O terceiro mês de tratamento de Chloe foi uma montanha-russa de pequenos avanços e recaídas sutis. As sessões de quimioterapia e radioterapia, embora menos agressivas do que no início, ainda cobravam seu preço: a fadiga era uma sombra constante e a perda de apetite teimava em aparecer em dias específicos.

A volta ao escritório em período parcial, como acordado com o pai, era um alívio e um peso. Alívio porque a mente de Chloe se ocupava, distraindo-a da doença. Peso porque cada dia exigia uma performance impecável, escondendo o cansaço, as náuseas leves, a fragilidade que ela não podia se dar ao luxo de exibir. A sua determinação era um escudo contra a própria vulnerabilidade, mas o preço era exaustivo. Chloe estava muito perto do seu limite.

Nos dias úteis, quando Lara não estava presente, Meire era a figura constante ao lado de Chloe. Ela ajustava as refeições, monitorava os medicamentos e garantia que Chloe tivesse o descanso necessário. Nos poucos momentos de folga do trabalho, a presença discreta e atenciosa de Meire era fundamental para o bem-estar de Chloe.

Lara se tornou sua bússola nessa rotina nos dias em que estava com ela. Ela ajustava seus horários para estar presente nas manhãs pós-quimio, preparava as refeições mais leves nos dias difíceis, e era a única pessoa para quem Chloe permitia baixar a guarda. Os beijos, os abraços, as noites e os finais de semana em que Lara dormia em seu apartamento, não eram mais apenas parte de uma fachada; eram o alicerce de sua sanidade. Era como se Lara fosse a única coisa que impedia Chloe de surtar. Ela não sabia se eram as medicações ou uma mudança hormonal, mas seu psicológico estava muito abalado. Mesmo que pelo menos uma vez por semana ela se encontrasse com a psicóloga, Chloe sentia que só ficaria 100% em paz quando se livrasse dos segredos.

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Depois de muito adiar, Chloe e Lara foram até a mansão Müller para visitar a mãe de Chloe. Elas conseguiram evitar a visita dos pais, mas precisavam recompensá-los pela distância e afastamento de Chloe.

— Pronta para ver sua mãe, Amor? — Lara perguntou. Chloe sentiu um nó no estômago. A visita aos pais era sempre um teste. Eles a amavam, mas seu amor vinha com uma expectativa de força e perfeição que a sufocava. Lara, percebendo a hesitação, apertou sua mão. — Eu estou com você. Vai dar tudo certo.
— Obrigada. — Chloe beijou a bochecha de Lara. Ela queria voltar para casa e se aconchegar com a médica em baixo das cobertas. Enquanto assistiam a um filme ou conversavam.

Quando entraram na casa, Beatriz correu para abraçar Chloe, com os olhos marejados de saudade.

— Minha filha! Que bom te ver! Você está tão linda, um pouco mais magra, mas linda! — Seus olhos ansiosos vasculhavam Chloe, procurando por qualquer sinal, mas o casaco e a postura impecável de Chloe, somados à presença radiante de Lara, desviavam qualquer desconfiança.

Lara foi a personificação da namorada perfeita, como ela sempre era. Mas agora, Chloe enxergava a simpatia de Lara de outra forma. Não era forçado, na verdade nunca foi, era Chloe que sempre se protegeu ao ponto de não notar o quanto a médica era incrível com todos ao redor. O braço envolto em sua cintura de forma discreta, agora não era mais um incômodo, pelo contrário, o toque de Lara lhe trazia segurança e conforto.

Miguel, satisfeito, não tirava os olhos da filha e da nora, contente com as mudanças que Lara provocou na vida de Chloe. Ele por muitas vezes teve medo que a filha ficasse sozinha. Não porque ela não merecesse alguém, mas porque Chloe sempre foi auto suficiente. Era difícil até para eles, os pais, terem acesso a vida da comandante. Ela sempre fora muito reservada, e no último ano, essa característica ficou mais forte. Com Lara em sua vida, Chloe se tornou mais presente na vida deles.

Os sentimentos de Chloe eram conflitantes, uma mistura agridoce. A saudade da mãe era real, mas a expectativa que os pais tinham sobre a sua relação com Lara ou até mesmo com o seu sucesso no trabalho era sufocante. Ela estava usando a pessoa que mais a ajudava a suportar tudo como parte de um plano para desviar atenção dos pais da sua doença. Isso não era justo para a médica, apesar de Lara ter sido a dona da ideia do namoro falso, Chloe sempre soube que ela era a única que se beneficiaria com o acordo.

