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Cena G!P
Porta Aberta, Instinto Desperto - Parte I
O despertador mal havia tocado e Lia já estava de pé. O novo horário das aulas de muay-thai a obrigava a sair cedo, mas, no fundo, ela adorava. O suor, o impacto dos golpes, a vibração muscular, tudo isso ajudava a calar as vozes internas, os desejos indesejados e as saudades mal resolvidas.
Na academia, ela se destacou como sempre. Era difícil acompanhar o ritmo de uma Fênix com séculos de experiência em combate e resistência física sobrenatural. Mas para os demais alunos, ela era só aquela mulher absurdamente rápida, forte e com reflexos quase desumanos.
Quando o treino terminou, Lia seguiu para o vestiário com os cabelos presos de qualquer jeito, a camiseta encharcada de suor e um sorriso leve de satisfação no rosto. Já do lado de fora, caminhando até o carro, ouviu uma voz que a fez travar os passos.
— De todos os lugares do mundo, esse não era onde eu esperava te encontrar!
Petúnia.
Ela surgiu como um vendaval, já abrindo os braços para um abraço que Lia aceitou apenas por reflexo.
— E você estava me procurando? — Lia perguntou, com um sorriso educado, mas com a mente já planejando mudar de academia.
— Não, eu venho aqui todo dia! E nunca te vi antes! — Petúnia respondeu animada demais.
— É que meu horário mudou… — Lia respondeu, enquanto mentalmente lamentava por isso.
A conversa rapidamente virou um interrogatório inconveniente sobre a saída de Lia da Wicca Enterprise. Lia, paciente até onde conseguia, deu respostas vagas e sorrisos calculados até que Petúnia se despediu, alegando que precisava buscar o filho.
Já no carro, Lia pegou o celular e viu uma mensagem de Ariel:
"Não quero que pareça que eu só quero viver de farra, mas vou fazer uma noite de jogos aqui em casa hoje. Você vem?
Lia sorriu com a naturalidade da amiga.
"Com certeza. Mas antes, me conta, o que aconteceu entre você e a Ana na última festa? Vocês sumiram…"
A resposta veio rápida:
"Pra isso vou ter que te ligar."
Lia não esperou. Ligou na hora, ainda no estacionamento.
A voz de Ariel soou com aquele tom empolgado e envergonhado ao mesmo tempo.
— A gente se beijou… E… — Ariel respirou fundo. — Teve algumas carícias… mas não passamos disso.
— Por quê? Faltou vontade? — Lia provocou, já sabendo a resposta.
— Não… vontade tinha. Mas… a Ísis estava lá. Tava tudo estranho. Eu fiquei travada.
Ao ouvir o nome de Ísis, Lia sentiu um frio escorregar pela coluna.
— Entendi. — Foi só o que conseguiu responder.
Ariel, do outro lado, hesitou antes de perguntar.
— Lia… Sobre a Ísis… Ainda tem alguma coisa entre vocês?
Lia respirou fundo, ajeitou o banco do carro e respondeu com a maior firmeza que conseguiu reunir.
— Não, Ariel. Eu e a Ísis… somos só amigas. Isso não existe mais.
— Mas se acontecesse algo, você me contaria, né?
— Claro que contaria. — Mentira? Não exatamente, mas também não era uma verdade inteira. — Agora vou dirigir, depois a gente se fala.
Encerrada a ligação, Lia dirigiu para casa sentindo a energia acumulada. Precisava descarregar aquilo.
Pegou a bicicleta na garagem, seguiu pela orla, pedalou, correu, sentiu o vento, o cheiro de sal e o peso do próprio corpo sendo queimado pelo esforço físico. Ao ver um outdoor anunciando saltos de bungee jumping direto no mar, ela não pensou duas vezes.
Saltou. Gritou. Sorriu.
Voltou para casa só depois das duas da tarde, o corpo exausto, mas a mente ainda inquieta. E foi ao chegar no portão que a surpresa a aguardava.
Ísis.
Escorada no muro, com o celular nas mãos, distraída, até levantar os olhos e fitar Lia com um sorriso pequeno.
— Estava te esperando.
Lia franziu o cenho.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não. Só… precisava falar com você. Entender algumas coisas.
Lia respirou fundo.
— Tudo bem… Deixa eu tomar um banho, mas a casa é sua, você sabe.
Lia subiu, tirou a roupa suada e entrou no banho. A água escorrendo sobre os músculos, o pensamento na Ísis, no olhar que tinha acabado de receber.
Vestiu um short de elástico e uma regata preta, sem sutiã. Quando voltou à sala, o olhar de Ísis se perdeu nos contornos do corpo dela. Lia fingiu que não notou, mas sorriu de canto, provocando ainda mais.
— Então… sobre o que você queria falar?
