Esse capitulo contem conteudo sensível como abuso familiar, agressão física e ameaças.
Capitulo 31 - A verdade precisa ser dita
Olivia
Meu desespero aumenta quando consigo focar bem na garota, ela está encharcada pela chuva, seu olhar está distante, seu rosto está com um grande hematoma do lado direito, um pouco roxo acima do olho e com a bochecha arranhada, posso ver também que ela perdeu peso. Está completamente acabada.
Quando me preparo para mandá-la embora, seu corpo despenca aos meus pés, ela cai desmaiada.
- Meu Deus do céu.
Digo sem pensar e me abaixo para socorrê-la. Sua pele está muito gelada, e mesmo eu a chamando algumas vezes ela não acorda. Ela não pode morrer na porta da minha casa.
- Giovana – Chamo dando algumas batidinhas em seu rosto – Caramba, acorda, pelo amor de Deus.
A chuva continua forte e um vento frio abraça meu corpo, preciso levá-la para dentro.
Não, não, não, eu preciso colocá-la para fora, e não a deixar voltar nunca mais. Mas não consigo, não posso deixá-la nessa situação. Vou ajudá-la e depois a coloco para fora de uma vez por todas.
Consigo arrastar seu corpo para dentro e fecho a porta para nos proteger do frio. O que eu faço? Ela está muito fria, capaz de estar em estado de hipotermia.
Vou até o sofá e pego meu celular voltando a ligar para Gabriela.
- Já está com saudade? – Atende animada.
- Onde você está? – Digo desesperada.
- Acabei de pegar Valentina no dormitório, por quê?
- Vocês precisam vim para cá agora.
- O que houve? – Seu tom é preocupado.
- Giovana está aqui, apareceu agora na minha porta e está desmaiada, eu não sei o que fazer.
- Como assim? – Pergunta.
- Eu não sei, só sei que preciso de ajuda, não consigo fazer nada sozinha, sendo que Theo tá em casa, não vou conseguir levá-la ao hospital – Meu desespero aumenta – Me ajuda, Gabriela.
- Estamos indo para aí, chego em quinze minutos.
Não me despedi, apenas desliguei a ligação e fui até a garota que ainda está esticada no chão do meu hall de entrada. Corro até o quarto que ela ficava antes e busco alguns cobertores. Giovana é maior que eu, não conseguirei carregá-la para dentro e se sair arrastando-a, posso machucá-la ainda mais.
Estendo os cobertores sobre ela para aquecê-la, mas antes consigo tirar o moletom que ela veste que está muito molhado, assim o calor chegará mais fácil até seu corpo.
Ouço a campainha sendo tocada desesperadamente, provavelmente chegaram, isso que não faz nem dez minutos que desligamos a ligação.
Valentina entra em disparada quando abro a porta.
- Onde ela está?
Mas nem preciso responder, ela logo vê a amiga no chão.
- Misericórdia, Olivia – A voz de Gabriela toma conta do local – O que você fez com ela?
- Eu não fiz nada, só abri a porta e ela estava ali, segundos depois ela desmaiou, eu só consegui arrastar ela para dentro.
- Precisamos levar ela para o chuveiro, água quente vai ajudar aquecê-la – Valentina diz tirando todos os cobertores e começando a tirar a roupa dela também.
- Só meu quarto tem banheira, que seria melhor do que o chuveiro – Explico – Vou subir e colocar para encher e volto para ajudar a levá-la para cima.
Faço o que digo, agindo no automático, minha mente não consegue assimilar tudo que está acontecendo, por mais que eu esteja com uma raiva mortal dela, não consigo deixá-la morrer embaixo do meu teto.
E só de pensar nessa possibilidade meu coração dispara ainda mais. Ligo a banheira, confiro se a temperatura da água está boa e saiu correndo para ajudá-las, mas as encontro na metade da escada.
Ajudo Gabriela a segurar do tronco para cima enquanto Valentina a segura pelas pernas. Não demoramos quase nada até chegar no meu banheiro. Giovana está somente de calcinha e top, e seu corpo está com várias machas roxas, além de alguns machucados.
