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  • capitulo vinte e oito: feridas reconhecem feridas

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O Nosso Recomeco - 2a Temporada por nath.rodriguess

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Palavras: 4325
Acessos: 513   |  Postado em: 07/10/2025

capitulo vinte e oito: feridas reconhecem feridas

CAPÍTULO VINTE E OITO. FERIDAS RECONHECEM FERIDAS. 


Acordei cedo — às cinco da manhã — mais precisamente. Coloquei a água na chaleira para ferver enquanto tomava uma ducha rápida. Fiz minha higiene pessoal de roupão mesmo, pensativa sobre os próximos passos a seguir. Peguei pães, frios e utensílios para colocar a mesa de café de todas as manhãs. Geralmente era Fernanda quem fazia isso, mas como madruguei, decidi caprichar um pouquinho na mesa posta para minha esposa. Ela também merecia esse mimo. 

Olhei o celular já procurando as notícias do dia, o nome certo no google: “Phetra Medeiros”. Somente aquilo que eu já sabia. Despejo a água no coador de café e sinto o cheirinho preenchendo o ambiente. Que delícia. Termino de fazer o café e o coloco na garrafa térmica, em cima da mesa. 

Subo as escadas e vou até o closet procurando um terno. Hoje eu queria vestir minha armadura, hoje eu queria ser a profissional até o fim. Eu disse que acordei cedo, mas eu mal dormi. Toda hora sonhando com algo diferente, mas especialmente, com coisas ligadas ao caso e à minha infância.

Abri a primeira gaveta da minha parte do closet, que era onde ficavam minhas gravatas. Decidi escolher a vermelha para compor o terno — uma camisa social branca, paletó preto, saltos médios. Enquanto faço uma maquiagem leve, escuto passos vindo na minha direção. Era Fê com seu pijama de bolinhas, toca de cetim e suas pantufas, ela para na porta do closet, os olhos ainda tentando abrir e tentando identificar o que eu estava fazendo.

— Amor? — Ela pergunta, sua voz rouca de quem ainda estava acordando

— Tô aqui, vida 

 Ando na sua direção e seu olhar pra mim é atento, avaliador. Dou um selinho demorado nela e, em seguida, a ruiva me puxa pela cintura, me dando um abraço também demorado. 

— Acordou cedo. 

— É, eu preciso resolver algumas coisas no escritório e visitar um preso. 

— Hmm… entendi. Quer café?

— Eu já fiz, já pus a mesa, só estava esperando você e nossa filha acordarem para tomar café com vocês — explico 

— Acorda ela pra mim enquanto me arrumo? — pede 

— Claro 


Vou até o quarto de Cecília, me aproximo da cama e sento ao seu lado, vendo meu anjinho dormir serenamente. Dou beijinhos no seu rosto e faço cosquinha nos seus pés, posso vê-la abrir um sorriso antes de abrir os olhos quando sente que sou eu. 

— Para, mamãe! — ela ri

— Só quando você estiver de pé — digo fazendo mais cosquinhas nos seus pés

— Acordei, eu juro — olha para mim como quem pede arrego e eu paro, mas não deixo de sorrir.

Ela esfrega os olhinhos e eu acho esse gesto o mais lindo do mundo.

— Vamos acordar, princesa?

— Faz meu pãozinho? — faz um bico igual o de Fê quando me pede alguma coisa e eu me derreto

— Faço, meu amor. Mas tem que prometer que vai tomar a vitamina, combinado?

— Tá bem.


Depois de Cecília me convencer a ajudá-la a pôr a roupa da escola, calçar os seus sapatos e pentear seu cabelo — que eu confesso que não tinha nenhum talento  — ela ainda me convenceu a levá-la no colo até a cozinha, onde Fê nos recebeu colocando nosso café já arrumada e com um sorriso.

— Sua mãe quem penteou seu cabelo, filha? — diz Fernanda, com vontade de rir.

— Foi, mainha. Tá bonito?

— Bonito não é a palavra…

Fuzilo Fernanda com o olhar e ela segura o riso. 


