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RECOMEÇAR por EriOli

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Palavras: 3183
Acessos: 109   |  Postado em: 19/09/2025

Capitulo 3 — Primeiras Sementes

Capitulo 3 — Primeiras sementes

O sol que entrava pela fresta acariciou o rosto de Fernanda fazendo-a despertar. Olhou para o relógio sobre o criado mudo e obrigou-se a levantar. Deveria estar na Cooperativa em poucas horas — um banho e um pouco de fôlego teriam que bastar.

O cheiro de café recém-coado invadiu seus sentidos assim que deixou o quarto. “Dona Lourdes levantou com as galinhas, como sempre” pensou Fernanda.

— Bom dia, mãe. Sua benção! — tentou soar mais animada do que realmente estava.

Dona Lourdes apressou-se em colocar uma caneca com café em suas mãos antes de finalmente responder.

— Bom dia, Nanda. Deus te abençoe. Tá ansiosa?

— Como não estar, né?! Mas viemos aqui pra isso. A senhora vai comigo?

— Acho melhor ficar e fazer seu almoço, não quero que você fique sem comer, não quero  você novamente com...

— Ok, mãe, já entendi, — cortou Fernanda, com um aperto no peito com a mera lembrança de seus dias sombrios — não precisamos voltar a esse assunto.

Dona Lourdes apenas suspirou olhando-a consternada. Odiava quando a mãe a olhava daquela maneira. Como se ela fosse feita de vidro, mas sabia que ela não conseguia evitar. Então apenas beijou-lhe a face e obrigou-se a não transparecer seu descontentamento. Não queria que a mãe se sentisse culpada.

— Dependendo de como for a reunião, não sei que horas volto. Mas venho almoçar, não se preocupe.

O relógio marcava quase 9h20 quando Fernanda estacionou próximo à sede da cooperativa. As cercas de ferro gastas rangiam ao soprar do vento, dando ao lugar um ar de abandono. Respirou fundo antes de descer da caminhonete.

Optou por uma roupa simples: jeans, camisa xadrez e botas. Os cabelos loiros, mais compridos do que costumava usar, estavam presos sob o boné — seu velho companheiro de campo. Jogou a bolsa transversal sobre os ombros e caminhou até a entrada.

— Ora se não é minha fiel escudeira, achei que viria só as 10h. Bom dia, Fernanda.

— Bom dia, Rafael. A reunião é às 10h, mas pensei em conhecer o espaço antes de nossa conversa. Conseguiu o projetor?

— Consegui sim. Tudo certo pra palestra. E pelo visto, já veio preparada pra pisar na terra — disse, apontando para as botas com um sorriso.

Entraram primeiro no galpão onde funcionaria o  escritório — uma sala pequena separada por uma porta de ferro enferrujada e uma vidraça com persianas gastas. Ao lado, um salão improvisado serviria como auditório para a reunião com os cooperados. Depois de instalarem o notebook e o projetor, saíram para os fundos da propriedade.

Aquela manhã em especial, tinha cheiro de decisão, suor e expectativa. Um vento refrescante saudou seu rosto assim que dera seus primeiros passos observando as estruturas que se erguiam sobre suas cabeças. Ainda havia muito entulho a ser retirado, antes da instalação das sombrites.

Observou todo o terreno, inspirou profundamente. A brisa suave trouxe o aroma terroso e úmido do solo molhado, misturado ao cheiro de madeira velha — quase um toque ozônico, pensou. A chuva da noite anterior deixara pequenas poças que agora se transformavam em lama sob seus pés. A terra grudava nas botas como lembrança viva da fertilidade. E, estranhamente, aquilo a reconfortava. Seu amor pela possibilidade de trazer vida a paisagem através do plantio. Aquilo sim, era algo com o qual sabia lidar.

— Se tudo correr bem com a reunião, podemos recomeçar a limpeza ainda hoje. Precisamos liberar aquela área pra montar a parte elétrica e hidráulica. — Fernanda comentou, apontando a sua direita, enquanto retornavam ao galpão.

