Capitulo 23
A manhã seguinte trouxe uma luz suave ao quarto de Chloe, mas a atmosfera ainda era pesada com a revelação da noite anterior. Lara estava sentada ao lado da cama, um copo d'água na mão e o termômetro sobre a mesinha de cabeceira. Chloe, embora ainda pálida, parecia um pouco melhor, a febre e as náuseas controladas pelos medicamentos. Seus olhos, no entanto, carregavam o peso do medo e da vergonha.
— Como você está se sentindo, Chloe? — Lara perguntou, a voz gentil e cheia de preocupação.
Chloe suspirou, desviando o olhar.
— Melhor fisicamente. Mas... envergonhada. — Ela finalmente encarou Lara, os olhos marejados. A médica estava sentada na cama, o olhar baixo como se tivesse ficado acordada a noite toda. — Eu não queria que você me visse assim. Fraca. E com essa... essa coisa. Não queria que sentisse pena de mim.
Lara imediatamente se aproximou, pegando a mão de Chloe e apertando-a suavemente.
— Nunca mais diga isso, Chloe. Você não é fraca. Você é incrivelmente forte por passar por tudo isso sozinha até agora. E ter uma doença não te torna menos do que você é. Não há nada para se envergonhar. — Sua voz era firme e acolhedora. — Eu não sinto pena de você. Sinto admiração pela sua força.
— Lara, não tenho nada para se admirar. Agora você entende porque não podemos namorar. Eu sou uma bomba prestes a explodir.
— Chloe, por favor. Não falei assim. Você fala como se tivesse culpa dessa doença e nós sabemos que ninguém tem culpa. Não haja como se a luta tivesse terminado, você pode vencer essa doença, eu tenho certeza.
— Como pode ter tanta fé em mim? Você é médica, não devia ser tão otimista. A Dra. Márcia disse que minhas chances são muito pequenas.
— Pelo contrário, é por ser médica que tenho esperanças. E você devia sentir o mesmo, sua mente da forças para o seu corpo se recuperar e você tem que manter ela forte. Existe uma chance, é isso que importa.
Lara apertou sua mão novamente.
— E eu estou aqui. Não vou a lugar nenhum. E não vou te deixar sozinha nessa.
— Você não tem que carregar esse fardo, Lara. Não somos namoradas de verdade. — Lara já tinha entendido que Chloe estava tentando afastá-la mais uma vez.
— Mas eu me importo com você e pra mim, não é um fardo. Agora pare de tentar me afastar e me fale qual é o plano de tratamento?
Chloe respirou fundo, parecendo um pouco mais à vontade com o acolhimento inabalável de Lara.
— É uma gastrectomia total, se tudo correr bem. Eles vão remover meu estômago. Depois, quimioterapia e radioterapia, dependendo do que encontrarem. — Ela descreveu os detalhes, a voz um pouco mais técnica, como se falar dos procedimentos médicos a ajudasse a processar a gravidade da situação. — É... é um tratamento agressivo. E o pós-operatório será difícil.
Lara ouvia atentamente, absorvendo cada palavra.
— Eu estarei com você em cada etapa. Vou cuidar de você. — Ela beijou a testa de Chloe, um gesto de carinho e compromisso. — Tem mais alguma coisa que eu precise saber agora?
Chloe sabia que não tinha como fazer a médica mudar de ideia. Mas era um alívio poder finalmente compartilhar os seus medos com alguém.
Chloe apertou os lábios, hesitando.
— Só... por favor, não conte para a minha família. Nem para a sua. Eu não quero que eles saibam. Não quero que eles se preocupem, nem que sintam pena. Eu quero lidar com isso no meu tempo, e se possível, sem que saibam de nada até que eu esteja melhor. — O pedido era um misto de orgulho e um profundo desejo de proteger aqueles que amava da dor.
Lara ponderou por um instante. Ela sabia o quão difícil seria esconder isso, mas a urgência no olhar de Chloe era clara.
— Eu entendo. E vou respeitar seu desejo, Comandante. Só peço uma coisa em troca.
— O quê?
