Por Bia:

 

 

🗞 “Bia Albuquerque em mais uma polêmica: affair ou jogada de marketing?”

 

🔥 “Influencer da Pelle Serenità pega fogo com CEO da concorrência! Collab ou traição?”

 

😱 “Bia Albuquerque trocando segredos de travesseiro? Rebeca, da VivaGlow, pode ter levado mais do que beijos para casa!”

 

👀 “Dormiu com a inimiga? Bia Albuquerque se envolve com a dona da VivaGlow e internet surta!”

 

💥 “Bia Albuquerque, musa da Pelle Serenità, flagrada com Rebeca, CEO da rival! Clima de tensão no mundo da beleza!”

 

🤯 “Bia Albuquerque e Rebeca: romance proibido ou escândalo corporativo?”

 

📸 “Influencer contratada por uma marca, envolvida com a dona da concorrente.”

 

Enquanto Valéria lia todas as manchetes, eu sentia meu corpo encolhendo cada vez mais na cadeira, como se quisesse me fundir ao estofado e sumir dali. Se houvesse um buraco negro no centro da sala de reuniões, eu certamente já teria me jogado dentro dele de cabeça.

 

Na sala, Pietro estava sentado ao meu lado, segurando o próprio rosto como se tentasse impedir um derrame iminente. Seu pé balançava descontroladamente debaixo da mesa, e eu tinha certeza de que ele me chutaria se pudesse fazer sem chamar atenção. Valéria, por outro lado, mantinha uma compostura quase letal enquanto lia cada palavra das manchetes escandalosas. Seu olhar oscilava entre a tela do tablet e eu, como se estivesse ponderando qual das duas coisas gostaria de destruir primeiro.

 

— Bia… — Valéria começou, num tom de voz que poderia partir vidros. — Você… você realmente foi capaz de fazer isso? — Ela largou o tablet na mesa com um baque que me fez piscar forte. — Com a Rebeca Monteiro?!

 

Não era exatamente uma pergunta. Era mais uma confirmação retórica do meu fiasco monumental.

 

De rabo de olho, percebi Luísa no canto da sala. Ela observava a cena com um ar de entretenimento mal disfarçado. E o pior? Estava linda. A pele dela irradiava, os olhos brilhavam como se estivessem assistindo a melhor novela da década. O sorrisinho de canto que teimava em aparecer era pura satisfação. Talvez, só talvez, ela estivesse se deliciando com meu colapso profissional e social.

 

Linda e perigosa. O tipo de mulher que você olha e sabe que pode ser sua ruína.

 

Chega de pensar em mulheres, Bia. Concentra.

 

— Ok, vamos com calma — tentei argumentar, levantando levemente as mãos. — Não foi como parece. Eu não sabia quem ela era. Juro. Conheci a Rebeca na balada. Ela chegou em mim. Nós só… conversamos e… — Eu parei porque o olhar de Valéria me fez entender que qualquer tentativa de amenizar a situação era como tentar apagar um incêndio com gasolina.

 

Pietro soltou um suspiro de pura agonia.

 

— Meu Deus, Bia, você tem um talento especial para o caos — ele murmurou, apertando as mãos.

 

— E como sempre, para piorar o impossível — Valéria completou, cruzando os braços. — Você sequer tem ideia do que isso significa? A Pelle Serenità e a VivaGlow estão em guerra há anos. Isso não é um escândalo qualquer. Isso é traição corporativa, e você é a protagonista.

 

— Nas fotos e vídeos não aparece nada de mais. Essas páginas exageram e criam fics.  — revirei os olhos, mesmo sabendo que, sim, talvez fosse um pouco grave.

 

— As páginas exageram? — Valéria repetiu, incrédula. — Tem fotos dela colada no seu pescoço e você saindo aos risos com ela da balada. Você dormiu com a CEO da nossa maior concorrente! Se Rebeca tivesse plantado um chip em você pra espionar nossos segredos de marketing, eu não ficaria surpresa!

