Capitulo 18 - Eu ainda quero você
Samanta
Ouço passos no corredor, porém minha concentração permanece no que estou fazendo, para não deixar queimar os ovos. Ninguém merece café da manhã queimado.
— O que você está fazendo? — Sua voz ainda está sonolenta.
Me viro minimamente para vê-la e a encontro com uma camiseta longa, que vai até a metade de suas coxas, e ela coça o olho com a mão esquerda enquanto boceja.
Sempre duvidei que alguém poderia ficar ainda mais fofa ao acordar, mas acho que preciso admitir que Clara é.
— Nosso café da manhã — Respondo sua pergunta.
— E desde quando você sabe cozinhar? — Ri e se aproxima para ver o que estou preparando.
— Me respeita, garota — A repreendo de brincadeira — Morei anos sozinha, acha que não sei preparar um café da manhã?
— Achei que tinha pessoas que fizessem esse trabalho para você — A mais nova deposita um leve beijinho em minhas costas ao passar por trás de mim, em forma de cumprimento — Não imaginei que a grande atleta, renomada, famosa e queridinha de todos, precisasse cozinhar pela manhã.
— Não sempre, mas quando eu estava sozinha em casa, sempre me virei.
Clara para ao meu lado, encostando seu quadril na bancada ao lado do fogão, e apoiando um pé sobre o outro, com os braços cruzados. Meu coração dispara, dando indícios de que gostaria de ver essa cena todos os dias.
Desligo o fogo quando os ovos já estão prontos e despejo em um recipiente que havia separado para isso. Levo até a mesa onde tudo já está posto. Ela me acompanha e, quando chega perto, eu puxo a cadeira para que ela se sente. Seu olhar me mostra sua surpresa.
— Essa é a sua forma de agradar todas que ficam com você? — Questiona, brincalhona.
— Todas não, somente aquelas com quem eu divido a cama, e você esteve na minha, então é minha obrigação te tratar bem — Respondo enquanto me sento na cadeira à sua frente — Teoricamente, eu que estive na sua cama, mas você entendeu a lógica da coisa.
Ouço sua risada e me perco um pouco em seu sorriso. Ela está solta, menos tensa, e isso a deixa ainda mais linda.
— Não me lembro de ter tudo isso em casa — Seus olhos percorrem a mesa.
— Aproveitei que você estava dormindo e não parecia que ia acordar e fui ao mercadinho aqui da rua — Explico — Afinal, como você sobrevive com uma criança nessa casa sem comida?
— Íamos ao mercado ontem, mas alguém precisou de companhia para ver as casas — Se serve com café.
— Ei! — Exclamo — Isso foi ideia da sua melhor amiga, eu não tive nada a ver com isso — Me defendo, me servindo também.
— Eu sei que foi coisa dela, ficou com peso na consciência por te deixar sozinha.
— Nem me lembra disso — Reviro os olhos — Achei que quando voltasse iríamos ter mais tempo juntas, mas me enganei.
— Liz também sentiu e sente sua falta.
— Não é muito o que parece.
— Ela só está sobrecarregada com as coisas do casamento — Sua voz é doce ao falar da minha irmã — Ela já me falou que quer passar mais tempo com você.
— E o que mais ela falou? — Tento saber enquanto tomo um gole do meu café.
— Não vou ficar te contando o que falo com minha amiga — Avisa.
— Ela é minha irmã e você está ficando comigo, então tem o dever de me contar — Provoco.
— Primeiro — Levanta o dedo indicador numerando o que vai falar — Ainda não conversamos se estamos ficando ou não, segundo, mesmo se estivermos, isso não quer dizer que vou ficar te contando as coisas da sua irmã.
— Mas eu sou a irmã mais velha, preciso saber das coisas da vida dela e ela não me conta.
— Então vai ficar sem saber e pare com esse papo de irmã mais velha, isso te envelhece 20 anos.
— Não é para tanto — Bufo.
— Então, pare.
Depois que vejo que ela realmente não vai me dar informações sobre minha irmã, continuamos tomando nosso café da manhã tranquilamente e sei que preciso tocar no assunto “nós”.
— Clara — Chamo sua atenção — Sei que para você as coisas são um pouco mais complicadas do que para mim, você tem medo disso que temos, atrapalhar sua amizade com minha irmã e você tem um filho também, entretanto eu gostaria de continuar te conhecendo melhor e a gente se permitisse ver no que vai dar.
— Eu preciso ser sincera com você, Sam — Sinto um frio na barriga ao ouvir suas palavras, e não no bom sentido — Eu sou muito grata ao que sua família fez e faz por mim e pelo Nicolas, então será muito difícil se algum deles fosse contra ao que aconteceu essa noite, e meu filho é duro na queda quando o assunto é eu ter alguém, então se formos continuar tendo alguma coisa, você vai ter que ir com bastante calma com ele.
