Capitulo 15 - A procura por um lar
Samanta
Acordo um pouco perdida, sem reconhecer o lugar que estou, somente minutos depois eu me dou conta que esse quarto pertence a casa de Pedro.
Eu não quis conversar sobre o assunto ontem a noite quando cheguei, e Pedro soube respeitar meu momento fazendo pipoca e me fazendo assistir um filme com ele, uma comédia romântica que ele adora, não é o estilo que gosto, ainda mais que falava sobre duas pessoas que não queriam ficar juntas e se permitem ficar sem compromisso e no final se apaixonam.
Se eu vi a minha situação com Clara representada nesse filme? Muito. Se me fez bem ver isso? Nenhum pouco, mas eu não queria ter que explicar para o meu amigo o porquê eu queria escolher outro.
Me levanto e vou até o banheiro para fazer minha higiene pessoal. Abro as gavetas do balcão do banheiro a procura de uma escova de dente, e para minha felicidade encontro uma.
Lavo o rosto três vezes, tentando me preparar para o dia de hoje. Irei visitar algumas casas e apartamentos que Zoe me encaminhou, a única parte boa é que minha irmã vai comigo.
Saio do quarto e logo ouço o barulho discreto de pratos que vem da cozinha e encontro Pedro terminando de arrumar a mesa com um belo café da manhã.
— Bom dia, bela adormecida — Ele sorri quando me vê entrando no local — Achei que iria ter que te acordar.
Procuro o relógio que sei que fica em alguma das paredes da cozinha, até que encontro e vejo que já são 10:00hrs da manhã.
— Uau, dormi demais.
— Mas é sábado — Ele dá de ombros — Não tem problema em dormir até mais tarde.
— Mas hoje eu preciso ir para casa cedo, depois do almoço vou ir visitar as casas com a Liz.
— Não antes de sentar e tomar um café comigo.
Ele se senta em uma cadeira e faz sinal para que eu me sente de frente para ele. Me sirvo com café quentinho e com pão e ovos mexidos. Pedro é um ótimo cozinheiro, e sempre preparou os melhores cafés da manhã que alguém poderia ter.
— Pode começar a falar o que te deixou tão mal ontem a noite — Ele toca no assunto.
— Minha vida tá de ponta cabeça, e ainda para ajudar Sophie apareceu ontem na minha casa — Reviro os olhos lembrando da cena.
— O quê? — Sua voz ecoa como um berro pela cozinha — O que aquela víbora está fazendo aqui?
— Não entendi direito, parece que está gravando um filme aqui na cidade.
— Você tá de brincadeira — Mostra seu espanto — E qual o filme? Cascavel? Que ela interpreta a própria cobra? Porque é o papel que mais combinaria com ela.
— Seria o papel perfeito mesmo — Concordo com ele sem conter o sorriso.
— Mas por que isso te afetou tanto? É só não dar moral para ela, que logo ela volta de onde veio.
— É complicado, achei que aqui eu teria paz e Sophie não desiste fácil e sei que vai fazer da minha vida um inferno — Explico.
— Coloca uma medida protetiva e ela não vai poder chegar perto de você — Diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Ficaria muito feliz se isso resolvesse — Dou um gole no meu café e sinto o líquido quente me esquentar um pouquinho.
— E mais o que está te afligindo?
— Clara.
— A novinha? — Sua expressão me mostra que está tentando lembrar quem é a pessoa — Lembro que já conversamos e você falou que queria esquecer essa garota também.
— Queria — Digo baixo — Mas conseguir é outra coisa.
— Então não esqueça e fique com ela, parta para cima e mostre teu potencial — Solta uma risada.
— Já parti — Confesso — E acho que esse foi meu erro, porque agora ela não sai da minha cabeça.
— Ficaram? E você nem me contou? Você já foi uma amiga melhor, Samanta — Me repreende.
— Você sabe que eu sou uma péssima amiga — Me faço de desentendida.
— Isso é o que você diz, mas não é a verdade.
— Enfim, desde que voltei, minha vida deu um giro de 360 graus, quero ver se compro meu apartamento logo para ter minha privacidade de volta.
— Seus pais parecem serem legais com isso — Me olha confuso.
— E são, mas eu sou acostumada a ter meu canto, Pedro — Tento fazê-lo me entender — Tenho manias e costumes que sei que incomoda as pessoas, então é difícil voltar para casa dos pais aos 33 anos.
