Capitulo 45
Flávia Ribeiro
O dia começou agitado, com a viagem de uma hora para a casa na praia das meninas. Elas escolheram casar na beira do mar, uma escolha mais da Soph que adora a natureza. E como Elisa sabia que a mulher tinha pânico de ser o centro das atenções, quis realizar ao menos essa vontade da noiva. Então foi montada uma estrutura gigantesca com tendas, plataformas e ornamentações na extensão de boa parte da praia particular. Além da casa enorme que hospedaria as pessoas da família e amigos íntimos durante aquela noite. Sophie me contou que elas construíram aquela casa quando Elisa comprou o lugar, porque a antiga casa é um chalé pequeno e aconchegante que fica a quase um quilômetro dali, que elas fazem questão de manter somente para si, como um lugar especial que fez parte da história do casal. Me peguei pensando diversas vezes durante aquela manhã se eu e Renata tínhamos algum lugar especial ou se ainda teríamos. Não sei se era o clima romântico, mas a vontade de passar a maior parte do tempo com a linda advogada só aumentava. Desejo esse, que foi frustrado. Desde o momento em que chegamos, Renata foi para o quarto onde estava a Elisa e eu fui levada para auxiliar a minha melhor amiga. Tudo bem que já sabia que seria assim, mas isso não me impediu de morrer de saudades da minha namorada. É louco como em tão pouco tempo, Renata já me fez experimentar tantos sentimentos novos. Ela despertou uma parte minha que eu nem sabia que existia.
No início da tarde, dei um jeito de escapar para verificar se Renata estava bem, mas logo fui barrada por Henrique e uma lista com inúmeras coisas para fazer. Depois de ajudar e me certificar que tudo estava perfeito para o conforto dos convidados, tentei encontrar a minha mulher. Caminhei pelos corredores da casa que estavam lotados de funcionários passando com comidas, bebidas, arranjos de flores, etc. Olhei pela janela do segundo andar e avistei a grande estrutura onde seria realizada a cerimônia. Uma boa parte dos convidados já estava ali, seriam quatrocentas pessoas no total. Apesar da grande quantidade, eram pessoas selecionadas a dedo pelas noivas, em sua maior parte, convidados de Elisa, mas também tinham amigos e clientes de Soph. Elas são conhecidas em suas profissões, me lembro de receber muitos famosos no estúdio de Soph, quando ainda trabalhava como sua assistente.
Estar aqui é a chance perfeita para me desligar de qualquer preocupação que tive durante os dias anteriores. Soph e Elisa iriam se casar daqui poucos minutos e depois teríamos a festa de recepção com muita música, comida e bebida. Iria dançar com Renata a noite inteira e nada mais importaria. Mesmo que não fosse boa com a dança, ela sempre me convencia a tentar. Admito que aceitava porque era uma boa desculpa para me aconchegar nos braços da mais velha. Amo cheirar o seu cabelo e descansar na curva do seu pescoço.
— Flá, você está aí. — Lara veio em minha direção. — Parece que uma das câmeras deu problema, minha irmã disse que tem mais no escritório e que você saberia identificar. — Tive que desistir do meu plano de encontrar Renata antes da cerimônia. Passei a mão no meu vestido para alinhar o tecido e segui Lara.
— Você sabe o modelo da câmera?
— Alguma coisa com C, não sei direito. — Lara está confusa.
— Deve ser uma Canon.
— Isso, é esse nome mesmo.
Forcei a memória para lembrar do modelo que estava sendo usado pelo rapaz que tirou as fotos de Soph naquela manhã.
— É uma Eos R5.
— Você é boa.
— Foram muitos anos trabalhando no estúdio da sua irmã, decorei todos os modelos de câmeras e o nome de cada equipamento, até aprendi a consertar alguns defeitos bobos.
— A Soph é exigente mesmo, até hoje ela reclama porquê não encontrou uma assistente tão boa quanto você.
Ri ao lembrar do quanto Soph ficava irritada quando alguma coisa fugia do seu controle. Vasculhei os armários em busca do modelo certo. Depois procurei a melhor lente para aquela ocasião.
O problema com a câmera tinha sido resolvido, então, voltei para o quarto onde Soph estava.
— Uau, amiga! — Foi o que consegui dizer ao perceber que Soph já estava pronta e maravilhosa em seu vestido de noiva.
— É tão perfeito. — Lara completou.
— Estava tão ansiosa para saber a opinião de vocês. Eu e a Elisa demoramos dias para definir os detalhes dos vestidos. Que bom que gostaram.
— Você está linda, Soph. — Toquei na sua mão.
— Obrigada, Flá. Estou tão nervosa, mal posso esperar para ver a Elisa.