Deixei Cecília na escola e parti para a delegacia onde Phetra estava detida. Eu queria muito resolver o que tinha para ser resolvido logo pela manhã. Antes de sair do carro, checo minha maleta com os papéis: procuração, bloco de notas, cartões de visita do meu escritório, carteira de advogada e canetas. 

Saio da BMW 320i olhando ao redor da delegacia que estava lotada de repórteres. Posso ver alguns agentes da polícia civil do lado de fora fumando, outros tomando café em copinho de plástico e uns quatro fazendo a guarda da porta da delegacia para impedir tumultos, afinal, era um caso de grande repercussão. Sou cordial com eles e adentro o local, já me informando com o inspetor sobre o caso. 

Ele é bem resistente e eu exijo falar com a minha cliente. Bom, ela ainda não era minha cliente. Ela nem me conhecia, mas eu estava disposta a pegar seu caso, pois se eu deixasse na mão de um defensor público qualquer, ela iria pegar 29 anos de prisão em regime fechado e não iriam lutar por ela. 

— Precisa de procuração, Doutora. Olha o caos que está aqui dentro por conta desse Pastor.

— Inspetor, não dificulte meu trabalho. Não preciso de procuração para falar com a minha cliente, isso é lei federal, está no estatuto da ordem, devo lembrá-lo. Além do mais, o Delegado está cansado de olhar pra minha cara nesta delegacia. O Senhor vai continuar violando o direito de comunicação com a minha cliente ou já posso entrar pra falar com ela como a lei me assegura? — digo de forma calma, não queria um escândalo, mas se ele começasse a me irritar, ia fazê-lo se arrepender.

— Pode ir. — Ele me indica o caminho para uma sala reservada

Sento na cadeira de metal fria quando chego, colocando minha maleta em cima da mesa, cruzo os braços para esperar Phetra chegar e fico imaginando que sou louca por estar tentando pegar um caso que é como se fosse bomba nas minhas mãos.

A porta se abre em um rangido já conhecido de porta sem manutenção e sua figura aparece. As mãos algemadas, vestida com a mesma roupa que vi na TV ontem e os olhos vermelhos, quase em carne viva, como se tivesse chorado a noite toda. Ela me olha com um ponto de interrogação na testa, confusa. 

— Pode retirar as algemas, agente — peço com educação ao policial

— Não me responsabilizo, Doutora. — me alerta e eu reviro os olhos, tentando ter o mínimo de paciência

Ele tira as algemas de Phetra com resignação, mas também praticidade — era como se fizesse isso mil vezes ao dia. Informou que ficaria do lado de fora e bateu a porta ao sair. 

— Olá, Phetra. Sou a Dra Florence — minha voz é baixa ao me apresentar — Pode se sentar.

— Eu não pedi advogado. — sua voz é áspera, seca. 

— Sei que não pediu. Eu vim porque eu quis, quero cuidar pessoalmente do seu caso. — digo, sincera. 

Ela riu, mas era uma risada dolorosa. 

— Doutora… olha bem pra mim. Não tem mais jeito. Acabou.

O que estava diante de mim não era a mulher criminosa que os jornais estavam pintando, o que estava diante de mim era uma menina. Uma jovem. E tinha muita dor em seu olhar. Observei ela por inteira, mas meu olhar fixou em seus pulsos, em suas cicatrizes. Um frio me correu a espinha. 

Gatilhos.

— Estou olhando. 

Continuamos nos encarando por um tempo até que ela desviou o olhar. 

— Então… porquê está aqui? — sua voz falha

— Eu não sei te dizer. — admito. — Só sei que precisava.

Nossos olhares se cruzam novamente e nesse instante percebo que eu não estava apenas escolhendo uma cliente. Eu estava escolhendo um espelho. Um reflexo perigoso demais, mas eu não ia ignorar meus instintos. 

— Eu não preciso de advogada nenhuma, doutora. Preciso de alguém que me deixe apodrecer onde já me colocaram.