— Me deixe cuidar de você. — Lara tocou no rosto de Chloe.
— Lara! Não é sua responsabilidade.
— Se você topar, ninguém mais precisa saber até que você esteja pronta para dizer. — Chloe pensou na proposta. Ela queria lida com tudo sozinha, não queria ser um fardo para ninguém. Mas Chloe já sabia e não tinha como parar a médica. Ela era tão teimosa. Chloe não tinha mais forças para protestar.
— Ok.
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Uma semana se passou, e Chloe havia se recuperado completamente da virose, embora a palidez e a fadiga ainda fossem leves lembretes do que estava por vir. Lara não saiu do seu lado. Cuidou dela com uma devoção que surpreendeu Chloe a cada dia. Cozinhou, medicou, observou seu sono e a fez se sentir segura. No final da semana, Lara acompanhou Chloe à sua última consulta com a Dra. Márcia antes da cirurgia. Na qual ela insistiu em participar, mesmo com os protestos de Chloe.
No consultório, Dra. Márcia era um misto de seriedade e otimismo.
— Chloe, apesar do susto, o seu estado geral melhorou muito. Os exames pré-operatórios estão todos em ordem. Estamos prontos para a cirurgia.
Ela se voltou para Lara, explicando os próximos passos.
— A internação será na véspera. Vamos fazer uma gastrectomia total laparoscópica, minimamente invasiva, para minimizar o trauma cirúrgico e acelerar a recuperação. O procedimento deve durar algumas horas, e depois ela irá para a UTI por um ou dois dias para observação intensiva, antes de ir para o quarto. — A Dra. Márcia fez um gesto para o monitor, mostrando imagens e esquemas. — O pós-operatório imediato será delicado. Ela sentirá dor, náuseas, e a alimentação será parenteral inicialmente, depois líquida, e progredirá muito lentamente. O sistema digestivo dela precisará se adaptar a uma nova forma de funcionamento.
Lara ouvia com atenção profissional, fazendo perguntas pertinentes.
— Quais são as principais complicações que devemos ficar atentas no pós-operatório? E como posso ajudar na fase de recuperação em casa? Há algo específico que eu deva preparar no apartamento dela?
A Dra. Márcia anotou algumas instruções.
— As principais complicações são infecções, vazamentos da anastomose (onde os órgãos são reconectados) e problemas nutricionais. Manter a higiene, observar qualquer sinal de febre alta ou dor abdominal intensa e persistente que não ceda à medicação. Em casa, a dieta será crucial: pequenas refeições, de alta densidade nutricional, fracionadas ao longo do dia. Evitar alimentos muito ácidos, gordurosos ou fibrosos no início. E acima de tudo, apoio psicológico. Será um período de adaptação enorme. Ela vai precisar de muita paciência e compreensão. — A médica sorriu para Lara. — E, claro, de você.
Chloe observava as médicas falando em termos técnicos. Ela entendia muita coisa, mas preferiu se desligar por alguns segundos. Era muita informação para absorver, o que a deixava ansiosa. Lara percebendo a quietude da mais velha, segurou firme na sua mão. Chloe devolveu o toque. De alguma forma, Lara lhe acalmava e passava segurança.
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Com o dia da cirurgia se aproximando, a preocupação e o medo começaram a corroer Chloe. As conversas com Lara sobre a doença eram um alívio, mas a realidade da internação e da operação pairava sobre ela como uma sombra. Suas noites eram inquietas, povoadas por pensamentos intrusivos e pesadelos com complicações na cirurgiã e medo de morrer.
Lara percebia a ansiedade crescente em Chloe. Tentou de tudo para distraí-la. Passaram horas assistindo filmes de comédia que Chloe amava, mesmo que seu sorriso fosse forçado. Jogaram jogos de tabuleiro onde Lara, propositalmente, fazia erros engraçados para tentar animar a ex-piloto. Saíram para pequenas caminhadas no parque, onde Lara falava sobre qualquer curiosidade para distrair a mais velha, mas a mente de Chloe parecia distante.
