Capitulo 34
Renata Fontes
— Dra. Renata? — Ágatha deixou as informações de uma cliente em minha mesa. Aquele caso era superimportante, pois seria um dos maiores que a minha empresa já cuidou. A cliente tinha entrado em contato no dia anterior buscando ajuda para negociar o seu divórcio, pois o seu marido se recusava a aceitar a separação. Como a família tinha muitos bens e status social, o caso teria uma repercussão maior e a mídia estava constantemente de olho no desenrolar da história.
— Diga, Ágatha.
— A cliente já está aqui, ela deseja conversar somente com você.
— Tudo bem, pode liberar a entrada dela. — Ágatha saiu da sala. Precisava me concentrar em solucionar aquele caso da maneira mais amigável possível, mas era difícil com tantos pensamentos rodeando a minha mente. Estava preocupada com Flávia; desde a visita à minha sobrinha, ela estava estranha. Conversava pouco comigo e constantemente tinha crises de ansiedade. Tentei ajudar e ser prestativa, mas na maioria das vezes, ela ficava em seu próprio mundo. Nossa comunicação não estava tão boa. Hoje à noite iríamos jantar juntas. Achei que seria legal levar Flávia para descontrair. Só esperava que ela estivesse melhor. Não queria que ela viajasse sem ter certeza de que, quando voltasse, eu estaria aqui, esperando ansiosamente.
— Boa tarde, Dra. Renata. — Uma mulher mais velha entrou na minha sala. Fiquei em pé e fui lhe cumprimentar.
— Boa tarde, Sra. Cavalcante. Tudo bem? — Direcionei a cliente até o assento em frente à minha mesa e depois lhe servi com o café que Ágatha tinha preparado. Engraçado, aquela mulher me parecia muito familiar.
— Tudo bem, minha querida. E com você? — A mais velha tomou um gole da bebida e deixou a xícara em cima da mesa. Sentei em minha cadeira e comecei a folhear os arquivos com as informações que a cliente tinha deixado com os meus funcionários.
— Estou bem, Sra. Cavalcante. — Olhei para a mulher um pouco surpresa. Agora me dei conta de quem ela era. Confirmei o seu nome mais uma vez na folha de registro: Sueli Magalhães Cavalcante Lacerda. Mas conhecida como a herdeira do Grupo Hoteleiro Cavalcante. Era a mãe de Flávia, não tinha dúvidas, as duas eram extremamente parecidas. Lembrei do nome por conta dos documentos da investigação.
— Algum problema, Dra.? Você está passando mal? — A mulher perguntou, preocupada.
— Não, me desculpe. — Recobrei a compostura e coloquei meus óculos. — Vamos começar a reunião. — Não podia ser tão transparente, já que Flávia estava aguardando o resultado do teste de DNA.
— Perfeito. Como a senhorita já deve saber, quero me divorciar do meu marido, mas ele se recusa a assinar os papéis. Tem sido muito desgastante tentar entrar em acordo com ele, por isso decidi buscar ajuda profissional e a sua empresa me foi indicada por uma amiga. — Era incrível como a voz da mulher era parecida com a de Flávia.
— Obrigada por confiar no nosso trabalho. Vou fazer algumas perguntas e depois vamos dar entrada no processo do divórcio. Não se preocupe. Se tiver alguma dúvida, pode tirar a qualquer momento. — Sorri para a mais velha e ela retribuiu.
— Tudo bem, obrigada.
— De nada. Por que você decidiu se divorciar?
