Capitulo 33 - Mamães tem ciúmes
Olivia
O dia demorou a clarear, se eu dormi três horas durante a noite toda foi muito. Não consegui parar de pensar em tudo que Giovana me falou, e por mais que eu quisesse dizer que nada mexeu comigo, não consigo.
Sentir seus lábios, mesmo sendo por pouco tempo, e ouvi-la dizer que me ama, mexeu com algo aqui dentro, mesmo eu tendo construído todas as barreiras possíveis.
Sua vida não foi nada fácil, isso devo admitir, e não sei se eu agiria diferente estando na mesma situação dela, não tenho como dizer que teria corrido e contado tudo para ela se a nossa família estivesse em perigo.
E foi esse pensamento que não me deixou dormir à noite toda, fiquei pensando em tudo que ela me contou e me perguntei o que teria feito em seu lugar, e cheguei a uma única resposta: provavelmente eu teria tomado a mesma decisão.
Mas chegar a essa conclusão não fez a dor diminuir, não me fez confiar nela novamente, e isso me deixa cada vez mais confusa. Ao mesmo tempo, penso que ela se preocupou em deixar meus filhos consciente de que não estaria presente na vida deles por um tempo, agora consigo entender a tranquilidade deles, como não se desesperaram enquanto eu, só pensava em como iria sobreviver novamente a um coração partido.
Olho para o relógio que tem sobre a mesa de cabeceira e vejo que são 07:08 da manhã, gostaria de conseguir dormir mais um pouco, mas sei que não vou conseguir.
E de repente meus pensamentos são interrompidos por leves batidas na porta. Autorizo a entrada, já imagino quem possa ser. A porta se abre, e consigo ver apenas o topo de uma cabecinha entrando em meu quarto.
- Bom dia, mama – Theo faz um esforço para subir na minha cama, sendo que ela é um pouco alta para o tamanho dele – Tá na hora de acordar, já é dia.
- Sim, meu amor, já é dia – O puxo para meus braços – O que você acha de ficarmos aqui na cama o dia todo e brincarmos de tesouro perdido, mas nós somos o tesouro.
Sua risadinha ecoa pelo quarto, era óbvio que ele não aceitaria a proposta, meu filho é serelepe demais para ficar em uma cama o dia todo e dou graças a Deus por isso, pois é sinal de que ele está bem, saudável e quer brincar.
- Não, mama – Se solta do meu abraço e fica sentadinho – A gente precisa levantar, tomar café para a barriguinha não doer e temos que acordar a Gigi e ver como ela está.
Puxo o ar mais profundamente, só em ouvir o nome dela, meu corpo já reage. A quem eu quero enganar tentando fingir que não me importo?
Mesmo contra minha vontade, me levanto com meu filho no colo e sigo para a cozinha para preparar nosso café da manhã. A casa ainda está silenciosa, e como toda manhã de sábado, deixo Theo na sala assistindo TV. Como a sala e cozinha são integradas, consigo vê-lo.
Não demorou muito até eu ouvir passos próximos, evito levantar o olhar para não a encarar.
- Bom dia – Sua voz rouca toma conta do lugar – Você saberia me dizer que horas foi combinado para as meninas passarem aqui?
- Bom dia – Resolvo ser educada – Elas não falaram um horário, mas acredito que por volta das oito elas estejam chegando.
Quando levanto meu olhar, encontro Giovana me olhando de cima a baixo e só então me toco que estou somente de camisola. Porr*, eu deveria ter trocado de roupa antes de descer.
- Meus olhos estão aqui em cima – Digo irritada – Você pode ficar na sala com Theo enquanto eu termino aqui.
A mais nova dá a volta na bancada que nos separa e se aproxima.
- Quer ajuda? – Seu tom é um pouco baixo.
- N-não – Gaguejo – Eu faço sozinha.
- Só preciso dizer uma coisa antes de ir – Chega mais perto, como quem conta um segredo – Você fica ainda mais gostosa nessa camisola.
O talher que está em minha mão cai no chão. Ela não pode fazer isso.
