RECOMENDAÇÃO:
LEIA A PRIMEIRA TEMPORADA DA HISTÓRIA PARA ENTENDEREM E DAR SEQUENCIA NESTA.
CAPÍTULO I
Melissa e Fiorella estavam finalmente vivendo o momento que tanto sonharam: uma lua de mel em uma praia paradisíaca, onde o tempo parecia parar. Cada detalhe daquela viagem havia sido planejado com carinho, como uma forma de celebrar o amor renovado após tantas tempestades. O som constante das ondas quebrando na areia misturava-se ao canto distante das gaivotas, enquanto a brisa salgada acariciava seus rostos. De mãos dadas, entre mergulhos e risadas, trocavam olhares que diziam mais do que qualquer palavra: nada parecia capaz de perturbar aquela felicidade.
Até que uma ligação inesperada mudou o rumo daquela noite.
No meio da madrugada, o celular vibrou sobre o criado-mudo. O toque estridente cortou o silêncio suave do quarto iluminado apenas pela lua que entrava pela varanda aberta. Fiorella, meio assustada, levantou-se rapidamente para evitar que o barulho despertasse Melissa. Sem olhar quem chamava, deslizou o dedo na tela e atendeu com a voz carregada de sono:
— Alô?
— Fiorella… sou eu, a Mônica. Me desculpa ligar a essa hora, mas eu preciso falar com a Melissa… é urgente! — a voz da cunhada vinha trêmula, quase em pranto.
Fiorella se endireitou na cama, sentindo o coração disparar.
— Mônica? O que aconteceu? Você está chorando?
— É sobre o papai, preciso falar com a Mel… — a voz falhou do outro lado, tomada pela angústia. — Ele foi assaltado… na avenida central, perto do consultório. Foi brutal, Fiorella. Levaram tudo… e ele está no hospital, em estado grave.
O chão pareceu sumir sob os pés de Fiorella. Ela fechou os olhos por um instante, tentando absorver a notícia.
— Meu Deus… como assim? Quando foi isso?
— Algumas horas atrás… levaram ele para a emergência. Eu não queria contar assim, mas não podia esperar até amanhã. Eu não sabia o que fazer, achei melhor ligar para vocês.
Fiorella apertou o celular contra a orelha, como se pudesse arrancar dali uma resposta menos dolorosa.
— Certo… obrigada por me ligar, Mônica. Eu vou contar para a Melissa…, mas, por favor, me mantenha informada a cada minuto, está bem?
— Claro… eu aviso de tudo. Por favor Fiorella, dá muita força para a minha irmã. — E a ligação caiu em um suspiro sufocado.
Fiorella permaneceu imóvel por alguns segundos, encarando o vazio, o coração acelerado. O quarto parecia mais frio, a brisa da praia já não soava aconchegante, mas cortante.
Melissa, sonolenta, despertou com a ausência da esposa ao seu lado. Encontrou-a sentada na beira da cama, pálida, segurando o celular entre as mãos trêmulas. Aproximou-se devagar, encostando o rosto no ombro dela e deixando um beijo suave.
— Amor… o que houve? Você está branca como um fantasma. — A preocupação se estampava no olhar da cantora.
Fiorella respirou fundo, lutando para manter a firmeza, mas a voz saiu embargada:
— Precisamos conversar, Mel.
Melissa se sentou ao lado dela, agora completamente desperta, o corpo estremecendo diante da gravidade no tom da esposa.
— Está me assustando… por favor, fala. O que aconteceu? Você está bem?
Fiorella virou-se para ela, segurando sua mão com força. Os olhos estavam marejados.
— Promete que vai tentar ficar calma?
Melissa engoliu em seco, já sentindo as lágrimas querendo se formar.
— Eu prometo… só me diz.
O silêncio pesou por alguns segundos, até que Fiorella, enfim, deixou escapar a verdade:
— Foi seu pai… Mel… ele sofreu um assalto. Foi brutal, em plena avenida movimentada. Levaram tudo, e ele está no hospital… em estado grave.
Melissa levou a mão à boca, como se tentasse impedir um grito de dor. Seus olhos se encheram de lágrimas imediatas, a respiração ficou entrecortada.
