Capitulo 30
Heather hesitou por um segundo. Atrás dela, Andrew se aproximou, colocando-se ao lado da filha como uma presença firme.
— Claro, pode entrar, sra. Wang. — respondeu Heather, recuando para abrir espaço.
Mei, que descia as escadas com os cabelos ainda úmidos do banho, parou no meio do caminho ao ouvir aquela voz. Seu corpo enrijeceu, e por um instante parecia não acreditar no que via.
— Mãma? — a palavra escapou quase num sussurro.
A Sra. Wang ergueu os olhos, e quando viu Mei, lágrimas voltaram a brotar.
— Minha filha...
O silêncio que se seguiu foi pesado, quebrado apenas pelo ranger da madeira quando Mei desceu os últimos degraus. Ela se manteve a poucos passos de distância, dividida entre a mágoa e a saudade.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Mei, a voz firme, mas trêmula de emoção.
A mãe respirou fundo, tentando encontrar forças.
— Eu... eu não podia deixar as coisas assim. Seu pai... ele estava muito nervoso, disse coisas terríveis. Mas você precisa entender que ele... ele só quer proteger você.
— Proteger? — Mei deu um riso curto, magoado. — Ele me expulsou de casa, mãe. Disse que eu não era mais filha dele. Isso é proteger?
A Sra. Wang levou a mão ao peito, como se as palavras fossem facadas.
— Ele falou no calor da raiva. Você sabe como ele é. Orgulhoso, teimoso... Mas ele te ama, mesmo que não saiba mostrar.
Mei balançou a cabeça, lágrimas marejando seus olhos.
— Amar não é controlar cada passo da minha vida. Não é me dizer com quem eu posso ou não estar.
A mãe hesitou. Seus olhos, por um instante, deslizaram discretamente até Heather, que permanecia em silêncio perto de Andrew. O gesto foi sutil, mas Mei percebeu. Aquilo só podia significar que a mãe suspeitava de algo.
— Você sabe... — começou a Sra. Wang, a voz mais baixa. — Sabe que não é fácil para ele aceitar certas coisas.
Mei respirou fundo, o coração acelerado.
— Eu não vou pedir desculpas por quem eu sou.
O silêncio caiu outra vez. Andrew, percebendo a tensão, pigarreou discretamente.
— Talvez vocês duas precisem conversar sozinhas - sugeriu com calma. — Heather e eu podemos dar um tempo lá em cima.
Heather olhou para Mei, buscando em seus olhos um pedido de ajuda. Mas Mei apenas assentiu, firme.
— Tudo bem.
O pai de Heather puxou-a pelo braço gentilmente, e os dois subiram as escadas, deixando mãe e filha na sala.
A Sra. Wang respirou fundo e se aproximou um pouco mais.
— Eu não quero perder você, Mei. Mas precisa me prometer que vai pensar... que vai tentar conversar com seu pai quando ele se acalmar.
Mei enxugou uma lágrima que escorria pelo rosto.
— Eu não sei se consigo. Não depois do que ele disse. Não depois de... — a voz falhou.
A mãe estendeu a mão, mas hesitou antes de tocá-la.
— Só me prometa que não vai desaparecer da minha vida. Eu preciso de você, filha.
Mei fechou os olhos por um instante, engolindo a dor. Quando os abriu, havia uma mistura de mágoa e amor em seu olhar.
— Eu não vou desaparecer. Mas eu também não vou voltar a viver sob o controle dele.
As duas permaneceram frente a frente, presas no abismo entre tradição e liberdade, entre mágoa e amor.
Sra. Wang olhou para a filha com os olhos marejados, apertando a mochila contra o colo como se aquilo fosse a única forma de manter Mei perto de si.
— Mei... — começou, a voz baixa, quase trêmula. — O que você pretende fazer agora? Onde vai morar?
Mei respirou fundo. As palavras pareciam presas na garganta.
— Eu... não sei ainda, mãe. — ela baixou os olhos, mexendo nervosamente nos dedos. — Mas eu não vou voltar para casa. O papai deixou claro...
— Seu pai... — a mãe interrompeu, com um suspiro pesado, a dor evidente em cada gesto. — Ele falou coisas horríveis, mas você o conhece. É teimoso. Quando está tomado pela raiva, não enxerga nada além do próprio orgulho. — Seus olhos se suavizaram. — Mas eu sei que você é minha filha, e não importa o que aconteça, eu não vou deixar você desamparada.
Mei sentiu um nó na garganta.
— Obrigada, mãe. Mas eu também não quero que a senhora sofra por minha causa.
Sra. Wang estendeu a mão, segurando a da filha com firmeza.
