Quando cheguei em casa lembrando do convite da Bia para almoçar com ela, cai no sofá imaginando como seria, ela dissera para eu escolher o lugar, mas já sabia o que faria. Levantaria cedo no dia seguinte, correria no mercado e eu mesma iria preparar o nosso almoço. Aproveitei e comprei uma garrafa de vinho, não era sempre que bebia, mas era uma ocasião especial.

Optei por fazer uma lasanha, uma vez Sara me dissera que era um dos pratos favoritos da Bia, faria com todo carinho. Por volta das onze estava pronto, só teria que levar ao forno no momento certo.

Tomei um banho relaxante e aguardei que ela chegasse, pontual como sempre, me trouxe rosas, ela sabia me cativar, as coisas foram acontecendo, sempre leve e divertido, era assim com ela, ria fácil na sua companhia, e com certeza sabia tirar minha razão e minhas palavras.

Quando ela dissera tudo o que de certa forma sonhava que a Bia dissesse para mim, congelei, não acreditava que poderia estar acontecendo. Ela queria tentar um relacionamento comigo, mesmo confusa como disse, isso mesmo?

Estava explodindo por dentro, meu coração gritava um “sim, quero viver minha vida ao seu lado, compartilhando todos os momentos que sonhei”, meu irmão chegou e nos trouxe a realidade, não dei a resposta que queria dar a ela, embora meu coração respondesse aos gritos, precisava pensar e agir com cautela.

Naqueles últimos meses, muita coisa mudou dentro de mim, o fato de achar que nunca ficaríamos juntas, e o medo disso acontecer, fez com que me escondesse dentro de uma redoma protetora, e desde que ela saíra da minha casa até agora, quase anoitecendo, estava com suas palavras martelando em minha mente, aquela proteção se rompeu no momento em que dissera que estava apaixonada por mim, sorri, meu coração estava acelerado.

– Pam, está entre nós? – Olhei para meu irmão, como se não o visse ali, ele sorriu e acordei do transe. – Você está bem?

– Sim, desculpa, estava distraída.

– Bem distraída, eu diria, to a quase dez minutos aqui falando com você.

– Desculpa, estava pensando no que aconteceu mais cedo.

– Com a Bia? – Ele sentou ansioso. – Deveria ter me dito que ela viria, e eu ficaria fora, creio que tenha atrapalhado o almoço de vocês.

– Na verdade, chegou bem na hora em que ela estava se “declarando”.

– Que droga, quer me matar por isso, não? – Ele gargalhou. – Sinto muito por ter chegando em mau momento.

– Não, de certa forma me acordou, queria tanto que ela dissesse o que me disse hoje, que acabaria me jogando nos braços dela sem pensar nas consequências.

– Quais consequências, minha irmã, você é louca por essa mulher, e quando a oportunidade aparece, foge?

– Eu não fugi, seu bobo – bati de leve em seu braço – só precisava absorver o que ela disse e ter a resposta certa no momento certo.

– E tem essa resposta?

– Sim... – sorri sem hesitar.

– E está esperando o que? – Ele levantou me puxando para seus braços. – Corra em direção a sua felicidade, minha irmã, não pense, apenas vá.

Sorri, ele me abraçou forte, corri para meu quarto, tomei banho, coloquei uma roupa quente, estava frio aquela noite, de volta a sala, dei um beijo nele e corri para o carro, dele para a casa da Bia. Toquei a campainha, não demorou muito ela atendeu, sorridente.

– Que surpresa boa... – me puxou para seus braços, como sempre, me preenchendo com ele.

– Tia Pammm – Izzie veio correndo, me abraçou forte.

– Oi, minha princesa, como você está?

– To bem, nós vamos assistir filme.

– Sério? Que gostoso!

– Olá, Pamela, tudo bem? – Lara veio em minha direção, me deu um beijo no rosto.

– Oi, cheguei em um mau momento?

– De forma alguma, entra e nos acompanha. – Bia me puxou para dentro, aquele clima familiar era acolhedor, sorri. 

O filme foi escolhido, sabores das pizzas determinado, era aguardar chegar, me ofereci para fazer a pipoca.

– Oba, eu quero com caramelo – Izzie se animou dizendo.

– Eu também, por favor! – Bia disse fazendo careta, sorri para as duas.

– Volto logo.

