Capitulo 35
Flávia Ribeiro
Depois da minha conversa com a Soph, decidi marcar uma consulta com a minha psiquiatra. Ela disse que o meu transtorno de ansiedade tinha piorado. Saí do seu consultório com uma receita para prevenir as crises de pânico e controlar os níveis da minha ansiedade. A Dra. também me encaminhou para uma psicóloga da sua confiança. Marquei uma sessão de urgência para aquela mesma noite. Por enquanto, os encontros seriam online, já que estava com data marcada para viajar.
Passaram-se três dias de muita terapia, e finalmente me senti um pouco melhor. Nesse tempo, apesar de querer aproveitar com a Renata antes da viagem, não tive como lhe dar atenção. Agora estava na recepção do seu escritório para me redimir. Queria levá-la para jantar. Amanhã bem cedo teria que ir para o aeroporto. Estava ansiosa e feliz por essa oportunidade de trabalho, mas meu coração também estava apertado. Era a primeira vez que ficaria longe de Renata desde que começamos a ficar.
— Oi, princesa. — Notei que a advogada estava sentada ao meu lado. Não percebi quando ela se aproximou.
— Oi. — Sorri e toquei na sua mão.
— A que devo a honra da sua visita?
— Quero te convidar para jantar. O que acha?
— Acho ótimo, só vou buscar a minha bolsa e já podemos ir.
— Tudo bem, te espero. — Renata se aproximou e depositou um selinho em meus lábios.
— Já volto. — Ela caminhou até a sua sala.
Nunca estive na sua empresa, mas quando me identifiquei na portaria, logo liberaram a minha entrada. O ambiente era limpo e elegante. Alguns funcionários me olhavam e cochichavam entre si. Talvez tenha sido por terem visto a chefe me beijando. Não consegui deixar de pensar que era melhor assim. Se eles ficassem cientes da minha existência na vida de Renata, eu não teria que me preocupar com ninguém dando em cima dela. Parei aquele pensamento na mesma hora. Desde quando eu tinha ciúmes?
— Vamos? — Renata se aproximou e estendeu a mão para mim. Ela estava radiante. Confesso que sentia falta da sua companhia.
— Vamos. — Segurei na sua mão e caminhamos para fora do seu escritório.
Escolhi um restaurante reservado, com mesas distantes umas das outras. Me preocupava em deixar a Renata à vontade todas as vezes em que fazíamos uma refeição juntas. Ela fez o seu pedido e eu fiz o meu. Não demorou e logo serviram a nossa comida. Observei a mais velha comendo. Não tinha o hábito de fazer aquilo, mas hoje me chamou a atenção o fato de ela quase não tocar na sua comida.
— Está tudo bem, você não gostou da comida? — Perguntei.
— Desculpa, só não estou com apetite. — Aquilo me preocupava tanto.
— Tudo bem, não precisa se forçar se não estiver com fome.
— Tá bom.
— Aconteceu alguma coisa hoje? Estou te achando meio para baixo.
— Fico pensando que amanhã você vai viajar. Óbvio que estou feliz por você, mas também me sinto triste. Me desculpa.
— Ei, não precisa se desculpar. Três semanas vão passar bem rápido, logo estarei de volta.
— Posso te fazer uma pergunta? Por favor, não me leve a mal.
— Claro.
— O que temos é exclusivo? — Ela me encarava séria. Toquei na sua mão.
— Você está preocupada que eu fique com outras pessoas?
— Sei que não namoramos, mas para mim, você é exclusiva. Só queria saber qual o seu pensamento sobre isso. — Sei que não era o melhor momento, mas eu queria sorrir. E foi o que fiz. Não consegui segurar.
— Desculpa, é que você fica muito fofa quando está com ciúmes. — Acariciei o seu rosto e encarei seus lindos olhos cor de mar. — É verdade, ainda não namoramos. Mas eu só tenho olhos para você. — Renata sorriu até que seus olhos enrugassem na lateral. Ela é tão linda.
— Eu amo quando você fala sobre os seus sentimentos. Desculpa por estar mais calada hoje. Só não sei o que posso ou não falar. Percebi que você ficou distante nos últimos dias e não quero fazer nada que te deixe mal.
— Você pode me falar qualquer coisa. Me desculpa pelos últimos dias, mas não foi culpa sua, são questões que preciso resolver comigo mesma. Me perdoa se fiz você acreditar que fez ou falou algo de errado. Sou assim mesmo, levo mais tempo para processar algumas conversas e às vezes preciso de um tempo para entender como me sinto. — Queria fechar o espaço entre nós e abraçá-la. Odiava que as minhas inseguranças a fizessem se culpar.
— Essa conversa que te deixou insegura. Foi a que tivemos sobre filhos? — Às vezes me questionava como era possível aquela mulher me ler tão bem? Ela prestava atenção em cada detalhe sobre mim e não deixava passar nada.