— O que me faria sofrer de verdade seria ver você sofrendo por causa das escolhas que fez. Você sempre foi determinada, desde menina. Eu só quero ter certeza de que você está segura das suas escolhas... — ela hesitou, o olhar correndo pela sala, e então completou. — Você pretende ficar aqui, na casa da Heather? — Mei percebeu que a mãe estava desconfiada e que também tinha seus preconceitos. Mesmo que sejam mais velados que o seu pai.
Mei corou. Abaixou a cabeça, mas não negou.
— Por enquanto, sim. Mas depois da temporada vou procurar um lugar para alugar, não quero ser um peso para ninguém. Tenho um dinheiro guardado.
A mãe suspirou, balançando a cabeça devagar.
— Você nunca foi um peso, Mei. — Ela a encarou com seriedade. — Mas precisa pensar bem. Essa vida que escolheu, no mar, já é perigosa... e agora você ainda decide se afastar de casa, de nós...
— Mã... Não fui eu quem decidiu isso. Você sabe muito bem. — a voz de Mei saiu embargada, mas cheia de convicção. — Eu amo o mar. É nele que eu encontro meu lugar. E quanto a morar aqui... não se preocupe. Eu vou dar um jeito. Eu sou adulta, sei me virar.
Sra. Wang apertou ainda mais a mão da filha, lágrimas discretas escorrendo pelos olhos.
— Eu sei que é adulta. Só queria que você ainda fosse a menina que vinha correndo me mostrar cada conchinha que encontrava na praia... — ela sorriu tristemente. — O tempo passa rápido demais.
Mei se inclinou, abraçando a mãe com força.
— Eu vou ficar bem, mãe. Prometo.
— Não sei se vou conseguir me despedir no cais. Mas tome cuidado minha filha. Trouxe algumas roupas para você. — A Sra.Wang entregou a mochila que estava segurando com tanta força. Era como se desapegar das coisas da filha que já tinha passado tanto tempo longe e agora que voltou, estava indo mais uma vez embora, só que sem previsão para voltar. Mei saiu de casa tão cedo para estudar, sua mãe sentia que o tempo nunca foi suficiente para ela aproveitar a companhia da filha. E agora, com seu esposo tão estressado, ficava difícil conciliar as coisas.
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Depois que sua mãe foi embora, Mei subiu para o quarto de Heather. A mais velha foi gentil em chamar Mei para deitar com ela. O quarto estava mergulhado na penumbra suave do abajur aceso. O cheiro de madeira misturado ao perfume de Heather criava para Mei uma sensação quase surreal: estar ali, deitada na cama daquela mulher que por tanto tempo fora apenas um desejo impossível, quase inalcançável, e agora era o seu refúgio.
Mei descansava com a cabeça sobre o peito da capitã, ouvindo o ritmo compassado do coração dela. Heather passava os dedos distraidamente pelos fios escuros do cabelo da mais nova, num gesto que transmitia uma segurança que as palavras nunca conseguiriam traduzir.
Mei suspirou, como quem precisava soltar um peso.
— Acho que minha mãe sabe sobre nós.
Heather ajeitou o corpo para olhá-la melhor.
— Ela te disse isso?
— Não diretamente, mas eu percebi como ela estava olhando para você. E ela fez alguns comentários com duplo sentido. - Mei estava certa que a mais velha iria ficar chateada, mas Heather apenas segurou a sua mão e disse.
— O meu pai também sabe. Mas ele nos apoia.
— O seu pai sabe a mais tempo do que você imagina. — Mei soltou. Lembrando de como Andrew parecia saber que a pessoa que estava rejeitando Mei era a sua filha. Por isso ele lhe deu o melhor conselho.
— Como assim? Quer dizer, você contou para ele? Vi as brincadeiras que ele fez e não entendi nada.
— Não contei, mas há alguns dias ajudei ele com o cortador de grama e ele percebeu que eu estava triste. Foi logo depois do que fizemos na sua cabine. - Heather corou envergonhada. Ela se arrependia de ter deixado Mei daquela forma. Mas naquele dia a capitã entrou em pânico.
— Me desculpa, Mei. Por deixar você triste.
— Já passou, acho que eu estava mais frustrada do que triste. Na minha adolescência, sempre te vi como um ser superior.. A garota que todos queriam, mas você raramente dava atenção para alguém. Então me sentia especial quando você me protegia e cuidava de mim. Só que eu sabia que você não me enchergava da maneira como eu te via. Para você eu era apenas a irmãzinha do seu melhor amigo. Depois que eu voltei, na maior parte do tempo você só me evitava e isso me deixava confusa. Quer dizer, eu via que você sentia atração por mim, o que fizemos na sua cabine foi intenso, mas você não admitia. Então o seu pai me aconselhou a fazer ciúmes na pessoa que estava confusa sobre mim. E ele acertou.