Tento não me espantar mais ainda, porque precisamos agir antes que seja tarde demais. A colocamos dentro da água que já está acima da metade da banheira. Val entra com ela, de roupa e tudo, para poder segurá-la para não afundar e se afogar.
Ficamos ali vendo sua amiga jogar a água quente por todo seu corpo que ainda não está coberto e aos poucos sua cor natural foi voltando, os seus lábios perdeu a cor pálida e voltou a ficar vermelhinho.
Minhas mãos param de tremer um pouco ao vê-la voltando a vida. Depois de uns dez minutos dentro da banheira, Giovana foi voltando a consciência, e consigo respirar mais aliviada. Quando seus olhos se abrem por completo, fixam em mim.
- Vocês fiquem à vontade – Digo – E-Eu vou... – Gaguejo.
- Você poderia preparar algo para ela comer? – Gabriela diz.
- S-sim.
Saiu do quarto sem esperar para ouvir o que elas têm a dizer. De duas semanas para cá, minha vida deu uma virada de 360°, e quando acho que as coisas podem estar tomando o rumo certo, volto a levar uma rasteira.
Chego na cozinha e pego algumas coisas para fazer uma sopa, é a única coisa que me vem à mente de ser rápido de preparar e que vai ajudá-la a se esquentar.
Quando eu termino de picar tudo e colocar no fogo, me sento na cadeira da mesa da cozinha para esperar o tempo necessário, e é nesse momento que me dou conta do que acabou de acontecer nos últimos minutos, e me permito chorar.
Claro que não queria voltar a vê-la, mas também não queria encontrá-la dessa forma, e quanto mais penso, mais sinto e mais choro.
Mãos tocam minhas costas me fazendo dar um pulo no lugar, Encontro Gabriela ao meu lado assim que consigo focar minha atenção.
- Como você está? – Se senta ao meu lado sem parar de fazer carinho em minhas costas.
- Não sei, acho que agora que estou conseguindo pensar no que acabou de acontecer – Hesito – Ela está bem?
- Depois que você saiu ela voltou a desmaiar, mas conseguiu recuperar a consciência – Explica – Tiramos ela da banheira e Valentina a secou e a deitamos na sua cama, pelo menos só até ela melhorar um pouco para conseguirmos levar ela. Peguei uma muda de roupa sua para Valentina, ela entrou de roupa e tudo na banheira com a amiga, espero que não se importe.
- Vão levar ela para onde? – Ignoro a última parte, porque realmente não me importo.
- Primeiro para o hospital e depois para o dormitório, assim Val pode cuidar dela.
- Ok.
A sopa não demora a ficar pronta, sirvo em um prato fundo e entrego para Gabriela.
- Você quer subir?
- Não sei – Sussurro.
- Eu estarei lá, qualquer coisa você pode sair.
Hesito novamente, mas a sigo. Sei que não deveria me importar, nem estamos mais juntas, mas é inevitável.
Entramos no quarto e os olhos claros me encaram e eu paraliso, não dizemos nada, mas nem por um segundo ela desvia o olhar. Ela está deitada no lado da cama que antes pertencia a ela. Faz esforço para se levantar, mas sua amiga a impede.
- Olivia – Diz e meu corpo treme ao ouvi-la.
- Gabriela vai te ajudar a comer a sopa que fiz, vai te fazer se sentir mais forte – Digo mantendo a distância.
- Eu não quero sopa, eu preciso falar com você – Diz rapidamente.
- Não – Digo firme – Não temos mais nada a conversar.
- Temos – Insiste – Agora eu posso te contar o que aconteceu, posso te falar o que realmente...
Saiu correndo do quarto antes que ela termine de falar, mas não consigo ir longe, paro no meio do corredor e quando percebo já estou me sentando no chão, com o rosto lavado por lágrimas.
Por dias eu esperei que ela voltasse com alguma explicação, esperei uma ligação ou qualquer sinal de arrependimento, mas ela não apareceu, e agora que eu consigo estar 20% mais forte, conseguindo pensar em tocar minha vida, ela aparece desmaiando em minha porta, toda machucada.
Tomada por uma raiva que não cabe mais dentro de mim, respiro fundo e me levanto determinada a voltar para o quarto e a mandá-la embora.
