Capitulo 19 - Um presente inesperado
Clara
Faz duas semanas que comecei a ficar com Samanta e faz duas semanas também que Liz está disposta a descobrir o que está nos fazendo nos aproximar. Quanto mais tento enrolar minha amiga, parece que é combustível para ela ficar em cima de nós.
Nicolas ainda está um pouco bravo com Samanta, eles até brincam juntos, mas quando ela está próxima a mim, ele dá um jeito de estar no meio de nós duas.
A atleta tem frequentado a nossa casa alguns dias da semana, e a desculpa é sempre por estarmos virando amigas, e até o momento as pessoas não têm suspeitado de nada — além de Liz.
Tenho aprendido a ser mais leve com ela, a aproveitar os momentos juntas sem me cobrar tanto, e estou conseguindo me abrir cada vez mais.
Quando Nico dorme, temos tempo para aproveitar sozinhas, e tem sido diferente, tenho conhecido uma Samanta que jamais imaginei existir. Carinhosa, atenciosa, romântica e safada. Muito safada. E ela desperta em mim o meu lado mais promíscuo, me fazendo conhecer um lado meu que também não sabia existir.
Hoje é aniversário do meu filho, está completando 6 aninhos. Olhar para ele me faz perceber como o tempo passa rápido.
Como hoje é sexta-feira e sua festinha será somente amanhã, conversei com ele sobre quando gostaria de receber os presentes e ele preferiu ganhá-los hoje, pois, segundo ele, dá azar ganhar os presentes depois da data.
Liz já apareceu pela manhã com um boneco enorme que ele amou, ele já tinha pedido para ela que comprasse um, então ficou feliz da vida.
Cheguei do trabalho e fiz comida para nós dois, não viemos com Samanta, pois a atleta disse que precisava fazer algo antes de vir para cá. Estamos agora sentados no sofá, assistindo desenho e esperando por ela.
Estou tão concentrada que dou um pulo quando ouço a campainha tocar.
— Eu atendo — Meu filho sai em disparada.
Confesso que não estava nem um pouco preparada para ver um cachorro rebaixado correr pela minha sala e farejar todos os móveis e inclusive meus pés.
Levanto meu olhar, ainda de boca aberta, encarando a mulher à minha frente que está com a cara mais deslavada possível.
— Posso saber o que é isso? — Digo entre dentes.
— É um Dachshund, mais conhecido como cachorro salsicha — Ela responde animada — Ele não é lindo?
Percebo que o cachorro está vestido com uma camiseta e um suéter, com um chapeuzinho de aniversário. Isso quer dizer o que? Que ele é um presente? Não, não, não, mil vezes NÃO.
— Samanta, o que esse cachorro está fazendo na minha casa? — Tento controlar minha voz ao ver meu filho já brincando com o cachorrinho.
— Você não deveria tratar assim o novo membro dessa família.
Quase tenho um mini infarto ao ouvir essa frase sair de sua boca, respiro fundo para não surtar.
— Ele é seu cachorrinho, tia? — Meu filho questiona — Ele veio com chapeuzinho para me dar parabéns?
— Na verdade — Ela se abaixa ao lado dos dois — Ele é seu presente de aniversário.
— Sério? — Ele pula em cima dela e distribui vários beijos pelo seu rosto, e o pequeno intruso o acompanha — Obrigada, tia, é o melhor presente de toda a minha vida.
Por mais que eu não queira esse cachorro na minha casa, devo dizer que meu coração aqueceu ao ver essa cena, o sorriso dos dois juntos.
— Olha, mamãe, ele é tão lindinho — Nico se senta no chão e o cachorrinho com patas curtas o rodeia e depois sobe em seu colo novamente.
— Samanta, você pode me acompanhar até a cozinha, por favor? — A chamo com a voz contida para meu filho não perceber.
Mesmo sem entender, ela me segue até o local que é extremamente pequeno, nos fazendo ficar bem próximas. Encosto-me no balcão da pia e cruzo meus braços a encarando com uma expressão nada legal. Ela, sendo a engraçadinha que é, me encara com um olhar desafiador, como se já soubesse o que estava por vir.
— Eu posso explicar — Levanta as mãos em forma de rendição.
— Ah, mas você vai explicar sim — Quase berro — E espero que você tenha uma ótima explicação, caso contrário, fará jus ao apelido de fantasma, porque você virará um.