— Não… meu Deus, não… — murmurou, em choque.
Fiorella a envolveu em seus braços, sentindo o tremor percorrer o corpo da esposa.
— Eu estou aqui, amor… vamos passar por isso juntas.
O som das ondas, antes tranquilizador, agora parecia zombar da dor que invadia aquele quarto. A lua brilhava lá fora, indiferente ao caos que se instalava dentro delas.
— Precisamos voltar agora, Fiorella… agora… me leva pra casa, por favor… — implorou Melissa, a voz embargada, engolida por soluços que mal lhe permitiam respirar.
O olhar dela, desesperado, atravessou Fiorella como uma lâmina. O peito da ruiva se apertou, e antes mesmo de pensar, ajoelhou-se diante da cadeira de rodas, envolvendo Melissa num abraço apertado. O perfume suave da morena misturado ao sal das lágrimas impregnou-se na pele de Fiorella, como uma marca impossível de apagar.
— Shhh… calma, meu amor. — Fiorella sussurrou contra os cabelos dela, afagando-os com carinho. — Nós vamos voltar, eu prometo. Você não vai passar por isso sozinha.
O ambiente ao redor parecia indiferente à dor delas. O saguão do aeroporto era um turbilhão de sons: anúncios apressados ecoando pelos alto-falantes, malas sendo arrastadas, vozes misturadas em diferentes línguas. No entanto, para Melissa, tudo parecia distante, abafado, como se estivesse presa dentro de um vidro. Só havia espaço para a angústia que a corroía.
Fiorella empurrava a cadeira com firmeza, desviando habilmente entre passageiros distraídos. Cada passo apressado ressoava como um lembrete cruel da urgência que carregavam.
— E se… — Melissa tentou falar, mas sua garganta fechou-se, forçando-a a parar antes da entrada no embarque. Os olhos marejados buscaram os de Fiorella. — E se eu não chegar a tempo? Se eu não o vir mais?
Fiorella soltou a cadeira por um instante e segurou o rosto da amada com as duas mãos, obrigando-a a encarar seus olhos, firmes apesar do brilho úmido que ameaçava transbordar.
— Não pensa assim. — Sua voz saiu baixa, mas carregada de certeza. — Seu pai sabe a filha forte que tem. Ele vai esperar por você. E, se o destino for cruel… você terá estado ao lado dele até o fim. Eu estarei contigo em cada segundo, Melissa. Aconteça o que acontecer.
Melissa fechou os olhos, respirando fundo. As palavras de Fiorella não apagavam o medo, mas lhe davam algo mais poderoso: um fio de esperança, uma âncora no meio da tempestade.
Quando finalmente se acomodaram dentro do avião, o silêncio caiu como um cobertor pesado. Melissa mantinha os olhos fixos no vidro da janela. Não via as luzes da pista nem a movimentação lá fora, apenas o reflexo trêmulo de si mesma — a imagem da fragilidade que tentava esconder.
Fiorella, ao lado, entrelaçou os dedos nos dela. Um gesto simples, mas carregado de promessas silenciosas.
— Sabe o que eu mais admiro em você? — perguntou Fiorella num sussurro, tentando suavizar o peso da atmosfera.
Melissa virou o rosto devagar, seus olhos ainda vermelhos. — O quê?
— A forma como você ama. — Fiorella sorriu de leve, com ternura. — É inteira, sem reservas. Você carrega uma força tão bonita dentro de si… mesmo quando não consegue enxergá-la.
As lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto de Melissa, mas dessa vez não eram sufocantes. Vinham como um alívio, como se abrir espaço para sentir fosse finalmente permitido.
— Tenho tanto medo de perder minha família, Fiorella. — A voz dela saiu trêmula. — Se eu perder minhas raízes… é como se perdesse a mim mesma.
Fiorella aproximou-se ainda mais, apoiando a cabeça no ombro dela.
— Você nunca vai se perder enquanto eu estiver aqui. — A declaração foi firme, quase um voto solene. — Eu vou te ajudar a segurar o mundo, mesmo quando ele insistir em desmoronar.
Melissa encostou o rosto nos cabelos de Fiorella e inspirou fundo, como se o simples cheiro da ruiva fosse a lembrança de que ainda havia ar para respirar.