Segui para a cozinha onde Lara estava comendo uma maçã, sorriu ao me ver, sentada sobre a bancada, depois de colocar a pipoca no micro-ondas, fiquei olhando mãe e filha interagindo na sala, Lara se aproximou perguntando.

– Pam, podemos conversar?

– Claro Lara, só um minuto – sorri para ela, desviando a atenção das duas na sala – elas estão animadas, não é?

– Quando é um filme que chama atenção das duas, é sim – sorriu, olhei para elas na sala, nem disfarçava meus sentimentos, mas seu sorriso ao notar o meu me fez ficar apreensiva, perguntei – disse que queria conversar comigo, do que se trata?

– Queria te fazer uma pergunta.

– Ora, pois faça – sorri pegando os baldes, ela me olhou, dessa vez quase séria, perguntou.

– Gostaria que fosse bem sincera ao me dar a resposta, tudo bem?

– Com certeza Lara, do que se trata?

Olhei preocupada para ela que sorriu, ainda com um ar sério, perguntou.

– Numa escala de zero a dez, o quanto a Bia é importante para você?

– E isso é relevante porque? – Perguntei interessada.

– Disse que iria me responder?

– Sim, mas preciso saber o porquê isso é relevante para você?

– Ela é minha irmã, estou apenas preocupada com o interesse das pessoas a sua volta, não que eu esteja desconfiando de você, não me entenda mal, por favor, estou apenas preocupada.

– Entendo sua preocupação – desviei os olhos dela para o micro-ondas onde tirei o pacote da pipoca e colocando no balde, disse – nove, na sua escala.

– Muito importante então?

– Sim, ela é minha amiga, prezo bastante minhas amizades, Lara, quero que ela seja feliz.

– Você a ama? – Estava de costa para ela, senti meu coração apertar com aquela pergunta, quando a olhei ela disse simplesmente – seja sincera, por favor.

– Sim, como amiga – sorri desviando os olhos, ela se aproximou ficando na minha frente, disse.

– Está mentindo para mim.

– De onde tirou isso?

A olhei desafiante, a Bia apareceu nos olhando, se aproximou perguntando.

– Tudo bem aqui? – Olhou da irmã para mim, sorri dizendo.

– Tudo bem sim, o que aconteceu? – Ela sorriu dizendo.

– Izzie está me deixando doida, a pipoca já está pronta?

Olhei para o balde ao lado, o peguei entregando a ela dizendo.

– Cuidado que ainda está quente.

– Certo! – Nos olhou ainda perguntando. – Vão se juntar a nós?

– Sim, irei fazer mais uma pipoca, não quero doce.

– Vou esperar a Pam – sua irmã disse sorrindo, ela concordou dizendo apenas.

– Entendi.

Sorriu se afastando, ainda olhou para trás, sorri para ela que se juntou a filha, logo se distraiu, voltei para Lara dizendo.

– Não pode me acusar de mentir como acabou de fazer.

– Não acusei você, apenas constatei o que já havia desconfiado.

– Está enganada quanto a isso – coloquei o saco com a pipoca no micro-ondas fechando-o com mais força que o necessário, fechando os olhos tentando me acalmar, estava nervosa, senti a presença dela logo atrás, dizendo.

– Porque não contou a ela?

Inspirei fundo deixando meus ombros caírem, ela já tinha descoberto mesmo, virei sorrindo triste, disse.

– Eu não queria assustá-la com isso.

– Como você aguenta ficar ao lado de alguém que ama, e não assumir esse sentimento?

– Você é irmã dela, sabe que ainda não estava preparada para falar sobre amar outra pessoa.

– Qual é, já se passaram quase quatro anos que Sara se foi, ela precisa voltar a viver – a olhei, em meus olhos o brilho do sentimento estampado, ela sorriu dizendo – só um cego não vê o que sente por ela, Pam, e ela sabe disso, sei que ela foi conversar hoje com você sobre, mas algo a atrapalhou.

– Sim, ela se declarou, e meu irmão chegou no momento, não consegui assimilar as coisas que ela disse, mas vim aqui na intenção conversar com ela e “tentar”, como ela mesmo disse, não sabia que seria colocada a prova disso... – sorri nervosa.

– Ela deu o primeiro passo, não era isso que queria? – Perdi as palavras, Lara se aproximou carinhosamente.

– Como você sabe disso? – Ela sorriu vitoriosa.