 

Luísa pigarreou, claramente segurando o riso. Seus ombros tremiam levemente. Eu quis odiá-la por isso. Mas, droga, ela ficava linda até debochando da minha desgraça.

 

— O que foi, Luísa? — Valéria se virou para a filha, irritada. — Está achando engraçado?

 

Luísa deu um sorrisinho cínico, inclinando a cabeça de leve.

 

— Não, imagina. Só estou impressionada com a capacidade da Bia de sempre superar a si mesma. É um dom. Uma verdadeira arte. E gostaria também de te lembrar, Valéria: eu avisei que ela era uma péssima escolha. 

 

Aquilo foi um golpe direto na minha dignidade já debilitada. Mas, honestamente? Eu teria dito o mesmo se estivesse no lugar dela.

 

Valéria respirou fundo, visivelmente tentando manter a calma.

 

— Preciso decidir o que fazer com você — ela disse, me lançando um olhar calculista. 

 

Meu coração martelava no peito, o silêncio na sala era tão denso que eu podia ouvir até o tique-taque imaginário do relógio marcando os segundos da minha provável sentença. Quando eu achava que Valéria finalmente anunciaria o rompimento de contrato e o valor da multa exorbitante que eu teria que pagar, a tensão foi quebrada por batidas na porta.

 

— Pode entrar! — Valéria praticamente rugiu.

 

Luana entrou hesitante, oscilando entre dar o próximo passo ou simplesmente sair correndo.

 

— Do... Dona Valéria, a senhora pediu que lhe avisasse se saísse alguma outra notícia importante e... — começou, segurando um tablet como se carregasse um explosivo prestes a detonar.

 

— Me dê isso aqui! — Valéria praticamente arrancou o aparelho das mãos trêmulas da estagiária. Pobre menina, não deve estar ganhando o suficiente para esse tipo de estresse.

 

Ela começou a ler, murmurando trechos do conteúdo enquanto apertava as têmporas. Quando terminou, lançou um olhar carregado para Pietro e estendeu o tablet.

 

Foi quase imperceptível, mas eu percebi um leve tremor na mão de Pietro ao pegar o aparelho. Luísa e eu trocamos um olhar rápido, e no rosto dela estava estampada uma diversão. Perigosa essa mulher... e linda. Linda e perigosa. Bia, foco!

 

Pietro pigarreou, como se estivesse tentando engolir uma bola de espinhos, e devolveu o tablet para Valéria. Ela, por sua vez, entregou o aparelho de volta a Luana, que quase tropeçou ao sair da sala. Do lado de fora, pude ouvir o suspiro de alívio da estagiária. Sorte dela. Nós não podíamos fugir.

 

— Trata-se de uma nota de esclarecimento da assessoria de Rebeca Monteiro — disse Valéria, com um olhar impassível, mas afiado o suficiente para cortar diamante. — Ela esclareceu que você apenas ofereceu uma carona a ela.

 

— Isso é ótimo! — Abri um sorriso triunfante, como se estivesse livre de qualquer culpa.

 

— Mas também disse que, durante a balada, você lhe confidenciou que estava passando por problemas no seu atual relacionamento e que vocês estavam apenas conversando.

 

— Maravilha. Sem segredos corporativos ou qualquer coisa do tipo — continuei sorrindo, já vendo um possível final feliz.

 

— Informou também que este seu relacionamento conturbado é com Luísa Fischer.

 

Meu sorriso sumiu. Meu coração parou por um segundo. E então, em um coro perfeitamente sincronizado, Luísa e eu exclamamos em uníssono:

 

— O quê?!

 

Eu só conseguia me perguntar: Por que diabos Rebeca teria feito esse tipo de pronunciamento? O som da minha respiração ficou mais pesado enquanto eu olhava para o cenário se desenrolando diante de mim. Pietro, com aquele olhar de quem se acha o mestre do jogo, olhou para todos na sala e começou a falar como se tivesse acabado de descobrir a fórmula da coca-cola.