Quando o avião decolou, deixando a cidade estrangeira para trás, duas almas permaneciam unidas não apenas pelo amor, mas agora pela dor compartilhada — e pela promessa de resistirem juntas ao que quer que as aguardasse no Brasil.
Assim que Fiorella e Melissa desembarcaram no aeroporto de Guarulhos, a empresária não perdeu tempo: dirigiu-se à locadora e, com a praticidade que lhe era típica, providenciou o carro que as levaria diretamente ao hospital. O trajeto foi silencioso, interrompido apenas pelo som discreto do rádio e pelo barulho ritmado da chuva fina que escorria no vidro. Melissa mantinha o olhar fixo na janela, como se buscasse respostas no movimento frenético da cidade que passava diante de seus olhos. O coração dela batia acelerado, como se cada segundo fosse um peso difícil de carregar.
Quando chegaram ao hospital, o clima já se fez sentir no ar: o cheiro forte de desinfetante, o burburinho contido das conversas baixas nos corredores e aquele silêncio pesado, quase sufocante, que só existe em lugares onde a vida e a morte parecem disputar espaço.
Na sala de espera, a mãe de Melissa e sua irmã Mônica estavam sentadas lado a lado. O rosto da mãe, mostrava o cansaço de noites mal dormidas e olhos marejados de tanto chorar. Mônica, por sua vez, tentava manter uma postura firme, mas a rigidez dos ombros e a forma como apertava as mãos denunciavam o nervosismo que sentia.
Assim que avistou a família, Melissa, com as rodas rápidas da cadeira, avançou em direção a elas. Sem pensar duas vezes, abriu os braços e abraçou a mãe com força, quase como uma criança que busca abrigo.
— Mãe... — a voz de Melissa saiu embargada, carregada de dor e medo. — Como ele está?
Senhora Dellaye apertou o rosto da filha contra o peito, tentando encontrar forças para não desmoronar.
— Está em estado grave, minha filha... os médicos estão fazendo o possível, mas... — ela respirou fundo, lutando contra o nó na garganta. — É tudo tão incerto.
Melissa fechou os olhos, sentindo a angústia apertar o peito.
— Ele vai resistir, mãe... ele tem que resistir.
Mônica se aproximou e colocou a mão no ombro da irmã, tentando transmitir um pouco de segurança.
— A gente precisa acreditar, Mel. Papai é forte. Você sabe disso. Ele sempre foi. — disse com firmeza, embora a voz tremesse em alguns pontos.
Melissa segurou a mão da irmã e a apertou, como se buscasse apoio naquela união silenciosa.
Fiorella, que havia se mantido um pouco atrás para dar espaço à esposa e sua família, finalmente se aproximou. Ela inclinou-se para cumprimentar a sogra com delicadeza, dando-lhe um abraço breve, mas sincero, e em seguida estendeu a mão para Mônica, olhando-as nos olhos.
— Minha sogra, Mônica... sei que o momento é difícil, mas quero que saibam que estamos juntas nisso. Ele vai sair dessa. Precisamos acreditar.
A sogra assentiu levemente, com um sorriso frágil que mal conseguia disfarçar a dor, mas agradeceu o gesto.
— Obrigada, Fiorella... é reconfortante ter você aqui com a Melissa.
Fiorella passou a mão suavemente pelas costas da esposa, em um gesto de carinho e proteção, e completou:
— Vamos enfrentar isso juntos. Ele não está sozinho, e vocês também não estão.
O silêncio voltou a reinar na sala por alguns instantes, quebrado apenas pelo som distante das máquinas e vozes nos corredores. Mas, naquele abraço coletivo, havia uma chama de esperança que, mesmo vacilante, ainda resistia.
O corredor do hospital parecia interminável naquela tarde, silencioso, exceto pelo zumbido constante das máquinas e o passo apressado dos enfermeiros ao fundo. Yara Alencar, médica responsável, aproximou-se da família Dellaye com expressão séria, mas tentando transmitir calma.
— Boa tarde… sei que é um momento difícil — começou Yara, a voz firme, porém suave. — O paciente está estável por enquanto, mas a situação é grave. Ele permanecerá na UTI, sob monitoramento constante. Precisamos ser realistas quanto ao seu estado.