— Sim.
— Não precisamos ter conversas tão sérias agora. Vamos levar as coisas com calma, um passo de cada vez.
— Não é isso, eu que lhe perguntei sobre filhos. Quero saber mais sobre você e devemos conversar sobre essas coisas. Elas são importantes para decidirmos se queremos dar mais um passo na relação. É melhor que questões como filhos, ideologias, religião, sejam conversadas. Para mim é importante saber se somos compatíveis. Mesmo que às vezes eu não saiba lidar com alguns assuntos, vou precisar de um tempo para processar e me entender também. Nunca fiz isso antes, nunca quis tentar com alguém. Nunca fui tão longe.
— Tudo bem então. Mas se você se sentir mal ou incomodada, promete que vai me falar?
— Prometo. Mas também quero que me prometa uma coisa.
— O quê?
— Enquanto eu estiver fora, você precisa se cuidar. Nada de pular refeições, combinado?
— Combinado.
— Vou ficar mais tranquila se você ficar bem, Rê. Me preocupo com a sua saúde.
— Não quero te deixar preocupada. Vou me cuidar.
— Que bom, e se você precisar falar comigo, pode me ligar ou mandar mensagem.
— Pode deixar.
(---)
Quando Renata deitou completamente nua em cima da minha pele que também estava nua, já me sentia totalmente pronta. O corpo dela era como uma droga para mim, estava cada vez mais viciada. Sentiria falta dela, sentiria muita falta.
— Ainda bem que trouxe sua mala porque não vou deixar você sair daqui tão cedo. — Ela me abraçou e beijou meu pescoço.
— É mesmo? — Enfiei os dedos em seu cabelo e puxei levemente para trás. Queria sentir o seu sabor na minha língua.
— Uhum. — Renata deitou ao meu lado apoiada em meu braço, nos beijamos com muita urgência. Aproveitei para explorar o seu corpo com a minha mão livre. Seus mamilos estavam duros contra os meus dedos, e quanto mais a estimulava, mais ela gemia. Me sentia necessitada. Ela abriu um pouco as pernas me dando acesso ao seu ponto de prazer. Não conseguia deixar de olhar as suas expressões de contentamento. O seu corpo me atraía como um ímã e tudo o que importava naquele momento era o seu prazer. Queria satisfazê-la, queria realizar todos os seus desejos, queria lhe dar tudo que ela merecia e muito mais. Entre gemidos e respirações, só conseguia adorá-la. Não tinha mais como negar que eu estava completamente apaixonada por Renata. Prometi para mim mesma que depois da viagem lhe pediria em namoro. Apesar das minhas inseguranças, nunca quis tanto algo na minha vida como eu queria aquela mulher. Mesmo que minha mente gritasse que eu não conseguiria, tratei de abafar aquele pensamento. Não iria ceder aos meus medos, não podia continuar negando aquele turbilhão de sensações que a advogada me causava. Aproveitei cada segundo da nossa trans* e depois abracei Renata, a mantive ali, em meus braços. Meu instinto de proteção se aflorava quando o assunto era a mulher ao meu lado. Só queria protegê-la, vigiar o seu sono e garantir que nenhum mal iria lhe acontecer. O que estava acontecendo comigo? Queria aquela responsabilidade, queria aquele compromisso e queria Renata só para mim. Ficamos abraçadas durante a noite inteira.
Acordei um pouco antes do sol nascer. Levantei da cama e me arrumei em silêncio para não acordar a Renata. Ela dormia tranquilamente. Deitei ao seu lado e acariciei o seu rosto.
— Querida, já estou indo. — Beijei a sua testa. A mais velha continuou dormindo. Não queria acordá-la, mas já a conhecia o suficiente para saber que se não me despedisse, ela ficaria chateada. — Renata. — Ela se mexeu. Beijei seu rosto. — Já estou indo para o aeroporto.
— Já? — Ela me abraçou, mas não abriu os olhos. — Não quer mesmo que eu te leve?
— Não precisa, já chamei um Uber.
— Vou sentir saudade. — Ela se aconchegou em meus braços e repousou a cabeça em meu ombro. Me despedir de Renata estava sendo mais difícil do que eu imaginei que seria. Pela primeira vez, quis desistir da viagem, só para não ficar longe dela.
— Eu também vou sentir saudade. — Beijei seus lábios.
— Te amo. — Ela falou e voltou a deitar. Cobri o seu corpo com o lençol. A morena logo dormiu novamente.
— Te quero muito. — Saí do quarto com o coração apertado. Sabia que fazer viagens era parte do meu trabalho e eu amava aquilo, mas nunca tinha tido alguém por quem voltar. Mas agora tinha, e esperava que ela ficasse bem.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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