Capitulo 36
Chloe estava elétrica, uma energia que há meses não sentia vibrar em seu corpo. Depois do seu desentendimento com Lara, ela estava fazendo de tudo para agradar a médica. Em seus 35 anos, ela nunca tinha amado alguém como ela amava a Lara. O aniversário da ruiva chegou, e com ele, uma decisão que há muito amadurecia em seu coração: ela pediria Lara em namoro. Desta vez, um namoro de verdade. Para que tudo fosse perfeito, Chloe se juntou com Sophie na organização do aniversário.
A casa dos pais de Lara, Luís e Helena, estava sendo transformada em um cenário de festa. Sophie, com sua criatividade e olhar de fotógrafa, liderava a decoração, enquanto Chloe, com sua precisão e organização, garantia que cada detalhe estivesse perfeito. As duas estavam se dando muito bem e Sophie começava a entender porque sua irmã tinha se apaixonado por Chloe.
Os Balões em tons de azul e dourado flutuavam pelo espaçoso quintal. Arranjos de flores coloridas adornavam as mesas e um aroma delicioso de doces caseiros pairava no ar. Era uma festa linda, um reflexo do carinho que todos sentiam por Lara.
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Momentos antes de todos os convidados chegarem, Chloe e Lara subiram até o quarto da aniversariante para um último ajuste no vestido de Lara. A porta ficou entreaberta.
— Está perfeita, amor. — Chloe murmurou, ajeitando uma mecha rebelde do cabelo de Lara, os dedos roçando suavemente sua nuca. O toque enviou arrepios pela pele de Lara. A intimidade entre elas havia crescido exponencialmente nos últimos meses, transformando o namoro de fachada em um romance cheio de paixão e intensidade. Chloe mal podia esperar para dar a Lara o anel de Compromisso que comprará. Ela iria pedir Lara em namoro depois da festa, quando as duas estivessem de volta à sua própria bolha.
Lara se virou para Chloe, um sorriso maroto nos lábios.
— Obrigada pelo presente. — Lara admirou o colar de ouro com uma pequena safira no pingente. Chloe colocou em Lara para que ela tivesse um pedacinho dela a onde quer que fosse.
— Você merece o meu melhor. Não quero magoá-la novamente. — Chloe ainda não tinha superado a briga que tiveram na semana anterior. Mas estava lutando para mostrar Lara que ela estava arrependida.
— Você está tão fofa hoje, Comandante. Toda empolgada com a festa. Quem diria que a temível Chloe Müller seria tão romântica? — Ela piscou, divertida. — Se eu soubesse que você se tornaria tão romântica, teria sugerido o namoro falso a muito tempo. — Lara acariciou o rosto de Chloe que deu uma risada sincera. Elas não podiam estar mais felizes. Estavam dispostas a deixar essa história de namoro de mentira para trás e embarcar em uma nova fase do relacionamento. — Ter você assim, toda dedicada e preocupada em me agradar, é uma delícia.
— Ah, é? Então a culpa é sua, Dra. Lara? Se não fosse tão irresistível, eu jamais teria caído nos seus encantos.
A leveza da conversa preencheu o quarto, um contraste doce com a tensão que Chloe carregava por dentro. A cada dia, mais se apaixonava por aquela mulher, e a ideia de torná-la sua de verdade a deixava em êxtase.
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Alguns minutos antes, Henrique, sentindo um impulso de entregar o presente de Lara de uma forma particular, e pedir desculpas por ter contado para Chloe sobre o que aconteceu entre eles, subiu as escadas em busca da irmã e de Lara. A porta semiaberta do quarto de Lara parecia um convite. Ele estava prestes a bater quando os risos femininos e a voz de Lara ecoaram no corredor. A frase dela perfurou o ar, clara e inconfundível: "Se eu soubesse que você se tornaria tão romântica, teria sugerido o namoro falso a muito tempo."
Henrique paralisou, ele não escultou mais nada. O presente na sua mão pesava. Namoro falso? A confusão em seu rosto se transformou em choque e, rapidamente, em um ressentimento profundo. Ele deu um passo para trás, em silêncio, sua mente fervilhando. As imagens da irmã e de Lara em momentos de carinho, os elogios dos pais ao casal perfeito, tudo se distorcia em uma farsa bem montada. Sem fazer barulho, ele se afastou do quarto e desceu as escadas, de volta para a festa, sua expressão inabalável agora uma máscara chateação contida.