— Pensei o mesmo — respondeu Rafael. — E acho que vamos precisar alongar aquela estrutura ali — disse, indicando a torre com a caixa d’água. — Seria estratégico pra comportar as duas caixas maiores que vão distribuir pros reservatórios.

— Sim, bem pensado. O que me preocupa é a construção da área nova. Daqui a um mês e meio, ela precisa estar pronta.

Quando voltaram ao galpão, os primeiros cooperados já estavam chegando. Alguns olhavam Fernanda com desconfiança, mas Rafael fazia questão de apresentá-la com entusiasmo. As cadeiras de plástico estavam dispostas em círculo. Os ventiladores antigos giravam com esforço, mas cumpriam seu papel.

Em poucos minutos todos que participariam da reunião já estavam presentes.

O cheiro de café forte que alguém se servira pairava no ar. Fernanda foi até o escritório, pegou sua bolsa e retornou ao lado de Rafael. Tirou algumas pastas e pediu que fossem distribuídas aos cooperados. Respirou fundo enquanto ligava o equipamento, tentando manter o semblante firme.

 Olhos atentos a acompanhavam em cada movimento com a mesma curiosidade com que acompanhariam um fenômeno desconhecido. Abriu a apresentação de slides e sinalizou para Rafael iniciar.

— Bom dia a todos — disse Rafael, com voz clara. — Estou muito feliz e animado por finalmente darmos início a esse projeto que vai mudar e melhorar a vida das famílias da nossa comunidade. Para mim é um sonho se realizando e prometo empregar todo meu esforço para que alcancemos sucesso nessa jornada e eu quero também, contar com o esforço de cada um aqui presente, pois juntos somos mais fortes. Como sabem, hoje temos conosco a engenheira agrônoma Fernanda Alencar. Ela veio somar ao nosso projeto com uma proposta de agricultura vertical e manejo sustentável. Vou deixar que ela mesma explique.

Fernanda prendeu o ar por um momento ao ser apresentada por Rafael, as mãos suavam ligeiramente e o calor parecia se acumular a nuca. Soltou o ar e olhando nos olhos de cada pessoa ali presente, começou a falar.

— Bom dia. Sei que sou nova aqui, e que ideias novas costumam causar estranhamento. Mas vim pra ouvir e construir junto. A proposta que trago é baseada em hidroponia — um sistema de cultivo sem solo, com irrigação contínua e aproveitamento máximo de nutrientes.

Um pigarro interrompeu sua fala, seguido de um silêncio questionador e desconfiado.

— Sem terra? E depois querem que a gente chame isso de plantio? — Seu Ademar, um senhor de idade avançada e mãos calejadas, foi o primeiro a externar sua dúvida. Os fios brancos sob o característico chapéu de palha evidenciavam que o velho homem carregava uma longa história com o campo.

Fernanda lhe sorriu antes de responder com calma e cuidado.

—  É terra de outro jeito — gesticulou na direção do homem que continuava com as feições duras. — Na verdade, é a água que carrega a vida. E nesse sistema, acompanhará um controle que evita desperdício — continuou de forma gentil. Bom, se todos puderem me doar apenas alguns poucos minutos de atenção, vou tentar me explicar melhor. — Apontou para a apresentação na tela improvisada e olhou em todos os rostos ali presente sem pestanejar.

— No flayer que foi entregue a cada um, vocês poderão acompanhar o que vou falar agora. Bom, pra iniciar essa conversa, é necessário que compreendamos o porque de nós escolhermos esses tipo de plantio e as culturas que iremos cultivar.

Fernanda mudou o slide antes de continuar.

— O crescente consumo de hortaliças diferenciadas no Brasil, vem se destacando por três grandes motivos: o aumento da renda familiar, a busca por alimentações mais saudáveis e pelas mudanças nos hábitos alimentares,  o que inclui a procura por produtos de melhor qualidade e que sejam diferenciados. — Ela sorriu animada ao ver as primeiras expressões de interesse surgirem aos poucos nos rostos marcados pelo sol. O timing perfeito, pensou, aproveitou que finalmente conseguira captar as atenções de forma fidedigna e passou a enumerar as vantagens do plantio hidropônico vertical.

