Capitulo 13 - Agindo sem pensar
Samanta
Faz uns 15 minutos que Clara está do outro lado do vestiário, quieta mexendo em seu celular. Eu fico possessa de raiva quando sou ignorada por ela, isso me irrita mais do que deveria.
Sem pensar muito, para não me arrepender, me movo para me sentar ao seu lado. Não estou nem aí se ela quer manter a distância, acho que já está na hora dessas discussões terem uma trégua.
— Do que você quer falar? — Pergunto para iniciar algum assunto.
— Se for para brigar, não quero falar sobre nada — Ela ainda está um pouco irritada.
— Eu também não quero brigar — Jogo minha cabeça para trás, deixando-a apoiada na parede — Mas sou sincera que você faz eu perder a paciência muito fácil.
— Eu não te entendo, Samanta — Sua voz não é acusativa, ela apenas está desabafando — Eu não fiz nada para você além de tentar uma amizade, mas toda vez que parece que as coisas estão indo bem você surta e me afasta.
— Eu avisei que não sou uma boa amiga.
— Mas você nem se esforça para ser — Suspira — Eu já entendi que você não quer se aproximar de mim, porém você surta com algumas coisas que não faz sentido na minha cabeça, e isso me deixa confusa pra caramba.
— Desculpa — Sou sincera, porque sei que ela tem razão — Mas você também me confunde.
— Como? Se eu sempre sou sincera com você, eu não fujo e te deixo a ver navios.
— Mas você faz eu agir de maneiras inconsequentes, sem pensar, e quando vejo já estou fazendo as merd*s que faço — Tento ser o mais honesta possível — Eu não quero brigar com você, mas quando vejo já estou aos berros ou saindo e te deixando chateada de alguma forma.
— E por que você age assim? — Tenta mais uma vez.
Eu sinto que posso me abrir com ela, que posso confiar, desde o início senti isso e acho que foi o que mais me assustou. E estamos aqui, presas juntas, sem ter para onde correr, acho que a vida está querendo me mostrar algo.
Resolvo colocar as cartas na mesa, quem sabe isso faça eu entender melhor o que está acontecendo comigo.
— Eu não te afasto, apenas sinto que se eu me abrir, vou deixar você chegar perto demais, e isso me fará sofrer quando você for embora da minha vida — Começo a explicar meus sentimentos confusos.
— E por que eu iria embora, Samanta? Eu não pretendo ir a lugar nenhum — Sua voz é um pouco mais alta que um sussurro.
— Porque as pessoas sempre vão, elas sempre saem da minha vida de qualquer jeito — Fecho os olhos para evitar lembranças — A vida sabe ser bem sacana comigo, então evito chegar perto demais das pessoas.
— As vezes a vida está querendo te surpreender.
— Sempre sou surpreendida, mas nem sempre de forma boa.
— Por que você me evitou depois que me salvou na casa de campo?
A pergunta cai como chumbo sobre o meu peito, me levando diretamente para o dia que perdi um dos meus melhores amigos, e reviver a cena com Clara se afogando, foi demais para mim e meu primeiro instinto foi correr.
— Eu não consegui salvar meu melhor amigo — Começo a explicar e vejo a movimentação da sua cabeça em minha direção — Antes do meu acidente, fomos aproveitar um dia em um lago, estávamos com mais algumas pessoas e eu me distrai por alguns instantes e quando percebi que ele tinha caído na parte mais funda, já era tarde demais.
Minha voz fica trémula, é a primeira vez que falo com alguém que não estava lá sobre o assunto e é a primeira vez também que me permito sentir o peso de tudo o que aconteceu.
— E você acha que isso é culpa sua? — Diz enquanto coloca seu celular no chão, com a lanterna virada para cima, gerando claridade entre nós.
— Sim, se eu não tivesse ido atrás da Sophie por conta de suas besteiras, eu teria conseguido salvá-lo — Explico.
— Me desculpa fazer você reviver esse momento — Seus olhos me transmitem tanta sinceridade quando os encaro — E você não teve culpa na morte dele, as vezes há coisas que não podemos evitar.
— Eu era a única que poderia evitar, era a pessoa que sabia nadar melhor no grupo, teria dado tempo de socorrê-lo.
— Sophie é a sua ex-namorada?
— Sim — Concordo sentindo raiva ao lembrar daquela mulher — Graças a Deus, ela está bem longe de mim agora.
— Espero que um dia você consiga se perdoar e entender que nada disso foi culpa sua — Sinto seu dedinho minguinho encostar no meu, e nós duas encaramos nossas mãos no mesmo momento.
— Quem sabe um dia — É o que consigo responder.