Ísis ficou em silêncio por alguns segundos, sustentando o olhar da outra, até que deu de ombros.
— Estou confusa, Liana. Acho que ainda sinto algo por você. Não sei se por não ter tido um ponto final…
— Ísis…
— Não, me deixa falar. Quero entender o que nós temos. Se ainda temos algo. O que você sente por mim?
— Eu também sinto algo por você, Ísis, na verdade, eu te amo! Com o tempo… Só deixou de ser um amor romântico.
— Mas vai negar que ainda me deseja? — Questionou. — Eu vejo o jeito que você me olha.
— Talvez eu também esteja confusa, tanto quanto você. — Liana soltou, dando de ombros e vacilando por um segundo. O suficiente para Ísis perceber uma abertura. Mesmo pequena, mas estava ali. E se aproximou alguns passos, desviando o olhar para os lábios de Lia que estavam entreabertos de expectativa.
Ísis finalmente encurtou a distância e a beijou.
O beijo foi lento, carregado de desejo acumulado. As mãos de Ísis desceram pelo corpo da Fênix, puxando a blusa para cima. Lia não recuou. Pelo contrário, correspondeu com uma fome quase antiga, como se o corpo soubesse que aquela dança de sedução era familiar demais.
As roupas foram ficando pelo caminho até que o sofá da sala virou palco.
Ísis por cima, Lia gem*ndo baixo, as mãos das duas explorando cada centímetro, cada dobra de pele, até que ambas alcançaram o clímax quase ao mesmo tempo.
Ofegantes e ainda suadas, as duas ficaram ali, nuas, em silêncio.
Ao mesmo tempo que aproveitava das sensações que Ísis causava, Lia não conseguia deixar de perceber como esse lado da relação delas tinha se tornado automático, simplesmente carnal. Quando, na verdade, a relação delas ia muito além daquilo.
Sentiu o estômago apertar por ter se dado conta, ali, ao lado dela, que a relação delas tinha naturalmente tomado outro rumo.
Como se lesse os pensamentos da Fenix, Ísis virou o rosto lentamente para o lado e varreu o rosto da outra com olhos curiosos. Ísis deu um leve sorriso, quase compreensivo.
— Acho que sei o que você está pensando… — Ísis sussurrou, de forma descontraída.
— Mesmo que seja sempre ótimo, acho que a gente não é mais isso… — Lia disse, por fim, pegando a blusa que estava jogada em um canto do sofá. Temia que suas palavras magoassem a outra, mas já não havia como voltar atrás. No entanto, o sorriso de Ísis se alargou.
— Não… acho que não. — Ísis respondeu, rindo. — Acho que devemos continuar como amigas. Mas admito que vou sentir falta disso.
Liana não conseguiu escolher as palavras para responder naquele momento, apenas a olhou com ternura e assentiu. Sabia que também sentiria falta. Porém, estarem na mesma página a deixava aliviada e tranquila, mesmo que o olhar que trocavam dissesse que o desejo ainda morava ali.
Depois de um banho rápido, as duas saíram para uma caminhada na orla, tomando açaí, conversando como velhas amigas com histórico demais.
Já era fim de tarde quando Ísis foi embora.
Lia ainda estava na sorveteria quando o celular vibrou.
Era Elisa.
— Oi… tô saindo da Wicca agora. E queria uma dose de whisky… — disse a voz com aquele tom cansado, mas cheio de desejo por algo a mais.
Lia sorriu, a língua deslizando pelo canudo do açaí.
— Eu tenho o envelhecido que você gosta em casa. Quer que eu te busque?
— Tô de carro, tô indo praí.
— Não estou em casa, mas já que você está de carro, posso te mandar minha localização.
Elisa riu, aceitou.
Pouco depois, Lia já estava dentro do carro, segurando um pote gigante de sorvete de chocolate amargo, o favorito de Elisa.
No caminho para casa, as duas falaram de coisas leves. Elisa, como sempre, estava linda, elegante, e com aquele ar naturalmente provocante.
Quando chegaram, Elisa tomou um banho rápido, Lia foi até o local onde guardava as bebidas, uma espécie de adega no porão, mas ao sair, foi surpreendida por Elisa descendo as escadas, recém-banhada, os cabelos molhados, usando apenas uma blusa da Lia com o símbolo da Mulher-Maravilha. Sem shorts, sem sutiã, descalça e perigosamente sensual.
— Eu sei que tenho roupas minhas aqui… mas as suas são tão mais confortáveis… — Elisa se justificou manhosa, pegando o copo de whisky da mão de Lia.
Ela deu um gole longo e, antes que Lia pudesse pensar em alguma resposta espirituosa, Elisa se enfiou entre ela e a bancada da cozinha, tão perto que os corpos quase se fundiram.