— E é nesse cenário que nossa Cooperativa irá firmar seus esforços, no plantio de hortaliças folhosas hidropônicas. Ou seja, nesse sistema de cultivo, a produção de folhosas em sua maioria se concentrou, ao longo do tempo, na alface, rúcula e no agrião. Essas culturas têm se tornado um segmento em expansão, ganhando  cada vez mais espaço. Algumas das vantagens que temos com esse tipo de cultivo são: maior durabilidade e produtos mais  limpos que os produzidos em campo. Exatamente pela ausência do contato direto com o solo, água das chuvas e irrigações; Além disso podem ser comercializados em embalagens individualizadas, muitas vezes com marcas próprias e com rastreabilidade; e atendem à demanda por produtos especializados. Atualmente, a alface ainda domina esse segmento no país; entretanto, outras folhosas estão sendo cultivadas com elevado potencial de crescimento — olhou em cada rosto tentando transmitir segurança. — Eu entendo que há muitos termos técnicos que podem não  ser compreendidos de primeira, mas garanto que teremos tempo de entender cada um deles.

Fernanda pausou sua fala, tanto para respirar quanto para que as pessoas ali, tentassem absorver o que ela havia dito. Mudava o slide para mostrar um gráfico sobre os custos esperados, pois seria a próxima pauta, quando Jéssica, uma jovem produtora de hortaliças, levantou-se pigarreando e curiosa perguntou:  

— E dá pra plantar o quê? Só folha ou tem como fazer tomate, pimentão?

Fernanda, animou-se em seu íntimo com a pergunta feita. Resolveu avançar alguns slides e mostrar algumas fotos.

— Na verdade, se observarem comigo algumas fotos que trouxe como exemplo, verão que no mercado, podem ser encontrados diversos tipos produtos. Ou seja, dá pra fazer muito mais do que parece — disse Fernanda, sorrindo. — Inclusive frutas. Com o sistema certo, até raízes podem ser adaptadas. Então, sim, dá pra plantar o que quisermos, tomate, pimentão...

Um zumbido de uma mosca voando ecoou assim que Fernanda explicou, um zumbido que foi acompanhado pelo burburinho de conversas entre os cooperado, no entanto, o burburinho foi cortado pelo bufar nada satisfeito e muito menos suave vindo de seu Ademar.

— Isso aí é coisa de cidade. Aqui a gente planta com o pé na terra.

Fernanda soube naquele momento que esse embate seria crucial para adquirir a confiança do restante dos cooperados, pelo que Rafael havia comentado no bar, ela já esperava por isso. Encheu o pulmão de ar antes de voltar a falar.

— E eu respeito isso, seu Ademar, respeito e admiro — disse Fernanda, firme. — Mas também sei que a terra está ficando seca. Com as recentes mudanças climáticas, os períodos de estiagem estão afetando o solo de forma cada vez mais agressiva. E a gente precisa pensar em como continuar plantando quando o chão já não responde mais.

Um novo murmúrio percorreu o grupo. Alguns cruzaram os braços. Outros se inclinaram para frente.

Rafael interveio:  

— A proposta é simples, começamos com um lote piloto. Um pequeno espaço, com acompanhamento técnico. Quem quiser participar, participa. Quem não quiser, observa. Aos poucos vamos aprendendo como fazer, até que saibamos andar com as próprias pernas.

João, um dos mais quietos, levantou a mão.  

— Se ela tiver coragem de meter a mão na água e na terra com a gente, eu topo.

Fernanda assentiu.

— Eu não vim pra mandar. Vim somar, trabalhar e pra aprender junto.

Fernanda resolveu continuar suas explicações, voltou ao slide que mostrava as etapas do projeto piloto e um gráfico com os primeiros custos apara um plantio controlado como esse.

Dona Benedita, sentada ao lado de uma cesta de pimentões, franziu a testa:  

— E quanto custa esse controle? Porque aqui, o que não cabe no bolso, não entra no campo.

Fernanda voltou ao slide que mostrava um gráfico simples, com custos comparativos.  