Mas a coragem vai para o espaço quando entro novamente no quarto e a encontro se contorcendo de dor em cima da cama, seus gemidos são baixos, mas é perceptível sua dor.
- O que está acontecendo com você, Giovana? – A voz de Valentina é desesperada.
- Eu estou com uma costela quebrada, e se me mexo muito bruscamente sinto muita dor – Ela explica.
O olhar de Gabriela repousa sobre mim, ao mesmo tempo que ela está muito preocupada com a garota, está comigo também, pronta para entrar em minha defesa a qualquer momento.
- Meu Deus, Giovana – Sua amiga suspira inconformada – O que você andou fazendo?
- O necessário – Diz já respirando melhor e voltando a me encarar – Olivia, me deixa explicar, por favor.
- Você acha que é só aparecer na minha porta que eu vou te ouvir como se esse tempo todo não tivesse passado?
- Só me deixe explicar, depois eu vou embora, eu juro – Seus olhos lagrimejam e sinto que vou ceder.
- Eu não quero te ouvir – Digo tentando usar o pouquinho de força que há em mim.
- Só me deixe falar, depois eu sumo da sua vida e não apareço mais se for o que você quer, mas você merece uma explicação.
- Agora? – Solto uma risada sem humor – Agora eu mereço uma explicação? Há duas semanas eu não merecia? Quando você pediu um tempo você não pensou que eu merecia saber um pouco mais do que estava acontecendo.
- Me ouve, é meu último pedido – Sussurra sem fôlego.
- Coma sua sopa, estarei lá embaixo te esperando, vou pegar uma roupa seca para que você possa se vestir para ir embora – Digo fria.
- Eu não estou com fome – Fala contrariada.
- Você não tem muita escolha, amiga – Val se intromete – Você não está nem parando em pé, precisamos te levar no hospital.
- Não preciso de hospital, eu só estou um pouco fraca e com dor, mas vou ficar bem.
As deixo conversando em meu quarto e vou até meu closet pegar uma muda de roupa. Isso não pode ser real, devo estar em um pesadelo e daqui a pouco vou acordar.
- Liv – Gabriela me segue – Você vai ouvi-la?
- Se ela quiser falar, pode falar, mas não acho que fará diferença – Sou sincera.
- Acho que você deveria ouvi-la.
- E por que eu deveria fazer isso? – Me viro para ela com as mãos na cintura.
- Porque ela falou algumas coisas para a Val, e acho que seria importante você saber também – Se aproxima de mim – Eu e Valentina estaremos aqui ainda, a qualquer momento você pode me falar, que eu as levo embora no mesmo instante, sabe que estou aqui mais por você do que por ela. Só acho que vale a pena você ouvir.
- Ok, estarei lá embaixo – Pego a muda de roupa que já sei que servirá nela e entrego para minha amiga – Aqui está a roupa.
- Tudo bem.
Saiu do closet e nem olho em direção da cama, apenas sigo direto para a sala. Me sento novamente no sofá tentando acalmar meus nervos.
Quinze minutos depois, as três descem as escadas calmamente, na velocidade que Giovana poderia andar sem correr o risco de cair. Ao chegar no andar debaixo, Gabriela e Valentina avisam que vão aproveitar que a chuva deu uma pausa e vão sair para resolver umas coisas e voltam em meia hora.
Sei que elas não têm nada para resolver, apenas querem nos deixar sozinhas. Ainda bem que minha amiga disse que estaria aqui, penso ironicamente.
Enquanto elas saem pela porta, vejo Giovana vim em direção ao sofá para sentar-se. Ela pega algumas almofadas para colocar como apoio em suas costas para ficar mais confortável, e por mais que eu sinta vontade de ajudá-la, evito chegar muito perto.
- Você tem meia hora para falar o que tem para falar e depois dar o fora da minha casa – Sou direta.
- Eu sei que o que eu fiz com você não merece perdão – Começa – Mas preciso te contar a história toda e depois vou embora.
Não digo nada, apenas fico esperando que ela continue a falar, mas ela parece procurar as palavras em sua cabeça. Apenas aguardo.