A cerimonialista passou avisando que estava na hora da entrada das noivas. Lara e eu ajudamos Soph nos degraus.
Estavam todos ali: os pais, padrinhos e madrinhas, daminha de honra, pajem e as noivas. Seria um casamento tradicional, mas sem capela e padre. Fui colocada no meu lugar ao lado de Henrique, somos padrinhos da Soph e para a minha alegria, Renata estava bem na minha frente. Matheus estava ao seu lado, eles são os padrinhos de Elisa. Mesmo com alguns metros de distância entre nós, não pude deixar de notar o seu sorriso quando ela me encontrou. E puta que pariu! Aquela mulher é uma surra de beleza. Seu vestido azul-celeste desenhava a parte superior do seu corpo com muita maestria, na parte inferior a saia do vestido abria lindamente até encontrar com os seus saltos na cor creme. Seu cabelo estava solto com apenas duas tranças laterais e alguns adereços. Perfeita e insanamente bonita. Ela segurava no braço do amigo. Os dois formavam uma boa dupla, são altos e imponentes. Ainda me questiono diariamente como aquele monumento de mulher se apaixonou por mim, e não só isso, ela me esperou, aguentou as minhas grosserias e ainda foi paciente. Ou a vida está me pregando uma peça ou eu tirei a sorte grande. Preferi acreditar na segunda opção.
Chegou a minha vez de entrar pelo corredor cheio de pétalas de rosas. Finalmente fiquei ao lado de Renata na lateral do altar. O seu cheiro, já conhecido por mim, trouxe lembranças da noite anterior. Nossos dedos encostaram minimamente e ela sorriu para mim.
— Você está linda, meu amor. — Ela sussurrou.
— Você também, quase não consigo tirar os olhos de você. — Confesso. Ela beija o meu rosto.
— Quando você me olha assim, tenho muita vontade de te beijar. — Apesar de conhecer muito bem o lado atrevido da minha namorada, ainda fico envergonhada com facilidade. E é o que acontece, as minhas bochechas quase pegam fogo de tão vermelhas que estão. Não precisei responder ao comentário ousado da minha namorada, porque os convidados ficaram em pé para a entrada das noivas.
Elisa entra primeiro, ao seu lado está a sua mãe. A estilista está radiante. Ela encanta a todos com um lindo sorriso. Quando a loira chega no altar, recebe um beijo singelo na testa. Dona Cláudia chora emocionada e sua filha lhe abraça. Depois a senhora segue para o seu assento. Soph entra acompanhada do seu pai, seu Luiz. Seus olhos estão fixos na sua noiva, as duas trocam olhares cúmplices. Sinto o toque de Renata em minha mão, olho para ela que também está chorando. Acaricio o seu braço e lhe entrego um lenço.
A juíza inicia o seu discurso, mas não presto muita atenção. Renata está acariciando a minha mão, ela olha compenetrada para tudo o que acontece no altar, às vezes sorri lindamente e outras vezes precisa limpar mais uma lágrima que desliza por seu delicado rosto. Como pode ser tão fofa? E cá estou, pela milésima vez, venerando a beleza da minha mulher.
— Elisa Franco, você aceita Soph Lopes como a sua legítima esposa e promete... — Minha amiga está em êxtase, sei disso porque suas pupilas estão dilatadas e o sorriso não deixa o seu rosto. Acompanhei o início da relação delas e vi o quanto Soph mudou quando se apaixonou por Elisa. Ela ficou mais doce e sensível, algo dentro dela se libertou, como se a antiga Soph estivesse desempenhando um papel para agradar os outros, principalmente o seu namorado na época. Ela manteve um namoro que claramente lhe deixava infeliz por tanto tempo, que fiquei com medo que minha amiga se perdesse de quem ela era. Principalmente depois das insanidades que Marcos cometeu. Mas com a Elisa, vi a sua essência voltar. As duas formavam uma excelente equipe, sempre se apoiando nos seus trabalhos, construindo memórias felizes e duradouras. Admirava muito aquelas mulheres.
Soph beijou a sua esposa apaixonadamente quando a juíza declarou a consumação do seu casamento. As duas mal conseguiram esperar a troca de alianças. Todos ficaram em pé e aplaudiram aquele momento perfeito. A celebração do amor. A promessa de cuidado. O compromisso para a vida toda. Senti os braços de Renata por trás da minha cintura, repousei minha cabeça no seu peito. E assistimos nossas amigas trocarem os seus votos e alianças. Que momento incrível. Por alguns segundos, consegui imaginar eu e Renata em nosso casamento, e a ideia não me pareceu tão absurda como costumava ser.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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