 

— Foi uma jogada excelente da concorrência. Além de aliviar o lado deles, inflaram o nosso. — A voz dele, quase melodiosa, mas com um tom de superioridade. Ele adorava falar como se fosse o único a entender a lógica por trás do caos.

 

E foi aí que a tempestade começou. Valéria não aguentou nem um segundo e soltou a sua resposta, com o tom ácido que me fazia querer dar uma risadinha nervosa.

 

— Nosso? O meu você quer dizer. — Ela disse, não escondendo nem um pouquinho o quão furiosa estava. O brilho nos olhos dela era um misto de raiva e aquela sede insana por poder.

 

— Independente de qualquer coisa, esse contrato tem que ser rompido. Além de prejudicar a imagem da empresa, a Beatriz prejudicou minha imagem. Distância é o melhor nessa situação. — Luísa me olhou como se estivesse se referindo a um pedaço de lixo no meio do caminho. Como se eu fosse o "problema" a ser resolvido com um simples estalar de dedos. Tentei controlar o impulso de soltar uma gargalhada, mas sabia que o momento pedia mais seriedade. 

 

Pietro andava de um lado para o outro. A cada passo, a sensação de que ele estava pronto para explodir aumentava. E então, como se tivesse tido a mais brilhante ideia de sua vida, ele parou e nos olhou. Um sorriso irônico se espalhou pelo rosto dele, e eu senti um calafrio subir pela espinha. Eu sabia que algo muito ruim estava prestes a acontecer.

 

— Showmance. — Ele disse finalmente, como se tivesse resolvido o enigma da humanidade. O sorriso nos lábios dele era de quem acabara de ganhar uma medalha de ouro, e eu... bem, eu só queria fugir para um buraco bem profundo.

 

— Showmance? — Valéria repetiu, estreitando os olhos como se estivesse tentando decifrar um enigma. O tom dela era curioso.

 

Pietro, por outro lado, parecia ter acabado de encontrar um pote de ouro no fim do arco-íris. Os olhos brilhavam, um entusiasmo quase animalesco tomando conta dele.

— Isso! — Ele bateu palmas uma vez, animado. — No mundo das celebridades, existem casais de fachada, relacionamentos de marketing… e nós vamos usar isso a nosso favor!

Luísa cruzou os braços e lançou um olhar cético. 

 

— Então, basicamente, um relacionamento falso para alimentar a internet? — Valéria arqueou a sobrancelha, o canto da boca puxando em um meio sorriso. — Nossa, que inovador, Pietro! Nunca antes na história da humanidade alguém pensou nisso!

 

Ele ignorou o sarcasmo descarado e continuou como se estivesse vendendo a ideia do século. Afinal, com o rompimento do contrato ele também seria afetado.

 

— Pensem bem… um casal improvável, tensão no ar, aquele suspense de “será que são ou não são?”. Isso mantém as pessoas viciadas em vocês! Comentando, compartilhando, engajando! E quanto mais engajamento, mais visibilidade e venda.

Luísa bufou e olhou para Valéria, esperando alguma reação contrária. A outra mulher mordia o lábio inferior, claramente considerando a ideia. O olhar dela desviava para o nada, como se estivesse montando um quebra-cabeça na própria cabeça.

— E aí? — Luísa cutucou, inclinando-se para frente. — Não vai questionar a insanidade dessa ideia?

 

Valéria finalmente ergueu o olhar e encontrou o de Luísa. Havia um brilho ali. Curiosidade, dúvida… 

 

— Depende — Valéria respondeu, a voz baixa, medindo as palavras. — O quão convincente isso teria que ser?

 

Pietro sorriu como um verdadeiro vilão de novela.