Heather ficou chocada.
— Então quer dizer que com o Igor ou com a morena na festa. Era tudo para me fazer ciúmes?
— Com o Igor sim, mas com a mulher da festa, eu só estava com raiva de você. Não sabia que iria para a mesma festa. Mas já que estava lá... foi bom te provocar um pouco. Desbancar a cara de pôquer que você insistia em fazer sempre que me via. — Mei riu e Heather entrou na provocação.
— Mei, você é uma menina muito má, sabia? — Heather sentou na cama. Mei não conseguia parar de rir. Ela sabia que aquilo poderia inflamar a capitã, mas estava difícil de segurar a risada.
— O que você pretende fazer com essa menina malvada? — Mei provocou. E quando Heather olhou para ela, viu uma chama em seu olhar. Mei sabia que tinha conseguido o que queria.
Heather não respondeu de imediato. Apenas inclinou-se, os olhos escuros e intensos, deixando o peso do silêncio falar por ela. Então, com um movimento rápido, capturou os lábios de Mei num beijo profundo, carregado de fome e ciúme acumulado. Suas mãos deslizaram até a barra do blusão de Mei e, sem pedir permissão, puxou a peça para cima. Heather afastou-se apenas para admirar a visão, um sorriso selvagem no rosto.
— Cada vez que eu vejo alguém te olhando com segundas intenções... eu sinto vontade de quebrar a cara dessa pessoa, Mei. — murmurou contra a pele, deixando mordidas pelo pescoço. — Ninguém tem direito de olhar pra você assim. Você é minha.
A frase atingiu Mei como uma deliciosa promessa, e um arrepio percorreu-lhe a espinha. Ela sabia que Heather seria implacável desde o primeiro momento em que viu atração em seus olhos, foi justamente isso que fez com que ela ficasse mais obcecada por ela.
Heather desceu as mãos pela cintura dela, puxando a calcinha lentamente sem tirá-la totalmente. Mei arqueou o corpo, tentando controlar a respiração, mas o gesto foi interrompido quando Heather a empurrou de volta contra o colchão.
— Shhh... — sussurrou, roçando os lábios em seu ouvido. — O meu pai está lá embaixo. Se você gritar alto demais, ele vai ouvir. Quer mesmo que ele saiba o quanto você gem* por mim?
Mei mordeu o punho para não soltar um gemido, e Heather sorriu satisfeita.
Sem hesitar, livrou-se da própria blusa, deixando os seios roçarem contra os de Mei quando voltou a beijá-la com intensidade. A calcinha foi logo ao chão, e Heather se moveu nua sobre ela, o contato de pele contra pele acendendo faíscas pelo quarto.
Segurou os pulsos de Mei acima da cabeça, prendendo-os contra o travesseiro, e arrastou o corpo para baixo, marcando cada centímetro da pele dela com a boca. Ch*padas fortes, mordidas de posse, marcas que ficariam ali como lembrança.
— Agora você vai aprender que não se brinca com o meu ciúme. — disse com a voz baixa, mas carregada de ameaças deliciosas. — Da próxima vez que deixar aquele idiota do Igor te fazer rir ou beijar qualquer boca que não seja a minha... eu vou te castigar de novo.
Mei arfou, o rosto corado, completamente entregue. Se todos os castigos fossem assim, ela iriam fazer questão de cometer muitas travessuras.
Heather puxou a calcinha que ainda restava em torno do tornozelo dela e a jogou para o lado, antes de se posicionar entre as pernas, o joelho pressionando contra ela em movimentos ritmados. O corpo de Mei se arqueava, mas cada vez que um som mais alto escapava, Heather cobria sua boca com beijos, engolindo os gemidos.
— Quietinha, linda... — murmurava, roçando os lábios sobre os dela. A palavra doce e ao mesmo tempo controladora fez o coração de Mei saltar uma batida.
A capitã soltou os pulsos da garota apenas para agarrar sua cintura e virá-la de repente, deixando-a de bruços. Mei arfou, surpresa, mas antes que pudesse se virar, Heather já estava sobre ela, pressionando-a contra o colchão com o peso do corpo.
— Você queria brincar? Pois agora vai encarar as consequências.
Os dedos de Heather deslizaram até a entrada de Mei, explorando-a com movimentos intensos e certeiros. O corpo da mais nova reagia em espasmos, tentando acompanhar um ritmo que Heather controlava com maestria. Mei enterrava o rosto no travesseiro para não gritar e chamar a atenção de Andrew.