— Te entendo, amiga — Leva sua xícara até a boca e volta a falar — Mas me conta mais sobre essa garota.
— Eu nem sei o que te dizer, nós ficamos e desde o beijo eu não paro de pensar nela.
— Você já não parava de pensar antes — Tenta disfarçar depois que recebe meu olhar indignada.
— Mas eu achei que beijando ela ia passar, e agora estou ainda pior — Levo as mãos ao rosto.
— Amiga, é só beijar ela de novo, e de novo, e de novo — Simplifica a situação — O que tem demais nisso?
— Ela não quer — Meus ombros caem ao lembrar desse fato — Eu ainda acho que ter uma noite de sex* com ela vai tirá-la da minha cabeça, essa curiosidade toda vai passar e estará tudo resolvido.
— Não entendo por que, vocês mulheres gostam de complicar tanto as coisas — Revira os olhos.
— Ela está com medo de dar problema com a Liz e com minha família caso descubram.
— E você não pensa nisso?
— Acho que ninguém tem nada a ver com minha vida, então não é uma preocupação.
— Mas levando em consideração que sua família ajudou muito essa menina, é compreensível que ela tenha esse medo, ela tem algo a perder, você não — Explica calmamente.
Por mais que eu queira ter esse lance com a Clara, entendo que para ela é mais complicado do que para mim, entretanto a atração que nos rodeia me faz querê-la a qualquer custo.
Nunca tive problema em me envolver casualmente com alguém, com minha profissão era mais comum isso acontecer do que eu me enfiar em algum relacionamento e assumir para o mundo todo.
Sophie foi um caso a parte, sendo que me interessei por ela desde o início, e ela soube me envolver e começamos a namorar mais rápido do que deveria ser.
Se eu pudesse voltar atrás, teria evitado deixar me levar pela beleza dela e teria me protegido melhor. Isso teria me evitado tanta dor de cabeça.
— Eu sei disso — Concordo com ele — Mas o que eu faço com essa vontade que eu tenho dela?
— Nesse caso, minha cara amiga — Diz começando a insinuar algo — Ou você dá um jeito de convencer ela a ficar com você ou parte para a próxima.
— Ou fico na minha, sem achar problema para a minha cabeça.
— Já sei — Diz mais animado do que deveria — Vamos sair hoje a noite e você tenta ficar com alguém, aí saberá se esse seu interesse por ela vai passar.
— Você sabe que não gosto de sair.
— Mas você vai — Fala com firmeza — Você me encontra aqui as 22:00 e vamos ir em uma balada nova que abriu aqui perto.
— Pedro...
— Isso não é um convite, amiga — Sorri sínico — Hoje vamos tirar a dúvida se essa sua atração por ela é apenas porque não se envolveu com ninguém ainda, ou se o problema é maior que isso.
— Como assim?
— Precisamos saber se é só uma atração ou se é uma paixão avassaladora — Solta uma gargalhada alta.
— Não fale besteira, Pedro — Tenho vontade de dar um cascudo nele — É apenas uma atração, por ela ser muito bonita.
— Vamos fingir que acreditamos nisso.
******
Desço as escadas e vou em direção a sala, ao entrar no ambiente vejo Liz desligando uma ligação. Quando percebe minha presença, me encara com uma expressão de culpa.
— Aí está você — Diz ao me ver.
— Sim, aqui estou eu — Abro os braços como se quisesse que ela me notasse melhor — Vamos?
— Sabe o que é? — Esfrega as mãos uma na outra em sinal de nervosismo — Eu esqueci que tinha combinado com o Marcos de irmos fazer a degustação dos doces do casamento.
— Liz — Respiro fundo não acreditando que ela vai desmarcar — A gente já combinou a dias e só agora se deu conta que já tinha compromisso?
— Me desculpa, eu não posso desmarcar — Ela parece arrependida, porém nem me surpreendo mais — Mas eu consegui alguém para ir com você.
— Não preciso mais de companhia — Digo ainda magoada.
— Precisa sim e eu consegui duas pessoas para ir com você — Tenta amenizar a situação — na verdade, uma e meia.
— Como assim?
— Clara e Nico vão com você.
— Liz, você não precisava incomodar eles, eu vou sozinha, está tudo bem.