— Somos casados há vinte e quatro anos. Foi um casamento arranjado por nossas famílias. Eu não o amava, mas não tive escolha. Segui a vida trabalhando na empresa do meu pai e tentando ser uma boa esposa, mas o Victor sempre foi difícil de lidar. Ele é machista e arrogante, sei que já me traiu diversas vezes. Mesmo assim, por causa dos negócios entre as nossas famílias, todo mundo passava a mão na cabeça dele. Tivemos três filhos e, depois de um tempo, comecei a viver apenas para eles e para a empresa da minha família. Sustentava a minha relação conjugal, porque era o que devia fazer. Mas agora, não aguento mais, não tenho por que permanecer nesse casamento. O meu pai, que me obrigou a casar com o Victor, faleceu há alguns anos e eu assumi os negócios da família. Sou uma mulher independente e meus filhos já estão crescidos. Não tenho motivos para permanecer nessa união. Mas o pior foi quando descobri que o Victor e o meu pai escondiam algo muito importante de mim. Estou em processo para encontrar a minha primeira filha, ela foi dada como morta depois que nasceu. A Melissa não era filha do Victor, então ele ajudou o meu falecido pai a levar a minha filha até um orfanato e os dois mentiram dizendo que ela tinha morrido de uma doença muito grave. Quando descobri, isso me causou muita raiva, pois o Victor sabia o quanto sofri por conta da morte da minha filha. Apesar de todo mal que ele me causou, constantemente sou culpada pelo meu marido, ele diz que estou destruindo a nossa família, que nossos filhos vão sofrer e que nosso patrimônio vai se desfazer. Ele não aceita a separação.
Aquela mulher estava profundamente angustiada. Ela mal sabia que eu entendia o seu sofrimento, que conhecia parte da sua história. Foi muito difícil manter a compostura quando ela começou a falar de Flávia. Queria juntar mãe e filha, mas precisava ter paciência e esperar o tempo da Flávia.
— Mesmo que o Senhor Lacerda não aceite a separação, podemos dar entrada no pedido de divórcio litigioso. Quando uma das partes não aceita a separação. Vamos ter que discutir algumas questões sobre patrimônio, mas tudo pode ser resolvido. Não se preocupe, temos advogados especializados em direito da família. Vamos levar o caso até os tribunais e aguardar a primeira audiência.
— Esse processo demora quanto tempo, Dra.?
— Como é um processo que demanda acordos entre as partes, pode demorar alguns meses. Mas isso pode ser acelerado, já que seus filhos são maiores de idade. Vamos ter que entrar em acordo sobre outros pontos como a partilha de bens e quem irá deixar de morar na casa da família. Seus filhos ainda moram com vocês?
— Os dois mais novos, sim. E o mais velho nos visita com frequência. É costume ter todos reunidos na mesa e morando conosco. Sou muito próxima dos meus filhos, não estou disposta a sair da minha casa. — Sueli parecia uma mãe dedicada à família.
— E o Sr. Victor está disposto a sair de casa?
— Não, ele está fazendo de tudo para evitar o divórcio.
— Entendo. Só mais uma coisa, você tem direito a solicitar uma indenização por danos morais, devido às traições. Tem interesse?
— Não, só quero me livrar daquele homem o mais rápido possível.
— Não se preocupe, vamos conversar e entender toda a situação. O processo de divórcio vai se iniciar hoje mesmo. Só peço que tenha paciência e que compareça em todas as audiências. Mesmo que demore um pouco, perante a lei, você pode se divorciar sem o consentimento mútuo.
— Obrigada, Dra. Renata. Você não sabe o quanto estou mais aliviada.
— De nada. Vou fazer só mais algumas perguntas. Tudo bem?
— Claro.
Continuamos a conversar para esclarecer toda a situação. Sueli se mostrou muito forte, apesar de todos os abusos que sofreu em sua relação com Victor. Mas quando ela falou novamente de Melissa, seus olhos ficaram marejados. Não prolonguei a reunião para aliviar a sua angústia. Aquele caso seria minha prioridade nos próximos meses. Cuidaria de tudo pessoalmente.
— Obrigada por tudo, Dra. Renata. Vou aguardar a sua ligação. — A mais velha levantou e me cumprimentou.
— Pode ficar tranquila que vou cuidar do seu caso pessoalmente. Logo estará livre desse casamento. — Conduzi Sueli até a porta do meu escritório.
Fiquei em choque quando avistei Flávia na recepção. Ela estava distraída lendo uma revista. Mãe e filha estavam no mesmo lugar.
@escritora.kelly
Fim do capítulo
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