— Não é só o whisky que eu queria hoje… — Elisa confessou, com a voz baixa, arrastada.
O beijo veio antes que Lia pudesse falar qualquer coisa. Um beijo molhado, urgente, daqueles que prometem mais.
Elisa foi direto ao ponto, sentou-se na bancada da cozinha e, com um sorriso malicioso, puxou a calcinha de lado, levando a cabeça de Lia até sua intimidade.
— Vem me ch*par, Liana!
E Lia foi.
Sem hesitar, com fome, com desejo, com carinho e com força. As mãos segurando firme as coxas da outra, a língua explorando cada dobra. Elisa se contorceu, os dedos apertaram os cabelos de Lia e o gemido dela ecoou pelo ambiente.
Quando terminou, Elisa não deixou por menos. A puxou pela cintura e deitou a Fênix sobre a mesa da cozinha.
— Minha vez agora…
Lia a encarava, ofegante, e mesmo sob a adrenalina, percebeu nos olhos de Elisa uma hesitação incomum, enquanto ela se colocava entre suas pernas e percorria as mãos pelo abdômen definido da outra.
Elisa mordeu o lábio e parou por alguns instantes, a cintura encaixada na intimidade da outra. Lia a observou, com calma e enquanto o corpo esquentava com a proximidade e a pausa repentina.
A excitação duplicou, quando sentiu um volume a mais lutar contra a calcinha apertada de Elisa. O volume, que antes não estava ali, a fazia lembrar de um detalhe que Elisa tinha lhe contado tempos atrás, mas que até o exato momento, nunca havia presenciado. Como era uma Nefilin, Elisa não possuia um sex* biológico fixo e conseguia transitar entre as genitais masculina e feminina, sem alteração do restante dos traços do seu corpo. Quando Elisa compartilhou esse fato com ela, em outro momento, pensou em como devia ser e agora, estava prestes a descobrir.
— Posso? — sussurrou ao ouvido de Lia, apertando o seu corpo contra o dela, o suficiente para que Lia sentisse perfeitamente a excitação evidente de Elisa.
Liana só conseguiu gem*r em resposta, a cabeça pendendo para trás, os olhos fixos no teto enquanto sentia seu corpo ser tomado, um pouco mais, a cada segundo, pelas mãos famintas de Elisa, que aguardava silenciosamente uma permissão.
As mãos de Lia desceram pela barriga da Nefilin, com pressa e seus dedos alcançaram a intimidade da outra. Quis transmitir que aquele toque era um sim. Que naquele momento era diferente e novo, mas era Elisa e ela queria tudo que viesse dela.
E com o consentimento subtendido, a penetrou.
O ritmo foi intenso, as mãos de Elisa segurando os quadris da Fênix com firmeza, os corpos suados, os gemidos misturando-se com o som da madeira da mesa rangendo.
Quando chegaram ao limite, ambas estremeceram, ficando ali, unidas, ofegantes e sorrindo feito duas adolescentes.
Minutos depois, ainda nuas, dividiram o pote de sorvete rindo, como se o mundo lá fora fosse só uma lembrança distante.
****
O cheiro de café misturado com o perfume adocicado de Elisa ainda pairava pela cozinha de Lia quando ela terminou de colocar as taças de sorvete na pia. O corpo dela ainda vibrava com os ecos do que tinha acabado de acontecer entre elas. Elisa estava no quarto, terminando de se arrumar para a noite de jogos na casa de Ariel.
Lia se olhou no espelho da sala, ajeitou os cabelos bagunçados, respirou fundo tentando organizar os próprios sentimentos. Havia uma satisfação carnal latejando nela, misturada com um velho medo de que tudo aquilo, mais uma vez, fosse passageiro.
“Não é só sex*…”, ela pensou, lembrando da forma como Elisa a olhou depois, com os olhos ainda marejados e com aquele meio sorriso de quem não queria admitir nada.
Poucos minutos depois, Elisa desceu as escadas. Estava com um vestido preto justo, curto na medida certa e com aquele decote que a Lia já conhecia bem.
— Pronta? — Elisa perguntou, pegando a bolsa que estava pendurada no encosto de uma cadeira.
— Prontíssima. — Lia respondeu, pegando as chaves.
No caminho até o carro, houve aquele silêncio confortável, quase íntimo, mas que escondia um turbilhão por dentro de ambas. A conversa só recomeçou quando já estavam a poucos minutos do prédio de Ariel.
— Você vai conseguir fingir que nada aconteceu? Que não rolou nada entre a gente? — Elisa perguntou, com a voz baixa, sem tirar os olhos da rua.
— Já não estamos fazendo isso há meses? — Lia respondeu com um sorriso torto. Elisa soltou uma risada curta, nervosa, e o assunto morreu ali.
Fim do capítulo
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