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A festa de aniversário de Lara estava no auge, pulsando com a energia vibrante de uma noite de verão. A música, uma mistura de pop e eletrônica suave, preenchia o ambiente, convidando a risadas e conversas animadas. Luzes coloridas dançavam pelas paredes, refletindo nos sorrisos dos convidados. A mesa do bolo, uma obra-prima de confeitaria, era o centro das atenções, adornada com a decoração cuidadosamente planejada por Sophie e Chloe. Era um evento mágico, um refúgio da realidade para muitos, e um palco para a felicidade aparente de Lara.
Chloe e Lara estavam inseparáveis, recebendo cumprimentos dos amigos e familiares. Elas trocavam carinhos discretos, um toque no braço, um olhar cúmplice, um sorriso compartilhado, que para os olhos clínicos dos pais e amigos, eram a prova irrefutável de um amor em plena floração. Miguel e Beatriz, orgulhosos, as observavam de longe, comentando com Luís e Helena, os pais de Lara, sobre como as filhas haviam "se encontrado" e como era lindo vê-las tão felizes e estáveis. Era exatamente o que queriam para suas filhas. Não a toa elas tinha juntados elas.
Henrique, no entanto, via tudo através de uma lente distorcida pela raiva e pela mágoa. De um canto mais afastado, ele observava cada carícia, cada sorriso trocado entre Chloe e Lara como se fosse uma performance ensaiada. A indignação borbulhava em seu peito. Como elas podiam enganar a todos, especialmente os pais, de uma forma tão cruel? O ciúme que ele sentia por Lara, a quem secretamente amava, agora se misturava com a sensação de traição pela irmã. Ele, que sempre foi o brincalhão e divertido, estava calado, com um olhar mais atento e sombrio do que o normal, sua mente remoendo a frase "namoro falso". Para aliviar a tensão, ele começou a beber.
Matheus, o melhor amigo de Elisa, também estava na festa, sua presença notada por Lara, que trocou um breve, mas significativo olhar com ele. Chloe percebeu a troca e, com um tom divertido e cúmplice que mostrava a evolução da sua comunicação com Lara, comentou.
— É difícil me manter tranquila com tantos admiradores ao seu redor. — Chloe brincou.
Lara riu, apertando a mão de Chloe.
— Boba! Somos apenas amigos. — O conforto e a intimidade em suas vozes eram evidentes, mas Chloe não percebia a tempestade que se formava.
A festa seguiu com conversas animadas. Sophie e Elisa riam de uma piada interna, enquanto Flávia, Renata, Chloe e Lara se juntavam para uma selfie, registrando a alegria do momento. A interação entre o grupo de amigas, todas protagonistas de suas próprias histórias, era vibrante e autêntica.
— Larinha, chegou os 25 anos. — Elisa abraçou a cunhada empolgada. — O que posso dizer, apenas se divirta. O tempo passa muito rápido.
— Obrigada Lizzy. Pode ter certeza que sei apreciar uma boa festa.
— E como sabe. — Soph completou e todos riram.
O ponto alto da noite chegou: o momento dos "Parabéns". A família se reuniu em torno da mesa do bolo. Lara, com os olhos brilhando de felicidade, estava entre Chloe e seus pais. Miguel e Luís, amigos de longa data, se abraçavam, brindando à união de suas filhas. Eles estavam visivelmente orgulhosos do "namoro estável" que as duas pareciam ter construído, um resultado dos seus próprios esforços em apresentá-las.
O aniversário era, de fato, um momento mágico e divertido para todos, uma bolha de perfeição prestes a estourar.
Enquanto as velas eram acesas e a multidão se preparava para cantar, Henrique, que havia se isolado um pouco mais nos últimos minutos, estava com um copo na mão, o álcool começando a corroer sua contenção. Ele observava Chloe e Lara, o riso delas, os olhares carinhosos, e cada gesto se tornava um punhal em seu peito. A frase de Lara, namoro falso, martelava em sua mente, amplificada pela bebida. Ele não conseguiria mais suportar aquela farsa. Ele precisava expor a verdade.
