Capitulo 22
O dia seguinte amanheceu com a promessa de um novo capítulo na vida de Sophie e Elisa, e Lara estava mais do que animada. No hospital, o ambiente era de expectativa. Lara, vestindo seu jaleco branco, guiava Sophie e Elisa até a sala de ultrassom, onde a máquina de última geração já estava pronta. O Dr. Santos permitiu que Lara fizesse os procedimentos, ele estava na sala o tempo todo lhe acompanhando.
— Preparadas para conhecer o pequeno ou a pequena? — Lara perguntou, um sorriso radiante no rosto enquanto Sophie se deitava na maca, a barriga já proeminente. Elisa segurava a mão de Sophie, os olhos brilhando de emoção. Muitas lembranças se misturavam na mente da estilista, ela amava tanto a sua esposa. As duas já tinham superado muita coisa. Já tinham vivida momentos de tempestade e calmaria, assim como em toda relação. O dia do seu casamento foi um dos mais felizes da sua vida, mas Elisa sabia que com Sophie ela ainda teria muito momentos de felicidade. Hoje saberiam o sex* do seu bebê. Elisa estava radiante assim como a sua esposa. A ansiedade era grande, desde o momento em que a inseminação deu certo.
— Mais do que prontas, Lara. Estamos morrendo de curiosidade.
Lara aplicou o gel morno na barriga de Sophie, o transdutor deslizando suavemente sobre a pele. O monitor se acendeu, revelando as imagens em preto e branco do útero. O pequeno ser lá dentro se movia, um coraçãozinho batendo forte, visível na tela.
— Olhem só para essa belezura. —Lara murmurou, apontando para a tela. — Aqui está o saco gestacional, e aqui... o embrião, crescendo forte.— Ela ajustou o foco, e a sala se encheu com o som rítmico do batimento cardíaco do bebê. — Ouviram? É o coraçãozinho dele ou dela.
Sophie e Elisa prenderam a respiração, os olhos marejados.
— É tão... real. - Elisa sussurrou, a voz embargada. Sophie já estava chorando.
Lara manipulou o transdutor com precisão, buscando o ângulo perfeito.
— Vamos ver se ele ou ela colabora hoje. Às vezes são um pouco tímidos. — Ela sorriu, e então, com um ajuste final, apontou para uma pequena protuberância na tela. — E aqui está! Minha sobrinha é um bebê forte e saudável de 16 semanas.
Um grito de alegria preencheu a sala. Sophie e Elisa se abraçaram, lágrimas de felicidade escorrendo por seus rostos.
— Uma menina! — Sophie chorou, a voz cheia de emoção. — Nossa pequena!
Lara sorria, os olhos brilhando com a felicidade de suas irmãs. Ela imprimiu algumas imagens do ultrassom e entregou a elas.
— Parabéns, mamães. Ela é perfeita.
Após a consulta, Sophie e Elisa se despediram de Lara no corredor do hospital, a emoção ainda evidente em seus rostos.
— Obrigada por tudo, titia. Você é a melhor. — Sophie disse, abraçando a irmã com força.
— Não por isso, irmã. É um prazer.
— Ah, e antes que eu me esqueça. — Sophie continuou, virando-se para Lara. — Eu, Elisa e Henrique vamos nos reunir hoje à noite para uma despedida, já que estamos voltando para o Rio amanhã. Queríamos muito que você e a Chloe viessem. Será na nossa casa, algo bem informal.
Lara sorriu.
— Vamos sim! Vou avisar a Chloe.
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Chloe sentiu um nó no estômago ao ouvir a voz do pai do outro lado da linha. Era o momento de pedir ao pai um tempo de férias.
Chloe: Oi, pai. Tudo bem? (Chloe começou, tentando soar casual).
Miguel: Oi filha, tudo ótimo.
Chloe: Vi que o senhor não está na empresa.
Miguel: Sim, tive uma reunião na casa de uma cliente. O que houve?
Chloe: Nada demais, só estava pensando em tirar um tempo de folga do trabalho, sabe? Umas férias. Queria viajar um pouco, arejar a cabeça.
Do outro lado, a voz do pai de Chloe soou alegre.
Miguel: Eu vivo dizendo para você tirar férias, minha filha, que bom que, finalmente, vai descansar um pouco. Quanto tempo vai ficar fora?
Chloe: No máximo uns dois meses. Pensei em ir para um lugar mais tranquilo, talvez um spa, ou uma praia isolada. Algo para relaxar de verdade e depois conhecer lugares diferentes.
