Capitulo 29 - Conversas difíceis
Olivia
Faz uma semana que não a vejo, não tive notícias, não a vi pela universidade e que proibi Gabriela de me passar qualquer informação a respeito desse assunto, pois sei que Valentina pode ter ido atrás da amiga.
A única coisa que ouvi entre os professores é que ela parou de ir para todas as aulas, de início achei que fosse somente nas minhas. Mas isso também não é problema meu, ela é adulta e se quer colocar o semestre todo a perder, a escolha é inteiramente dela.
- Vamos filha? – Grito do pé da escada.
Gabriela convidou as crianças e eu para irmos ao shopping e depois fazermos algo para aproveitar o resto do dia, e como o dia está lindo, dará para aproveitar bastante.
De início não tive muita vontade de aceitar, estou sem ânimo para fazer esses passeios, mas meus filhos se empolgaram com a ideia, e por eles estou indo.
Passamos o fim de semana passado na casa dos meus pais, foi inevitável que eles vissem como eu estava, Aurora me abraçou forte e disse que tudo iria passar, já Theo quis estar do meu lado o tempo todo e disse que ia cuidar de mim para eu não ficar triste.
Não falei o que houve, mas quando me viram chorando, apenas disse que Giovana ia passar um tempo sem ir em nossa casa, minha maior preocupação era como Theo reagiria, mas acho que ele não tem muita noção da situação, apenas disse que ia esperar ela voltar.
Na terça feira, ele correu para meu quarto no meio da noite pedindo para dormir comigo, porque estava com muita saudade dela, mas que me disse que não deveríamos ficar triste porque ela ficaria longe somente por um tempo.
Não tive coragem de dizer a ele que ela não irá voltar, apenas o abracei e chorei em silencio. Ele é tão pequeno e tão apaixonado por ela, que toda vez que penso em me sentar com ele e falar que precisamos esquecê-la, meu coração se parte ainda mais.
Me sinto culpada por envolvê-los nessa situação, por ter permitido que ela fizesse parte da nossa família, da nossa rotina, e agora precisamos lidar com as consequências. Por minha culpa.
Minha filha, como de costume, não gosta de falar sobre sentimentos, mas a percebo muito calada, e todas as vezes que me pegou chorando em algum lugar escondida, apenas me abraçou. Tentei conversar com ela, saber o que ela estava pensando sobre tudo, ela apenas disse que nada faz sentido e que logo vou entender tudo.
Acho que meus filhos aparentam ter mais esperança do que eu, mas já entendi que o assunto Giovana precisa ser morto e enterrado dentro de nossa casa.
Para o nosso bem.
Ou para o meu bem.
- Estou pronta – Aurora aparece.
- Demorou Olola, eu já tavo cansado de esperar – Theo reclama.
- Estava cansado – O corrijo enquanto pego minha bolsa para sairmos.
Já na garagem, ajeito Theo na cadeirinha e me certifico que ele está seguro, enquanto minha filha entra no banco da frente. Quando finalizo, sigo para meu lugar.
Dou partida no carro, e seguimos para o Shopping.
- Mama – Aurora chama minha atenção – Minha mãe me ligou ontem no fim do dia, esqueci de te contar.
- Foi? – Estranho – Do nada?
- Sim – Ela diz simples – Ela estava muito estranha, queria saber como eu estava, disse que estava com saudade e que assim que desse iria ir me ver.
- Estamos falando da mesma Pietra? – Tento fazer piada.
- Estranho né? – Ela ri – Mas fiquei feliz com a ligação, mesmo sabendo que isso tudo sempre dura pouco.
- Então você tem que aproveitar esse sentimento bom que está sentindo por sua mãe nesse pouco tempo, quem sabe ela realmente se tocou que está perdendo tempo ficando longe da filha incrível dela.
- Acho bem difícil disso acontecer – Sua voz fica mais murcha – Eu já sei que daqui a pouco vou saber o que ela está aprontando, na verdade até acho que já sei.
- Como assim?
- Ela me perguntou se você estava bem, se eu tinha visto você triste ou algo assim – Responde – Por mais que eu tenha ficado feliz, porque conversamos muito sobre mim também, mas no fundo eu sei que ela só queria saber como você estava. Ela já sabe que Giovana não está mais indo lá em casa?
Só no ouvir a menção do nome dela, meu corpo fica tenso, e meus olhos se enchem de lágrimas, preciso parar de parecer uma adolescente apaixonada, como se tivesse perdido seu primeiro amor. Acorda Olivia, você é adulta o suficiente para saber que amores vem e vão.
- Não sei, filha – Consigo voltar a conversar com ela – Eu que não falei, mas sua mãe tem um dom para descobrir as coisas que eu desconheço, então pode ser que ela já saiba.
- Isso explicaria a vontade dela se reaproximar.
- Ela não está mais namorando?