- Sei que na sua cabeça, eu estava te traindo e te abandonei porque não te amo – Respira fundo – Mas espero que o que eu vá te contar agora tire isso da sua mente e você entenda que eu fiz o que precisava ser feito para a sua segurança e principalmente das crianças.
- O que a segurança dos meus filhos tem a ver com sua falta de caráter?
- Você vai entender – Ela fecha os olhos com tanta força que imagino que está segurando o choro – Eu precisei voltar para casa dos meus pais, e você sabe que isso não é um assunto fácil para mim, eu nunca gostei de falar deles porque existe um motivo para isso. Minha família é completamente desestruturada, e meu irmão vir atrás de mim não foi por saudade, foi porque ele queria algo.
- Preciso que você seja mais clara – Me apoio no escoro do sofá e levo minha perna direita para cima dele, para ficar de frente para ela.
- Na verdade, eu nem sei por qual parte começar – Me encara – Porque se eu te explicar somente a parte em que ele veio atrás de mim não fará muito sentido, mas tenho medo de falar sobre antes e você não querer me ouvir.
- Para ser bem sincera, eu não quero ouvir parte nenhuma, mas já que começou, explique tudo.
- Ok – Cria coragem – Minha família sempre teve muito dinheiro, mas nunca foi unida, tanto que meu pai criou meu irmão para ocupar o lugar dele no escritório e esqueceu o resto de nós. Eu, desde pequena passei mais tempo com minha avó do que com meus pais, quando eu estava com quatorze anos, ela ficou muito doente e quem cuidou dela foi eu. Durante três anos cuidei dela sozinha, porque minha família estava ocupada demais trabalhando, eles só se importaram com ela no dia que ela faleceu, ou melhor, com o dinheiro dela, afinal a maior parte da nossa fortuna estava no nome dela – Respira fundo – No dia da leitura do testamento, descobrimos que ela montou uma armadilha, me deixando todo o dinheiro da família e deserdando meu pai e meu irmão, e acredite, não é pouco dinheiro.
Mesmo sem entender o que isso tem a ver com nós duas, eu me espanto com essa informação.
- Mas para eu ter acesso ao dinheiro eu preciso me formar em alguma faculdade – Continua – De início não tive grandes problemas, porque meu pai já tinha planejado meu futuro, eu me formaria em direito e trabalharia no escritório, então na cabeça dele, o dinheiro continuaria sob seus comandos.
- E não foi isso que aconteceu – Não pergunto, afirmo.
- Não – Solta um sorriso discreto – Os maiores problemas começaram quando eu me assumi, quando apareci em casa e falei que estava namorando uma garota – Uma lágrima cai em sua bochecha.
- Eles não aceitaram – Essas histórias são mais comuns do que pensamos.
- Eu ficaria muito feliz se eles apenas não tivessem aceitado – Percebo que ela fecha a mão com força e seu semblante fica muito sério – O que vou te contar, não é para que você tenha pena de mim, só quero que você entenda o que precisei fazer nos últimos dias. Não contei isso antes porque não suportava ver a cara de pena das poucas pessoas que souberam, e não suportarei ver na sua também.
Sua fala me deixa sem reação, mesmo eu ainda estando fechada para qualquer pedido de desculpa, eu permiti que ela começasse, então agora quero saber até o fim.
- Ok.
- Meu irmão e meu pai acharam e ainda acham que é uma vergonha para o nosso sobrenome eu ser lésbica – Pensa mais um pouco – Na época eles acharam que eu mudaria de ideia se tivesse alguma relação sexual com um homem.
- Eles quiseram te achar um namorado? – Arrisco dizer.
- Não – Sua voz fica baixa – Eles pensavam que era melhor me forçar a ficar com um.
- Como assim?
- Um dia meu irmão disse, que iriamos sair para conhecer pessoas novas, que me faria bem sair um pouco do meio daquela confusão toda que estava sendo o luto da minha avó e toda a situação da minha saída do armário – Algumas lágrimas silenciosas voltam a cair, mas agora descem mais rápido – Eu fui burra e acreditei nele. Saímos e quando me dei conta, estávamos em um galpão no meio do nada, e lá estava meu pai nos esperando com um amigo.