Miguel: É uma ótima ideia. A Lara vai com você?
Chloe: Eu queria muito que ela fosse, mas ela não pode por causa dos seus estudos. ( Chloe esperava que seu pai não comentasse com Lara o que acabara de dizer, já que para ela, Chloe disse que queria viajar sozinha).
Miguel: Você vai ficar bastante tempo fora. Tem certeza que quer deixar a sua namorada sozinha? Ela é uma mulher linda, não tem medo de perdê-la.
Chloe: Pai! (A voz da piloto era de repreensão).
Miguel: Tá bem, tá bem. Só estou brincando. Me avise para onde vai, para eu não ficar preocupado, certo? E se precisar de qualquer coisa, é só ligar.
Chloe: Pode deixar, pai.
Chloe sentiu um alívio temporário, mas a mentira a corroía. Ela sabia que os primeiros dias de férias seriam passados em um quarto de hospital, enfrentando a cirurgia e a recuperação.
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No final da tarde, Lara dirigiu até o apartamento de Chloe, o coração leve com a notícia da sobrinha e a expectativa do reencontro com a piloto. Ela tocou a campainha, mas não houve resposta imediata. Tocou novamente, e ouviu um som abafado vindo de dentro.
— Chloe? Sou eu, Lara! — Ela chamou, a voz um pouco preocupada.
A porta se abriu lentamente, revelando Chloe. Seu rosto estava pálido, os olhos fundos e cansados, e havia um suor frio em sua testa. Ela estava visivelmente abalada.
— Lara... oi. — Chloe murmurou, a voz fraca, tentando forçar um sorriso que não alcançou seus olhos.
Lara sentiu um arrepio.
— Chloe, você não está bem. O que aconteceu? — Ela entrou no apartamento sem esperar convite, notando a desordem sutil e o ar pesado.
— Não, eu estou bem. Só um pouco cansada. Tive um dia longo. — Chloe tentou minimizar, mas seu corpo a traía. Ela cambaleou levemente, e Lara a segurou antes que caísse.
— Você está queimando em febre. — Lara constatou, tocando a testa de Chloe. — Vamos, você precisa deitar.
Chloe resistiu fracamente.
— Não, Lara, eu estou bem. Não quero te preocupar. Temos que ir para a despedida da Sophie...
De repente, uma onda de náusea atingiu Chloe. Ela levou a mão à boca, o rosto ficando ainda mais pálido. Lara agiu rapidamente, guiando-a para o banheiro. Chloe vomitou, o corpo tremendo e fraco.
Quando Chloe se recompôs minimamente, sentada no chão frio do banheiro, o desespero tomou conta dela. Seria impossível esconder de Lara a sua condição, ela precisava de ajuda. As lágrimas desceram por seu rosto exausto.
— Não chore, Chloe. Você vai melhorar. — Lara sentou no chão e colocou a mais velha entre as duas pernas. Chloe apoiou a cabeça na curva do ombro de Lara.
— Lara... — Chloe começou, a voz embargada e quase inaudível. Ela olhou para a médica, seus olhos cheios de medo e vergonha. — Eu... eu preciso que você ligue para a minha médica, ela vai saber o que fazer?
Lara fez carinho na cabeça de Chloe tentando manter o corpo da morena estabilizado. Ela sabia que Chloe não tinha mais como esconder a doença.
— Eu sinto muito. Eu não queria que você soubesse assim. Eu... eu estou doente.
— Eu sei, comandante. Vamos dar um jeito.
— Não, você não entende. Eu tenho câncer no estômago. Estágio 3. — A confissão saiu como um sussurro doloroso, rasgando o silêncio.
Lara puxou Chloe para um abraço apertado, aninhando-a contra seu peito, sentindo o tremor de seu corpo. Algumas lágrimas escapando dos seus olhos.
— Shhh... está tudo bem, Comandante. Está tudo bem, Chloe. Eu já sabia.
Chloe se afastou um pouco do abraço, surpresa.
— Você sabia?
— Sim. — Lara confirmou, seus olhos azuis cheios de uma compaixão infinita. — Eu vi seus remédios, Chloe. E te vi no hospital algumas vezes. Eu desconfiava, mas queria que você me contasse no seu tempo. Não importa o que aconteça, você não vai passar por isso sozinha. Eu estou aqui.
Chloe não teve tempo de reagir a notícia, pois uma nova onde de enjôo lhe atingiu. Lara segurou os seus cabelos e ela vomitou. Depois de alguns minutos a crise passou, mas Chloe estava fraca demais.