- Concordamos que você manteria a distância – A empurro para longe de mim – Isso quer dizer que você não pode falar essas coisas.
- Lembro de ter falado que respeitaria seu espaço, mas não lembro de ter falado nada sobre não dizer a verdade – Provoca.
- O Theo está na sala – Digo novamente – Vá ficar com ele e me deixe em paz.
Giovana sai da cozinha com seu sorriso travesso nos lábios. Preciso que ela saia dessa casa o mais rápido possível, se não a atacarei sem pensar muito.
A vejo chegar perto do meu filho que está concentrado no desenho animado que passa, ela senta-se ao lado dele, e não demora nem dez segundos até ele perceber sua presença e pular para seu colo.
Nota mental: Essa demônia não pode ser tão fofa assim. Essa cena não pode mexer tanto comigo.
Logo o café está pronto e os chamo para a mesa. Giovana se comporta e deposita toda a sua atenção no meu filho, ajudando-o com o café e ouvindo todas as histórias que ele tem para contar do tempo em que ela esteve fora.
Deixo os dois sozinhos e sigo para meu quarto, procuro uma roupa confortável, já que seguiríamos nossa programação de fim de semana, depois do café iremos ao mercado fazer as compras.
Quando eu termino de me arrumar, desço novamente e encontro os dois arrumando a mesa do café e conversando.
- Mas a Aninha me entende – Theo está contando alguma coisa.
- Você e essa Aninha são bem próximos, né? – Eles não percebem minha aproximação.
- Sim, ela é minha amiguinha – Meu filho ajuda a levar as coisas pequena até a bancada, para a maior guardar – Quando eu crescer eu posso namorar com ela?
Meu queixo cai com sua pergunta, e vejo Giovana paralisar no lugar, por um momento achei que ela não saberia o que responder, mas quando me preparo para entrar em ação ela reage.
- Olha, campeão – Começa neutra, mas sinto o desconforto em sua voz – Esse lance de namoro não é para crianças, você não tem que ficar pensando nisso agora, quando você for grande você decide se ainda quer namorar com ela ou não, mas por agora vocês podem ser só amiguinhos – Se abaixa para ficar em sua altura, tenta falar baixo mas ainda posso ouvir – E é melhor você não falar sobre esse papo de namoro perto da sua mama, ela não vai gostar nadinha.
Isso não é uma mentira, não gosto quando adultos ficam fazendo essas brincadeiras com as crianças, eles precisam aproveitar cada etapa da vida, e não ficar querendo imitar o que os adultos vivem.
- Por quê? – Ele pergunta curioso.
- Porque quando somos mamães a gente fica um pouco enciumada com nossos filhos, e não é legal saber que nossos bebês querem nos trocar por outras meninas.
- Mas você é minha mamãe e não ficou com ciúmes – Ele fala inocentemente.
Meu corpo gela, e já nem sei mais por qual motivo, se é sobre um possível namoro do meu filho de três anos, se é pela presença da garota que eu amo em minha casa ou se é por ele falar sobre esse assunto mais uma vez.
Me assusta a intensidade do sentimento entre os dois, e por mais que eu decida nunca mais ter Giovana em minha vida, não posso negar que os dois se apegaram e que meu filho a ama, e que ela retribui o mesmo amor.
- Filho – Resolvo interferir – Já conversamos sobre esse assunto.
Os dois olham em minha direção e se espantam, como se tivessem sido pegos fazendo arte.
- A senhola está com ciúme? A Gigi é outra menina, mas eu não vou trocar você por ela – Vem para perto de mim apressadamente – Ela é minha mamãe, mas você é minha mama.
- Filho...
Ouvimos o barulho de uma buzina, provavelmente as meninas chegaram para buscá-la. Salva pelo gongo.
- Está na minha hora – Minha aluna se aproxima do meu filho e beija seu rostinho – Tchau carinha, se comporta hem.
- Você vai voltar? – Ele pergunta.
- Acho que não, eu preciso organizar algumas coisas no dormitório, mas quando der eu volto para te ver, ok?