— Não mesmo, não quero que você vá sozinha e me sinto mal por ter que desmarcar com você, e a Clara estava me devendo um favor, então não foi difícil convencê-la.
— Você chantageou a garota? — Me espanto com sua coragem.
— Apenas a convenci — Joga o cabelo para trás fazendo pouco caso.
— Ok, você deve saber o que faz — Minha voz mostra minha decepção — E quando podemos ter um momento de irmãs?
Faz tempo que tento marcar algo com ela, mas nossa agenda nunca está disponível ao mesmo tempo e quando marcamos algo, Liz sempre arranja um motivo para desmarcar.
É mais difícil do que eu imaginava ter que admitir que me sinto decepcionada com a nossa relação, achei que voltando para casa ficaríamos mais próximas, mas não foi o que aconteceu.
É compreensível de certa forma, minha irmã tem a vida dela, sua rotina e seu namorado, foi eu quem chegou depois, que está se adaptando a nova vida, então não posso exigir muito.
— Avisei que você passará lá para pegar eles — Me informa terminando de escrever algo em seu celular e ignorando minha pergunta anterior.
Confiro se minha chave e minha carteira estão em meu bolso e me preparo para sair, mas antes sinto os braços da minha irmãzinha me apertarem em um abraço desajeitado.
— Me perdoa — Começa dizendo — Eu sei que estou desmarcando mais uma vez, mas quando o casamento passar teremos mais tempo juntas, eu sinto sua falta.
— Também sinto a sua.
É a única coisa que consigo dizer antes de sair.
Ao entrar no carro, confiro se meu cabelo está ajeitado, se não tem nenhuma sujeira em meu rosto, confirmo se meu perfume não está muito forte para não prejudicar Nico, e somente depois de ver que está tudo nos conformes é que parto para casa deles.
Seria muito cruel da minha parte dizer que fiquei feliz em saber que passarei a tarde com eles? Porque talvez um sentimento bom tenha se apossado do meu peito. Apenas, talvez.
Ao chegar na frente do prédio, estaciono o carro algumas vagas mais distantes, e posso ver os dois esperando na calçada. Isso me dá a vantagem de apreciar um pouco a beleza da garota.
Hoje ela escolheu um vestido vermelho de mangas longas e gola alta que vai até a metade de suas coxas, uma meia calça grossa preta e uma bota de cano médio. Definitivamente, linda. Seus cabelos estão mais lisos que o normal, sinal de que provavelmente ela os escovou.
Ela veio pronta para me matar.
Enquanto isso, o pequeno Nicolas, está vestido com um conjunto de moletom vermelho, combinando com sua mãe. Ele brinca saltitando de um lado para o outro.
Buzino para que eles percebam minha chegada, e os dois viram o rosto em direção ao carro ao mesmo tempo.
Nico é o primeiro a chegar no carro, já abrindo a porta de trás e entrando todo desengonçado.
— Quer ajuda, Nicolino? — Pergunto ao ver sua luta para se sentar na cadeirinha.
— Pode deixar que eu o ajudo.
A garota avisa aparecendo no meu campo de visão e eu disfarço para não mostrar que sua presença me afeta tanto
— Tia, a mamãe me disse que vamos olhar casa para você comprar — Diz animado, já preso em sua cadeirinha.
A mais nova abre a porta do passageiro e se senta ao meu lado, causando aquele calor estranho em meu peito, mas evito pensar demais.
“Hoje vamos tirar a dúvida se essa sua atração por ela é apenas porque não se envolveu com ninguém ainda, ou se o problema é maior que isso”. A voz de Pedro vaga pela minha mente.
— Exatamente, vamos olhar algum lugar legal para eu morar — Explico enquanto dou partida no carro — Boa tarde, Clara.
— Boa tarde — Cumprimenta simples.
— E eu vou poder te ajudar a escolher? — Nico continua a conversa.
— Claro, é por isso que vocês estão indo comigo.
— Maneiro — Diz animado — Mas a mamãe disse que eu não posso falar muito para não atrapalhar a senhora.
— Nicolas — Clara o repreende — Já conversamos sobre isso em casa.
— Mas a tia Sam precisa escolher uma casa grande para poder ter um cachorro.
— Cachorro? — Pergunto arregalando os olhos.
— Sim, uma casa feliz precisa ter um cachorro — Explica como se fosse a coisa mais simples de se realizar — A mamãe não me deixa ter um cachorro porque nossa casa é pequena, só cabe nós dois e a madrinha Liz disse que ia tentar me ajudar a ter um, mas ela não cumpriu com o que falou.
