Capitulo 28 - O inicio do tormento
Olivia
Ouço alguns resmungos e demoro a entender que não é um sonho, o som é real, e por mais que evite abrir os olhos, sei de onde está vindo. Já é a terceira vez que acordo a noite com Giovana resmungando ao meu lado, ela não chega a acordar, mas sei que está tendo algum sonho ruim.
- Você não vai encostar nela – Ela diz de repente.
Me viro em sua direção e confirmo que ela ainda está dormindo, ela está completamente soada e começa a se debater. Resolvo acordá-la.
- Gio – A chamo com calma.
- Solta ela – Ela grita mais uma vez e sua respiração começa a ficar ofegante, como se estivesse correndo.
- Giovana, acorde – A chacoalho – Giovana.
- Não me toca – Começa a se debater quando encosto nela.
- Giovana – Aumento minha voz.
Ela dá um pulo na cama e acorda, seus olhos demoram a focar em mim, ela está confusa sem saber o que está acontecendo. Espero ela se acalmar por completo, e tiro a coberta de cima de si, para que seu corpo pare de suar.
- Você estava tendo pesadelo – Explico o motivo de acordá-la.
Seu olhar parece vago, ela não diz nada, apenas se levanta e vai ao banheiro.
- Precisa de ajuda? – Falo mais alto para que ela me ouça – Você está bem?
- Sim, obrigada – Ouço sua voz abafada pela porta do banheiro estar fechada.
Olho para o relógio e vejo que falta cinco minutos para o despertador tocar, sinal de que não voltarei a dormir. Me espreguiço para espantar a preguiça, levanto-me e vou até o closet para procurar a roupa que irei vestir hoje.
Quando volto para o quarto a mais nova já saiu do banheiro, vou até ela e lhe dou um leve selinho.
- Bom dia – Digo – Vou descer para preparar o café e depois acordar as crianças.
- Você se importa de eu acordar eles? – Pergunta – Quero me desculpar por ontem.
- Tudo bem – A abraço pelo pescoço – Mas recomendo a começar por Aurora, ela é mais fácil de acordar.
- E mais difícil de me desculpar – Ouço sua risada.
- Isso é problema seu, terá que enfrentar a fera.
Giovana coloca seu rosto na curva do meu pescoço, puxando o ar com força e deixando alguns beijinhos na região.
- Obrigada por tudo – Diz quando encara meus olhos – Obrigada por me deixar ficar ontem.
- Vamos passar uma borracha no que aconteceu ontem, Ok? – Beijo seus lábios novamente.
Giovana aprofunda o beijo, puxando meu corpo para mais perto do seu, me fazendo um leve carinho nas costas. Não era um beijo cheio de malicia, mas era um beijo cheio de carinho. Até que finalizo com vários selinhos.
- Vou descer – Aviso – E boa sorte com Aurora.
Ela solta um sorriso tímido e me acompanha para fora do quarto, antes de descer as escadas vejo que ela reluta de entrar no quarto da minha filha, mas me sinto mais tranquila ao vê-la querer se desculpar com eles.
Ainda me sinto muito confusa com o que aconteceu ontem e com o sentimento de que alguma coisa está errada. Quando paro para pensar em tudo que aconteceu me dá uma sensação muito ruim, uma sensação de que algo vai acontecer.
Mas evito ficar pensando demais nisso, não gosto de ficar olhando o lado negativo das coisas, o que tiver que acontecer vai acontecer.
Preparo algumas coisas do café e coloco tudo na mesa, decido subir para tomar meu banho e trocar de roupa, e quando chego ao topo da escada vejo a porta do quarto de Theo aberta, provavelmente ela já resolveu as coisas com minha filha e agora está resolvendo as coisas com meu filho.
Não demoro a ficar pronta, hoje não estou no clima de ficar me arrumando muito, faço somente uma maquiagem básica e coloco uma roupa simples.
Quando volto novamente na cozinha, eu termino o que faltava do café e logo vejo Giovana descendo as escadas com meu filho no colo, ele está com a carinha triste, mesmo assim repousa sua cabecinha no ombro dela. Ele já está arrumado para escola, sinal de que ela o ajudou enquanto conversavam.
- Tudo bem? – Pergunto assim que eles se sentam á mesa.
- Tudo, já fizemos as pazes, não é campeão? – Theo concorda, mesmo assim não desgruda dela.
- Bom dia, filho – Falo me aproximando e deixando um beijinho no topo da sua cabeça.
- Bom dia, Mama – Fala em um fio de voz.
Não tarda até Aurora se juntar a nós, também pronta para a escola. O café da manhã não tem muita conversa, apenas comemos e depois enquanto eu ajeitava as coisas, Giovana subiu para tomar seu banho e se aprontar.
