Capitulo 48
Renata Fontes
Já estamos na estrada há mais de uma hora. Não falta muito para chegar no endereço que Sueli nos passou.
— Estamos perto. Sua mãe mandou alguma mensagem, amor?
— Ela avisou a portaria para liberar a nossa entrada. E disse que os seguranças vão nos revistar, que é um procedimento de rotina. Não entendi muito bem essa parte.
— Amor, você pesquisou sobre a sua família? — Questiono.
— Não, tudo o que sei é o que estava no relatório do detetive. Pelo que entendi, eles são ricos e têm um negócio bem-sucedido. Mas não sei se isso justifica esse excesso de seguranças.
— Foi um pouco de eufemismo da parte do investigador. Sua mãe é a minha cliente mais influente e posso garantir que o investigador foi modesto quando falou da condição financeira dela. Sua família está sempre nas matérias e sites. — Obviamente sabia tudo o que a mídia falava sobre a família Cavalcante, principalmente depois que Flávia me contou os detalhes do relatório. E como Sueli é minha cliente, tenho que pesquisar as suas procedências.
— Ok, então eles são conhecidos pela mídia. Posso lidar com isso. Afinal, não me importo com nada disso, não tenho interesse em nada do que é da Sueli, apenas estou querendo conhecê-la.
— Eu sei, você pode lidar com qualquer coisa, meu amor. Se precisar de mim, estarei ao seu lado.
— Obrigada, Rê. Me sinto mais tranquila com você aqui.
Não demora muito e chegamos no condomínio em Itaipava. A segurança do lugar é rigorosa, apresentamos nossos documentos e fomos revistadas. A mansão dos Cavalcantes está rodeada por seguranças armados. A casa é enorme e pomposa. Flávia segura na minha mão, enquanto somos direcionadas para a porta de entrada. Seu olhar é de incredulidade. Pelo visto, ela não sabia mesmo o que ia encontrar aqui.
— Vocês chegaram! — Sueli nos dá um abraço caloroso. — Fizeram boa viagem?
— Sim, foi tranquilo. Obrigada. — É Flávia quem responde.
— Estou tão ansiosa, que bom que aceitou o meu convite, filha. — A mais velha sorri. — Venham, mandei preparar alguns aperitivos.
Sueli nos leva até o segundo andar da casa. Cada cômodo é cheio de detalhes, a casa é rodeada por janelas e portas de vidro, é possível ver a área de lazer, piscina e uma quadra esportiva da onde estamos. Nada aqui é modesto, tudo é feito com materiais da mais alta qualidade. Os móveis têm assinaturas de artistas famosos, os espaços são modernos e arejados. Quando chegamos na sala de jantar, observo que três jovens estão sentados. Eles se levantam assim que nos aproximamos. Imagino que sejam os irmãos de Flávia.
— Estes são meus filhos, Caio, Sebastião e Guilherme.
— Olá, Flávia. É um prazer conhecê-la. Mamãe falou muito sobre você. — Guilherme se aproxima, segundo as minhas fontes, ele é o irmão mais novo.
— Oi, o prazer é meu. — Minha namorada estende a mão para o jovem que retribui o gesto. — Essa é a minha namorada, Renata. — Em seguida, Sebastião e Caio também nos cumprimentam.
Sentamos todos à mesa e as refeições são servidas. Na sala a quantidade de funcionários me deixa surpresa. Além do chefe de cozinha, mais sete pessoas estão à disposição da família. No primeiro momento, o silêncio toma conta do ambiente, mas Sueli puxa assunto conosco e Guilherme também é muito simpático. Seus irmãos, no entanto, nos observam com o semblante sério. Só então, começo a notar que nossa visita não é bem-quista por eles. Posso estar enganada, mas raramente me engano. Um sinal de alerta começa a soar na minha cabeça.
— Como foi o casamento da sua amiga? Lembro que você comentou que elas iriam se casar nesse mês. — É gentil da parte de Sueli citar o casamento das nossas amigas.
— Foi muito divertido e emocionante. A senhora conhece a estilista Elisa Franco?
— Já ouvi falar, ela abriu algumas lojas no último ano, certo?
— Isso mesmo. A minha amiga e ela que se casaram.
— Não sei se entendi, mas você está dizendo que duas mulheres se casaram? — É a primeira vez que Caio fala e já não gosto do seu comentário.
— Sim, elas são incríveis. As considero como parte da minha família. — Flávia sorri sem notar a maldade no comentário do irmão.
— Com certeza vamos marcar para nos encontrarmos. Quero conhecer todos os seus amigos. — Sueli toca no braço de Flávia.
— No que você trabalha, Flávia? — É Sebastião quem pergunta.
— Sou repórter. Ainda estou no início da minha carreira.
— Então você fez faculdade? Achei que tinha crescido num orfanato.
— Sebastião! — Sueli chama a atenção do filho.
— Tudo bem, não tem problema. — Flávia fala. — Fiquei no orfanato somente até os meus 10 anos.
— Por que saiu do orfanato? — Caio é quem pergunta dessa vez. Será que eles não percebem que aquele assunto é delicado?
— Era maltratada. — A dupla de sem noção, fica calada.
— Sinto muito, minha filha. — A mais velha se emociona.
— Você não teve culpa.