— Quanta agressividade, Coração — fala cínica.
— Você sabe que me arrumou um problemão, não sabe? — Bufo — Como vou cuidar de um cachorro? Nicolas ainda é pequeno e não tem responsabilidade para cuidar de um animalzinho.
— Mas, Clara — Me olha de um jeito que quase amolece meu coração — Eu fui assinar os papéis da casa que comprei e passei pela frente de um pet shop e ele estava para adoção, foi um sinal que era para ser do Nicolino.
— Nicolino?
— Sim, é meu apelido para o Nico, coisa minha e dele.
— Mas agora esse problema é meu e seu, porque você vai dar um jeito de ajudar meu filho a cuidar desse cachorro — Me irrito ainda mais por ver o sorriso em seu rosto — Se isso não acontecer, vai você e esse pulguento para o olho da rua.
— Ele não é pulguento — O defende — Tem todas as vacinas, está limpinho e tudo em dia. Você viu a roupinha dele? Coisa mais lindinha desse mundo.
Seus olhos brilham ao falar do bichinho, e não sei onde estou me enfiando, porém, por um momento, acredito que essa família pode dar certo tendo um bichinho de estimação.
Sinto quando ela passa seus braços pela minha cintura, me levando para perto do seu corpo, e quando ela se aproxima para me beijar, ouvimos:
— Mamãe — Nico me chama — O cachorrinho está mordendo o tapete.
Samanta sai da cozinha antes de mim e tenta ir ver o que está acontecendo, contudo, eu chego a tempo de ver o cachorro rebaixado destruindo a ponta do meu tapete.
— Ele só está conhecendo a casa — Meu filho tenta achar uma justificativa.
— Ele está destruindo a casa, isso sim — Retruco.
— Não seja dramática, Clara.
Se olhar pudesse matar, Samanta estaria mortinha agora em cima do tapete roído pelo cachorro.
— Vou marcar adestramento para ele, para esses imprevistos não acontecerem mais.
Ficamos mais um tempo na sala, a atleta se juntou à brincadeira de Nicolas e do bichinho, meu filho está encantado com o presente e não posso negar que ela soube agradá-lo bem.
Deixei que eles ficassem brincando até um pouco mais tarde do que Nico está acostumado a ficar acordado, mas quando quis levá-lo para a cama, foi uma grande briga e quem acabou convencendo-o e o colocando para dormir foi Samanta.
— Amanhã vai ser um dia cansativo para ele — Ela diz quando volta para a sala onde fiquei esperando.
— Sim, e espero que ele consiga aproveitar a festa e brincar bastante com os amiguinhos.
Decidimos fazer a festa na casa dos Vasconcelos, há um grande salão de festa, então Liz me ajudou bastante na organização e na decoração.
Sam se senta ao meu lado e eu estico minhas pernas por cima das suas, e ela começa a fazer uma simples massagem em meus pés.
— Você vai dormir aqui? — Pergunto, já sentindo o cansaço começar a tomar conta de mim.
— Eu não consegui passar em casa e pegar uma roupa — Me explica.
— E desde quando você precisa de roupa para dormir? — Solto um sorriso safado em sua direção.
— Estou criando um monstro — Ela gargalha.
******
O salão de festas da casa dos Vasconcelos parece uma pequena cidade dos super-heróis. Balões coloridos pendem nas paredes, e sobre a mesa o bolo do Homem-Aranha brilha com a vela em formato de número seis. O riso das crianças enche o ar, misturado ao latido animado do filhote que Nicolas ganhou.
Eu observo tudo de perto, mas o que mais prende meus olhos é Samanta. Ela está de joelhos ajudando uma menininha a ajeitar a capa do Batman, e quando levanta os olhos para mim, sorri. É um sorriso simples, mas que faz meu coração estremecer. Ela sempre parece tão à vontade, tão inteira quando está perto de Nicolas.
De repente, a voz dele ecoa:
— Mamãe! Olha o que a Tia Sam me deu.
Ele vem correndo com o filhote nos braços, os olhos brilhando como se tivesse acabado de ganhar o mundo inteiro. O cachorro, atrapalhado, lambia o rosto dele sem parar. Ao chegar perto, ele me mostra a nova roupinha do cachorro, que era também do Homem-Aranha, assim como a do meu filho.