A visita seguiu com poucas conversas da parte de Chloe. Ao lado dos pais ela voltava ao seu estado reservada. Lara conseguia notar a mudança no comportamento da mulher que amava. Ao mesmo tempo em que se sentia orgulhosa por ter conseguido ultrapassar as barreiras de Chloe, mas também se sentia mal pela relação de segredos que a ex-piloto tinha com a família.

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Nos dias em que não estava com Chloe, Lara voltava para o seu quarto na casa dos pais. Embora amasse sua família, era difícil ficar longe de Chloe. Mesmo com todas as dificuldades que envolviam a recuperação da mais velha, Lara amava cada segundo que passavam juntas. Principalmente depois que Chloe parou de afastá-la. Ela tinha encontrado na ex-piloto uma amiga e amante. Alguém que ela amava incondicionalmente.

As conversas com seus pais, normalmente leves e sobre o dia a dia na residência continuaram. Lara sabia que tinha sorte de ter pais presentes e acolhedores. Depois que ela começou a namorar com a Chloe, tudo se encaixou na relação com os pais. Mesmo que Chloe ainda não estivesse pronta para rotular a relação, Lara tinha certeza que elas tinham um relacionamento de cumplicidade e paixão. Nas palavras que Chloe não falava, sobrava gestos de afeto e carinho. Para Lara, isso já era suficiente.

Lara estava em sua escrivaninha estudando quando seu celular vibrou com uma mensagem de Sophie. Elas mantinham contato diário, a irmã estava entrando no oitavo mês de gravidez e logo daria a luz. Lara se preocupava com o bem-estar de Sophie.

Sophie: Laraaaa! Tenho uma novidade que vc vai amar!

Lara: O que foi, Sophie? Vc ta com a energia a mil como sempre. 🤣🤣

Sophie: Chegamos a uma decisão! Como está próximo do parto. Eu, Elisa e Henrique vamos passar os próximos meses em Sampa! Matar a saudade de vcs! E adivinha quem vem tbm? Flavia e Renata! Vai ser a reunião da gangue completa!

Lara sentiu um sorriso genuíno se formar em seus lábios. A ideia de ter todos os amigos por perto, trazia lembranças de momentos incríveis que eles já compartilharam. Mesmo com Chloe se recuperando da cirurgia, seria bom para Lara socializar um pouco. Chloe tinha voltado para a sua rotina e talvez quisesse acompanhar a médica em alguns encontros com os amigos.

Lara: Que maravilha, Sophie! Estou com saudades de vocês. Mal posso esperar.

Sophie: Eu sei! Vcs sumiram rsrs. E tem mais! Seu aniversário tá chegando! Ja estamos pensando em algo GIGANTE! Vc merece uma festa épica!

Lara riu alto. Uma festa? Com tudo o que estava acontecendo ela não tinha planejado nada para aquele ano.

Lara: Gigante? Calma, Sophie! Mas a ideia é ótima. Adorei a notícia de vcs vindo pra cá.

Sophie: Ah, vc vai amar! Nao vejo a hora de te abraçar! E de ver a Chloe! O Henrique tá super animado tbm! Faz tempo que ele não vê a irmã.

Lara sabia que Henrique ainda gostava dela e isso a incomodava. Mesmo deixando claro que ela só o enxergava como amigo, no último encontro que tiveram Henrique e Chloe se estranharam. Lara esperava que dessa vez, Chloe se sentisse mais segura, já que ela tinha deixado bem claro os seus sentimentos pela comandante. E quanto a Rick, ela queria mesmo que ele seguisse em frente e encontrasse alguém legal.

A conversa com Sophie trouxe uma leveza ao coração de Lara. Uma normalidade que ela não sentia há muito tempo.

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O terceiro mês após a cirurgia estava finalizado e com a continuidade do tratamento, a melhora de Chloe era notável, ainda que gradual e realista. Ela havia ganhado um pouco de peso, recuperando uma parte de sua energia, o que permitia as horas de trabalho e as saídas pontuais. As náuseas eram menos frequentes e controláveis com medicação. A fisioterapia contínua estava fortalecendo seu abdômen e seu corpo de forma geral, preparando-a lentamente para os desafios futuros. No entanto, o tratamento oncológico ainda era uma batalha diária que a deixava exausta, tanto física quanto mentalmente. A pele ainda mostrava uma leve palidez e os olhos, por vezes, denunciavam o cansaço.

Mas a cada dia, Chloe se agarrava à Lara como sua âncora. A presença da médica era um alívio, uma promessa silenciosa de que, não importa o quão difícil fosse a jornada, ela não estaria sozinha. Aos poucos, as barreiras de Chloe se desfizeram, revelando uma mulher mais vulnerável, mas também mais humana e apaixonada. O amor que ela sentia por Lara, que começou como um escudo, havia se tornado o verdadeiro motor de sua recuperação e a única verdade inegável em sua vida.