— Isso quer dizer que você quer continuar tendo algo? — Preciso que ela seja objetiva, para que eu entenda perfeitamente.
— Eu ainda quero você — Sorri — Minha opinião não mudou de ontem para hoje, ainda acho que não tenho que deixar que sua família me prive de viver algo por eu ser grata a eles, só que ainda me preocupo no que pode acontecer, principalmente com Nico.
— Eu entendo — Quero que ela saiba que eu realmente a entendo — E quero que saiba que estou aqui para enfrentar tudo ao seu lado.
Estendo a mão por cima da mesa e seguro a sua em forma de conforto. Clara encara nossas mãos juntas e seus olhos brilham e nesse instante ela se levanta vindo em minha direção, fico surpresa ao vê-la se sentar em meu colo, de lado, e passar os braços em volta do meu pescoço.
— Obrigada por ser tão incrível — Ela sussurra, encostando nossas testas — E não me deixa esquecer que a gente merece uma chance.
— Não deixarei.
Encaixo meu rosto na curva do seu pescoço e a abraço com carinho, e sinto sua mão em minha nuca, em uma leve carícia. Faz muito tempo que não me sinto bem com alguém, apesar desse sentimento ainda me assustar muito, me abro para o que está por vir.
— Eu preciso ir buscar o Nico em sua casa — Fala baixinho.
— Será que ele não pode esperar só um pouquinho? — A encaro — Acabei de tomar meu café da manhã e agora eu quero a sobremesa.
Suas pupilas se dilatam só na menção da minha intenção, aproveito para passar minha mão em sua coxa desnuda.
— Temos meia hora — Responde com a voz começando a ficar ofegante.
— Meia hora é o suficiente.
Clara solta um grito quando se surpreende por eu me levantar com ela no colo e ir em direção ao quarto. Seu peso é quase nada para mim, então ouço sua gargalhada quando corro pelo corredor.
******
Entramos na sala da casa dos meus pais e encontramos uma bagunça gigantesca, brinquedos espalhados por toda a parte, uma cabana improvisada com lençol, a bicicleta do pequeno está apoiada no sofá e até eu, que sou bem tranquila com coisas espalhadas, me espanto, imagina a mãe do pequeno meliante.
— NICOLAS — Clara berra e eu tampo meus ouvidos.
Vemos o garotinho vindo correndo pelado. PELADO. E eu seguro a gargalhada ao ver a cara assustada da morena ao meu lado. Minha vontade é filmar essa cena.
Meu pai vem atrás dele com uma cueca na mão, tentando pegar o mini terrorista.
— Oi, mamãe — Ele para em frente a ela.
— Posso saber por que seu avô está correndo atrás de você para colocar roupa? — Coloca as mãos na cintura.
— A vovó mandou ele me dar banho e trocar minha roupa, mas o vovô quer colocar essa cueca pequena e aperta meu piu-piu, eu não vou vestir — Cruza os pequenos bracinhos.
— Eu já peguei outra maior — Meu pai explica.
— Então agora vá vestir sua roupa e depois você vai arrumar toda essa bagunça.
— Eu quero brincar com a tia Sam — Todos me encaram.
— Primeiro você coloca a roupa e depois a gente brinca.
Recebo um olhar acusador da mãe da criança e eu apenas solto um sorriso amarelo para ela.
— Você vai fazê-lo arrumar toda essa bagunça e ajudá-lo — Ordena.
— Eu? Não fui eu que fiz a bagunça.
— Mas foi você que resolveu ajudar ele a me afrontar quando eu disse para ele arrumar, agora vai ajudar ele na organização.
— Isso não é justo...
— Boa sorte.
Dá dois tapinhas no meu ombro antes de sair em direção à cozinha. Logo depois, o mini furacão voltou para a sala, dessa vez vestido, e brincamos um pouco juntos no chão da sala, e como ordenado, arrumamos aquela bagunça toda.
Ouço a porta ser aberta e vejo minha irmã e meu cunhado passarem por ela, ao mesmo tempo que Clara volta para a sala.
— Ainda bem que está viva, Clara — Liz fala irritada — Esqueceu que tem celular?
— Você me ligou? Nem ouvi — Se explica.
Ainda estou sentada no chão, em frente ao sofá, enquanto Nicolas está sentado em meu colo desenhando. Os três se sentam no sofá ao lado de onde estamos.
— Zoe me falou que vocês saíram ontem da festa e me explicou o que aconteceu — Minha irmã fala um pouco mais calma — Foi só por saber que você não foi embora sozinha que fiquei mais tranquila.
— Samanta me levou para casa e me ajudou a me acalmar com o que houve.