— O investimento inicial é maior, sim. Mas o retorno vem em ciclos mais curtos. E com menos perdas por pragas e clima. Além disso, a primeira parte do recurso que conseguimos junto ao PRONAF já está a disposição, agora vamos trabalhar para conseguir a segunda parte do recurso que ainda precisamos.

Dona Benedita sorriu e olhou para ela com olhos mais suaves.

— Certo, se é pra trabalhar, eu também estou dentro, perdi minhas terras, mas não tenho medo do trabalho. E parece que temos muito a aprender, né filha?

— Sim, dona Benedita, temos muito a aprender e isso uns com os outros, é a melhor forma para o crescimento.

— Então, filha, começa aprendendo que aqui, quem planta, também reza. Porque sem fé, nem alface cresce.

Fernanda sorriu.  

— Fé eu tenho. E vontade também.

A reunião seguiu com mais perguntas, mais dúvidas, e uma promessa: o projeto piloto começaria na semana seguinte. Não havia unanimidade. Mas havia movimento.

E às vezes, isso já é o começo.

***

O cheiro de óleo hidráulico de uma velha máquina agrícola abandonada, misturado à terra molhada invadiu a narina de Isabela assim que entrou na propriedade da Cooperativa. Era um aroma antigo, familiar, quase reconfortante. E foi nele que a memória veio — não como imagem, mas como sensação.

Tinha doze anos quando entrou ali pela primeira vez com o pai. Ele ajustava os cabos com mãos calejadas e sujas, mas os olhos brilhavam com orgulho. Àquela altura aquele lugar funcionava como uma espécie de oficina para as máquinas da fazenda Mendes. O lugar ficou abandonado por anos depois que a Agritec crescera, então quando o pai de Rafael se aposentou, seu pai resolveu doar-lhe o lugar como pagamento pelos anos de trabalho e amizade.

Era impossível pisar ali e não ser invadida pelas lembranças e palavras do pai.

— Uma máquina precisa de comando firme — dissera ele, entregando a ela uma chave inglesa. — Senão, ela treme na hora da colheita.

Isabela segurara a ferramenta com força, tentando não demonstrar o peso. Era a primeira vez que ele a deixava participar, como se finalmente aceitasse que, apesar dos cabelos longos e dos cadernos rabiscados com frases de Simone de Beauvoir, Isabela sentia  que também podia ser livre e pertencer à terra.

Naquele dia, o pai não falou de lucros. Falou da chuva que vinha tarde, das sementes que davam trabalho, e da importância de saber o ponto certo do torque.  

— Terra e máquina são iguais: se você ouve direito, elas dizem onde estão quebrando.

Ela memorizou aquela frase, como quem grava um código secreto. Anos depois, em reuniões cheias de planilhas e investidores, era essa voz que surgia em sua cabeça, abafada pelo ruído dos números.

Um vento um pouco mais forte soprou fazendo o farfalhar das árvores aumentarem e derrubando o chapéu de sua cabeça, trazendo Isabela de volta ao presente. Abaixou-se e juntou o chapéu, as lembranças se dissiparam, mas o cheiro do lugar ainda a fazia sentir com doze anos. Ainda fazia sentir pertencente — mesmo quando o mundo dizia que não.

Ela se aproximou daquela velha máquina deteriorada pelo tempo, passou o dedo pelo metal enferrujado e fechou os olhos.  

— Eu escuto, pai. Estou tentando. Só não sei se me deixaram perto o suficiente pra consertar.

Sentiu uma brisa suave tocar-lhe o rosto e era como se sentisse o afago carinhoso das mãos rígidas do pai em sua face novamente. Depois de uns segundos abriu os olhos e suspirou. Caminhou até o galpão e subiu as escadas que ficavam na lateral. A escada de ferro que a levaria até em cima rangia a cada passo, mas ela não se importou. Utilizar aquelas escadas que pareciam precisar de manutenção urgente não era o mais recomendado, no entanto, ela lhe dava acesso a uma espécie de galeria no alto de onde ela poderia assistir a tal reunião sem ser notada.