— Engraçado — digo, entrelaçando as mãos sobre a mesa, sem tirar os olhos dela — porque tudo em você grita exatamente o contrário. 

— A senhora não entende…

— Me chama de “senhora” de novo e eu vou deixar você aqui realmente — ameaço e um meio sorriso ameaça escapar de seus lábios — eu sou advogada, não sua carcereira. E eu entendo mais do que imagina.

Observo suas mãos, suas unhas curtas tamborilando na mesa de metal fria, ela estava nervosa, retraída. 

— Me conta sua história, Phetra. A verdadeira. Não aquela que está nos jornais, eu quero saber de você.

— Eles não vão acreditar em mim. Ninguém nunca acreditou. — sua voz começa a falhar e seus olhos enchem d’água novamente.

— Então deixa que eu falo por você. — digo, e minha voz não treme. — Mas, pra isso, você precisa confiar em mim.

— Não entendo… — ela franze a testa — porque você está me ajudando? 

— Responda as minhas perguntas primeiro e depois responderei às suas — pisco — Confia em mim. 

Ela respira fundo, tentando tomar coragem para me contar a sua verdade.

— Meu pai sempre foi o Pastor. O líder evangélico que todo mundo conhece… famoso, respeitado, fiel à religião. Só que na vida real… não era bem assim. — a voz dela falha, mas ela insiste. — Era fanático religioso, mas traía minha mãe com as irmãs da igreja. Em troca de milagres que não existiam, claro.

Eu assinto, incentivando-a a continuar. 

— A minha família inteira beira a hipocrisia, doutora. — ela solta uma risada amarga. — O sermão era pra multidão, mas em casa… era um inferno. Palavras de Deus misturadas com gritos, com castigo. Eu sempre fui muito retraída, eu sempre fui muito… apagada. Apagada por ele. Por eles. Minha mãe também, totalmente omissa.

Omissa.

Lembro da minha mãe. Engulo seco. Foco no caso.

— Quando minha mãe descobriu as traições, não fez nada. Fingiu que não via. Sempre foi mais fácil se esconder atrás da Bíblia do que enfrentar o homem que ela dizia amar. Na verdade, foi um casamento por conveniência. Então sobrava pra mim. O peso, a vergonha, a culpa. Eu era a oferenda silenciosa. 

Cada palavra dela era um soco no meu estômago.

— Meu pai passava a mão em mim desde os onze anos. Só que ele só passava a mão… ele nunca… — suspira, nervosa — até que ele descobriu. A inspetora da escola contou pra ele.. quando eu tinha catorze que… me viu… com uma menina. 

Ela põe as duas mãos no rosto, com vergonha, com desespero

— A Bárbara e eu… nós estávamos nos descobrindo juntas. Ela foi meu primeiro amor. Quando ele descobriu, ele disse que ia me ensinar o que era estar com um homem de verdade e… me estuprou. 

Ela começou a chorar copiosamente na minha frente. 

Eu sabia.

Não era uma criminosa sem motivos. Se é que posso dizer que ela é criminosa.

Estendo minhas mãos pra ela e ela segura. Seguro com força. 

— Eu sinto muito, Phetra. Sinto muito que você tenha passado por isso, sinto muito que tenha acontecido com você, ninguém merece passar por isso.

— Quando ele dizia que eu já tinha sido “abençoada”, era isso. E quando eu tentava falar… — a voz dela vacila — …ninguém ouvia. Ninguém nunca quis ouvir.

As mãos dela ainda estavam envolvidas entre as minhas, ela cortou o contato e seus olhos agora demonstraram outra coisa. Outra feição se formou no seu rosto.

— Eu estava cansada. Cansada de mentiras. Cansada de tudo isso. Entrei pra faculdade, um curso que odeio, entrei na faculdade obrigada. Lá, eu conheci a Gabi… e comecei a me relacionar com ela. A Gabi… meu Deus, ela nunca vai me perdoar — começa a chorar novamente — eu acabei com tudo. Com tudo. 