Clara move seu dedinho, fazendo um leve carinho no meu, e isso é tão brega e tão significativo ao mesmo tempo. Já percebi que ela é das coisas simples, dos detalhes, e isso me encanta nela. Porém logo recolho minha mão.
— E as outras vezes?
A olho confusa quando ouço sua pergunta, porque realmente não entendi o que ela quis dizer.
— As outras vezes que você resolveu brigar comigo sem motivo algum— Explica quando nota que eu não a tinha entendido.
— Eu sempre tenho motivos para brigar com você — Me defendo — Só que devo admitir que as vezes os motivos existem só na minha cabeça.
A mais nova deixa escapar um sorriso com a minha confissão, e eu seria capaz de qualquer coisa para ser a causadora de mais sorrisos assim, de ser o motivo de sua felicidade e não de sua raiva.
— Qual o seu problema com o Mateus? Já percebi que nossas brigas já foram causadas pela presença dele.
Engulo em seco, sei que ela chegou no ponto que mais me afeta referente a ela, e não sei se devo ser completamente honesta ou se devo inventar uma desculpa qualquer.
Acho que não há mais como fugir, não há como eu dizer que não tenho nada contra o garoto, porque eu tenho, e não é meu perfil mentir.
— Eu não tenho nada contra ele, nem o conheço — Paro por um momento e quando ela vai começar a falar eu retomo a palavra — Mas não gosto quando ele está perto de você, só não me pergunte o porquê?
— Por quê? — É obvio que ela não iria deixar de perguntar.
— Não me pergunte se não querer saber a resposta, Clara — Sou direta e a encaro nos olhos.
Vejo sua expressão vacilar, e sei que ela está em dúvida entre continuar perguntando e deixar o assunto para lá, mas ela não me parece o tipo de pessoa que deixaria o assunto morrer.
— Por quê? — Insiste.
— Porque sinto ciúmes, não acho que ele seja a pessoa certa para estar ao seu lado e não entendo o que me faz achar isso.
Ela fica em silencio, ainda sustentando meu olhar. Ao mesmo tempo que vejo surpresa em seu rosto, vejo também algo desconhecido, como se houvesse satisfação ao ouvir o que acabei de dizer.
Nesse mesmo momento, meu telefone toca e só aí me lembro que ele está em meu bolso. Quando vejo quem está me ligando, reviro os olhos e desligo a chamada sem atendê-la.
Ao voltar a encarar Clara, percebo seu olhar na tela do meu celular, indicando que ela viu quem tentou me ligar.
— Você pode atendê-la se quiser — Diz com a voz baixa.
— Não quero — Sou sincera.
— Vocês ainda se falam? — Seu olhar encontra o meu.
— Não, desde que decidi vir para o Brasil não nos falamos mais, ela tentou algumas vezes, mas não quero mais ter contato — Explico.
— Ela deve querer reatar o namoro de vocês — Entra no assunto.
— Talvez, levando em consideração as vezes que ela já tentou, acho que pode ser isso mesmo.
— E você voltaria?
— Não — Não preciso nem pensar nessa resposta.
— Sam — Ela me chama pelo apelido, e ele parece perfeito saindo de sua boca — Eu estou confusa.
— Com o que? — Me mexo no lugar, para ajeitar minha postura, sendo que minhas costas então começando a doer ao ficar na mesma posição e sem perceber, agora estou mais perto dela — Sobre eu não querer voltar com a Sophie?
— Não — Responde baixo, encarando suas mãos.
— Está confusa com o que então?
— Nós duas.
Ao ouvir suas palavras, sinto a ficha cair, vejo que toda confusão que há em mim, também há nela e percebo que estamos bem ferradas, porque se as duas estão confusas, nenhuma de nós será capaz de esclarecer nada.
Clara é o tipo de pessoa que todos dariam tudo para ter por perto, ela é doce e meiga, responsável, trabalhadeira e linda, qualidades que todos buscam em alguém. Quanto a mim, o que tenho a oferecer? Eu sempre afasto as pessoas, me escondo quando tenho problemas, não sei ser carinhosa, e sou mais velha que ela, é obvio que ela não me escolheria para estar ao seu lado, deve estar confusa apenas por eu ser uma pessoa nova em sua vida.
— Você quer falar sobre isso? — Pergunto torcendo para a resposta ser um belo não.
— Não sei — Diz simples — Não sei se conseguiria me explicar.
— Quer ao menos tentar?
Nesse instante me arrependo de insistir, porque se ela falar sobre o que sente, é bem provável que queira que eu fale o que sinto também.
Acredito que não estou preparada para isso, porém decido arriscar, me lançar no que quer que seja que esteja acontecendo. Não é porque vamos falar sobre o assunto, que algo vá acontecer.
