Capitulo 26
O alívio da notícia da Dra. Márcia impulsionou Lara, mesmo com a exaustão de um plantão inteiro. Ela não perdeu tempo. Assim que teve permissão, dirigiu-se à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para ver Chloe. O ambiente era diferente da sala de espera: mais silencioso, permeado apenas pelos bipes rítmicos dos monitores e pelo zumbido constante dos equipamentos. O cheiro de hospital aqui era mais concentrado, uma mistura de antissépticos e medicação.
Lara parou na entrada do leito de Chloe. A visão foi um golpe no estômago, apesar da notícia da cirurgia bem-sucedida. Chloe estava pálida, com o rosto inchado. Vários tubos e fios estavam conectados ao seu corpo frágil, e o som da ventilação mecânica era um lembrete vívido da gravidade do procedimento.
A médica se aproximou, o coração apertado. Ela sabia que Chloe estava estável, que o pior havia passado, mas vê-la tão vulnerável trazia uma nova onda de emoção. Ela pegou a mão de Chloe, que estava fria, e a apertou suavemente.
— Eu estou aqui, Comandante. Você conseguiu. — sussurrou, as lágrimas silenciosas escapando de seus olhos.
— Continue lutando, e quando estiver pronta, volte para mim.
Lara permaneceu ali por um longo tempo, observando os monitores, garantindo-se de que cada número indicava estabilidade. O ambiente da UTI era de vigilância constante, e a presença de Lara ali era tanto um conforto quanto uma necessidade médica para ela mesma.
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Horas depois, já na manhã seguinte, Chloe começou a despertar da sedação. O primeiro sinal foi um leve movimento da cabeça. Lara, que estava sentada ao lado da cama, imediatamente se inclinou.
Os olhos de Chloe se abriram lentamente, pesados e confusos. Eles vaguearam pela sala, cheios de dor e desorientação, até encontrarem o rosto de Lara. Um lampejo de reconhecimento brilhou em seus olhos.
— Mmm... — A voz de Chloe era um sussurro rouco e fraco, quase inaudível devido aos tubos e ao estado de exaustão.
— Shhhh, não fale, Comandante. A cirurgia foi um sucesso. Você está na UTI. — Lara apertou sua mão com carinho e falou devagar, para que Chloe pudesse processar a informação.
Chloe tentou assentir, mas uma onda de dor aguda a atingiu, fazendo-a gem*r.
— Eu sei que dói, meu amor. A dor é forte agora, mas a equipe está ajustando a medicação. Você precisa descansar.
Lara chamou uma enfermeira, que prontamente verificou os sinais vitais e administrou mais analgésicos. A Dra. Márcia apareceu logo depois para uma checagem rápida.
— A recuperação será lenta, Chloe. A dor é normal. Vamos monitorá-la de perto. Você está indo muito bem — disse a Dra. Márcia, com um tom profissional e tranquilizador.
Chloe fechou os olhos e dormiu novamente, o alívio da cirurgia misturado à dor física avassaladora. A presença de Lara era o único consolo real, a âncora que a mantinha na realidade.
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Após 48 horas de monitoramento intensivo na UTI, a Dra. Márcia decidiu que Chloe estava pronta para ser transferida para um quarto regular na ala de oncologia. A mobilização foi um desafio. Cada movimento causava dor, e a fraqueza de Chloe era evidente. Lara estava presente em cada etapa, ajudando a equipe a transferi-la com cuidado, sua mão sempre em contato com a de Chloe.
— Trouxe umas coisas para fazer você se sentir melhor. — Lara tirou um toca-disco portátil da bolsa e colocou na mesa ao lado da cama de Chloe.
— Obrigada, Lara.
— Espero que não se importe, mas passei no seu apartamento e peguei alguns dos seus discos favoritos. A Dra. Márcia permitiu que você ouvisse música desde que seja baixo. — Lara colocou uma música suave para tocar.
— Não sei nem como agradecer, tem sido tão difícil ficar presa nessa cama. Mal consigo me mexer. Não queria te dar tanto trabalho.
— Você não me dá trabalho algum, Chloe. Estou aqui porque quero. — Lara beijou a testa da mais velha. — Sei que não vou conseguir passar cada minuto com você, mas trouxe um amigo que vai cuidar de você quando eu estiver trabalhando.
Chloe quase ficou chateada por Lara ter revelado a sua doença para alguém, mas seu coração amoleceu quando ela viu a médica tirando um urso de pelúcia da bolsa.
— Esse é o senhor lontra. Ele vai te ajudar a dormir melhor e quando você sentir dor, pode apertá-lo para aliviar o desconforto. — Chloe quase riu da voz fofa que Lara fez ao segurar a pelúcia.
— Você sabe que tenho 35 anos, né. — Revirou os olhos.
— Não seja teimosa, o senhor Lontra vai ficar de olho em você e me contar se não estiver se comportando. — Lara colocou a pelúcia, devidamente esterelizada, que era usada para auxiliar pessoas com ansiedade, no colo de Chloe.— Tenho que ir agora, Comandante. Qualquer coisa, me manda mensagem.
