você não estava só com raiva. Você me humilhou. Jogou na cara da Heather e de todos os meus colegas a coisa mais íntima da minha vida. Você não só falou do meu relacionamento. Você gritou que eu sou lésbica, como se fosse um insulto. Como se fosse uma vergonha.

O silêncio caiu pesado no cômodo. Xiao abriu a boca, mas Mei ergueu a mão, não deixando. Ele disse que queria ouvir e ela precisava desabafar tudo que estava entalado desde aquele fatídico dia em que se desentenderam.

— Você tem ideia de como eu me senti? — perguntou, a voz embargada. — Desde nova eu sei quem eu sou. E cada dia desde então, eu tive que engolir comentários, olhares, expectativas que não eram minhas. Tive medo do que nossos pais fariam se descobrissem. Eu sabia que você ficaria chateado por causa da minha relação com a Heather, mais não que iria me expor daquela forma por ser lésbica. Achei que ia me entender. Mas naquele dia... você me julgou e me humilhou por ser quem eu sou.

Xiao abaixou a cabeça, os punhos cerrados.

— Mei, eu não queria... Eu... eu estava confuso. Sempre achei que era meu papel cuidar de você. Que eu tinha que impedir que qualquer um te machucasse. Quando descobri sobre você e a Heather... parecia errado. Eu não conseguia separar a imagem da garotinha que corria atrás de mim e a mulher que você é agora.

Mei riu com amargura.

— Pois é. Mas eu não sou mais aquela garotinha, Xiao. E você não tem o direito de decidir o que é certo ou errado na minha vida. Você me envergonhou diante da minha tripulação, diante da Heather, que é a pessoa que eu amo. Fez parecer que eu era uma irresponsável, manipulada, quando na verdade eu escolhi.

As lágrimas começaram a escorrer, mas sua voz não tremeu.

— E sabe o que doeu mais? Não foi você julgar a minha relação com a Heather. Foi você olhar pra mim como se eu fosse... quebrada. Como se minha sexualidade fosse uma decepção.

Xiao levantou o rosto, os olhos marejados.

— Mei, não... — a voz falhou. — Nunca foi isso. Eu nunca quis que você pensasse que eu te achava... errada. Eu só... não soube lidar. Foi ignorância, foi egoísmo. E eu te machuquei, eu sei.

Ele deu um passo na direção dela, hesitante.

— Eu pensei que estava te protegendo, mas a verdade é que eu só estava tentando proteger a imagem que eu tinha de você. E isso não é justo.

Mei respirou fundo, tentando se recompor.

— Eu não preciso de um irmão que decida quem eu posso amar. Eu preciso de um irmão que esteja do meu lado, mesmo quando não entende tudo. Porque eu já enfrentei o papai, e todas as consequências de ir contra a vontade dele. Mas você... você era a última pessoa de quem eu esperava esse tipo de ataque.

Xiao a encarou em silêncio, a culpa estampada em cada linha do rosto. Então, finalmente, baixou os ombros e deixou escapar um suspiro pesado.

— Você tem razão. Eu fui cruel. Eu magoei você... e também a Heather. Ela sempre esteve ao meu lado, sempre foi minha melhor amiga, e eu a tratei como uma qualquer. — Ele fechou os olhos por um instante, antes de voltar a encará-la. — Eu não sei se mereço o perdão de vocês duas, mas... quero tentar.

Mei hesitou. O coração dela ainda estava apertado, as lembranças daquela humilhação vivas demais. Mas havia algo na sinceridade do irmão que a fez ceder um pouco.

— Não é uma questão de merecer, Xiao. É uma questão de mudar. — disse firme. — Eu não vou mais aceitar que você fale da minha vida como se fosse um erro. Eu não sou um erro. Nem a Heather. Se quer o nosso perdão, procure evoluir como pessoa.

As palavras pairaram no ar como um ultimato. Xiao respirou fundo, aproximou-se mais um passo e, desta vez, arriscou segurar a mão dela.

— Você não é um erro, Mei. Nunca foi. Você é... — a voz embargou — a melhor irmã que eu poderia ter. Eu só não quero te perder. O que posso fazer para ficarmos bem?