— Você está pensando demais, Comandante. — Lara disse suavemente em uma tarde, enquanto estavam deitadas no sofá do apartamento de Chloe, assistindo a um documentário que nenhuma das duas estava prestando atenção de verdade.
Chloe suspirou, aninhando-se mais no abraço de Lara. Ela vivia com frio e Lara sempre lhe ajudava a se aquecer.
— Eu sei. Mas é difícil. Meu corpo... ele vai ser diferente. E se não der certo? — A voz dela era um sussurro de desespero.
Lara a apertou, beijando o topo de sua cabeça.
— Vai dar certo, Chloe. Eu tenho certeza. E seu corpo... ele ainda será lindo. O que importa é que você vai se recuperar.
Ela sentiu o tremor sutil no corpo de Chloe. A distração mental não era suficiente. Era preciso um tipo diferente de alívio. Um que tocasse a alma e acalmasse a mente através do corpo. Lara se afastou um pouco, erguendo o queixo de Chloe para que seus olhos se encontrassem.
— Confia em mim? — Lara perguntou, a voz suave e cheia de ternura, seus olhos azuis brilhando com uma promessa silenciosa.
Chloe assentiu, um olhar de incerteza misturado com uma entrega quase desesperada.
Lara sorriu, um sorriso que aquecia o coração de Chloe. Sem dizer mais uma palavra, Lara inverteu a posição, deslizando para baixo, beijando a barriga de Chloe antes de se posicionar entre suas pernas.
Chloe sentiu um arrepio e um nó de antecipação se formar em seu estômago. O medo da cirurgia se misturava agora a uma onda de excitação crescente. As mãos de Lara, antes dedicadas a cuidar de suas dores e medos, agora prometiam um prazer avassalador, uma fuga da realidade. A médica tirou lentamente as suas calças e calcinha.
Lara começou com beijos suaves na parte interna das coxas de Chloe, subindo lentamente, com uma reverência que desarmou qualquer resquício de vergonha. Seus lábios úmidos e quentes encontraram a intimidade de Chloe, e o primeiro toque da língua foi como uma descarga elétrica.
Chloe arqueou as costas, um gemido longo e profundo escapando de seus lábios. Suas mãos se agarraram ao sofá, os dedos apertando o tecido enquanto Lara se entregava completamente. O ritmo era lento no início, explorando cada milímetro, cada ponto de sensibilidade, como se Lara estivesse desenhando um mapa do prazer apenas com sua boca.
O medo começou a se dissipar, substituído por ondas crescentes de pura sensação. Chloe fechou os olhos, respirando fundo, os lábios entreabertos enquanto os toques habilidosos de Lara a levavam para longe de todas as suas preocupações. Lara sabia exatamente o que fazer, combinando sucções suaves com toques precisos, levando Chloe à beira do desespero prazeroso.
— Lara... — Chloe murmurava, seu corpo se contorcendo, a realidade se esvaindo a cada onda de prazer. Ela se sentia completamente entregue, livre de suas ansiedades, imersa apenas na habilidade e no carinho da médica. Fazia tanto tempo desde que Lara a tinha tocado daquela forma. Ela tinha sentido falta.
Lara intensificou os movimentos, a respiração de Chloe engasgada na garganta. Os tremores começaram, pequenos no início, rapidamente crescendo até consumi-la por completo. Chloe soltou um grito abafado, seu corpo se arqueando em um espasmo final de prazer, esquecendo-se de tudo, entregando-se à onda avassaladora de sensações que a tomou. Lara a segurou, mantendo o contato até que os tremores diminuíssem e Chloe estivesse completamente relaxada em seus braços, os olhos ainda fechados, o medo da cirurgia temporariamente banido pela intensidade do orgasmo.
Lara voltou para o braços de Chloe sorrindo.
— Melhor?
O rosto de Chloe assumiu um tom escarlate. Lara era muito travessa.
— Vamos apenas continuar assistindo o documentário. — Lara se ajeitou no sofá. Chloe não conseguiu evitar o sorriso que se formou em seu rosto. Ainda bem que Lara não podia ver a sua reação. Não podia ver o quanto ela lhe afetava.
Fim do capítulo
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