Ecos de Fogo e Desejo
O cheiro de sálvia queimada preenchia a casa de Lia, misturado com o aroma adocicado de vinho velho e o incômodo ferroso da magia desgastada. As runas no corpo dela pulsavam com um brilho dourado inquieto. Desde o encontro com Elisa, dias atrás, Lia não tinha conseguido encontrar paz.
Ela se pegava encarando o celular, esperando qualquer notificação. Mas a tela permanecia teimosamente escura.
E como se o universo não bastasse em sua crueldade, Ísis tinha reaparecido.
Ísis. Com aqueles malditos olhos azuis, com a pele de porcelana e os lábios que Lia conhecia como ninguém.
— Você tá bem mais magra. — A voz de Ísis soou suave, quase um sussurro, enquanto ela encostava na porta do escritório de Lia. — Preocupada com a sua eterna?
Lia travou o maxilar.
— Ela tá no planeta da Alex… no meio de uma guerra fria. — respondeu, evitando o olhar dela.
Ísis caminhou até ela com passos lentos, calculados. Os quadris desenhando um convite silencioso a cada movimento.
— Você sempre fica assim… vulnerável… quando ela some. — Ísis deslizou os dedos pelas costas de Lia, roçando a pele descoberta, seguindo o caminho das tatuagens rúnicas.
— Ísis … — Lia disse com voz baixa, os músculos contraindo sob o toque. — Não começa.
— Ah, Lia… eu nem comecei ainda.
A voz mudou. Ficou mais rouca… mais lasciva.
De repente, sem aviso, Lia sentiu os dedos de Ísis apertarem com força demais a sua cintura. A atmosfera ficou mais densa. A energia da sala oscilou. E o que veio a seguir, não era mais Ísis.
Era a Oráculo.
— Sempre tão cheia de limites, Fênix… — sussurrou aquela outra voz, como se estivesse escorrendo pelas paredes. — Mas eu conheço seus desejos mais sujos… você quer isso. Sempre quis.
Lia se desvencilhou com um puxão brusco, o olhar duro e enojado.
— Você me dá nojo quando faz isso. — disse entre dentes. — Você… não é ela.
A Oráculo riu, uma risada baixa, quase gutural. Os olhos de Ísis ou o que restava dela naquele momento, brilharam com um azul ofuscante.
Antes que a Oráculo avançasse, Lia lançou um selo de contenção. Rápido e preciso. As runas em seu braço brilharam forte e Ísis caiu de joelhos, sufocada pela pressão da magia.
Quando Ísis recuperou a consciência, minutos depois, era ela mesma de novo. O olhar melancólico, carregado de culpa.
— Desculpa… — sussurrou — De novo… eu deixei ela sair.
Lia apenas virou as costas.
— Não é sua culpa, Ísis. — disse, saindo da sala. — Na próxima vez… eu vou ser mais rápida, eu sei diferenciar quando não é você.
****
Do outro lado da cidade, Ariel já tinha recebido, horas atrás, a confirmação de Ísis para o treino particular. Enquanto aguardava o horário estava remoendo o beijo em Ana na noite anterior.
O caos emocional dela era tão grande que mal conseguia manter a magia sob controle. O colar de contenção estava vibrando como um aviso constante.
Na escola de Ísis, Ariel se esforçava pra não explodir literalmente enquanto via Ísis passando de um lado a outro do salão, usando uma roupa que parecia propositalmente projetada pra distrair.
— Foco, Ariel. — Ísis disse, num tom baixo, enquanto passava por ela e deixava os dedos roçarem de leve no braço nu da garota.
— Tá difícil focar. — Ariel respondeu, ofegante, lutando contra a energia acumulada dentro de si.
O treino foi um desastre. Ariel explodiu dois cristais de contenção e quase abriu uma fenda dimensional no teto da escola.
Ao final, suadas e ofegantes, Ísis a encurralou contra a parede do salão de prática.
— Você tá brincando com fogo. — disse, encostando a testa na dela.
Por um segundo, um único segundo, Ísis hesitou. O olhar escureceu, o desejo quase transbordando.
Mas então, ela se afastou.
— Não. — disse, séria. — Não com você. Não agora.
Ariel ficou ali, tremendo entre frustração, desejo e raiva.
****
Horas depois, já em casa, Ariel contou tudo para Ana. Ela não conseguiu guardar pra si.
Ana ouviu calada. Não interrompeu.
No fim, apenas perguntou:
— Você quer mesmo ela? Ou só quer porque ela não te quer?
Ariel ficou sem resposta.
Ana se levantou, caminhou até ela e beijou de novo. Um beijo lento, sem urgência, mas carregado de uma ternura que quebrou Ariel por dentro.
Quando Ana se afastou, Ariel chorou. Pela confusão. Pela dor. Pela saudade que nem sabia de quem era.
****
Enquanto isso, Lia estava na varanda da casa, segurando uma garrafa de vinho e encarando a cidade.
O celular vibrou.
Elisa:
"Acabei de chegar. Amanhã tô de volta. Não se preocupe tanto. Eu sei me cuidar."
Lia apertou o aparelho contra o peito, respirando fundo.
A tensão nas runas do seu corpo só aumentava. O pressentimento ruim também.
E agora, havia também Ísis. A Oráculo. Ariel instável.
E no centro de tudo, o medo irracional e profundo de perder a Elisa de vez.
Como a Hope tinha previsto.
****
Na madrugada seguinte, Ísis apareceu de novo. Batendo à porta da Lia. Sozinha. Chorando.
— Eu tô com medo do que posso fazer com ela, Lia… com a Ariel… com você… comigo mesma… — disse, entrando sem ser convidada.
As duas terminaram sentadas no sofá, as pernas entrelaçadas, com Ísis tremendo e Lia tentando manter o próprio controle.
E antes de dormir ali mesmo, com a cabeça no colo da Fênix, Ísis sussurrou quase inconsciente:
— Eu ainda te desejo… você sabe, né?
Lia fechou os olhos com força.
Por um segundo, quis responder. Mas a imagem de Elisa no planeta da Alex a manteve em silêncio.
O fogo queimava dentro dela. As runas pulsavam. O desejo, a saudade, a raiva…
Tudo.
Uma guerra emocional prestes a explodir.
E no centro de tudo isso, o destino das mulheres que ela mais amava.
Fim do capítulo
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Yennxplict Em: 21/10/2025
Alex é um ser ancestral e extraterrestre que criou seu próprio planeta a partir da própria essência. É um planeta diferente do que as protagonistas vivem.