Balançava a cabeça negativamente e se batia. Batia com força na cabeça. Eu levantei imediatamente e num gesto impensado, eu a acolhi. A abracei com todas as minhas forças, como se aquele abraço pudesse salvá-la de alguma forma, coisa que eu sabia que não salvaria, mas eu quis que ela soubesse que eu estava ali.

— A Gabi sabia que você ia fazer isso? — pergunto 

— Não… ela sabia de tudo que aconteceu comigo, mas ela nunca me incentivou a nada, muito pelo contrário, ela quem me dava motivos pra viver. Se não fosse pela Gabriela, eu já teria me matado há muito tempo. Ela nunca vai me perdoar.

— Phetra… como aconteceu?

— Meu pai descobriu… de nós. Mandou me seguir. Me trouxe para casa a ponta a pés, estávamos na casa da Gabriela, juntas. Me bateu, me humilhou, pegou o cinto, me chicoteou… estava louco. Mas quando ele abriu as calças novamente, eu… não tive escolha. Eu estava com ódio, Doutora.

Ela respira fundo, soluçando entre cada palavra. O corpo inteiro dela treme em meus braços.

 — Eu não tive escolha. Eu estava com ódio. Eu estava… fora de mim.

A voz dela falha, os olhos dela estão perdidos em algum lugar que só ela consegue ver. 

— Eu corri até a cozinha e disse que se ele chegasse perto de mim, ele ia ver. E ele chegou, Doutora. Ele chegou. E eu não resisti, eu peguei a faca que estava em cima da bancada da cozinha… eu peguei. 

Ela engole seco, fecha os olhos, e quando volta a falar é quase num sussurro:

— Eu só queria que ele parasse. Só queria que ele nunca mais me tocasse. Então eu enfiei a faca uma… duas… três. Quando eu vi o sangue, eu… fiquei ali parada, olhando. Não chorei. Não gritei. Só… fiquei parada. Como se fosse outra pessoa no meu corpo, como se não tivesse sido eu. Tinha acabado… eu estava livre. Agora eu poderia viver com meu amor. Viver a minha vida. Minha liberdade. 

Ela gargalha. 

— Ledo engano… olha eu aqui. Presa. 

Seu olhar se volta pra mim e eu ainda me encontro abraçada a ela. Suas lágrimas escorriam, seus olhos vermelhos e seu nariz também da mesma cor. Não havia brilho. Havia só uma jovem, uma jovem cujo a vida tirou a sua liberdade. Ela nunca foi oi livre, sempre foi presa em um mundo de mentiras do qual era obrigada a fazer parte. 

— Phetra… eu quero ajudar você. Olha pra mim. 

Me abaixo até ficar da sua altura, seu olhar era vazio, perdido. 

— Se você assinar a procuração e o contrato de honorários, eu vou ser sua advogada. E aí nós vamos lutar juntas.  

— Eles vão me prender pelo resto da vida. Eles vão dizer que eu sou um monstro. — a voz dela é um fio. — Mas eu só queria viver.

Eu não penso. Seguro os pulsos dela com cuidado, com firmeza, pra que ela entenda que eu ainda estou ali.

— Você queria sobreviver. — digo, a minha voz baixa. 

— Eu não tenho dinheiro pra te pagar, não tenho nada, eu… 

A interrompo. 

— Não pensa nisso agora, ok? Eu tô aqui, vou cuidar do seu processo e pronto. Eu não tô te pedindo nada, eu não tô te cobrando nada. 

— Você é um anjo loiro?

Dou um sorriso. 

— Estou longe de ser um anjo, mas eu entendo você mais do que imagina. Um dia… eu vou te contar a minha história. Mas não hoje. Hoje é a sua que nos interessa. 

Ela assina a procuração e o contrato de honorários. Faço os procedimentos jurídicos necessários na delegacia e explico a Phetra como as coisas irão ser daqui pra frente. Expliquei que provavelmente iriam pedir a prisão preventiva e eu iria tentar impedir, mas que era algo difícil de contornar. 