– Por favor, eu vejo as coisas, embora não me meta na vida da minha irmã, inconscientemente a empurrei para isso – aquilo fez meu coração ficar aquecido, saber que sua irmã aprovava meus sentimentos. – Sabe que ela passou quase oito anos para enfim se declarar a Sara, não sabe, querida?

– Sei, conheço a história.

– Então, não a deixe esperando mais, vocês merecem a felicidade e na minha opinião, demorou demais já.

– Não sei Lara... – olhei as duas na sala – a Bia e Izzie são muito importantes para mim, temo afastá-la se não souber compartilhar o que ela deseja.

– Há quanto tempo? – Olhei para ela, com culpa sorri dizendo.

– Acho que me apaixonei no instante em que Sara falou dela pela primeira vez, não queria assumir, me sinto culpada por isso, mas não posso mais negar pelo menos não para mim.

– Como consegue, Pam? – Olhei para ela com os olhos brilhantes, sorri dizendo.

– O amor que ela sentia pela esposa, vai além do que posso esperar dela, tinha medo de dizer e ela se afastar, como já aconteceu só de ela ver esse sentimento em meus olhos, sendo sua amiga, ao menos tinha parte desse carinho, como eu disse, quero que ela seja feliz, ao menos era o que eu pensava, até hoje.

– O que mudou?

– O fato de a Bia ser como ela é, não sei resistir aos seus encantos, quase cedi essa manhã, mas precisava pensar, e foi o que aconteceu – sorri, meu coração acelerado – eu amo a sua irmã, Lara, e vim aqui para dar uma resposta a ela, mas terei cautela, não quero magoá-la e nem me machucar.

– Espero que vocês tomem a decisão certa, e estou na torcida... – sorriu me abraçando, significava muito essa recepção de Lara.

Ela não disse mais nada, sorri indicando a sala para onde fomos, a campainha tocou, a pizza chegou, as duas jogadas no chão, sorri ao ver Izzie sentadinha entre as pernas da Bia que estava encostada no sofá, nos olhou sorrindo dizendo.

– Estão perdendo a melhor parte do filme.

Sorri de volta, nos sentamos no sofá e curtimos a noite, ao final dela, Lara carregava a sobrinha sonolenta para o quarto, se despedindo também. Estava em pé na sala, quando a Bia voltou do quarto, fora dar boa noite para a filha, me olhou e se aproximou, dizendo.

– Enfim a sós? – Sorri nervosa, de fato, era o que eu queria. – Espero que tenha curtido a noite, fiquei muito feliz por ter vindo.

– Eu também, agradeço, adoro esse clima familiar, vocês são demais.

– Será bem-vinda, sempre que quiser, é tudo mais gostoso quando está conosco.

– Bia... – em dois passos ela me alcançou, pegou minha mão, sorriu.

– Estou ansiosa, não esperava te ver hoje, não parece, mas fiquei o tempo todo imaginando o porquê veio aqui, se já tinha uma resposta, não quero apressar – sorriu nervosa – mas ao ter você aqui comigo agora, gostaria de saber se pensou no que falei mais cedo.

– Sim, na verdade vim por causa disso.

– Verdade? – Parecia mesmo ansiosa, pediu carinhosa. – Me diz então, o que pensou?

– Sim... – sorri, ela me olhou intrigada, adorava aquele olhar confuso, e para facilitar me aproximei – espero que isso a ajude a entender a minha resposta.

Meus lábios tocaram os dela, que surpresa, mas ao mesmo tempo feliz, retribuiu o beijo que dei, dessa vez não tão urgente como havia sido na primeira vez que a beijei, de pura entrega de ambas, e confesso, meu corpo cedeu diante do seu toque ao meu, como era possível me entregar assim?

Ela me abraçou forte, me senti ainda mais segura, demoramos uma eternidade dentro daquele beijo maravilhoso, quando nos afastamos, ela encostou a testa na minha sussurrando.

– Estou tão feliz de você estar aqui e entre meus braços, esperei ansiosa por isso.

– Deveria ter vindo antes, mas precisava... – ela tocou meus lábios com os dela, me calando, disse sorrindo.

– Não devemos nos apegar ao que passou, tudo o que interessa é de agora em diante.

– Como pode ser tão perfeita? – Sorri, meu coração explodindo.

– Com o tempo verá que tenho meus defeitos, e poderá odiá-los.

– Jamais... – ela quem tomou a iniciativa agora, seus lábios tomaram os meus como se fossem, dela, e de fato eram.

Fim do capítulo