A esposa de Ricardo, engoliu em seco e sentiu as lágrimas brotarem antes mesmo de conseguir contê-las. Mônica agarrou a mãe, que tremia, tentando em vão conter o pranto. Ao lado, Fiorella envolveu Melissa num abraço protetor. Melissa, imóvel em sua cadeira de rodas, sentia o corpo tremer, os olhos marejados refletindo o medo e a impotência.
— Posso vê-lo? — murmurou Melissa, a voz quase sumindo. — Só um instante, por favor… doutora.
Yara balançou a cabeça, firme, mas com um olhar cheio de compreensão.
— Não é possível entrar na UTI, Melissa. Mas você pode vê-lo através da janela de vidro. Vai conseguir enxergar claramente, e eu estarei aqui se precisar de qualquer coisa.
Melissa respirou fundo, tentando conter o nó na garganta, e se dirigiu à janela com a cadeira de rodas. Parou diante do vidro, os olhos fixos no pai. Ricardo, sempre imponente, parecia frágil agora, cercado por fios e aparelhos que regulavam sua respiração. O coração de Melissa apertou como se fosse esmagado, cada bip das máquinas reverberando em sua própria alma.
Fiorella se aproximou, segurou a mão dela com delicadeza e envolveu-a num abraço protetor.
— Estamos juntas — disse Fiorella, a voz embargada, mas carregada de amor. — Não importa o que aconteça, eu estou aqui pra você.
Melissa fechou os olhos por um instante, absorvendo o calor da mão de Fiorella e a intensidade da situação. Cada segundo parecia se arrastar, e o silêncio do hospital só aumentava a sensação de desamparo.
As horas passaram lentas, marcadas pelos sons mecânicos e pelo ritmo dos próprios pensamentos de Melissa, cada um mais pesado que o outro. Ela mal piscava, incapaz de desviar o olhar do pai, temendo que qualquer momento de distração pudesse custar caro.
Foi a mãe de Melissa quem finalmente percebeu o estado de exaustão da filha e, com delicadeza, pediu que Fiorella a levasse para casa. Após alguma resistência, Melissa concordou, ainda sentindo o peso da culpa por deixar Ricardo sozinho.
Ao chegarem à casa da família Milstein, foram recebidas por Eduardo, pai de Fiorella, que tentou transmitir algum conforto com seu sorriso preocupado e palavras tímidas. Subiram para o quarto, buscando descansar, mas o silêncio entre elas ainda estava carregado de tensão. Fiorella adormeceu rapidamente, exausta, mas Melissa permaneceu acordada, deitada na cama, olhando para o teto e perdida em pensamentos. Cada batida do coração lembrava-lhe da fragilidade do pai, da força necessária para enfrentar tudo e da promessa silenciosa que fazia a si mesma: permanecer forte, por ele… pela mãe… por Fiorella.
Na madrugada silenciosa, o hospital parecia ainda mais frio e sufocante. As luzes do corredor lançavam sombras compridas, e o som distante de monitores e respiradores preenchia o ar com uma cadência quase cruel. Yara finalmente se aproximou de Helena, Mônica e Carol, que esperavam ansiosas na sala de espera. Carol havia chegado horas antes, pronta para acompanhar a namorada e a sogra, mas o semblante sério e tenso da médica indicava que nada poderia preparar aquelas mulheres para o que estava por vir.
O corpo médico havia feito tudo o que podia, mas Ricardo não resistira. A parada cardíaca ocorrera momentos antes, e a tentativa de reanimação, intensa e desesperada, falhara. Yara respirou fundo antes de falar, tentando manter a compostura, embora o peso da notícia apertasse seu peito.
— Senhoras... — Começou Yara, a voz firme, mas carregada de pesar — lamento muito… fizemos tudo o que podíamos, mas o paciente não resistiu.
O silêncio tomou conta da sala. Era um silêncio pesado, quase palpável, como se o ar tivesse sido sugado do ambiente. As três mulheres se entreolharam, incrédulas. Um tremor percorreu o corpo de Carol, enquanto Mônica mal conseguia conter o choro. Helena levou a mão à boca, tentando processar, enquanto lágrimas escorriam silenciosamente pelo seu rosto.