A música dos parabéns começou, preenchendo o ar com a melodia familiar. Mas Henrique não cantava. Seu olhar estava fixo em Chloe e Lara, e a fúria em seu peito estava prestes a explodir. Como elas conseguiam ficar tão tranquilas, mesmo enganando todos ali?
O "Parabéns a Você" ecoou pela sala, mas a melodia não conseguiu abafar a tempestade que se formava.
Henrique, um pouco trôpego, mas com uma determinação fria no olhar, aproximou-se de Chloe e Lara. A música parou, e um pequeno grupo de amigos íntimos, incluindo, Flávia, Renata, Benjamim, Camila, e até mesmo Matheus, estava próximo o suficiente para ouvir. Elisa e Sophie estavam animadas e cantavam os parabéns. Miguel e Beatriz, os pais de Chloe, e Luís e Helena, os pais de Lara, também estavam ali, radiantes de orgulho. O riso de Lara, que ainda ressoava, foi abruptamente cortado pelas primeiras palavras de Henrique.
— Então era isso? — A voz de Henrique, carregada de mágoa e um tom cortante, chamou a atenção de todos. Os sorrisos começaram a vacilar. — Tudo uma farsa? Como puderam enganar a todos nós, principalmente os nossos pais, com esse namoro de mentira?
Aquelas palavras caíram como um raio em meio à festa. O silêncio que se seguiu foi tão denso que a própria música parecia ter prendido a respiração. Os olhos de todos se voltaram para Chloe e Lara, que empalideceram. Miguel e Beatriz deram um passo à frente, as testas franzidas em confusão.
Henrique não parou. Ele estava descontrolado, a raiva e a dor se misturando com o álcool.
— Filho, o que está dizendo? Venha você está bêbado. — Miguel tentou conter Henrique.
— E você, Lara? — Ele gritou, direcionando sua fúria para a aniversariante. — Como pôde fazer isso com meus pais? Sugerir essa palhaçada?
Os pais de Lara, que até então observavam, intervieram, chocados.
— Henrique, o que é isso? Que absurdo você está dizendo? — Luiz perguntou, incrédulo.
— Eu escutei as duas conversando no quarto. O namoro delas é uma farsa.
— É verdade, Chloe? Esse namoro... é falso?
Chloe estava em choque, e o seu silêncio foi como confirmação para o pai. Ele se virou para Lara, com uma decepção.
— E você, Lara, confiamos em você. Como pôde sugerir tal absurdo?
Sophie se aproximou e estava pronta para defender a irmã, mas Lara tocou em seu braço, o olhar suplicante que pediu para a irmã não se meter.
Lara sentiu o mundo desabar. O rosto em chamas, ela olhou para Chloe, buscando apoio, mas também sentindo o peso da acusação de Henrique e do olhar julgador de Miguel. Ela abriu a boca para falar, para tentar explicar, mas as palavras não vinham.
Foi então que o silêncio de Chloe se rompeu. Ver Lara, sua Lara, sob ataque, sendo difamada por uma mentira que ela mesma, Chloe, havia se aproveitado, era insuportável. A culpa, o amor que sentia, o desespero de ser exposta e, acima de tudo, a necessidade avassaladora de proteger a mulher que agora era seu mundo, impulsionaram-na. Lágrimas quentes começaram a escorrer pelo seu rosto pálido. Chloe sabia que todas aquelas mentiras tinham se prolongado por sua causa.
— PAREM! — O grito de Chloe, rouco e desesperado, cortou o ar, abafando qualquer murmúrio que surgia. Ela deu um passo à frente, puxando Lara para perto de si em um gesto protetor. — A culpa não é da Lara! Fui eu quem aceitei, eu sou a única culpada! Ela só estava tentando nos ajudar!
Chloe mal respirava, as palavras tropeçando umas nas outras em sua urgência.
— Queríamos agradar vocês, sim! A Lara sugeriu o namoro para acalmar os pais dela, e para que os meus ficassem felizes com uma relação "estável"... Mas eu...