As lágrimas, antes contidas, escaparam dos olhos dela. Mei apertou a mão dele, mas manteve o tom firme:

— Me respeitar e respeitar as minhas escolhar já seria um bom começo.

Foi nesse ponto que o silêncio deixou de ser pesado. Era um silêncio de alívio, como se ambos finalmente tivessem derrubado um muro que os separava. Xiao puxou a irmã para um abraço, e desta vez ela não resistiu.

— Prometo que vou melhorar, me desculpe mèi mei.

Por um longo tempo, ficaram apenas ali, no escritório silencioso, permitindo que a dor se dissolvesse em algo mais próximo do perdão. Depois voltaram para a sala e o clima ficou mais leve, restabelecendo a união entre a família novamente.

Quando o relógio marcou o meio da tarde, Mei trocou um olhar rápido com Heather. Era hora de ir.

— Mãma, a gente pode te deixar em casa. — disse Mei, já se levantando. — Não faz sentido você ir sozinha.

A senhora Wang hesitou por um instante, como se não quisesse incomodar. Mas Heather sorriu.

— Vai ser um prazer, senhora Wang. O carro já está ali fora.

Depois das despedidas e promessas de que voltariam, as três entraram na caminhonete. Heather ao volante, Mei no banco do passageiro, e a senhora Wang no assento de trás, com a bolsa no colo. O motor ronronou, e o carro seguiu pela estrada cercada de vento e neblina.

O silêncio no início foi denso, mas logo a mãe de Mei o quebrou.

— Foi bom... ver todos reunidos hoje. — disse, olhando pela janela. — Quem bom que você e o seu irmão se acertaram.

Mei mordeu o lábio, mas respondeu com suavidade:

— Ainda temos um longo caminho pela frente, mas estou aliviada de resolver as coisas com Xiao.

Heather lançou um breve olhar para a sogra pelo retrovisor. A senhora Wang segurava firme a alça da bolsa, mas havia ternura em seu tom quando falou:

— Você está diferente, Mei. Mais forte. Eu vejo isso.

Mei engoliu em seco.

— Eu precisei ficar forte.

A senhora Wang respirou fundo, e por um instante seus olhos se encontraram com os de Heather no espelho. Não havia mais o mesmo julgamento velado que antes. Havia reconhecimento, talvez até gratidão.

— Eu sei que não fui justa com vocês duas. — murmurou, a voz quase engolida pelo barulho do motor. — No começo, eu só conseguia pensar no que os outros diriam. No que seu pai diria. Mas hoje... vendo vocês juntas, vendo como a Heather olha pra você, Mei... eu entendo melhor.

Mei virou-se, surpresa.

— Mãma...

— Eu só quero que você seja feliz. — completou a mãe, com lágrimas discretas nos olhos. — Mesmo que a sua felicidade não seja como eu imaginei. Eu desejo que vocês encontrem companheirismo e felicidade uma na outra.

Heather apertou o volante com mais força, a garganta embargada. Não era uma aceitação completa, mas era um gesto imenso vindo daquela mulher.

Mei, emocionada, pegou a mão da mãe por cima do encosto do banco.

— Obrigada, mãma.

O resto do caminho seguiu em silêncio suave, como se cada uma precisasse do seu próprio espaço para digerir o que havia sido dito.

Quando a caminhonete vermelha estacionou em frente à casa da família Wang, a tensão voltou. Mei foi a primeira a perceber.

Na soleira da porta, de braços cruzados, estava o senhor Cheng. O rosto endurecido, as sobrancelhas cerradas. Ele não parecia apenas irritado: parecia um vulcão prestes a explodir.

A senhora Wang fechou os olhos por um instante antes de sair do carro. Heather desligou o motor do carro, mas não conseguiu disfarçar o nó no estômago. Mei, por sua vez, sentiu o coração disparar.

O olhar do pai pousou diretamente nela, frio, severo.

— Como você ousa expor a sua mãe a essa imoralidade, Mei. — a voz dele cortou o vento como uma lâmina.

O corpo dela enrijeceu, e tudo ao redor pareceu silenciar.

Heather esticou a mão discretamente, tocando a dela em apoio. Mei apertou de volta, reunindo forças.

E então, respirou fundo. Estava prestes a enfrentar seu pai mais uma vez, mas Heather estava ao seu lado dessa vez.


Fim do capítulo


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