Capitulo 46
Renata Fontes
Os convidados aplaudiram animados depois que a dança com os padrinhos terminou. Flávia treme ao meu lado, mas sorri aliviada. Ela conseguiu, estou orgulhosa. Praticamos a sua parte na coreografia diversas vezes na última semana.
— Você viu, amor. Acertei aquele passo. Achei que nunca conseguiria, mas consegui. — Ela bateu palmas e deu pulinhos de alegria. Como pode ser tão linda? Sua energia está muito mais leve desde que começamos a namorar. E a convivência com a sua mãe, também ajudou. Elas se encontraram novamente, dessa vez eu não estava presente, mas pelo que minha namorada disse, elas conversaram e esclareceram muitas coisas. Não ia ser de uma hora para outra que Flávia iria confiar na mãe, foram 25 anos de separação. A relação delas ainda tinha um longo caminho a percorrer.
— Eu vi, princesa. Você mandou muito bem. — Toco no seu ombro.
— Graças a você que me deu aulas particulares. Obrigada, amor. — Flávia me dá um selinho. Estou com tanta vontade de aprofundar aquele beijo. Mas como ainda falta muito para a festa terminar, fico dando desculpas para ficar perto de Flávia e tocar no seu corpo despretensiosamente.
— De nada. — Puxo a cadeira ao meu lado para Flávia. Na nossa mesa estão Chloe, Henrique e Matheus. Todos já estão alegres por conta da bebida. Aproveito para flertar um pouco com a minha namorada. — Posso ter uma recompensa? — Sussurro no seu ouvido. Ela serra os olhos e finge refletir por um tempo.
— Tudo que você quiser. — Seu sorriso me encanta.
— Se é assim, já tenho algo em mente. Estou com essa ideia há um tempo. — Meu pé encosta suavemente no seu por baixo da mesa e ficamos trocando olhares provocativos.
— O que você vai querer?
— É surpresa.
— Não acredito. — Ela reclama. — Você sabe que sou curiosa. É sério que vai me fazer esperar? — Flávia acaricia o meu braço com a ponta do dedo indicador. Gesto que ela faz sempre que quer me convencer a fazer a sua vontade. Uma música agitada começa a tocar.
— Vamos dançar? — Mudo de assunto.
— Amor! Isso é maldade. — Ela faz bico e cruza os braços, aproveito para beijar os seus lábios.
— Você não quer dançar comigo?
— Quero, mas primeiro você tem que me contar qual recompensa vai querer.
— Depois você vai saber, vem. — Fico em pé e seguro a sua mão. Lhe conduzo até a pista de dança. De início, ela dança a contragosto, mas com o tempo vai se soltando. Principalmente quando nossos amigos começam a dançar também. Adoro ver seus passos criados na hora e o quanto ela é engraçada. Henrique se junta a Flávia e os dois fazem movimentos malucos que ninguém nunca imaginou para aquele tipo de dança. Dou risada e me junto a eles. A vida nunca foi tão divertida. Uma música lenta toca e puxo Flávia para os meus braços. Nossos movimentos são mínimos, ainda estamos trabalhando naquele tipo de dança, pelo menos agora, ela não pisa mais no meu pé. Flávia repousa a cabeça no meu peito e abraça a minha cintura, adoro quando ela faz aquilo. Beijo a sua testa e envolvo o seu pequeno corpo nos meus braços.
— Senti a sua falta hoje. — A sua voz está abafada contra o meu peito.
— É mesmo? Também senti a sua falta.
— Sim, tentei escapar para te ver, mas não consegui.
— Que bom que agora você está aqui comigo. — Acaricio o seu cabelo que cheira a morango.
— O que você está fazendo comigo? Não consigo parar de pensar em você. Normalmente, não sou assim. — Ela me encara. Ainda estou me acostumando com essa versão sua. Nossa comunicação está mil vezes melhor, agora Flávia confia em mim e fala sobre os seus sentimentos. Descobri que ela é tão intensa quanto eu, ou talvez, até mais.
— Isso se chama paixão, meu amor. E se serve de consolo, me encontro do mesmo jeito. Você não sai da minha cabeça. Quando acontece alguma coisa, quero que você seja a primeira a saber. Me preocupo com a sua segurança, com a sua saúde, com tudo. Nunca me senti assim antes. — Confesso.
— Por que somos assim? — Ela sorri.
— Não sei, mas também não me importo. Só quero aproveitar cada segundo ao seu lado.
— Eu também. — A repórter se aconchega em meus braços e ficamos assim por longos minutos, até que a música termine. O silêncio não é desconfortável.
— Vamos jogar os buquês, meninas. — Elisa anuncia, me posiciono estrategicamente para ter a minha chance. Se pegar essas flores, terei uma desculpa para pedir Flávia em casamento.
— Se preparem, vamos ver quem serão as próximas a se casarem. Um, dois e três. — Soph e Elisa jogam os seus buquês ao mesmo tempo. Lara se joga na frente de todo mundo e garante o seu. O outro buquê cai acidentalmente na nossa mesa e rola até o colo de Chloe. Se eu soubesse, nem teria saído do meu lugar, teria mais chances ficando lá. Chloe pega as flores, mas não esboça nenhuma reação. Ela é tão séria.