— Não… não pode ser… — murmurou Carol, quase sem fôlego, enquanto suas mãos tremiam — Meu Deus.
Yara deu um passo à frente, inclinando-se levemente, com o olhar firme, tentando oferecer algum consolo:
— Eu sei que parece impossível agora… mas… a gente tentou tudo. Ele lutou muito, mas o ferimento foi grave demais… — disse, a voz embargada, mas controlada.
Mônica desabou em choro, apoiando-se no ombro da mãe, que não sabia se chorava ou apenas permanecia paralisada, tomada por uma sensação de vazio absoluto. Carol sentou-se, encostando a testa nas mãos, como se tentar se apoiar fosse a única forma de não desmoronar completamente na frente de Mônica.
Yara, ainda no hospital, afastou-se lentamente, permitindo que a dor das mulheres ocupasse o espaço da sala. Ela mesma sentia o peso da tragédia, mas precisava manter a compostura, observando cada gesto, cada lágrima que caía silenciosa. O relógio marcava horas cruéis, e naquela madrugada, a vida de todos mudava para sempre.
Enquanto isso, na casa da família Milstein, Melissa acordou de um cochilo súbito, assustada com um pesadelo que parecia se misturar com a realidade. A jovem, ainda sobre a cadeira de rodas, respirava rápido e descompassadamente, enquanto Fiorella a observava preocupada. A ansiedade já a dominava desde a notícia de que Ricardo estava internado, e o telefone que tocou em seguida trouxe o golpe final.
Carol, com a voz embargada, discou o número de Fiorella, sabendo que seria a pior ligação de sua vida.
— Fiorella… amiga — começou, a voz quase falhando — eu… eu sinto muito. Fizeram o que podiam… mas ele… ele não resistiu. Acabaram de nós avisar.
Fiorella e Melissa ouviam tudo, pois a empresária tinha colocado a ligação no viva voz.
Do outro lado da linha, Melissa ficou imóvel, incapaz de absorver completamente as palavras. Um nó apertou sua garganta, e as lágrimas começaram a escorrer sem que ela pudesse contê-las.
— Não… não… — repetiu, tremendo — Isso não pode estar acontecendo…
Fiorella segurou a mão da esposa, tentando transmitir algum apoio, mas sabia que naquele instante, nenhuma palavra poderia suavizar a dor que se abatera sobre todas elas. Melissa chorava desolada e Fiorella tentava amparar a esposa.
A notícia da morte do pai caiu sobre Melissa como uma avalanche. O coração dela parecia ter sido arrancado do peito, deixando um vazio profundo que a sufocava. Ela agarrou Fiorella com força, apoiando a cabeça no ombro da esposa, enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto.
— Não consigo acreditar… — sussurrou Melissa, com a voz embargada, tremendo de dor. — Ele… ele se foi… — cada palavra parecia arrancada com dificuldade de dentro da garganta.
Fiorella acariciava lentamente os cabelos de Melissa, tentando transmitir algum conforto, embora o próprio coração estivesse apertado.
— Eu sei, amor… eu sei… — respondeu ela, firme, mas com os olhos marejados. — Ele era tudo para você. Eu sei como dói.
Melissa olhou em volta, vendo os rostos familiares, todos marcados pela tristeza. A mansão Milstein estava mergulhada em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo choro contido de Melissa.
— Ele sempre foi tão forte… — murmurou Melissa, quase para si mesma. — Como ele pôde nos deixar assim?
— Melissa… você precisa respirar. Estamos aqui com você — disse Fiorella, tentando acalmar a amada. — Não está sozinha.
Melissa fechou os olhos por um instante, tentando processar a dor que lhe consumia. A cadeira de rodas parecia mais pesada do que nunca, como se refletisse o peso da perda que carregava.
— Eu queria ter dito… tantas coisas… — confessou, a voz embargada. — E agora… não dá mais.
Fiorella apertou sua mão com força.
— Ele sabia que você o amava, Melissa. Sempre soube. — Um silêncio se instalou, pesado, mas confortável ao mesmo tempo, pois havia a presença do amor que compartilhavam. — E nós vamos passar por isso juntos.
