A noite chegou rápido. Ariel estava elétrica, organizando a casa como se a festa fosse uma final de campeonato. As garrafas de bebida se acumulavam na bancada da cozinha, junto com pacotes de salgadinhos, velas aromáticas e uma playlist de músicas que ia de funk carioca a Lana Del Rey, passando por um remix improvável de MPB com batidas de EDM.

Ana chegou primeiro, veio direto de uma reunião com as Demunnus, trazendo uma torta de limão que ela mesma tinha feito. Ariel abriu um sorriso largo, mas por dentro ainda lutava com os sentimentos confusos sobre a amiga. Desde o beijo, Ana andava diferente. Mais segura, mais provocativa. Até o jeito que ela encostava na porta agora, de braços cruzados e sorriso de canto, fazia Ariel perder o foco.

Logo depois, Ísis chegou.

Vestida com um vestido preto justo que parecia escolhido a dedo só pra deixar Ariel em combustão interna.

— Consegui um tempinho para vir… — Ísis disse, entregando uma garrafa de vinho, o sorriso carregado daquele humor cínico habitual.

Ariel quase tropeçou na própria respiração.

E como se a tensão já não fosse suficiente, Lia entrou logo depois, com a Elisa ao lado.

Lia estava com uma blusa branca decotada e uma calça preta rasgada. As runas tatuadas nos braços estavam levemente visíveis, e Ariel sentiu uma pontada no estômago só de olhar.

Elisa, como sempre, impecável. Um vestido casual azul-escuro, justo na medida pra fazer Lia morder discretamente o lábio ao ver.

Elisa parecia casual, mas Ariel percebeu que ela estava prestando atenção em cada movimento da Lia. Cada risada. Cada olhar trocado com Ísis.

****

A noite avançou com conversas dispersas, flertes cruzados e jogos de bebida.

Hope chegou por volta das dez da noite.

Assim que entrou, todos os olhares se voltaram pra ela.

Ela usava um vestido floral leve na altura dos joelhos. Os cabelos estavam presos em um coque bagunçado, com algumas mechas caindo ao redor do rosto.

Mas o que mais chamava atenção, era o olhar. Aquele olhar de quem já tinha visto coisas demais pra alguém com tão pouco tempo de vida.

Ela cumprimentou Ariel e foi direto até Lia, como se ignorasse o resto da festa.

— Sonhei com você ontem. — disse, baixo o bastante para que só a Fênix ouvisse.

Lia travou a mandíbula.

— Hope… a gente já falou sobre esses papos de sonho.

— Dessa vez foi diferente. — Hope continuou, deslizando os dedos de leve pelo braço da Lia. — Tinha sangue… muito sangue… em você — ela fez uma breve pausa. — Elisa e Calíope… estavam lá também. Foi confuso.

Lia ouviu em silêncio e sentiu o estômago gelar.

— Eu sinto muito que você tenha esse tipo de visão, mas depois a gente fala disso. Pode ser? — cortou, recuando um passo.

Mas o olhar de Hope ficou mais escuro.

Como se soubesse que a conversa ainda ia continuar.

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A festa continuou e outros convidados chegaram.

Ísis estava mais solta do que de costume. Bebendo mais do que devia. O olhar dela e de Lia se cruzava de tempos em tempos e Ariel sentia o peito apertar cada vez que isso acontecia.

Em determinado momento, Ísis passou por Ariel na cozinha, roçando o quadril contra o dela de propósito.

— Tá bonita hoje… — sussurrou no ouvido dela antes de sair.

Ariel ficou paralisada. Só recuperou o fôlego quando Ana apareceu ao lado.

— Cuidado com ela. — Ana disse num tom leve, mas com os olhos fixos em Ísis.

— Por quê? Tá com ciúmes? — Ariel respondeu, rindo nervosamente.

— Talvez… — Ana sorriu de canto e antes de Ariel reagir, lhe roubou um selinho rápido.

Ariel congelou, novamente. Olhou ao redor e viu Ísis observando a cena do outro lado da sala. O sorriso da bruxa era quase imperceptível, mas estava lá. 

****

Na varanda, Lia fumava um baseado, tentando organizar os pensamentos.

Elisa se aproximou.

— Você tá bem?

— Não lembro a última vez que estive… — Lia respondeu com humor amargo, soprando a fumaça.

Elisa ficou em silêncio por um instante, depois encostou ao lado dela, os ombros quase se tocando.

— Vi a Hope te cercando. Mais um dos sonhos dela?

Lia assentiu, o olhar perdido nas luzes da cidade.

— É como se tudo estivesse… prestes a dar errado. Ariel instável…  Hope com essas visões… Você querendo se meter no meio da confusão…

— Eu sempre me meto. — Elisa disse com um sorriso curto, mas travesso. 

Por um segundo a vontade de beijá-la foi quase incontrolável. Mas Lia respirou fundo e desviou.

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Dentro da casa, Hope estava sentada no sofá da sala, observando cada movimento das pessoas com uma atenção desconcertante.

Apesar de interagir com os presentes, na maior parte do tempo ela estava imersa na própria mente e presa aos flashes que vinham em cascatas. 

Ana beijando Ariel de novo, dessa vez com mais intensidade.

Ísis se aproximando perigosamente da Lia quando Elisa subisse para ir ao banheiro.

E sangue, muito sangue, mas não conseguia distinguir ao certo quando ou de quem.

Ela fechou os olhos e recuperou o controle.

Quando abriu os olhos de novo, Hope deu de cara com Lia a olhando do outro lado da sala.

E o que Hope sentiu naquele momento, era uma mistura perigosa de desejo, medo e uma certeza sufocante de que nada ia terminar bem.

Fim do capítulo