- E desde quando isso impediu ela de fazer merd*? – Minha filha fala o óbvio.
Isso é a mais pura verdade, Pietra nunca mudou suas atitudes. Quando estava comigo me enchia de chifres, e agora continua fazendo isso com sua namorada. Como se eu fosse achar o máximo ela correr atrás de mim estando comprometida.
- Mas espero que dessa vez a reaproximação seja verdadeira, e que ela queira ter mais tempo com você.
- Eu já não me importo mais, quem sai perdendo é ela.
Ouvir minha filha falando desse jeito me traz um misto de emoções, fico feliz por ela não sofrer mais tanto com essa situação, mas fico triste por ela ter que lidar com a rejeição sendo tão nova.
- Com certeza, ao contrário de você que não está perdendo quase nada.
- Verdade.
Ao chegar no estacionamento do Shopping, o assunto se encerra e ajudo Theo a sair do carro.
Logo que entramos já encontramos Gabriela, que abraça meus filhos como se fossem as joias mais preciosas do mundo, e realmente são.
- Quem está pronto para se divertir um montão hoje? – Ela pergunta animada.
- Euuuuuuu – Meu filho dá alguns pulinhos na sua frente.
- Como você está, lindona? – Me abraça também.
- Não sei te responder – Retribuo o abraço – Me pergunte novamente amanhã, talvez eu saiba.
- Tudo ficará bem – Fala esperançosa – Hoje vamos tentar fazer algo legal para esquecermos toda essa merd*.
- Sim.
Gabi sempre foi uma amiga maravilhosa, que sempre esteve lá nos dias mais importantes e necessários da minha vida, e é muito bom tê-la conosco hoje.
As crianças realmente conseguiram se divertir bastante e eu até que distrai minha mente. Eles brincaram e correram por todos os lados, depois nos sentamos na praça de alimentação para comermos algo, e no fim da tarde fomos embora.
Ao chegar em casa, todos nós tomamos um banho e descemos para a sala para assistirmos alguma coisa na TV. Hoje foi o dia de Aurora escolher, e ela optou por assistirmos Capitão América.
Me surpreendeu, já que minha filha não gosta muito de super-heróis, mas também não estava com muita cabeça para questioná-la.
Já na metade do filme, Theo já tinha se aconchegado em meus braços e já está quase pegando no sono, mas é atrapalhado com o som da campainha tocando.
- Pode deixar que eu atendo – Aurora diz já se levantando.
Ela se apressa a ir até a porta, e presto atenção em sua ação. Ouço vozes, mas não consigo entender o que falam, e dois minutos depois minha filha volta acompanhada de sua mãe.
Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece.
- Olá família – Entra como se a estivéssemos esperando.
Me ajeito melhor no sofá, e meu filho sai do meu colo assim que vê a mulher entrar na sala.
- O que você está fazendo aqui? – Minha voz não é nada receptiva.
- Vim ver minha filha – Puxa Aurora para perto de si – E trazer isso para você – Me estende um buque de flores.
- Você deveria trazer flores para sua filha, não para mim – Digo vendo os olhos de minha filha encararem as flores e estarem marejados – E que bom que veio ver ela, não vamos atrapalhar, já que não é seu fim de semana de ficar com ela, você não pode levá-la, mas podem ficar à vontade, Theo e eu vamos subir para o quarto.
- Qual é, Olivia – Exclama abrindo os braços – Eu vim em sinal de paz e você está sendo rude assim? O que nossa filha vai aprender com isso? Que as mães se odeiam?
Tento mantem o último pingo de calma que tenho, em respeito aos meus filhos, mas está sendo bem difícil, a vida está me testando de todas as formas. Me levanto para enfrentá-la.
- Olha, Pietra – Respiro fundo – Vou te falar apenas mais uma vez e espero que você entenda de uma vez por todas. Não adianta você querer me agradar porque não vamos voltar, eu sempre deixei você frequentar essa casa em respeito a Aurora, para que vocês tivessem um bom contato, mas você não colabora, e eu estou perdendo a paciência, de verdade.
- Mas eu tenho um bom contato com minha filha, mas também me preocupo com você – Começa seu teatro.
- NÃO, VOCÊ NÃO SE IMPORTA – Berro – Nem comigo, nem com sua filha, nem com ninguém, você só se importa com você mesma.
- Estou aqui, não estou? – Abre os braços como se isso fosse fazer com que víssemos ela melhor.
- Por qual motivo?
- Para ver minha filha, já falei.
- Ótimo, então tenha tempo com ela, como falei, Theo e eu vamos subir.
- Qual o seu problema, hem? – Explode – Queria que eu fosse mais presente na vida de Aurora e agora que estou aqui faz pouco caso.
Sinto mãozinhas encostarem na minha perna e outras a minha cintura, vejo que são meus filhos, um de cada lado, se escondendo atrás de mim, me usando como escudo. Estão assustados.