— Mas me sinto culpada. Só queria ter descoberto a sua existência antes.
— Está tudo bem, você foi enganada. — Flávia acrescenta. Achei que ela não tinha notado os comentários maldosos dos irmãos, mas a repreensão que tem na sua voz, diz o contrário.
— Eu sinto muito pelo o que meu pai fez, Flávia. — Guilherme, apesar de novo, é o mais sensato.
— Porque você sente? Papai só estava protegendo a reputação da nossa família. — Caio mais uma vez destila o seu veneno.
— O que você está insinuando? — Sou eu que o questiono.
— Já disse que esse não é um assunto tolerado nesta casa. Não falem besteiras. — Sueli alerta o filho.
— Já era de se esperar que a senhora ficaria contra o papai. Como pode preferir uma bastarda ao seu marido? — Flávia e eu temos a mesma reação de surpresa.
— Caio, não trate a sua irmã assim. Você ao menos entende as coisas que ela enfrentou por culpa do seu avô e do seu pai? — Sueli fala. Flávia me olha com espanto. Tenho certeza que ela está se segurando.
— Tudo o que entendo é que a volta dela, destruiu a nossa família.
— Caio, você foi longe demais. — Guilherme fala.
— Cale a boca, você só se importa com o que a nossa mãe diz. Já pensou em ficar do lado do nosso pai alguma vez?
— Você sabe que a sua herança vai ser dividida com essa bastarda? — Sebastião fica em pé enquanto fala, claramente se posicionando a favor do irmão mais velho. — Não vou participar dessa encenação. Não preciso aguentar essa depravação. — Ele se refere ao meu relacionamento com Flávia? — Isso será a ruína da nossa família.
Nesse momento não me aguento e bato na mesa ficando em pé. Flávia toca no meu braço, mas é tarde demais. Só quero desferir um soco na cara desses imbecis.
— Não vou permitir que esses idiotas falem mal de você. — Olho para Flávia. — Me desculpa Sueli, mas seus filhos estão claramente passando dos limites.
— Quem você pensa que é para falar assim com a gente? — Caio fica em pé e aponta o dedo em minha direção.
— Se os dois são mal-educados, me sinto no direito de fazer o mesmo. Para o seu total desgosto, eu sou a mulher da irmã de vocês e não vou deixar que ninguém, nem mesmo uns merd*s como vocês, falem mentiras sobre ela. A Flávia não merece isso. Vocês nem a conhecem. Se você não sabe, o seu pai já arruinou a sua família há muito tempo.
— O que você está insinuando, seja clara? — Caio se aproxima e Guilherme se coloca na frente dele.
— Não preciso te dar explicações, converse com a sua mãe. — Falo alto.
— Você acha que acredito nas mentiras que ela fala sobre o meu pai? Ele só queria o melhor para a nossa família. — Caio vocifera. — E ele tem razão, mamãe está louca se acha que vamos aceitar essa depravação na nossa família, não queremos uma bastarda lésbica mandando no nosso império.
— Seu moleque, eu vou quebrar a sua... — Começo, mas Flávia se coloca em pé ao meu lado, ao mesmo tempo que Sueli se levanta.
— Vamos embora. — Ela segura a minha mão. Pelo seu tom sério, sei que ela está prestes a explodir. Pego nossas coisas e seguro na sua cintura. Mas antes de sairmos, aponto na direção daqueles idiotas, controlados pelo pai.
— Esperem um processo bem extenso na costa dos dois. — Eles dão de ombro, indiferentes.
Olho para Sueli e Guilherme que estão em estado de choque. Eles não concordam com a atitude dos outros, mas conhecendo a minha mulher, sei que ela vai se fechar para todos eles. A raiva sobe pela minha garganta como cólera. Também sou culpada, não devia ter incentivado essa aproximação. Me enganei, devo desculpas infinitas a Flávia.
Quando estamos na garagem, Sueli nos aborda. Ela está chorando.
— Por favor, me perdoem. Sinto muito pela grosseria dos meus filhos. Flávia, me desculpe. — Ela chega perto da filha, mas Flávia recua para longe do seu toque.
— Só quero ir embora. — Ela me olha e odeio ver a tristeza nos seus olhos.
Abro a porta do carro para a minha namorada e lhe ajudo a afivelar o cinto de segurança, suas mãos estão tremendo. Quando fecho a porta, vejo que Sueli chora no ombro do filho mais novo. Vou até ela e digo.
— Dê um tempo para a Flávia, deixe ela se acalmar. Depois conversamos melhor. — A mais velha assente, e segura na minha mão.
— Você precisa me ajudar a consertar isso, Renata. Não sei se aguento ficar distante da minha filha novamente. — Sei que ela é sincera, mas depois do que aconteceu, não tenho como saber o que Flávia vai fazer, e seja o que for, vou apoiá-la.
— Sinto muito Sueli, mas essa decisão é da Flávia e não minha. — Apesar da raiva que estou sentindo, tenho pena dela. Caminho até o meu carro e dou partida, nos levando para longe dali. Flávia fica calada, sei que ela precisa de tempo para processar tudo o que acabou de acontecer. Decido que o melhor é levá-la para o meu apartamento, jamais vou permitir que ela fique sozinha nesse estado. Vou cuidar dela e vamos resolver isso juntas.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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