— Tudo bem. Até logo, Lara.
Assim que a médica saiu do quarto, Chloe abraçou o senhor Lontra e um sorriu enorme enfeitou o seu rosto. Ela não queria admitir na frente da mais nova, mas tinha ficado derretida com o gesto fofo e gentil.
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Poucos dias depois...
Chloe estava frustrada. Ela não lidava bem com a inércia. Queria sair daquele quarto, voltar para casa. Fazer alguma coisa útil.
— Eu me sinto inútil, Lara — Chloe murmuro, enquanto tentava, sem sucesso, ajustar o travesseiro. — É horrível.
— Não diga isso, Chloe. Você acabou de passar por uma cirurgia complexa. Seu corpo precisa de tempo para se curar. — Lara respondeu, ajustando o travesseiro e ajeitando a coberta.
Os primeiros dias após a cirurgia foram marcados por altos e baixos. As náuseas persistiram, e a adaptação à dieta líquida era um desafio constante. Chloe se sentia enjoada e sem apetite. Lara dedicou-se a cuidar de cada detalhe, monitorando a dieta, garantindo a hidratação e oferecendo o apoio emocional necessário. Ela passava horas ao lado da cama, lendo, conversando ou simplesmente segurando a mão de Chloe, sua presença era um conforto constante.
— Quando vou poder ir para casa?
— Logo, a Dra. Márcia está confiante de que em poucos dias você vai poder continuar a se recuperar em casa.
Lara estava organizando os medicamentos de Chloe quando o celular da mais velha começou a tocar. Chloe pegou o aparelho com a mão trêmula. Era sua mãe. Um arrepio de pânico passou por Chloe, que olhou para Lara.
— É minha mãe — sussurrou.
Lara se aproximou rapidamente e assentiu, compreendendo a tensão. Chloe respirou fundo, tentando reunir forças para o papel que precisava interpretar, e atendeu.
Chloe: Oi, mãe. Tudo bem?
Lara observou Chloe, notando o esforço que a mais velha fazia para forçar um sorriso e uma voz alegre.
Chloe: Ah, sim, tudo ótimo por aqui! A viagem está sendo maravilhosa, mãe. O lugar é lindo, super tranquilo. É exatamente o que eu precisava.
Chloe tentou soar casual e relaxada, como se estivesse em um resort isolado, contrastando com a realidade fria e dolorosa do quarto de hospital.
Chloe: Estou aproveitando para descansar de verdade.
Houve uma pausa enquanto a mãe falava, e a expressão de Chloe se suavizou, embora a fadiga em seus olhos fosse visível para Lara.
Chloe: Já estou me sentindo cem por cento recuperada da virose, pode ficar tranquila. O descanso está me fazendo muito bem. Sim, estou relaxando bastante. Não se preocupe comigo. A gente se fala. Manda um beijo para o papai.
Chloe desligou a chamada, o sorriso desaparecendo instantaneamente, substituído por uma expressão de pura exaustão. Ela largou o celular na cama e fechou os olhos.
— Eu odeio ter que mentir para ela, Lara. — Chloe disse, a voz embargada pela emoção e pelo esforço.
— Quando você vai contar para eles?
— Quero me recuperar dessa cirurgia primeiro. Não quero que me olhem com pena.
Lara sentou-se na beira da cama e tocou o rosto de Chloe.
— Comandante. Eu sei que é difícil. Mas a sua mãe não sentiria pena, seus pais merecem saber a verdade. Sei que quando estiver pronta, você vai contar. Até lá, eu estarei aqui para você. Nós vamos passar por isso juntas.
— Porque você está sendo tão gentil comigo? — Chloe não merecia a gentileza de Lara, ela tinha feito de tudo para afastar a médica e agora, nem podia dar o que a mulher queria. Um romance, noites de amor selvagem, companhia para festas e bebedeiras. Chloe se sentia uma invalida. Lara ainda era tão jovem, tinha tanto o que aproveitar. Ela não merecia passar todos os seu dias cuidando de uma pessoa doente.
A resposta estava na ponta da língua de Lara. Mas Chloe não estava pronta para aceitar uma declaração de amor. Principalmente, depois de dias estressantes no hospital.
— Faço porque você é especial para mim.
— Você não sente falta de sair com os seus amigos? Tem passado todo o seu tempo livre cuidando de mim.
— Chloe. — Lara acariciou o rosto da mais velha. — Jamais conseguiria me divertir sabendo que você está sentindo dor ou algum desconforto. Prefiro ficar aqui e garantir que você fique bem. Sei que não é a melhor situação, mas adoro passar tempo com você. Pare de achar que isso é um sacrifício para mim.
Chloe não tinha como rebater aquele argumento então se calou. Lara deitou ao seu lado e escolheu um filme no tablet para que Chloe se distraísse um pouco. Se elas não estivessem em um hospital e a mais velha não estivesse tão debilitada, Lara tinha uma tática infalível para deixar a comandante bem tranquila.
Fim do capítulo
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