- Se veio para ver sua filha, esteja com ela.
- Mas quero passar tempo com minha família toda – Insiste.
- Você só esquece que não somos mais sua família.
Aurora aperta ainda mais minha cintura. E me dou conta de que estamos dando o maior show na frente deles.
- Filha – Me viro para ela – Sobe para seu quarto com seu irmão que eu vou terminar de conversar com sua mãe e depois eu subo lá também.
- Mas não quero deixar a senhora sozinha – Diz baixo ainda encarando sua outra mãe.
- Eu já vou subir lá, confia em mim.
Mesmo sem concordar, ela faz o que eu peço. Quando vejo a figura de meus filhos sumirem no topo da escada, me viro para a mulher a minha frente novamente.
- Você não vê o quanto você a magoa? – Pergunto, porque me custa a acreditar que ela não percebe o quanto faz mal para a própria filha.
- Por que eu a magoo? – Se faz de desentendida.
- Porque você não se importa com ela, você faz essas merd*s, aparece aqui com a desculpa de visita-la, mas no fundo não é essa sua intenção.
Ela dá alguns passos à frente, seu olhar pela primeira vez, parece um pouco perdido, mas eu não poderia me importar menos. As flores que ela segura, caem ao chão.
- Eu te perdi, né? – Sua voz é baixa.
- Há muito tempo – Sou firme – E espero de uma vez por todas, que você entenda que não temos mais chance, você teve sua oportunidade e perdeu.
- Você a ama?
- Quem? – Fico confusa.
- Sua aluna.
- Essa conversa não tem a ver com ela, tem a ver com a gente. Independentemente do que sinto por ela ou por outra pessoa, não vamos voltar.
Me sinto exausta, a vida está sendo realmente filha da puta comigo, e me deixo cair sobre o sofá. Apoio a cabeça em minhas mãos e o cotovelo sobre os joelhos.
Sinto o estofado abaixar ao meu lado, ela se senta ao meu lado, mas não tenho força para me afetar.
- Todos os dias não me perdoo por ter pedido você, Olivia – Começa a falar – Porque todos os dias percebo que não vou te ter de volta.
- Então pare de lutar – Digo – Me deixe em paz, Pietra. Aproveite a vida ao lado da nossa filha, você está perdendo tanta coisa do crescimento dela e nem se dá conta.
- Eu não consigo parar de lutar – Sussurra – Mas irei respeitar, se um dia você perceber que ainda mereço uma oportunidade, eu te esperarei.
- Que bom que você já está sentada, porque vai esperar bastante tempo.
- Você sente muita raiva do que eu fiz com você?
- Não sinto mais raiva, sinto indiferença. Entendi o que aconteceu e aprendi a nunca mais aceitar isso na minha vida. E abrir as portas da minha casa para que você tenha contato com Aurora, não quer dizer que estou abrindo as portas da minha vida novamente.
Ela não diz nada, apenas suspira derrotada.
- E é a última vez que estou tendo essa conversa com você, caso você não leve a sério, entrarei com o pedido de guarda unilateral, ou que você não possa mais vir buscar Aurora em casa, daremos um jeito que você a ver de outra forma. Eu realmente estou cansada dessa batalha, Pietra, mas se for preciso eu vou até o fim para me ver longe de você.
Seus olhos se arregalam, mas novamente ela não diz nada além de um:
- Vou respeitar seu espaço.
- Não quero que respeite apenas meu espaço, quero que você respeite minha vida toda, não fique usando sua filha para saber sobre mim, nem fazendo joguinhos, seja adulta e toque sua vida em frente.
A ruiva se levanta em um salto, sei que não gostou nada do que escutou hoje, mas estou falando bem sério. Cansei dessa palhaçada toda.
- Já entendi o recado – Passa as mãos pelo rosto – Diga a Aurora que eu ligo para ela depois.
- Eu posso chamar ela para vocês conversarem.
- Acho que não serei uma boa companhia nesse momento, capaz de eu estragar ainda mais as coisas.
- Você quem sabe.
- Tchau, Olivia.
Tenta beijar meu rosto antes de ir embora, mas me afasto não permitindo.
Ao ver a ruiva saindo pela porta, subo para o quarto da minha filha, para conversar com eles, mas quando entro, vejo a cena mais linda que eu poderia ver. Os dois estão dormindo abraçados em uma conchinha. Meu coração fica quentinho.
Me deito ao lado deles sem fazer barulho, para não os acordar, e nesse silêncio, mais uma vez sinto falta dela, mas afundo o sentimento em qualquer lugar dentro de mim.
Preciso resolver um problema de cada vez.
Fim do capítulo
Oiiii gente....
O que acharam desse basta que a Olivia deu em Pietra? estava mais do que na hora, né?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve!
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Paloma Matias Em: 08/09/2025 Autora da história
Eu sabia que ia voltar ????????????