As 11h horas a reunião finalmente foi concluída, e os cooperados foram se dispersando aos poucos. Já passava das 12h quando finalmente o último cooperado se retirou. Rafael havia combinado com alguns para retornarem as 14h e também foi-se para almoçar. Fernanda recusou seu convite para o acompanhar.

O galpão da cooperativa ainda guardava os ecos da reunião. Lá em cima, na galeria improvisada que corria ao longo da parede lateral, Isabela observava em silêncio. Queria ver sem ser vista. Queria entender o que exatamente fazia aquela engenheira loira atrair tanta atenção.

Isabela apoiou os cotovelos no parapeito enferrujado e inclinou-se levemente. O boné de Fernanda estava jogado sobre a mesa. Os cabelos loiros agora soltaram-se sem pedir permissão, e a luz os fazia parecer quase dourados. A camisa xadrez estava suja de terra na barra, e as botas tinham marcas de lama seca. Nada nela parecia sofisticado. Mas tudo nela era presença. E Isabela, sabia ou soube naquele instante, nem se quisesse poderia ignorá-la. Resolveu ir até ela.

A luz daquele inicio de tarde entrava pelas frestas do telhado, desenhando linhas douradas sobre o chão de cimento. A poeira dançava no ar, como se celebrasse o fim da reunião. Lá embaixo, Fernanda recolhia papéis, organizava pastas, desligava o projetor com gestos precisos. Estava concentrada, mas havia algo em sua postura — uma tensão leve nos ombros, um jeito de prender o cabelo com pressa — que revelava cansaço e orgulho ao mesmo tempo. Preparava-se para também ir almoçar quando se sentiu ser observada. Fernanda parou por um instante. Sentiu algo. Um arrepio leve na nuca, como se alguém a tocasse sem encostar. Levantou os olhos, instintivamente.

Quase esqueceu de respirar ao notar a figura imponente que lhe observava em silêncio. Na noite anterior, já havia percebido que Isabela era uma mulher e tanto. Mas tão perto assim, era ainda mais deslumbrante. Exalava poder e riqueza — principalmente vestida daquele jeito. Calça social branca, jaqueta marrom sobre uma camisa que mal cobria os seios.

“Jesus, como ela consegue andar por aí com aquela barriga de fora?”, pensou Fernanda, sem conseguir evitar que o olhar se prendesse àquele ponto de pele descoberta.

 Óculos escuros. E um maldito chapéu de fazendeira que combinava perfeitamente com a dona. O barulho dos saltos das botas marrons pareciam sincronizados às batidas do seu próprio coração. Fernanda assustou-se com essa constatação.

Protegida pelos óculos, Isabela observava a loira à sua frente. Mesmo vestida de forma simples, Fernanda jamais poderia esconder a enormidade de sua beleza. Isabela se satisfez mais do que imaginava com a avaliação descarada que a engenheira fizera de si.

 Notou o exato momento em que Fernanda corou, ao perceber que olhava diretamente para seu abdômen. Isabela saíra de casa dizendo que aquele look era para impor respeito — mas no fundo, sabia que queria ser vista por Fernanda, havia se arrumado para ela sem nem perceber. E parece que seu plano estava funcionando. Isso a deixou animada.

— Assisti parte da sua apresentação. Parece que não será tão fácil dobrar simples agricultores — disse Isabela, aproximando-se da mesa com um sorriso irônico nos lábios. Discreto, mas não o suficiente para escondê-lo de Fernanda. A provocação era clara, mas o coração chacoalhava como o de uma adolescente.

Com a pequena provocação misturada ao sorrisinho idiota nos lábios da fazendeira, Fernanda voltou à realidade.

— Ainda bem. Não estou aqui pra dobrá-los — o que não posso dizer de certos empresários oligarcas da região — respondeu, ríspida.

Isabela ignorou a alfinetada, retirou os óculos e sorriu ainda mais.

— Ao menos sabe onde está se metendo? — questionou erguendo uma das sobrancelhas, como se a desafiasse.

— Posso ainda não ter convencido a todos, mas plantei a primeira semente e é isso que importa.

Fim do capítulo


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