Antes de sair, ela me abraçou em agradecimento e eu retribuí o abraço de forma maternal naquela menina. Ela estava sofrendo, era uma vítima. 

Quando abri a porta para sair da delegacia, flashs vinham na minha direção, microfones e mais microfones de diferentes emissoras, celulares, gravadores. Tudo ao mesmo tempo. Câmeras. Perguntas. Vozes. Ao vivo. 

— A senhora é advogada da assassina Phetra Medeiros? — pergunta um repórter 

— Dra, como vai ser daqui pra frente? Phetra é culpada das acusações? 

— Quanto tempo ela vai ficar presa? 

— Doutora aqui! Doutora, uma resposta pra Rádio Tupi, por favor. 

Fechei os olhos. Respirei fundo. 

— A defesa não tem nada a declarar por enquanto, senhores. Estaremos atentos aos fatos e provas do processo. — respondi, firme, sem me deixar arrastar pelo tumulto.

Caminhei entre eles com a minha expressão mais técnica e impassível possível. Os flashes me cegavam, os microfones quase entrando na minha boca, as vozes e eles me seguindo até o carro, querendo fazer mais perguntas. E eu só pensava numa coisa: ela confiou em mim.

Quando finalmente alcancei o carro, fechei a porta e soltei o ar preso nos pulmões. O vidro separava o mundo de fora do mundo de dentro, mas eu sabia: essa barreira não ia durar.

Eu tinha uma cliente. Eu tinha uma guerra.

E eu não ia recuar.


⚖️⚔️


Cheguei ao escritório e já sentia os olhares sob mim, mas meus óculos escuros tornavam minha expressão… inexpressiva. Fria. 

Para minha surpresa, minha secretária já me esperava de frente para o elevador com o tablet na mão. 

— Anna do céu… — põe a mão na boca — Nosso telefone não para de tocar. 

— Imaginei — dou um sorriso de canto 

— Você tem que visitar três réus presos hoje e… a sua sócia quer te ver. Ela tá na sua sala. 

Respiro fundo. Roberta. 

— Café pra nós duas, por favor. 

— Vou providenciar. 

— Cibelle, diga Anthony para ficar atento, pois a qualquer momento nós vamos sair. 

Ela faz uma anotação no seu tablet e vai em busca de Anthony para dar o recado. 

Entro na minha sala, Roberta está admirando a vista da Yup Star. Quando entro, me olha por alguns segundos e se vira para a roda gigante novamente. Paro ao seu lado, contemplando a mesma vista. 

— Eu vi sua entrevista. Aliás… os conselheiros viram. E me mostraram. 

— É mesmo? E o que falaram? 

— Por que não me contou? — diz com pesar — Odeio quando me deixa no escuro. 

— Eu decidi hoje. Cinco da manhã. Não deu tempo… me perdoa. 

— Anna… — ela me chama, hesitante — É pessoal pra você? 

— Não… — olho fixamente nos seus olhos — mas é importante pra mim. E pra Anna de 15 anos. 

Roberta suspira. 

— Não me impeça, por favor. — suplico 

— É claro que não, querida. — Ela passa a mão nas minhas costas, tentando me confortar — Se vamos entrar nisso, que seja juntas. Você pode contar comigo. Se o Conselho implicar, os derrubamos juntas. 

Dou um sorriso. 

— Obrigada, Robertinha. 

— De nada. Os honorários sairão do seu salário — pisca 

Reviro os olhos, mas dou um sorriso de canto. Não me importava. Só me importava em fazer a melhor defesa possível para Phetra. 

Fê não me mandou nenhuma mensagem ao longo do dia, eu sabia que ela deveria estar brava comigo por ter pego o caso, quando ela disse claramente para eu não me envolver, mas naquele momento, eu decidi seguir meu coração e meus instinto de justiça. 

Quando ela chegou em casa, acompanhada da nossa filha, só deu tempo de Cecília correr na minha direção. 

— Mamãe! 

A abraço apertado, pegando-a no colo, fazendo um carinho em seus cabelos. 