 

— O suficiente para ninguém duvidar — disse ele, dando de ombros. — Mas, claro, nada que precise ultrapassar limites. Apenas alguns momentos estrategicamente capturados, interações ambíguas… 

 

Eu já sabia onde isso estava indo, e meu estômago começou a se revirar. Um nó se formou na minha garganta. Eu estava começando a planejar minha defesa para fugir daquela situação que parecia ser um pesadelo em câmera lenta.

 

Eu não sabia se eu ria ou se chorava. A ideia de fingir um relacionamento, de ser falsa da maneira mais grotesca possível, me dava nojo. E, como se estivesse em uma peça de teatro de quinta categoria, Valéria completou o roteiro com a frieza de uma experiente diretora.

 

— Realmente, vocês podem fingir que são um casal e que aquele dia no estacionamento foi apenas uma discussão boba. Que você, Bia, estava inconformada com o término e por isso se exaltou.  — Valéria falou, com uma calma que me fez sentir como se estivesse em um labirinto sem saída.

 

A minha vontade foi de explodir naquele momento. Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Como eles podiam sugerir algo tão absurdo? Mas, antes que eu pudesse abrir a boca, Luísa se desesperou, como uma marionete que já sabia que não tinha mais controle sobre os fios.

 

— Não. Eu não aceito isso. — Ela disse, o tom de voz mais baixo, mas com um leve desespero. 

 

Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Mas aquele ambiente estava sufocante. Não conseguia mais distinguir quem estava ao meu lado e quem estava me afundando. E então, Valéria, com seu olhar cortante, me atravessou novamente, e minha vontade foi sumir dali.

 

— Acho que não devemos complicar as coisas. — Eu disse, tentando amenizar a pressão. Claro, isso só piorava tudo.

 

Mas antes que eu pudesse iniciar minha defesa, Valéria jogou o golpe de misericórdia.

 

— Bia, não esqueça que você tem um contrato com a Pelle Serenità. E se pretende continuar com ele, vai fazer exatamente o que eu estamos dizendo, não é mesmo, Pietro? — Ela olhou para ele com aquele sorriso satisfeito, como se tivesse acabado de ganhar uma batalha. E eu... bem, eu já sentia o peso do mundo nas minhas costas.

 

— Concordo com ela, Bia. A melhor maneira de fugirmos dessa situação é fazer isso. — Pietro falou com a voz firme.

 

Eu olhei para Luísa, mas sabia que a resistência era inútil. Ela estava mais perdida que eu. Antes que eu pudesse protestar, Valéria soltou a sentença final:

 

— Quanto a Luísa, ela fará exatamente o que estou mandando. — O olhar gelado dela para a filha me deu calafrios. — E não tem outra alternativa, Bia. Seu comportamento continuará o mesmo e você sabe disso. Saindo de balada em balada, prejudicando a imagem da minha empresa. Um relacionamento de fachada vai ser o freio de mão necessário.

 

Eu senti uma pontada de raiva, como uma faca atravessando meu peito. Como ela podia fazer isso com a própria filha? A raiva fervia em mim, mas eu sabia que, nesse jogo, eu já estava perdida.

 

— Eu preciso pensar antes de dar minha resposta. — Foi o que consegui dizer, a voz saindo mais fraca e baixa do que eu queria. Eu vi os olhares atravessando meu corpo enquanto a tensão aumentava na sala, mas a única coisa em que conseguia focar era na porta. Ela era meu único ponto de fuga, meu único respiro. E, por instinto, meus pés começaram a me levar para lá, rápidos, quase descontrolados. Eu só queria sair de lá.

 

Sim, eu fugi. Admito. Como uma covarde? Talvez. Como alguém que ainda tinha o mínimo de dignidade para não se afundar ainda mais nesse jogo insano? Com certeza. Mas, na hora, fugir foi a única opção. Porque, sinceramente, quem não gostaria de dar o fora de uma sala onde você é tratado como a vilã do dia, a peça de xadrez descartável e o problema a ser resolvido?

Fim do capítulo