Melissa apoiou a cabeça no ombro de Fiorella novamente, permitindo-se chorar livremente. Lá fora, a noite avançava, e a mansão parecia ainda mais fria e silenciosa, refletindo a tristeza que se espalhava pela família Dellaye. Mas, entre lágrimas e sussurros de dor, havia também o conforto silencioso de quem não enfrentaria aquela tempestade sozinha.
— Promete que vai ficar ao meu lado? — perguntou Melissa, quase sussurrando, sem coragem de olhar para Fiorella.
— Sempre. Até o fim. — respondeu Fiorella, beijando suavemente a cabeça de Melissa. — Sempre.
Nos dias que se seguiram, a casa da família Dellaye ficou repleta de amigos e parentes que chegavam, silenciosos e com olhares pesados, oferecendo suas condolências. O ar parecia carregado, como se o próprio tempo tivesse ficado mais lento, pesado de tristeza. Melissa se movia como em um nevoeiro, os olhos marejados e a respiração irregular, incapaz de aceitar que Ricardo não estava mais ali. Fiorella não a deixava sozinha: segurava suas mãos trêmulas, enxugava suas lágrimas e sussurrava palavras de conforto nas noites em que o choro a sufocava, ajudando-a a atravessar os dias mais difíceis.
No dia do funeral, o jardim da família estava tomado por flores brancas, o sol tímido mal atravessava as nuvens pesadas. Melissa, na cadeira de rodas, segurava a mão de Fiorella com força, buscando apoio para se manter firme diante da dor. Quando chegou sua vez de falar, sua voz falhou, mas ela respirou fundo e prosseguiu, as lágrimas caindo silenciosas.
— Meu pai… — começou, a voz trêmula — foi meu maior exemplo de amor, de integridade, de coragem. Ele sempre me ensinou a ser eu mesma, e eu vou honrar sua memória todos os dias da minha vida.
Ao seu lado, Mônica segurava a mão de Carol, que a abraçava com carinho, transmitindo força silenciosa. Mônica respirou fundo, olhando para o caixão com olhos brilhantes de lágrimas:
— Ricardo… você sempre foi o meu porto seguro. Aprendi tanto com você… sobre honestidade, sobre amor. Vou sentir sua falta todos os dias, mas prometo levar seus ensinamentos comigo.
Sandra, a esposa de Ricardo, aproximou-se do caixão, a voz embargada, mas firme. Seu olhar se perdeu por um instante no jardim, lembrando os momentos felizes:
— Meu amor… minha vida mudou desde que você entrou nela. E mesmo agora, sem você, sinto que o seu amor continuará aqui, em cada canto da nossa casa, em cada lembrança que guardamos. Eu te amei mais do que posso colocar em palavras, e vou continuar te amando, sempre.
Foi então a vez de Fiorella, com o corpo inclinado para frente, mãos trêmulas, mas o coração transbordando emoção. Ela se aproximou do caixão, inclinou-se, tocou a madeira com carinho e falou quase em sussurro, olhando para o céu como se Ricardo pudesse ouvi-la:
— Ricardo… obrigado por me permitir fazer parte da sua família, por confiar a felicidade da Melissa aos meus cuidados. Você sempre será lembrado como um homem de coragem e de coração imenso. Vou sentir sua falta todos os dias, mas prometo honrar o amor que você deixou em nossas vidas. Descanse em paz.
O silêncio tomou conta do lugar. O som de folhas e flores se misturava com os soluços contidos de todos ao redor. A despedida foi dolorosa, mas Melissa sentiu algo no fundo: de alguma forma, ela precisava continuar. Fiorella apertou sua mão, transmitindo firmeza e esperança, e juntas, compartilharam um olhar que dizia mais do que qualquer palavra: prometiam se reerguer, mesmo que o futuro parecesse impossível de enfrentar.
Nos meses que se seguiram ao acidente, Melissa tentava, aos poucos, encontrar algum equilíbrio. A dor da perda ainda era intensa, uma ferida que parecia latejar a cada lembrança de Ricardo, mas a presença constante de Fiorella funcionava como um bálsamo silencioso. Elas passavam horas juntas na varanda do apartamento, o vento suave balançando cortinas brancas e trazendo o cheiro da primavera que se insinuava pela cidade.