— Como foi na casa dos seus avós? — pergunto 

— Foi bem! A gente te viu na TV! Você parecia o Batman. 

Dou uma risada. Olho pra Fê, mas a sua expressão é impassível, ela permanece olhando o celular. 

— Princesinha… vai tirar essa roupa, colocar seu pijama pra gente poder jantar. 

Ela bate continência e sobe as escadas, olho pra Fê novamente e ela está digitando no celular, ignorando minha presença. 

Céus. 

É hoje. 

— Boa noite — digo, tentando me aproximar. 

— Boa. 

— Tá tudo bem? 

— Tudo ótimo e você? Pelo visto, atarefada e cheia de trabalho pela frente — arqueia a sobrancelha 

Respiro. 

— Amor… 

— Anna. — suspira, irritada — o que conversamos ontem? 

Abri a boca para responder, mas ela não deixou. 

— Que você não era nada parecida com ela. Que você escolheu um caminho. Você escolheu ser feliz, apesar dos seus pais. Todo mundo pode escolher ter um caminho diferente. 

— Pode até ser, mas ela não teve escolha. 

— Eu tenho medo. — ela confessa 

— Da Phetra? — a olho confusa 

— Não! — suspira — Desse caso mexer demais com você e reabrir feridas que você demorou para conseguir fechar. 

— Ei, não vai… — me aproximo dela e a abraço forte, passando segurança — obrigada por se preocupar, mas tá tudo bem. 

— Mesmo? 

— Mesmo. — dou um selinho em seus lábios 

— Quero um beijo decente… — ela diz 

Atendo seu pedido e roço meus lábios nos dela, minha boca pedindo para fundir-se com a sua, que consentiu. Nossas línguas se moviam em um beijo lento, enquanto ela morde meu lábio inferior. Ela faz um carinho na minha nuca e eu encosto seu corpo na bancada. Seus braços envolvem minha cintura, enquanto finalizo nosso beijo com dois selinhos. 

— Recebi uma visita ilustre no escritório hoje — ela comenta 

— De quem? 

— Adriana.

Meu corpo fica tenso, mas trato o assunto com desdém. 

— E então? 

— A visita não era pra mim. Ela já sabe de Amanda e Andressa. 

— E ela? 

— Fez um escândalo. Xingou Andressa de tudo que é nome. Paola também estava lá — revira os olhos — As duas completamente fora de si. 

— Se completam… — ironizo

— Você falou com Amanda depois de São Paulo? 

— Não. 

— Por quê? 

— Não há o que falar. 

— Tem certeza? 

— Sim. — arqueio a sobrancelha 

— Hum… — ela fica pensativa, mas eu conhecia aquele "hum". 


Ciúmes à vista. 

— Ela tá no Rio agora, né? — pergunta, finalmente.

— Tá. — respondo simples.

— Ok. 

Ela se vira, abrindo a geladeira para pegar algumas maçãs e outras frutas, provavelmente iria preparar a saladinha de frutas pra Cecília levar pra escola amanhã. Pega uma faca enorme na gaveta e começa a cortá-las.

Engulo seco.

— Eu só acho engraçado… — ela começa, sinal de que nada estava ok — que eu tive que ouvir daquela pirralha que te beijou sim, que foi o melhor beijo da vida dela, mas que estava apaixonada pela ex-madrasta agora. E eu fiquei com tanta, tanta raiva… — ela picota as maçãs mais rápido e eu estou estática. Fê era um doce, mas não mexa com o que é dela senão ela vira uma monstrinha — quis agarrá-la pelo pescoço e dar uns bons tapas. 

Ela sorriu ironicamente, apoiou a faca no balcão e se virou pra mim.

— Eu tô tão puta com isso, você não faz ideia.