— Você pode dormir aqui hoje? — Chloe perguntou, já que Lara dormia na casa dos pais nas sextas.

— Está sentindo minha falta, comandante? — A mais nova não perdia a oportunidade de provocar Chloe.

— Sim. Quero cozinhar para você e depois fazer amor. — Lara engoliu seco. Ela não estava esperando tanta sinceridade. Raramente ela ficava corada, mas seu rosto começou a esquentar. Chloe tinha mudado muito.

Lara sorriu, a surpresa se misturando a uma onda de prazer antecipado. A franqueza de Chloe, tão rara e preciosa, era um convite irresistível.

— Cozinhar para mim? E depois fazer amor? — Lara repetiu, a voz rouca, um brilho travesso nos olhos azuis que encontravam os de Chloe. — Isso soa como a melhor sexta-feira da minha vida, Comandante. Mas... você tem certeza que está disposta para cozinhar depois de um dia de trabalho?

Chloe se aproximou, a mão deslizou suavemente pela bochecha de Lara, o polegar acariciando a pele macia.

— Eu estou mais do que disposta. Para você, eu estaria disposta a escalar uma montanha depois de um dia de trabalho. — A voz de Chloe era um sussurro, carregada de uma ternura que raramente ela se permitia expressar. Seus olhos azuis, antes tão frios e calculistas, agora brilhavam com uma vulnerabilidade apaixonada. — Só quero estar com você, Lara. E sim, quero te mostrar o quanto... o quanto eu te amo.

Aquelas últimas palavras, ditas com uma suavidade inesperada, atingiram Lara em cheio. Era a primeira vez que Chloe verbalizava tão abertamente seus sentimentos mais profundos. O coração de Lara deu um salto. Ela se inclinou, selando os lábios de Chloe em um beijo que era pura promessa, uma resposta sem palavras para aquela declaração. Lara aprofundou o beijo e aproveitou o momento por longos minutos. Quando sua pupila já estava dilatada e seu corpo em alerta, ela se separou getilmente de Chloe.

— Então... vamos cozinhar, meu amor. — Lara murmurou. — E depois... bem, depois a gente se ama até não poder mais.

A cozinha, que antes era um domínio exclusivo de Meire, transformou-se em um palco de cumplicidade. Chloe, com a supervisão atenciosa de Lara, preparou um salmão grelhado com aspargos, uma refeição leve e saborosa, perfeita para sua dieta e igualmente apreciada por Lara. A cada etapa, Lara observava Chloe, admirada com a determinação e a força que a mais velha demonstrava, mesmo nas pequenas tarefas. Risadas e toques sutis preenchiam o espaço, a simplicidade do momento tecendo um elo ainda mais forte entre elas.

Após o jantar, com a louça convenientemente esquecida para mais tarde, Chloe levou Lara para a sala de estar, onde o vinil já girava no toca-discos. Uma melodia suave e romântica de jazz preencheu o ambiente, criando uma aura de aconchego. Chloe estendeu a mão para Lara.

— Me concede esta dança, Dra. Lara?

Lara sorriu, aceitando o convite com um brilho nos olhos. Chloe a puxou para perto, seus corpos se encaixando naturalmente. Elas giravam lentamente, os movimentos delicados, acompanhando o ritmo da música. A cabeça de Lara se aninhou no ombro de Chloe, enquanto os braços da comandante a envolviam em um abraço protetor.

Foi naquele instante, no balanço suave da dança e na intimidade daquele abraço, que Chloe quebrou o silêncio. Sua voz, quase um sussurro, era carregada de uma emoção crua e verdadeira.

— Lara... Eu não sei como seria minha vida sem você. Você chegou de repente, como um furacão, e bagunçou tudo o que eu pensava que era certo. Eu vivia de máscaras, de planos, de controle. Tinha medo de tudo que não podia comandar. E então... então você apareceu. Cheia de respostas diretas, me fazendo encarar os meus maiores medos. Me obrigou a ver que a vulnerabilidade não é fraqueza. Que o amor... o seu amor... é a maior força que eu já conheci.

Lara ergueu a cabeça, seus olhos fixos nos de Chloe, marejados.

— Chloe...

— Shhh. — Chloe a silenciou gentilmente. — Deixe-me terminar. Você me ensinou a respirar de novo. A sentir. Eu... eu te amo, Lara. Amo a sua leveza, a sua paixão pela vida, a sua bondade. Amo a forma como você me vê, mesmo quando eu não consigo me enxergar. Você é meu norte, minha âncora, minha paz. Meu porto seguro nesse caos que minha vida se tornou. E por você, eu estou disposta a enfrentar qualquer coisa.