Mei já não conseguia segurar nada, naquele instante, não havia dúvida de quem tinha o controle. Heather acelerou, guiando-a para o limite, até que o corpo de Mei estivesse a beira de um colapso.
Quando sentiu que ela estava quase lá, Heather a puxou de volta, virando-a de frente e montando sobre ela. O olhar das duas se prendeu num duelo de fogo e rendição.
— Você vai goz*r olhando nos meus olhos. — Heather ditou, a respiração entrecortada, mas o comando firme.
Mei obedeceu sem resistência, atingindo o clímax com um grito abafado que ecoou pelo quarto. O corpo arqueou inteiro, as mãos agarraram os braços de Heather como se temessem se perder no vazio.
Heather continuou até esgotar cada onda de prazer, até que Mei descansou contra os lençóis, ofegante, o corpo ainda trêmulo. Só então a capitã se permitiu goz*r também, dominada pelo frenesi, desabando sobre a mais nova num abraço possessivo.
Quando o tremor passou, Heather não se conteve: girou o corpo, puxando Mei para sentar no seu colo, e a penetrou com um dedo, a garota mal tinha se recuperado do orgasmo anterior quando sentiu sua bocet* apertar ao redor de Heather, enquanto a observava com o olhar possessivo, faminto.
— Quero que grave isso, Mei. — disse, a voz grave, dominadora. — Só eu sei arrancar esses sons de você. Só eu.
O orgasmo veio ainda mais forte, e Mei desabou sobre ela, completamente entregue, suada e trêmula.
Heather a envolveu nos braços, ainda ofegante, mas satisfeita, o ciúme queimando menos agora que havia marcado seu território.
— Você é minha. — repetiu, mais baixo, como um juramento.
O silêncio que se seguiu foi preenchido apenas pela respiração descompassada de ambas, os corpos colados, suados, entrelaçados. Mei dormiu, exausta e satisfeita, enquanto Heather se dava conta que aquela garota seria o seu fim.
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Na manhã seguinte, Mei despertou primeiro. Os braços de Heather a seguravam com carinho. A engenheira tentou se mexer e sentiu o corpo dolorido. Um sorriso travesso enfeitou o seu rosto. Ela então, cheirou um ponto sensível no pescoço de Heather. Ela amava aquele cheiro, mas não se contentou e beijou o lugar. Heather acordou com a provocação. Suspirou e afrouxou os braços ao redor de Mei.
— Bom dia. — Ela sorriu ainda com os olhos fechados.
— Bom dia, Hattie. — Mei usou o apelido de propósito. — Vamos tomar café da manhã? Daqui a pouco temos que ir para o Queen Seas.
— Não quero, está tão bom aqui. — Heather abriu os olhou e beijou a ponta do nariz de Mei. Ver a capitã tão vunerável era raro, por isso Mei descansou a cabeça no peito dela e acariciou o seu abdomêm.
O silêncio se prolongou, confortável, até que Mei entrou no assunto que estava lhe incomodando.
— Ontem, no Queen Seas... eu percebi você distante.
Heather ficou imóvel por um instante, o corpo enrijecendo.
— Distante?
— É. — Mei se ergueu só o suficiente para encarar os olhos dela. — Eu entendi. Você quer ser discreta, manter as coisas só entre nós. Mas... como vai ser durante os dias no mar? Eu não vou poder olhar para você diferente, não vou poder chegar perto, nem ter um gesto de carinho?— Seu tom não era de cobrança, mas de insegurança. — Como a gente vai lidar com isso?
Heather desviou o olhar por um segundo, sentindo o peso daquelas perguntas que a atormentaram também.
— Eu penso nisso o tempo todo. — confessou. — E não tenho uma resposta perfeita. Como capitã, eu tenho que ser justa com todos, não posso dar margem para dúvidas ou favoritismos. Mas... como mulher... — ela hesitou, apertando levemente a mão de Mei — como mulher eu vou estar o tempo todo querendo cuidar e proteger você.
Mei sorriu de leve, mas seus olhos carregavam um brilho de ansiedade.
— Então vai ser difícil...
— Vai. — Heather admitiu sem rodeios, mas completou. — Só que a gente vai dar um jeito.
Mei aninhou-se novamente no peito dela, deixando-se embalar pelo calor que vinha daquele corpo forte. Heather, por sua vez, apertou-a contra si, consciente de que precisava equilibrar duas forças que já não conseguia separar: a capitã responsável diante da tripulação... e a mulher que só queria proteger Mei de tudo. Mas ela ainda não estava pronta para fazer aquilo.
Fim do capítulo
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