— Já passou, amor. Ei, eu tô aqui. — estendo a mão para ela pegar, mas ela não pega, apenas bufa 

— Foi só um beijo mesmo? — ela questiona, seu olhar perigoso

— Sim, Fernanda. Foi só um beijo sem significado. — respondo, firme. — Vem aqui…

A puxo para perto de mim, a abraçando forte. Ela me beija novamente, de um jeito mais firme, possessivo, mordendo meu lábio inferior e confesso que estava no mesmo ritmo também, queria que ela visse, sentisse, que eu era dela. Que ela nunca correu risco algum. Ela separa nossos lábios para respirar e cola sua testa na minha, com os olhos ainda fechados.

— Eu quase te perdi… — ela fala baixinho

— Não vamos tocar em assuntos dolorosos, por favor. — peço — nós nos amamos, é isso que importa. Não quero nenhuma bomba nas minhas mãos, eu quero viver apenas a nossa vida. Adriana, Paola, Amanda, não importa. Eu só quero você e nossa filha. Esqueça esses assuntos, tá?

— Não consigo me perdoar, por mais que eu tenha vencido o caso e você me perdoado, as vezes tudo volta… — ela diz toda triste e aquilo quase me desmonta

— Ei, monstrinha… o passado só tem força se a gente deixar, não foi você quem me ensinou isso tantas vezes? — sorri, limpando uma lágrima que insistia em cair dos olhos dela

Ela morde o lábio, tentando conter o choro, mas falha.

— É que eu lembro de tudo. Lembro do quanto doeu ver você indo embora, do quanto doeu não saber se ainda tinha volta. E agora, ver essa menina aparecendo de novo, dizendo que te beijou e gostou, aí vem esse caso que você está envolvida, esse caos… parece que eu vou te perder de novo.

— Eu não vou a lugar nenhum, amor. Eu tô aqui. Eu só sei amar você. 

Ela balança a cabeça, como se quisesse acreditar, mas o medo ainda mora ali.

— Eu sou tão idiota, né? — ela ri de si mesma, com a voz embargada — Tenho uma mulher incrível, uma filha linda, uma vida que a gente reconstruiu… e mesmo assim fico com medo de perder tudo.

— Não é idiotice, é amor. Nós duas nos amamos demais, a gente tem medo de se perder, isso é comum quando amamos muito.

— Às vezes eu queria te amar menos.

— Nem tenta — dou um beijinho no canto da boca dela — Eu já me acostumei com a intensidade do seu amor.

Fê encosta o rosto no meu pescoço e sussurra:

— Me promete que, se esse caso começar a te machucar, você larga tudo.

Suspiro.

— Eu prometo, Fê.

— Quero que diga: “Sim, Maria Fernanda, eu vou largar.” 

— Sim, Maria Fernanda, eu vou largar — repito

— Ótimo — sorriu — Eu te amo, viu? Mas se a Amanda aparecer, eu viro o Cão.

Dou uma risada pra aliviar o clima.

— Eu sei. E o Cão que se cuide, porque a advogada ruiva é a pior.

Por fora, tudo parece calmo.

Mas por dentro, o mundo começa a girar de novo — e eu sei que a paz, com a gente, nunca dura muito.

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Meus amores, mil perdões por demorar pra postar, mas é que a minha vida está muito confusa, muito corrida, minha mente não dá um minuto de descanso e muitas vezes eu fico com bloqueio criativo para postar aqui. Mas não levem a mal, estamos na reta final e vamos encerrar esse ciclo esse mês de Outubro ainda. 

Faltam dois capítulos para terminar ONR e eu tô muito grata por quem ainda não desistiu de mim e ainda tá acompanhando, amo vcs, sério 

Qualquer coisa, meu insta está aberto @nathh.autora, amo conversar com vocês e saber suas perspectivas sobre a história. 

 

Até semana que vem! 


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Comentários para 29 - capitulo vinte e oito: feridas reconhecem feridas:
HelOliveira
HelOliveira

Em: 08/10/2025

Amanda aparecendo de novo não.....deixa a paz reinar entre nossas meninas, pq o fora o caso Phetra e nossa advogada vai pegar fogo..


nath.rodriguess

nath.rodriguess Em: 12/10/2025 Autora da história
Hahahahaha Amanda aparece e vocês já ficam tensas


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