— Ele vai ser meu herói, vai me proteger de todos os vilões! — Anuncia, orgulhoso.
As pessoas que estão mais próximas riem, e eu também, até sentir aquela presença gelada atrás de mim. Ao me virar, vejo meu pai.
Ele se aproxima, o olhar carregado de desaprovação.
— Sempre inventando essas bobagens. Festa de fantasia, cachorro… mas o principal falta: um pai de verdade. Você não cansa dessa vergonha toda?
As palavras cortam como navalha. Por um segundo, me sinto pequena de novo, como tantas vezes antes. Mas Samanta vem ao meu encontro.
— Nicolas tem uma família que o ama. E isso é mais verdadeiro do que qualquer papel assinado.
A firmeza na voz dela faz meu pai se calar, ainda que contrariado. Ele a avalia de cima a baixo, é a primeira vez que os dois se veem, e posso saber exatamente o que se passa na cabeça dele. Nojo. Eu me viro para ela, engolindo as lágrimas. Nosso olhar se encontra, e ali há algo que ninguém poderia negar: cumplicidade.
Mas, quando desvio o olhar, encontro Liz nos observando. O sorriso dela é tenso, quase triste. Vejo meu pai se afastar e andar pela festa, avaliando tudo. Samanta volta sua atenção para as crianças que consistem nos amiguinhos de Nico da escola e da natação.
Liz se aproxima e fala baixo:
— Cuidado, Clara. Samanta pode ser bem protetora quando quer.
— E por que eu precisaria ter cuidado com alguém que quer me proteger e proteger meu filho?
— Ela não protege qualquer um, apenas quem ela gosta muito.
— E eu não deveria ficar feliz em ela gostar da minha família?
— Eu não sou burra, Clara, não ache que eu não sei que está tendo algo entre vocês — Revira os olhos.
— Liz, sei que você é minha melhor amiga, mas nunca foi um problema entre a gente com quem eu fico ou não fico.
— Não até a pessoa ser a minha irmã — Diz indignada — Eu só não quero te perder…
Havia uma dor ali que me apertou o peito, mas antes que eu pudesse responder, a música parou e todos começaram a cantar:
— Parabéns pra você…
As palmas encheram o local. Nicolas, radiante, sobe numa cadeira ao lado do bolo. Logo sigo para perto dele para auxiliá-lo.
— Mamãe! Tia Sam! Venham aqui comigo! — Ele pede, acenando com as mãos.
Vou até ele e, no mesmo instante, Samanta também. Ficamos uma de cada lado, e Nicolas passa os bracinhos em volta de nós duas. A fotógrafa tira a foto bem na hora em que ele sopra a vela, com o sorriso mais feliz que eu já tinha visto.
Quando a câmera dispara o clique, sinto o braço de Samanta roçar no meu. Ela não se afasta. Pelo contrário, seus dedos tocam discretamente a minha mão que está nas costas do meu filho. Era quase nada, mas para mim significou tudo.
Olho para ela e, naquele instante, entendo: talvez isso que Nicolas já enxerga, antes mesmo de nós admitirmos, antes mesmo dele se dar conta do que isso significa, do papel de Samanta na minha vida e na vida dele. Uma família.
******
Empurro a porta com o quadril, rindo sozinha do barulho que fazemos ao entrar. Meus braços doem de tanto carregar presentes, e ainda assim Nicolas já corre para a sala como se tivesse energia infinita, arrastando o cachorro salsicha atrás dele. O pobre coitado tropeça nas próprias patas curtas, mas não deixa de abanar o rabo.
Samanta vem logo atrás de mim, equilibrando dois pacotes enormes. A cada passo, solta um suspiro de exagero, fingindo que vai desabar.
— Eu devia ter trazido uma mala com rodinhas ou um daqueles carrinhos de aeroporto para carregar tudo isso — Resmunga, e eu rio.
A sala logo se transforma num mar de embrulhos rasgados e brinquedos novos. Nicolas se senta no chão, cercado pelas conquistas do dia, os olhos brilhando.
— Esse foi o melhor aniversário da minha vida! — Ele declara.
— Você diz isso todo ano — Respondo, ainda tentando empilhar caixas num canto.