Ele só balança a cabeça em sinal de positivo, nossos olhos se encontram e não sei muito o que dizer.
- Tchau – Ela quem inicia – Vou lavar sua roupa e te devolver, tentarei voltar para a faculdade na segunda, aí te entrego na aula.
- Sem pressa.
- Obrigada por me deixar ficar, e até mais, Olivia – Ousadamente beija meu rosto também.
- Até mais.
A vejo sumir e logo ouço a batida da porta. Voltamos a ser somente meu filho e eu, nem sei qual vai ser a reação de Aurora quando souber de tudo isso. Falando nela, preciso ligar mais tarde para ver se está tudo bem.
Arrumo meu filho e fomos ao mercado, o pequeno, como em todas as vezes tentou me convencer que ele precisava de muitos doces para o fim de semana e que seus brinquedos estão chatos, que ele precisa de alguns carrinhos e brinquedos novos. Ele é um verdadeiro ator, mas eu já conheço suas peças e não me deixo levar.
Depois do almoço, faço Theo dormir seu soninho da tarde e corrijo alguns trabalhos dos meus alunos que estavam pendentes, isso me faz lembrar de uma certa aluna. Ela comentou sobre voltar as aulas na segunda, isso quer dizer que provavelmente tentará voltar para o estágio, já que sua graduação depende disso.
Mas deixarei isso para resolver na segunda, até porque quem decidirá algo será Adriana, ela que é responsável pelos estágios e pela equipe.
Olho o relógio e vejo que já são 14:30, me questiono se deu tudo certo no hospital, se ela conseguiu ser atendida e se está bem. Mas não tenho que me preocupar com ela, não temos mais nada, então se ela não estiver bem não é mais do meu interesse.
Mas que ser humano que sou? Não faz mal me preocupar com ela, assim como me preocuparia com qualquer outra pessoa, ué.
Pego meu celular e procuro o número de Gabriela, ela terá informações para me passar.
- Alô – Atende.
- Oi, tudo bem? – Digo como quem não quer nada.
- Tudo sim, e com você? – Se faz de sonsa.
- Também... – A ligação fica muda.
- O que você quer? Apareceu mais alguém desmaiada na sua porta? – Solta uma gargalhada.
- Não quero nada e não apareceu ninguém aqui não. Não posso mais ligar para minha amiga? – Faço drama.
- Vou fingir que você ligou para saber de mim – Debocha – Mas para seu desespero, eu não estou com elas.
- Não?
- Não, as deixei no hospital e tive que ir à casa da minha irmã resolver uma outra coisa, então elas vão para o dormitório de Uber, mas você pode ligar para o celular da Valentina, pelo que eu soube a Giovana está sem.
Verdade.
- Não quero incomodar, Val vai saber cuidar dela se acontecer algo – Digo decepcionada.
- Olha, eu sei que você está querendo bancar a fortona e que não quer dar o braço a torcer, mas se está preocupada com ela, ligue.
- Não estou – Tento disfarçar – Só queria ter notícias, afinal foi na minha porta que ela desmaiou.
- Vocês conversaram ontem? – Não dá bola para as minhas desculpas esfarrapadas.
- Sim.
- E como você está se sentindo?
- Confusa.
- Sei que ela cometeu um deslize, mas eu estava presente quando ela contou para a Val sobre a ameaça, acho que isso merece ser levado em consideração.
- Claro que sim, e o fato de ela não ter me levado em consideração eu faço o que? Enfio no c...
- Olha a boca – Me repreende – Somos adultas para saber que nem sempre fazemos o que queremos, mas sim o que precisamos fazer.
- Que se foda o que ela precisava fazer – Não ligo para a repreensão dela.
- Eu não estou dizendo que ela agiu certo, apenas que está tudo bem se você quiser dar uma segunda chance para ela – Para um segundo – Eu sei que você está sofrendo, mas ela explicou o que houve, e por mais que agiu errado, ela agiu tentando acertar, seria diferente se ela não tivesse pensado em vocês.
- De que lado você está?