Quando todos estão prontos, partimos para mais um dia de obrigações. Deixo as crianças na escola e levo Giovana até a floricultura. Nos despedimos rapidamente porque preciso chegar cedo no restaurante para resolver alguns problemas que Adriana me avisou que precisam serem resolvidos ainda hoje.
******
Sexta feira chegou rápido, tão rápido quanto minha paciência está chegando no limite, são exatamente 21:00 horas e estou dirigindo para o dormitório de Giovana. As coisas não estão bem, algo de errado está acontecendo, sendo que desde ontem ela não aparece na faculdade e simplesmente sumiu novamente depois que a deixei na floricultura.
Estaciono o carro de qualquer jeito e subo as escadas do seu prédio mais rápido do que imaginei ser capaz. Bato fortemente em sua porta quando chego no local, e depois de algumas batidas minha aluna abre a porta.
- Olivia? – Seus olhos se arregalam ao me ver.
- Precisamos conversar – Sou direta.
- Quem é, Gio? – Ouço uma voz feminina e gostaria de não reconhecer aquela voz desafinada.
- Ah! Você está ocupada, muito bem.
Minha voz é completamente sarcástica, e viro as costas para sair dali o mais rápido possível, já me arrependendo de vim atrás dela. Mas ao dar o primeiro passo, sou impedida por ela, que segura meu braço.
- Paula já estava de saída – Diz com os olhos fixados em mim – Fica.
A garota sai do quarto de Giovana e para ao nosso lado.
- Olá, professora – Seu sorriso destila veneno – Tchau Gio, obrigada pela nossa conversa.
Antes de sair completamente, ela se aproxima e dá um beijo na bochecha de Giovana, que ao sentir o toque se afasta de pressa. Meus olhos queimam de raiva dessa garota. Das duas, na verdade.
- Eu também já vou indo – Minha raiva está bem nítida.
- Entra – A mais nova me chama novamente.
Sem perceber, entro e fecho a porta, não sei se movida pela vontade de dar na cara dela ou se ainda estou a fim de descobrir o que está acontecendo.
Passo meus olhos pelo quarto, está tudo organizado, sinal de que se estavam fazendo algo, não envolvia sex*, pelo menos não quando cheguei. Mas noto que sobre a cama, há algumas pilhas de roupas arrumadas, que reconheço muito bem.
- Vai viajar? – Pergunto.
Ela não responde de imediato, então a encaro e a vejo encarar o chão.
- Não – Fala em um fio de voz – Estava arrumando meu guarda-roupa.
- Uma hora dessas? – Estranho.
- Precisava me distrair.
- Me pareceu que você estava se distraindo bastante com sua amiga.
- Não é nada disso que você está pensando.
- Típica frase de quem está aprontando.
- O que? – Se aproxima – Vamos voltar nesse assunto que você volta a desconfiar que há algo entre Paula e eu?
- Não estou desconfiando de nada, estou apenas vendo com meus próprios olhos – Perco o pouco de calma que ainda tinha – Você some novamente, venho ver o que tá acontecendo e te encontro com ela em seu quarto, resolveu não dar notícias porque estava ajudando-a novamente?
- Claro que não, Olivia – Passa a mão pelo rosto, em completo desespero – Já te falei que não tenho nada com ela.
Nesse momento, seu celular vibra sobre a mesa de cabeceira e a luz se acende, Giovana corre para ver quem era. Seus olhos se arregalam e ela fica desconcertada.
Solto uma risada completamente sem humor, o que eu estou fazendo aqui?
- Quer saber – Quero o silêncio – Eu não vou ficar aqui vendo isso acontecer, já vi esse filme e já sei no que vai dar.
- Do que você está falando?
- De você ficar nesse joguinho de esconder as coisas – Elevo minha voz – Já passei por isso Giovana, e não irei passar novamente.
- Você está me comparando com sua ex que te traia e te fazia de trouxa?
- E você está fazendo o que?
- NÃO ME COMPARE A ELA – Berra.
- ENTÃO NÃO AJA IGUAL A ELA – Respondo exatamente no mesmo tom.
Vejo seus olhos marejarem, mas ela não se entrega, respira fundo e tenta se acalmar.
- Olha – Tenta começar novamente – Eu não estou te traindo, isso é a única coisa que posso te dizer, e preciso que acredite em mim.
- Está bem difícil acreditar em você, Giovana.
- Eu sei – Sussurra – Mas você precisa acreditar e confiar em mim, é a única coisa que te peço.
- O que está acontecendo, Giovana? – Tento pela última vez.
Vejo-a limpar os olhos, ela demora um pouco a falar, mas quando fala usa as palavras exatas para me destruir.
- Eu não quero mais isso – Ela se vira de costa para mim, não me deixando ver seu rosto.
- Como é? – Não sei se entendi direito – Não quer mais o que exatamente?