Seu corpo começa a tremer e o meu também, por fim me dou conta do que ela está contando, ela foi abusada pelos próprios familiares.
- Eles não conseguiram fazer muita coisa porque eu consegui fugir – Continua contando – Passei aquela noite no meio do mato, com medo deles me encontrarem – Me estende o braço para que eu veja – Meu braço é todo tatuado para esconder algumas cicatrizes daquele dia.
Só então consigo perceber alguns relevos em sua pele, tapados pela tinta preta.
- O rapaz acabou me machucando com a faca que segurava em mãos, mas eu preferia morrer do que estar ali, e apenas fugi. No dia seguinte me encontraram e me levaram para casa, me ameaçaram caso eu contasse alguma coisa para alguém, falaram que matariam minha mãe se eu fizesse isso. Nos primeiros dias funcionou, porque tive medo, mas depois eu criei coragem e contei para ela o que fizeram e do que estavam me ameaçando.
- Ela fez algo? – Eu podia sentir a raiva que ela sentia.
- Não – Puxa o ar com mais força – Ela acreditou em mim, mas depois de algumas horas pediu para que eu esquecesse tudo que houve, que meu pai só tinha perdido a cabeça porque não sabia lidar com uma filha como eu. Eu sei que ela também estava com medo de ele fazer algo pior, e não teve coragem de ficar completamente do meu lado quando pedi para ela me ajudar a denunciá-los.
Sem me controlar, me aproximo dela e seguro em suas mãos, independente de ela ter ferrado minha vida, eu queria mostrar compaixão com ela no momento.
- Depois de um tempo, dizendo que tinha mudado de opinião e que iria tentar ficar com homens, para que eles me deixassem em paz, eu passei para a faculdade em Florianópolis, e fiz eles acreditarem que eu tinha ido para lá e que voltaria assim que terminasse.
Ela leva minha mão até sua boca e deixa um leve beijo na palma.
- Eu consegui vim para cá sem ninguém saber, mas no terceiro semestre meu pai descobriu que eu não estava cursando direito e que também não estava morando onde dizia, mas não descobriu em que cidade eu estava, porém foi nossa última conversa, ele me jogando na cara a vergonha que eu era.
“Minha vida estava fluindo bem até a duas semanas atrás quando Igor apareceu, e me ameaçou, que se eu não voltasse para casa ele faria a mesma coisa que fez comigo, com você ou com as crianças – Sua respiração ficou ofegante e eu não acreditei no que estava acontecendo – Eu fiquei com medo porque sei que ele é capaz, Olivia, ele já abusou de outras pessoas, e eu já tentei denunciá-lo mas nunca consegui provas, então entrei em pânico de ele fazer isso com vocês”
De repente ela começou a chorar muito, e eu estava tentando assimilar tudo que ela estava me contando. Recolho minhas mãos, pois em um piscar de olhos o toque dela começou me queimar, e me levanto do sofá em busca de ar, porque está difícil respirar.
- E você não pensou em nenhum momento em me falar tudo isso? – A questiono já elevando a voz – Não passou pela sua cabeça que eu poderia te ajudar a sair dessa?
- Eu queria, mas ele estava nos vigiando em todos os lugares – Fala entre os soluços – No dia que te falei que estava com Paula, na verdade estava com ele.
- E por que me deixou acreditar que estava com ela? Por que me falou isso?
- Porque eu sabia que seria uma coisa que te faria me odiar, e assim seria mais fácil me esquecer se eu não conseguisse voltar.
- Vai para o caralh* com essa desculpa, de que seria mais fácil – Me exalto.
- Eu ia te contar a verdade no dia que terminei com você – Continua falando sem se importar com meu ataque de fúria – Eu estava saindo para vir atrás de você quando Paula chegou no dormitório a mando dele.
- O que? – Digo desacreditada – Ela também estava envolvida?
- De alguma forma eles se conheceram – Explica – Ainda não sei como ele me achou aqui, mas sei que ele a encontrou e conseguiu informações sobre a gente através dela. Naquele dia ela confessou que ajudou ele porque não conseguia entender como eu tinha trocado ela por você, e que se eu não fosse dela, pelo menos sua também não seria. Foi a última vez que falei com ela, porque logo depois você chegou.