— Desde que nos conhecemos, comecei a sentir coisas estranhas, confusas e não sei se quero sentir isso.
Fico um tempinho em silêncio, sem ter o que dizer. Sei que alguma coisa eu preciso falar, afinal foi eu quem a incentivou a contar o que sentia, e agora preciso continuar a conversa.
— Você me confunde tanto — Volta a repetir o que já disse antes — As vezes acho que estamos na mesma página, que sentimos o mesmo, mas aí quando você age como uma idiota eu só consigo pensar que eu estou sozinha nessa e que sou uma tola por sentir o que estou sentindo.
— Eu não posso mentir para você dizendo que sei o que estou sentindo, porque eu não faço a mínima ideia — Começo a me abrir — E nem sei se posso te oferecer algo, sendo que eu sei que não sou boa em relacionamentos, eu sou uma pessoa muito fechada, Clara, e tenho muito medo de te ferir com isso.
— Você é irmã da minha melhor amiga, ela vai me matar quando souber disso tudo — Clara se levanta e começa a andar de um lado para o outro — Eu nem deveria estar cogitando isso.
Quando noto o seu desespero e que não vai passar, me levanto e tento me aproximar dela.
— Clara — A chamo e ela me encara — Liz não precisa saber de nada disso, isso é entre nós duas.
— Você não está entendendo, Samanta — Leva as mãos aos cabelos, tentando aliviar o estresse — Não há nada entre nós, esse é o que mais tem me deixado louca, que eu estou surtando sendo que não há nada entre você e eu.
— E se tivesse?
— Quê? — me encara espantada.
— A gente está confusa, e se resolvêssemos ter algo apenas para descobrir o que sentimos? Eu acho que sentimos atração uma pela outra e que se experimentarmos ficar uma vez, isso tudo passa e podemos voltar a nossas vidas normais.
Clara me olha como se eu fosse o bicho mais assustador que existe na face da terra, e eu entendo seu espanto, porque não sei o que me levou a falar essa merd*. É obvio que vai dar merd*, que não temos como manter algo casual sendo que nossas vidas são tão próximas, não poderíamos seguir nossas vidas normais sendo que elas são tão interligadas no trabalho e fora dele.
— Essas coisas nunca acabam bem, Samanta.
— Você tem razão, é uma péssima ideia — Me aproximo um pouco dela, mas não ao ponto de invadir seu espaço pessoal — E o que fazemos com essa confusão toda?
— Você é a mais experiente entre nós duas, então deveria saber o que fazer e a culpa é toda sua — Aponta um dedo em minha direção.
— Minha? Está doida?
— Foi você que resolveu voltar, a minha vida estava bem tranquila até você chegar — Cruza os braços e me encara como se fizesse algum sentido isso que está me acusando.
— Claro que estava — Digo sarcástica — Deveria estar bem tranquila trans*ndo com um homem que nem parece ser bom de cama.
— De novo isso? Você o acusa apenas porque está interessada em mim.
Meu sangue volta a ferver quando a vejo defendê-lo, não era isso que eu queria ouvir, e mais uma vez ajo sem pensar. Me aproximo dela e a puxo contra meu corpo, Clara automaticamente leva as mãos até meus ombros, resistindo a proximidade.
— O que está fazendo? — Diz assustada.
— Diz na minha cara que ele é o que você sempre desejou, que ele te faz sentir as melhores sensações e sentimentos — A desafio — Fala, Clara.
— Eu não tenho que te falar nada, muito menos da minha intimidade — Sinto sua raiva ainda mais forte.
— Você não consegue me responder porque sabe que eu estou certa, você pode até achar que é bom passar um tempo com ele, mas isso é só porque nunca esteve na cama comigo.
— Audaciosa — Tenta me xingar e bate com a palma da mão contra meu peito tentando se soltar dos meus braços — Pois saiba que eu nunca vou estar na cama com você.
A seguro um pouco mais firme, por mais que eu seja mais forte, é difícil segurá-la se mexendo tanto assim, e em um ato inesperado eu a beijo, e ao sentir meus lábios nos seus, ela se debate ainda mais tentando se soltar, eu a permito, sendo que não posso beijá-la a força.
Mas ao permitir que ela se afaste, sinto falta do calor do seu corpo e quando a encaro, encontro seu olhar assustado, mas ao mesmo tempo faminto.
Travamos uma guerra de olhares, intenso e profundo, tantas coisas que não são ditas abertamente pairam sobre nós, por mais que eu diga que não sei o que sinto por ela, eu sei, sei que a quero na minha cama, quero estar ao lado dela a todo momento, quero fazer parte da vida dela de qualquer jeito, e sinto que ela quer o mesmo.