Lágrimas rolaram pelo rosto de Lara, não de tristeza, mas de uma felicidade avassaladora. As palavras de Chloe, tão sinceras e intensas, eram tudo o que ela sempre sonhou ouvir. Ela se apertou ainda mais contra Chloe, as mãos deslizando para o pescoço da mais velha, puxando-a para um beijo profundo, um beijo que selava aquela declaração com cada grama de paixão e devoção.

A música continuava, mas seus toques eram agora a única melodia que importava. Chloe guiou Lara para o quarto, o desejo ardendo nos olhos de ambas. As roupas foram deslizando para o chão, cada peça um convite para a entrega total. Não havia pressa, apenas a ânsia de explorar cada centímetro da pele que conheciam tão bem, e ao mesmo tempo, redescobriam a cada novo encontro.

Chloe beijou os ombros de Lara, a boca descendo para o pescoço, provocando arrepios. As mãos de Lara se entrelaçaram nos cabelos de Chloe, um puxão suave enquanto os lábios da comandante encontravam a pele sensível da clavícula, descendo em uma trilha úmida e quente. Chloe traçava o contorno dos seios de Lara com a língua, cada curva um convite. Lara arqueou-se, um gemido baixo escapando de seus lábios quando Chloe finalmente a tomou, a boca ávida envolvendo um de seus mamilos, explorando-o com devoção.

A sensação era elétrica, pura excitação. As mãos de Chloe deslizavam pela cintura de Lara, pelos quadris, enquanto seus beijos desciam, explorando o ventre plano, a pele macia. Lara se contorcia sob o toque, a respiração ofegante preenchendo o quarto. Chloe, com uma devoção quase reverente, continuou seu caminho, beijando as coxas de Lara, sentindo a pele macia e quente sob seus lábios. Seus dedos habilidosos encontraram o ponto pulsante do desejo de Lara, e um suspiro de prazer escapou da médica.

Lara se entregou, os dedos de Chloe trabalhando com maestria, provocando ondas de prazer que subiam por seu corpo. Ela puxava Chloe para mais perto, seus quadris se elevando em busca de mais contato. Quando Chloe a tomou com a boca, o quarto foi preenchido pelos gemidos abafados de Lara. Cada toque, cada sucção, era uma promessa cumprida, um êxtase avassalador que a levava à beira. O corpo de Lara estremeceu em espasmos de puro prazer, os gritos abafados se misturando à respiração ofegante de Chloe, que sentia a onda de seu clímax.

Lara, ainda ofegante, puxou Chloe para cima. Seus olhos se encontraram, um oceano de desejo mútuo. Chloe se posicionou entre as pernas de Lara, o toque de pele com pele um convite para a união final. Com movimentos suaves e lentos, garantindo o conforto de Chloe, elas se uniram. A sensação era de total pertencimento, os corpos se movendo em um ritmo antigo e perfeito. Chloe sussurrava palavras de amor contra o pescoço de Lara, cada respiração, um eu te amo silencioso. O ritmo acelerou, a paixão crescendo, construída sobre a ternura e a conexão que as unia.
Seus corpos se contorciam em uníssono, a intensidade crescente a cada toque. Lara abraçava Chloe com força, as pernas entrelaçadas, os gemidos de prazer ecoando pela sala. Chloe sentia a plenitude de estar com a mulher que amava, a fusão de seus corpos um testemunho de sua alma. As sensações explodiram em um clímax mútuo e avassalador, um grito silencioso de puro êxtase que as deixou tremendo nos braços uma da outra, seus corações batendo em uníssono, as respirações ofegantes se misturando no ar.

— Você está bem? Fui muito rápida? Te machuquei? — Lara parecia aflita ao ver o peito de Chloe subindo e descendo rapidamente.

— Estou mais do que bem, você foi perfeita, minha menina travessa. — Chloe sorriu. Lara estava radiante. Era como se aquela noite tivesse mudado algo dentro de Chloe, a mulher estava mudando e levando tudo que restava das reservas de Lara.

Exaustas e satisfeitas, elas se abraçaram forte, corpos suados e entrelaçados. Chloe beijou a testa de Lara, depois os lábios, um beijo suave e duradouro. Aquele momento era mais do que físico; era a afirmação de um amor que florescia em meio à adversidade, uma promessa silenciosa de que, juntas, elas poderiam enfrentar qualquer coisa. O peso dos segredos parecia, por alguns preciosos momentos, dissipar-se no ar perfumado e na intimidade de seus abraços.

Fim do capítulo