- Você deveria ter me falado, porr* – Esbravejo – Eu ia dar um jeito de te ajudar.
- Eu fiquei com medo – Se levanta – Mesmo assim eu ia te contar, mas ele estava lá fora naquele dia e me mandou uma mensagem...
“- Claro que não Olivia – Passa a mão pelo rosto, em completo desespero – Já te falei que não tenho nada com ela.
Nesse momento, seu celular vibra sobre a mesa de cabeceira e a luz se acende, Giovana corre para ver quem era. Seus olhos se arregalam e ela fica desconcertada.
Solto uma risada completamente sem humor, o que eu estou fazendo aqui?
- Quer saber – Quero o silêncio – Eu não vou ficar aqui vendo isso acontecer, já vi esse filme e já sei no que vai dar”
As lembranças voltam como um balde de água fria.
-... Ele disse que se eu não me livrasse de você em cinco minutos e o encontrasse já com as malas prontas ele iria para a casa de sua mãe fazer uma visitinha para as crianças, eu não sei se ele realmente sabia onde é a casa de sua família, mas eu não quis pagar para ver.
É muita informação em um momento só, minha cabeça parece que vai explodir. Ao mesmo tempo que minha mente consegue entender que ela pode ter pensado na gente quando agiu dessa forma, meu coração não consegue aceitar, eu poderia ajudá-la e ela preferiu agir sozinha.
- E o que você faz na minha casa novamente? – Minha voz é seca – Ele simplesmente parou de te ameaçar?
- Eu saí de Criciúma com um plano, que poderia dar muito certo, como poderia dar muito errado – Tenta se aproximar, mas eu me afasto – Por isso que não entrei em contato nessas duas semanas, porque sabia que meu plano era um pouco arriscado.
Desistindo de tentar chegar até a mim, e como ela está fraca, ela volta para o sofá para se sentar.
- Eu consegui gravar uma confissão dele e consegui contato com uma outra garota que sabia que ele já tinha abusado dela, ela aceitou denunciá-lo também quando viu que eu tinha mais provas – Continua – Antes de eu conseguir ir à polícia, ele descobriu sobre a gravação e quebrou meu celular, mas eu já tinha feito algumas copias e já havia feito a denúncia online, era só questão de tempo. Isso tudo resultou nesses hematomas que estou, apesar de hoje eu ser mais forte que antes por conta dos treinos, não sou mais forte que ele, e ele conseguiu fazer um grande estrago.
Volto a olhar em seu rosto machucado, me lembro dela ter falado sobre a costela quebrada, lembro de ter visto os roxos pelo seu corpo.
- Minha mãe agiu pela primeira vez em meu favor, chamou a polícia enquanto ele me batia, e conseguiram levar ele e eu fui para o hospital.
Ela olha para a mesa de centro e percebe as flores no vaso, e abre um grande sorriso.
- Você recebeu – Disse mais para ela do que para mim.
- E seu irmão está preso? – Me interesso mais por esse assunto do que pelas flores.
- Sim – Seus olhos voltam a focar em mim – Enquanto eu estava no hospital não tentei contato com você porque queria ter certeza de que ele ficaria preso. Meu irmão não é mais réu primário, por denúncias de estelionato, então isso facilitou bastante a permanência dele na cadeia, ainda terá o julgamento, mas a advogada me garantiu que tão cedo ele não sairá de lá.
Solto o ar sem nem perceber que estava segurando, sinto um alívio de saber que ele está em um lugar que não pode mais nos fazer mal.
Fim do capítulo
Bom dia gente.....
Deixem seus comentários sobre o que acharam desse desfecho sobre a familia da Giovana, o proximo capitulo vai sair ainda hoje porque é uma continuação.
Espero que a Leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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Sem cadastro
Em: 09/09/2025
Uauuuuu q capitulo.... ansiosa pelo próximo....
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Sem cadastro
Em: 09/09/2025
Uauuuuu q capitulo.... ansiosa pelo próximo....
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