— Você poderia ter me ligado, eu passaria lá para você não ficar sozinha, imagino como estava se sentindo.
— Não precisou, a Sam...
Clara parou de falar quando se deu conta do que ia dizer, mas minha irmã não é burra e viu que tinha algo ali.
— A Sam? — Insisti, enquanto olhou de mim para a amiga.
— Bom — A mais nova tenta pensar em uma desculpa — Sabe como é, né? Eu não estava querendo ficar sozinha e aí ela me fez companhia.
— Você dormiu na casa da Clara? — Vejo que a pergunta é direcionada para mim.
— Foi só porque ela não estava bem — Tento soar como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Você deveria ter me ligado, Clara — Liz parece chateada — Eu que sou sua amiga, não a Samanta.
— Não exagera, Liz — Digo antes da garota responder — Foi só uma ajuda.
— Vocês já saíram ontem à tarde sem mim — Cruza os braços e isso me faz duvidar da idade que tem — Não vai dizer nada, Clara?
— Não tem o que dizer, Liz, ela só me deu uma carona e me ajudou depois.
— Tem algo acontecendo entre vocês? — Sua pergunta sai áspera.
Todos que estavam na sala arregalam os olhos, inclusive Nico. Vejo o rosto de Clara empalidecer e o meu esquentar, provavelmente estou vermelha.
Óbvio que minha irmã iria matar a charada mais cedo ou mais tarde, mas não imaginei que seria tão cedo assim.
— Não viaja, Liz — Recupero a voz — Não é porque estou sendo amiga dela, que preciso ter algo com ela.
— Vocês estão muito estranhas e, se eu descobrir que estão tendo alguma coisa pelas minhas costas, eu mato as duas.
— Você está assustando o Nicolas — Digo ao ver o menino se encolher em meu colo ao ouvir a conversa com o tom mais elevado — E pare de dar chilique, nós somos pessoas adultas e donas da nossa própria vida.
— Você não pode chegar agora e roubar a minha amiga, Samanta — Minha irmã explode — Você não tem esse direito.
— Eu não estou fazendo isso, pare de falar coisa sem sentido.
— Você vai roubar a mamãe da gente? — Nico me olha ainda mais assustado.
— Não, meu amor – Tento responder calma — A sua madrinha não sabe o que está falando, ninguém vai roubar sua mãe de ninguém.
Ele se levanta do meu colo e se livra dos meus braços quando tento segurá-lo e corre para Clara, buscando a segurança dela. Sinto meu coração se apertar quando ele me olha de canto de olho, como se estivesse com raiva de mim.
Tenho vontade de cortar a cabeça da minha irmã fora, por fazer uma cena dessa na frente da criança sabendo que ele tem todos os medos de perder a mãe.
Infelizmente, uma coisa é real, Clara tinha razão em achar que alguém da minha família não aceitaria bem nosso envolvimento. E esse alguém é a pessoa mais próxima a ela.
Fim do capítulo
Bom dia gente....
Clara tinha um pouquinho de razão em ter medo, acho que Liz não ficará nada contente em saber da relação das duas, e Nico não quer perder a mãe.
Me contem o que você acharam desse capítulo?
Hoje é aniversário de uma amiga minha, que também é escritora aqui na plataforma, então convido vocês a lerem "O nosso recomeço" em forma de presente para ela... E mais uma vez parabéns amiga, que seu dia seja incrível.
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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jazzjess
Em: 27/09/2025
Bom dia!
Querida escritora, o que é essa Liz? hahaha Mimadinha, me irritando aqui na minha casa.
Ótimo capitulo como sempre, por gentileza volte logo, estou gastando meu dados móveis todo atualizando a pagina hahahahaha
inté mais.
Paloma Matias
Em: 28/09/2025
Autora da história
Oiiii…
Mil desculpas por fazer vc gastar os dados móveis kkkkk mas prometo voltar o quanto antes, esses dias foram muito corridos então não consegui.
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HelOliveira
Em: 24/09/2025
A Liz é muito mimada ou egoísta mesmo?
Nico já gosta da Sam, mas depois dessas palavras da Liz pode dar um pouco de trabalho para aceitar...
Capítulo muito bom.
Acompanho e sou apaixonada pelo O nosso recomeço
Até o proximo
Paloma Matias
Em: 25/09/2025
Autora da história
Acho que um pouquinho dos dois…
Ela realmente pegou pesado em falar as coisas na frente do Nico
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Pantera
Em: 24/09/2025
Fiquei surpresa com a reação da Liz, mais amando a história. Já acompanho " o nosso recomeço" Paloma, Muito bom.
Paloma Matias
Em: 25/09/2025
Autora da história
Muito obrigadaa
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