Olho pelo retrovisor e vejo o exato momento em que ele cruza os bracinhos e faz um bico com os lábios. A coisa mais fofa desse mundo todinho.
— E você gosta tanto assim de cachorro? — Continuo o assunto.
— Eu gosto de todos os animaizinhos, mas nunca posso ter nenhum.
— Já conversamos que você ainda é muito pequeno para cuidar do tanto de animaizinhos que você quer ter — Clara diz plena.
— Eu já sou grandão — Murmura, porém, conseguimos ouvir.
O assunto ainda rendeu alguns comentários até que chegamos a primeira casa. Encontramos o corretor logo na entrada nos esperando.
O cumprimentamos e nos apresentamos, logo ele nos convida para entrar.
A primeira casa tem um ar antigo, paredes claras já gastas pelo tempo e uma varanda estreita onde flores sobreviviam em pequenos vasos de barro.
O corretor descreve os detalhes necessários, animado, mas não consigo me concentrar nas palavras. Vejo apenas a forma como os lábios de Clara se movem em um sorriso encantado, o brilho que o sol deposita em seus cabelos. Sinto-me uma tola, quase adolescente, por não saber controlar o olhar.
Não demoramos muito para ver a casa toda e seguimos para a área externa. Nico corre pelo quintal apertado e logo volta para onde estamos.
— Não dá para ter um cachorro aqui.
Essa é sua sentença final, vira as costas e sai do local. Rimos da sua franqueza e Clara tenta o repreender mais uma vez, porém, sem sucesso.
É lindo vê-la sorrir, contudo é assustador saber o quanto ela tem mexido comigo.
A segunda casa parece respirar vida logo ao abrir do portão. Um jardim imenso se estende até onde os olhos alcançam, e Nico disparou, gritando de felicidade.
— Tia, é essa! — Ele corre em círculos, já sonhando com o cachorro que correria ali com ele.
Clara observa o filho e, quando vira para compartilhar o momento, encontra meu olhar abobalhado para ela. O tempo parece vacilar. Não é apenas amizade naquele olhar — Clara sente isso na pele tanto quanto eu, seu olhar não mente, como um arrepio que a percorria de dentro para fora. Ela prende o ar por um instante, com vontade de dizer algo que não se atreve, temendo romper a frágil fronteira entre nós.
Quando a parte externa já havia sido conferida e aprovada, seguimos para dentro da casa. Ela é maior do que aparenta de fora. Com bastante espaço para uma família, e é nesse momento que me lembro que morarei aqui sozinha. Ao mesmo tempo que quero muito meu espaço, sei que me sentirei sozinha.
O que mais me encantou foi a suíte principal, é do jeito que eu imaginei e gostaria que fosse. Grande, com um enorme closet e um banheiro espaçoso.
— Gostou mesmo dessa casa, Nico? — Questiono.
— Sim, tia, é muito bonita — Dá pequenos pulos.
— E o que você me diz, Clara?
— Bom — Parece com receio de falar algo — A casa é muito bonita e espaçosa, será uma boa escolha caso você opte por ela.
— Então é essa — Digo.
— Temos mais o apartamento para olhar — O corretor nos interrompe — Talvez seja bom olhar e depois a senhora decide.
— Ok, vamos lá.
O apartamento é moderno, cheio de vidro e luz, oferece uma vista imponente da cidade. Mas para Nico, é apenas um lugar sem chão para brincar.
— Onde o cachorro vai correr? — Pergunta, frustrado, e aquilo bastou para selar minha opinião.
Clara sorriu do jeito decidido do filho, mas ainda parecia tensa. No reflexo do espelho do elevador, lado a lado, nós duas parecemos formar algo que já existia, mas ainda não tinha nome. Clara percebe o quanto eu a encaro e seus próprios olhos a traem retribuindo o olhar. Tentou disfarçar, desviando o rosto, mas era tarde demais: o desejo estava exposto, pulsando em silêncio, como um segredo prestes a escapar.
Fim do capítulo
Bom dia pessoaaallll!!!!!!
Clara não consegue mais esconder que também deseja Sam, acho que as coisas já estão mudando entre elas.
E Nico continua louca para ter um cachorrinho, vocês acham que ele deve ganhar um?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve
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