- Da felicidade das duas – Respira fundo – Se você não se sente pronta para pôr um ponto final definitivo, está tudo bem Liv, você não precisa decidir agora, você pode ter seu tempo para avaliar o que realmente quer. Mas você também não precisa esconder que se importa com ela.
- Não me importo.
- E eu sou a Xuxa.
- Eu só estou confusa.
- E é normal, foi muita coisa que aconteceu em pouco tempo, mas não se cobre tanto, você pode deixar rolar.
- A última vez que deixei rolar, acabei levando um fora e chorando por duas semanas – Sou sarcástica.
- E teve um motivo para acontecer isso, e se acontecer de novo aí você terá certeza de que não era para ser e eu vou caçar aquela branquela até o fim do mundo.
- Não quero sofrer de novo.
- Você já está sofrendo, minha amiga – Tenta ser compreensiva – Você sofre mais com a distância do que com a presença dela e pode ter certeza de que eu seria a primeira a te alertar se a presença dela te fizesse mal.
- Preciso desligar, tenho que corrigir trabalhos.
- Tudo bem – Suspira – Mas pensa no que te falei.
- Ok, beijos.
- Beijos.
Ao desligar a chamada, não leva nem um minuto para meu celular tocar, é um número desconhecido, normalmente nunca atendo quando não sei quem é, mas me lembro que pode ser ela.
- Alô – Atendo.
- Oi, sou eu – Reconheço sua voz, eu estava certa – Val achou que seria uma boa ideia eu te dar notícias, então se eu estiver te incomodando, por favor, brigue com ela e não comigo.
Por um breve momento, achei que Gabriela poderia ter falado com a namorada e dito algo da nossa ligação, mas seria impossível pelo espaço de tempo em que as duas chamadas aconteceram.
- Tudo bem, estava só corrigindo uns trabalhos – Faço pouco caso e omitindo o fato que estava agora apouco tentando conseguir informações.
- Ah! Eu ainda estou no hospital – Diz com uma voz nada animada – O médico quis me deixar em observação por conta do desmaio.
- E o que ele falou sobre sua situação – Acho que demonstro interesse demais em minha voz.
- Aparentemente está tudo bem, somente os mesmos problemas de dois dias atrás, nada a mais quebrou e o desmaio provavelmente foi causado pelo esforço excessivo.
Solto a respiração que estava segurando.
- E você terá que ficar quanto tempo aí?
- Mais uma hora – Posso imaginá-la revirando os olhos – Isso é um saco.
- Acredito, mas é necessário – Tento confortá-la – Depois vocês irão para o dormitório, certo? – Pergunto despretensiosa.
- Eu sim, a Val tem compromisso com a Gabriela – Explica.
- Mas ela não ficou responsável de cuidar de você? – Minha voz sai mais acusativa do que o necessário.
- Linda – Usa meu apelido – Eu não preciso ser cuidada como uma criança.
- E se você voltar a desmaiar?
- Não voltarei, por isso que ainda estou nessa merd* de hospital, para ver se isso tem chance de acontecer.
- Venha para cá – Digo sem pensar – Você não ficará sozinha.
- Não precisa – Solta um sorrisinho – Eu amaria ir para aí, mas não apenas por você estar preocupada, não quero atrapalhar seu fim de semana, então vou para o dormitório.
- Te espero aqui em uma hora e meia – Não ligo para nada do que ela falou.
- Olivia...
- Não é um pedido.
Desligo a chamada sem dar a chance de ela responder nada. Droga, eu sei que vou me arrepender, sei que eu teria que manter a distância dela, mas não consigo.
Quanto mais quero afastá-la, mais quero cuidar dela.
Fim do capítulo
Boom diaaaa pessoal,
Manda quem pode, obedece quem tem juizo kkkkkkkkkkkkk
comentem muitoooooooo....
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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PriCobra0608
Em: 10/09/2025
Quanto mais leio, mas quero ler rs.... Foi sim uma boa cia...
Hoje tem mais rs....
Eeee indecisão, mas sempre ou qse sempre o amor fala mais alto neh
até mais
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