— As sortudas da noite! — Elisa bate palmas empolgada e os convidados a acompanham. — Pelo visto teremos mais um casamento na família. — Elisa brinca com a sua cunhada. Lara sorri lindamente e manda um beijo para as recém-casadas. Soph não parece tão empolgada quanto a esposa, não é de se estranhar já que a minha amiga é superprotetora com a irmã. — Parabéns, Chloe. — Elisa acena e a irmã de Rick devolve o aceno. Ela sem dúvidas é uma mulher de poucas palavras.
— É hora de cortar o bolo. — Soph fala e as noivas se posicionam atrás do enorme bolo. Como nossa mesa está de frente para o palco, decidimos voltar para os nossos lugares. Procuro por Matheus, ele não está aqui. Mas cedo o vi paquerando a moça do bar, posso imaginar que meu amigo esteja bem ocupado agora.
— Esse vai ser o seu ano, Chloe. Dizem que quem pega o buquê, fica com sorte. — Henrique sorri para a irmã.
— Sempre é bom ter sorte. Espero que me ajude no trabalho. — Chloe bebe um pouco do seu vinho.
— Não é sorte no trabalho e sim no amor. — O irmão conclui.
— Essa sorte eu dispenso. — Henrique revira os olhos.
— A carne só cai no prato do vegano. — Ele brinca. — Iria adorar ter sorte no amor. A rainha do gelo aqui, tem pavor de relacionamento. — Ele provoca a irmã, mas ela não se incomoda e nem demonstra reação alguma. O apelido de "rainha do gelo" começa a fazer sentido para mim. Chloe não parece preocupada com a opinião dos outros, ela é séria e fala pouco. Como se nada a abalasse.
— Deixa a sua irmã em paz, Rick. — É Flávia quem fala. — Vamos pegar um pedaço do bolo. Você vai querer, amor? — Ela pergunta para mim.
— Obrigada, mas já estou satisfeita. — Flávia levanta e leva Henrique consigo. Vejo Chloe olhando para a sua bebida, ela parece alheia às músicas e às movimentações ao seu redor.
— Você está bem? — Pergunto.
— Sim. — Ela toca na sua taça, mas não toma o líquido.
— Está gostando da festa?
— Não sou amante de festas, mas gosto das meninas. — Ela mantém a voz em um tom neutro.
— Elas são incríveis. A Elisa é minha melhor amiga. Quando ela me contou que estava apaixonada, fiquei muito feliz... — Continuo a falar. Chloe é agradável em suas respostas, mas não consigo tirar muitas informações dela. Mesmo assim, a conversa é interessante.
Olho para a minha namorada que conversa animadamente com a Lara, as duas estão comendo bolo e fofocando. A irmã de Sophie sempre se mostrou cativante, uma mulher meiga e sorridente. Não é difícil entender porque ela coleciona admiradores, seu jeito amigável conquista a atenção de todos. Até Flávia, que é mais reservada, cedeu aos encantos de Lara. As duas estavam próximas e é bom ver que minha namorada está se abrindo para novas amizades.
— Você teve a oportunidade de conversar com a irmã da Soph? Ela é um encanto, não acha? — Flávia me contou sobre o interesse de Lara na "Rainha do Gelo".
— Nos cumprimentamos na despedida de solteira. — Chloe continuou a encarar a sua taça de vinho, como se seus pensamentos estivessem longe. Devo admitir que ela é difícil de acessar. Ainda bem que tinha experiência com pessoas assim. Acho melhor sair de relacionamentos e falar sobre o seu trabalho, eu amava falar sobre a minha profissão, talvez ela também gostasse.
— E como é o seu trabalho? Pilotar um avião deve ser incrível. — Pela primeira vez, consegui ver brilho nos olhos de Chloe.
— É realmente incrível. Depois de um tempo você acaba se acostumando com o preconceito, mas de resto é muito bom.
— Tem muito preconceito no seu trabalho? — Fico curiosa.
— Apenas 3% dos pilotos são mulheres no Brasil e no mundo não chega a 6%. É um trabalho dominado por homens.
— Nossa, não sabia disso. Deve ser difícil. — Falo interessada.
— Às vezes é bem chato. Já teve pessoas que saíram do avião na última hora porque descobriram que uma mulher pilotaria o avião. — Arregalo os olhos surpresa. — Uma vez, no desembarque, um senhor veio até mim e disse: se eu soubesse que uma mulher estava no comando, jamais teria entrado nesse avião.
— Que revoltante! O que você faz nessas situações?
— Sou educada, não ligo. Desde o início foi assim.
— Eu sinto muito, deve ser difícil.
— Está tudo bem, não é algo que penso com frequência. Também encontro muitas pessoas gentis e que me apoiam. Mulheres que se inspiram em mim e homens que me respeitam. — Ela olha ao redor e parece um pouco deslocada.
— Sei que podemos parecer muito intrometidos, mas não leve a mal. Somos apenas preocupados com os nossos amigos. O Henrique é como se fosse da família, você também pode ser se quiser. — Deixo claro para a piloto.
— Obrigada. — Chloe sorri, ela genuinamente sorri. Tenho vontade de ser sua amiga, não só por ela ser irmã de Henrique, mas porque ela conquistou a minha admiração. Apesar do seu jeito mais fechado, nossa conversa acabou sendo muito boa.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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