— Sabe, Fi… — Melissa começou, a voz embargada, enquanto acariciava a ponta da cadeira de rodas com a mão livre. — Às vezes eu ainda sinto como se ele fosse voltar. Como se tudo tivesse sido um pesadelo.
Fiorella se aproximou, segurando as mãos de Melissa entre as suas, com firmeza e ternura.
— Eu sei, Mel. Eu sei que dói… — respondeu, com a voz baixa, carregada de emoção. — Mas olha pra mim. Você não está sozinha. Eu estou aqui. E vou estar em cada passo dessa caminhada com você.
Melissa desviou o olhar, tentando conter as lágrimas, mas Fiorella gentilmente inclinou o rosto e sussurrou:
— Chore se precisar. Eu não me importo de te ver frágil.
Por um instante, o mundo pareceu parar. O canto dos pássaros lá fora, o leve ranger da cadeira de rodas quando Melissa se ajustava, tudo se misturava à respiração compartilhada entre as duas. E então, com um sorriso tímido, Melissa respondeu:
— Obrigada… por não me deixar sucumbir sozinha.
— Sempre. — disse Fiorella, encostando a testa na de Melissa. — Sempre vou te lembrar que o amor, mesmo nas horas mais difíceis, é o que nos mantém de pé.
Nos dias seguintes, pequenas alegrias começaram a retornar à vida de Melissa: o riso fácil de Fiorella quando contava alguma história engraçada, os cafés na varanda, os filmes assistidos de mãos dadas. Cada gesto era um tijolo na reconstrução do coração ferido, mostrando que, mesmo após a dor mais profunda, havia espaço para o amor verdadeiro florescer.
E assim, enquanto a ferida do luto ainda cicatrizava, Melissa e Fiorella olhavam para o futuro juntas, certas de que enfrentariam cada dificuldade com paciência, carinho e a certeza de que, por mais tortuoso que fosse o caminho, sempre teriam uma à outra.
Fim do capítulo
Deixem suas opiniões a respeito do capítulo.
Até logo, beijos.
Comentar este capítulo:
jake
Em: 28/09/2025
Olá Nath nem parece que passou esse tempinho para ter de volta as nossas meninas ,vc continuou do mesmo assunto que parou.Fiquei feliz por sua volta e triste pela perda da família da Mel,mas Fio ajudará a Mel superar essa dor ....
Vamos lá acompanhar mais essa trajetória das nossas meninas.... Obrigada por ter voltado.....
HelOliveira
Em: 23/09/2025
Feliz por ter 2° parte essa linda história, nossa como esse primeiro capítulo foi difícil, a dor de perder alguém que tanto amamos é enorme, vamos acompanhar a dor dessa meninas..
Bem vinda de volta
Naahdrigues
Em: 24/09/2025
Autora da história
Realmente, perder alguém que amamos é uma dor imensa e cada palavra desse primeiro capítulo foi escrita com o coração apertado. Inclusive perdi minha cadela no sábado dia 20/09, ainda estou tentando me adaptar, por que tudo na minha casa lembra muito ela. ???? Entao...acredito que, ao acompanharmos a trajetória dessas meninas, vamos encontrar força, amor e recomeços junto com elas.
[Faça o login para poder comentar]
Lea
Em: 21/09/2025
Como fiquei feliz de ver essa notificação. Fiquei tão triste quando a parte um acabou, exatamente como começar essa parte 2. E agora essa tristeza para toda a família.
Bom,estou pronta para essa segunda jornada.
Muito bom tê-la aqui de novo,Naah!
Bom final de domingo!
Naahdrigues
Em: 24/09/2025
Autora da história
Ahh, que mensagem linda a sua! ???? Fico muito feliz em saber que você acompanhou a parte 1 com tanto carinho e que está pronta para embarcar comigo nessa nova fase. ???? Sei que mexe com a gente, principalmente por toda a carga emocional da família, mas prometo que essa segunda jornada também vai trazer muitas emoções e momentos especiais.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]