Mas somos duas covardes, que não querem arriscar, não querem descobrir no que isso vai dar, porque admitir que queremos isso, seria o mesmo que admitir que estamos prontas para encarar tudo e todos, principalmente nossos próprios medos e traumas. E não estamos prontas para isso.
Acho que ela vai partir para cima de mim para me agredir, sendo que ela se aproxima com certa fúria, mas me surpreendo quando sinto suas mãos segurarem meu rosto, puxando-o contra o dela e ela levanta os pés para poder alcançar meus lábios.
Sua boca está na minha novamente, e sentir a sua macies me deixa ainda mais com vontade de experimentá-la. O beijo não passa de um roçar de lábios até que peço passagem para que minha língua toque a sua e ela permite. Nesse momento meu controle vai para o espaço e a puxo pela cintura para ainda mais perto e aprofundo o beijo, sinto seu gosto e quero cada vez mais.
Clara separa nossas bocas apenas para buscar um pouco mais de ar, mas logo volta a me beijar com intensidade, e sem nos separar eu a conduzo até o banco que há no meio do vestiário, me sentando e a trazendo para meu colo.
A ouço suspirar e não evito fazer o mesmo, a encaro por um breve momento e vejo que o desejo também está presente nela, o que me faz não perder mais tempo e volto a grudar nossos lábios.
Sua boca se encaixa perfeitamente na minha, suas mãos fazem uma bagunça gostosa em meus cabelos e as minhas passeiam pelo seu corpo. Ela é pequena perto de mim, mas seu corpo é cheio de curvas e isso me deixa ainda mais louca.
Clara desce seus beijos para meu pescoço e meu corpo vai esquentando ainda mais, seguro em sua cintura a conduzindo a se mexer em meu colo, em busca de atrito entre nossos corpos, mas somos surpreendidas com as luzes sendo ligadas e o barulho da porta sendo aberta.
A mais nova salta do meu colo e tentamos nos ajeitar para que quem quer que seja, não note o que acabou de acontecer.
— Aí estão vocês — Ouvimos a voz de Ana soar pelo local — Desculpa a demora, meninas.
— Não precisa se desculpar — Consigo falar, sendo que Clara ainda está com a cara assustada, como se tivesse sido pega no flagra.
— Espero que isso não se repita, meninas — Ana fala enquanto pegamos nossas coisas para sair da sala — Sorte de vocês que eu consegui vir abrir, caso contrário vocês iriam se enfiar em um problemão.
— Não irá se repetir — Agora é a mais nova quem se pronuncia.
— Vamos indo nessa então.
Ana nos acompanha até a porta do clube, e volta para verificar se está tudo trancado novamente.
Não sabemos como devemos agir, porém sei que nenhuma das duas vai querer falar sobre o ocorrido de agora a pouco.
— Você quer uma carona? — Ofereço.
Antes de responder, ela encara seu celular por alguns segundos e depois sua atenção está em mim novamente.
— Acho que terei que aceitar, ainda está chovendo bastante e preciso buscar Nicolas.
— Ok, passamos lá em casa e o pegamos e eu deixo vocês em casa, para que não precisem pegar chuva.
— Não precisa, só me levando até sua casa já está bom.
— Você sabe que não vai adiantar reclamar, eu não vou deixar vocês irem na chuva.
Não falamos mais nada, apenas seguimos até o estacionamento e entramos no carro e seguimos para minha casa. O caminho todo foi feito em silencio, nem quando Nico estava presente o clima melhorou, apenas me despedi do garoto, prometendo que voltaria outro dia para brincar com ele. Mas duvido que sua mãe vá deixar depois do que aconteceu hoje.
Fim do capítulo
Volteeiiiiiiiiii
O capitulo foi previamente revisado, porem se ter algum erro me avisem que eu corrijo.
Saiu o primeiro beijoooo..... A Ana poderia ter chegado um pouquinho mais tarde né? hahahaha
Não esqueçam de comentar muito gente.
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia
Comentar este capítulo:

Socorro
Em: 11/09/2025
Minha quinta começou kkkk
Quero ver o depois kkkkkk
Clara, vai correr para o Mateus kkkk
volta logo kkkk

Paloma Matias
Em: 11/09/2025
Autora da história
Será? Acho que a Sam vai surtar se souber de uma coisa dessa kkkkk
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Carolzit
Em: 11/09/2025
Bom dia autora!!! Essas duas são como fogo e gasolina... Não conseguem ficar juntas sem discutir. Não vejo a hora de ver elas juntas de fato. Bjs

Paloma Matias
Em: 11/09/2025
Autora da história
SIIIIMMMMMM, esse momento ainda vai chegar kkkkk
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