Ele dá um sorriso maroto, mas de repente sua expressão muda. Fica sério demais para um menino cercado de bonecos e jogos de tabuleiro. Levanta os olhos para mim e depois para Samanta, hesitante.
— Mãe… — A voz dele vem mais baixa, quase tímida. — É verdade o que a madrinha disse? Que você e a tia Sam estão juntas?
Congelo por um instante, o coração apertando. Samanta se endireita ao meu lado, respira fundo e toma a dianteira.
— Nicolas… não é tão simples assim. — A voz dela sai calma, delicada. — Eu e a sua mãe estamos nos conhecendo melhor, passando mais tempo juntas, é verdade. Mas isso não muda o lugar que você tem na vida dela.
Ele franze o cenho, e posso ver o medo estampado ali, cru, do jeitinho que só criança consegue mostrar.
— Mas se vocês ficarem juntas… — Ele engole em seco. — Você vai esquecer de mim, mamãe? Vai querer ficar mais com ela do que comigo?
Sinto uma fisgada no peito. Me ajoelho diante dele, segurando seus ombros pequeninos.
— Ei, olha para mim. — Espero até ele erguer os olhos marejados — Você é a melhor parte da minha vida. Ninguém, absolutamente ninguém, pode mudar isso. Nem a Samanta, nem ninguém no mundo.
Ele respira fundo, mas não parece convencido.
— Mas e se… e se você gostar mais dela do que de mim?
A atleta se abaixa também, ficando à altura dele. O gesto me comove.
— Nicolas, eu não quero tomar o lugar que já é seu. Eu nunca poderia. — Ela sorri de leve, com um calor que suaviza as palavras. — Eu gosto muito da sua mãe, sim, mas também gosto de você. Quero fazer parte da vida de vocês dois, se você deixar. Quero cuidar, não separar.
— E se você fizer minha mãe chorar? — Ele a encara, desconfiado.
Samanta solta uma risadinha curta, mas logo fica séria outra vez.
— Então vai ser você o primeiro a me cobrar, combinado? Eu prometo que não vim aqui para machucar. Vim porque acredito que juntos podemos ser mais felizes.
As lágrimas finalmente escapam dos olhos de Nicolas, e eu o puxo para o meu colo. Ele se encolhe contra mim, como fazia quando era menor, escondendo o rosto no meu peito.
— Eu não quero perder você, mamãe…
— Você nunca vai me perder — Respondo, firme. — Nem por um segundo.
O cachorro late nesse instante, como se quisesse participar, e pula desajeitado sobre nós três. Nicolas solta uma risada entrecortada, enxugando as lágrimas com a manga da camiseta. Samanta estende a mão e afaga o cabelo dele.
— A gente pode ser uma equipe, que tal? Eu, você, sua mãe… e o salsicha aí, que claramente já acha que manda em todo mundo e nem tem nome ainda.
— Tem sim — Ele a encara — É Zeca Picolino.
— E isso é nome de cachorro? — Ouço a gargalhada da maior.
— Sim, e combina com Nicolino.
Nicolas finalmente dá um sorriso verdadeiro, meio envergonhado. Ele se aninha mais perto de mim, mas não afasta a mão de Samanta.
E, no meio do caos da sala cheia de brinquedos, eu sinto que talvez este seja o primeiro passo para algo que pode, sim, se tornar uma família.
Fim do capítulo
Bom dia pessoal!!!!!
Demorei mas voltei hahaha desculpa a demora mas esses últimos duas foram muito corrido e não consegui vir antes.
Nico ganhou seu tão sonhado cachorrinho, Sam afrontou muito Clara com esse presente mas o pequeno amoooouuu....
O que acharam?? deixem sua opinião para eu saber se a história está indo no caminho certo.
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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HelOliveira
Em: 30/09/2025
Eu estou adorando a Sam e suas atitudes, conquistando o Nicolino e dando chega pra lá no que se diz pai da Clara...
Acho que temos um família prontinha aí..
Liz vai causar problemas
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Socorro
Em: 29/09/2025
Kkkkkkk
amei,
bem vindo a família Zeca picolino isso vai dar mta emoções kkk
Liz, conzinua chata afff
Quero a Sam colocando esse pai da Clara no chao
kkk
viva a família tradicional brasileira!!!
Paloma Matias
Em: 29/09/2025
Autora da história
Vivaaaa
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