— Não acredito que você enganaram a gente esse tempo todo, filha. — Miguel estava visivelmente chateado. Beatriz segurou o braço do marido, para tentar acalmá-lo.
— Só me escuta, pai. Eu precisava disso! Eu precisava de uma distração para vocês, para que não percebessem... para esconder que eu... que eu tenho CÂNCER! Eu estou doente! E nem mesmo a Lara sabia disso quando o namoro começou! Eu poderia suportar o descontentamento de vocês em me ver sozinha, mas não poderia suportar o olhar de pena e as expectativas que depositavam em mim serem desfeitos por conta de uma doença. Por isso, aceitei o namoro falso.
A confissão explodiu na sala como uma bomba. O silêncio que se seguiu foi ainda mais profundo, esmagador. Todos ficaram sem reação, com os rostos paralisados de espanto. Lara, segurou as lágrimas, ela nunca quis que os pais de Chloe soubessem daquela forma. A parte em que Chloe usou o namoro para distrair os pais da sua doença era nova, mas a tensão era tão grande que ela mal teve tempo de processar.
Miguel Müller, o empresário inabalável, cambaleou. A cor fugiu de seu rosto, substituída por uma palidez mortal. Beatriz, sua esposa, levou as mãos à boca, os olhos arregalados de horror. O duplo golpe, a farsa da relação e a devastadora notícia da doença de sua filha perfeita, os atingiu em cheio.
Henrique, que havia iniciado a fúria, viu sua raiva se transformar em desespero e culpa esmagadora. Ele soltou o copo, que se estilhaçou no chão, e sua mão tremeu. Sua ação impensada havia exposto não uma mentira, mas o sofrimento mais profundo de sua irmã.
Os pais de Lara, também estavam em choque, processando não só a verdade sobre o namoro de sua filha, mas a gravidade da condição de Chloe. Sophie e Elisa, não sabiam o que dizer, lágrimas já brotando nos olhos de Sophie ao ver a vulnerabilidade de Lara. Ela não precisava que Lara falasse nada, pois sabia quando sua irmã amava alguém. E sem dúvidas, Lara era louca por Chloe. Por isso Soph sabia que sua irmã estava sofrendo por conta da doença da mulher.
Matheus, que observava tudo de longe, sentiu um arrepio na espinha, uma estranha mistura de choque e algo que parecia compaixão por Lara e Chloe.
Miguel, recuperando um pouco o fôlego, conseguiu balbuciar, a voz embargada.
— Câncer? Chloe... Por quê? Por que você escondeu isso de nós? Por que nos deixou de fora de algo tão sério?
A pressão das perguntas, os olhares de choque de todos, o peso do segredo finalmente revelado em público… Era demais. O rosto de Chloe, já pálido, ficou esverdeado. Uma vertigem a atingiu com força. O mundo começou a girar, a se inclinar. As vozes se tornaram um zumbido distante. Ela tentou se manter de pé, mas as pernas fraquejaram.
— CHLOE! — Lara gritou, percebendo a mudança drástica em sua expressão.
Antes que Chloe pudesse cair no chão, Lara a segurou. Seu instinto médico assumindo o controle. O corpo de Chloe cedeu completamente nos braços de Lara, inerte.
— Ela está desmaiando! — Lara exclamou, sua voz firme apesar do pânico. — RÁPIDO, PRECISAMOS LEVÁ-LA AO HOSPITAL AGORA!
O caos se instalou. Os amigos e familiares se mobilizaram, o choque inicial cedendo lugar à preocupação. Miguel, paralisado por um momento, finalmente se moveu, seus olhos fixos na filha inanimada nos braços de Lara. A festa de aniversário havia se transformado em uma corrida desesperada pela vida Chloe.
Fim do capítulo
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DR3
Em: 08/10/2025
eu nem sou de comentar, apenas ler tudo. mas tem certos personagens que se existissem na vida real, eu faria questão de esmurrar. henrique seria essa pessoa. doente que não aceita recusa. parece que dormir com a lara, faria com que ela tivesse a obrigação de ter algo com ele. o pior é existir gente podre assim na vida real, né
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