— Vamos, vou ligar para a sua médica.
— O número está no meu celular. — Foi somente o que Chloe conseguiu dizer.
Lara ajudou Chloe a se levantar e a levou para a cama. Enquanto a ex-piloto se ajeitava, a médica pegou o celular e ligou imediatamente para a Dra. Márcia.
Lara: Dra. Márcia, é a Dra. Lara. Desculpe ligar a essa hora, mas estou com um paciente sua aqui, a Chloe Müller... Ela está com febre alta, náuseas e vômitos. Queria saber qual a melhor conduta para agora.
Do outro lado da linha, a voz da Dra. Márcia soou calma e profissional.
Dra. Márcia: Sim, Dra. Lara, a Chloe é minha paciente. É provável que a imunidade dela tenha baixado e ela pegou uma virose, o que é comum nessa fase. Para a febre, pode administrar dipirona ou paracetamol, conforme a dosagem. Para as náuseas, você pode usar o ondansetrona que ela deve ter. Mantenha-a hidratada e em observação rigorosa. Se a febre não ceder, se os vômitos persistirem ou se ela apresentar qualquer outro sintoma preocupante, traga-a para o hospital imediatamente para internação, ok? E Lara...Estarei aqui para ela. E para você também.
Lara assentiu, agradecida.
Lara: Obrigada, Dra. Márcia. Manterei a senhora informada.
Ao desligar, Lara se virou para Chloe, o rosto agora decidido e focado.
— A Dra. Márcia disse para medicarmos a febre e as náuseas. Você vai ficar bem. Eu vou cuidar de você.
Chloe apenas conseguiu assentir, as lágrimas ainda escorrendo, mas um peso enorme havia sido retirado de seus ombros. A vergonha e o medo ainda estavam lá, mas a presença e a calma de Lara eram um bálsamo.
Lara administrou os medicamentos, trouxe um pano úmido para a testa de Chloe e ficou sentada ao lado da cama, observando-a. O tempo passou lentamente enquanto Lara vigiava Chloe, seu sono finalmente profundo e tranquilo sob o efeito dos remédios. Ela abraçou Chloe a todo momento, tentando manter o controle e não chorar na frente da mais velha. Apesar de já saber da doença de Chloe, agora tudo era mais real. A sua comandante estava muito doente e vulnerável. Lara não iria sair do seu lado.
Quando teve certeza de que Chloe estava dormindo profundamente, Lara pegou o celular novamente e discou o número de Sophie. Tocou algumas vezes antes que a irmã atendesse, a voz um pouco abafada pelo barulho de fundo da confraternização.
Sophie: Oi, Lara! Já estão vindo? Estamos esperando vocês! (Sophie perguntou, animada).
Lara baixou a voz.
Lara: Oi, Sophie. Infelizmente, não vamos conseguir ir. A Chloe não está bem, pegou uma virose forte, febre e vômitos. Estou aqui cuidando dela. Preferi não deixá-la sozinha.
Um silêncio momentâneo do outro lado da linha.
Sophie: Ah, puxa! Que pena. Mas claro, irmã, cuide bem dela. Viroses são traiçoeiras. Se precisar de alguma coisa, não hesite em ligar, ok? Melhoras para ela.
Lara: Pode deixar. Obrigada, Sophie. Aproveitem a noite e a viagem de volta. Diz para o Rick que a Chloe pediu para ele viajar tranquilo que logo ela melhora. (Lara respondeu, aliviada pela compreensão da irmã).
Sophie: Falo sim, se cuida irmãzinha. Beijos.
Lara: Beijos.
Lara desligou o telefone e voltou a olhar para Chloe, que dormia pacificamente. Lara estava agradecida, porque apesar do susto, Chloe já mostrava sinais de melhora. Agora que a mais velha teve coragem de lhe contar a verdade, ela poderia cuidar de Chloe.
Foi até a sala e abriu a sua bolsa. Pegou um livro que tratava sobre os cuidados com pacientes oncológicos e voltou para o quarto. Ela tinha comprado o livro pouco tempo depois que soube da doença de Chloe. Além das leituras, estava se informando com colegas especializados na área. Foi assim que a Dra. Márcia ficou sabendo que Chloe era a sua namorada. Lara sentou ao lado de Chloe, e continuou a sua leitura. Ela não iria se abalar, tinha certeza que Chloe ficaria bem. Seria o porto seguro da mais velha e o incentivo que Chloe precisava.
Fim do capítulo
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