- Nós duas – Ela olha para o teto e sua voz treme – Preciso de um tempo.
- Você não pode estar falando sério – Me controlo para não começar a chorar em sua frente, mas meu coração se aperta e está difícil controlar – O-ontem você disse....
Gaguejo e a frase morre sem eu conseguir terminar, sinto meu queixo começar a tremer e sinto que vou desabar a qualquer momento. Nesse instante a mais nova olha em minha direção, e seu rosto está lavado por lágrimas.
- Não torne isso mais difícil, Olivia – Ela me pede, e começa a chorar desesperadamente, me levando ao desespero junto – Eu só preciso de um tempo.
- Eu te pedi tanto – Esbravejo – Eu pedi tanto para gente não se envolver caso você não tivesse certeza, se isso fosse acontecer.
Giovana se senta sobre a cama de Valentina, e não diz nada por um bom tempo, apenas chora, como se estivesse sendo dolorido para ela me quebrar em mil pedaços.
Que idiota eu fui em acreditar que a gente poderia ter algum futuro. Idiota. Idiota. IDIOTA.
- É melhor você ir para casa – Passa a mão pelo rosto para limpá-lo – Não temos mais nada a conversar.
- Covarde – A acuso.
- Pense o que você quiser, só preciso que você vá para casa e tome cuidado no caminho.
- Como se você se importasse mesmo.
Digo já indo em direção a porta e abrindo-a, mas antes de sair definitivamente da vida dela, ainda olho para trás uma última vez, e a imagem que encontro, não é de alguém que está aliviada em terminar um “quase” relacionamento. Mas se é a decisão dela, não será eu quem vou implorar.
Saiu e fecho a porta, antes de chegar às escadas, ouço algum objeto encontrar a porta e barulho de vidro se quebrando. Acelero o passo para chegar ao meu carro o mais rápido possível.
Dou partida no carro e sigo para o único lugar que posso ter apoio agora. A casa dos meus pais.
Mas o silêncio é sufocante, sinto que vou explodir a qualquer momento. Instintivamente, procuro o contato de minha amiga e ligo para ela.
- Alô – Atende no terceiro toque.
- Pode falar?
- Posso, que voz é essa? – Se mostra preocupada.
- Giovana acabou de terminar o que nem começamos.
- O que? – Vejo que é uma voz diferente que berra.
- Desculpa Liv, a chamada está no viva voz e Valentina está aqui.
- Tudo bem – Digo sem me importar muito – Mas é isso mesmo que vocês ouviram.
- Isso não faz sentido – É Val quem fala novamente – Eu vou matar aquela idiota.
- Acho que a única idiota dessa situação toda sou eu – Meus olhos marejam novamente – Sua amiga só fez aquilo que já sabíamos que iria fazer.
- Não, não, não – Diz firme – Aquela otária é completamente apaixonada por você, professora, eu conheço ela a muito tempo e nunca a vi assim com ninguém.
- Não foi o que pareceu nessa nossa última conversa – Deixo o desanimo tomar conta de mim.
- Eu vou descobrir o que tá acontecendo – Parece determinada.
- Boa sorte, mas eu não quero mais ser envolvida nessa merd* toda, isso só serviu para me mostrar mais uma vez que eu estava certa. Se abrir para relacionamentos é sempre uma merd*.
- Não mesmo, Olivia – A voz de minha amiga soa pelo meu carro – Sei que é uma merd* isso tudo, mas você não vai fazer isso de novo, não vai se culpar por sentir, se aquela garota não deu valor, problema dela, ela quem está perdendo.
- Que seja – Digo indiferente – No fim das contas quem saiu quebrada foi eu.
- Onde você está?
- Dirigindo.
- Nesse estado? – Ouço seu berro – Você está maluca?
- Eu não podia permanecer parada na frente do dormitório dela até esperar estar melhor, Gabriela.
- Mas também não é uma boa sair por aí dirigindo nessa situação.
- Vou para casa dos meus pais.
- Isso é bom, é melhor do que ficar sozinha, se quiser pode vir para cá também.
- Obrigada – Agradeço – Mas prefiro ir para lá, as crianças estão lá e prefiro estar com eles agora.
- Tudo bem, mas vai me mantendo informada?
- Claro – Afirmo – E desculpa atrapalhar vocês duas, só precisava conversar com alguém.
- Você sabe que não atrapalha, estou aqui sempre que precisar.
- Professora – Val chama minha atenção novamente.
- Oi – Digo para ela saber que estou ouvindo-a.
- Sei que minha amiga foi uma cuzona – Sua voz é cautelosa – E não quero defender as atitudes dela porque realmente nem tem como, mas eu conheço aquela garota há muito tempo e sei que ela não faria isso do nada, eu vi o quanto ela estava feliz, e o quanto ela gosta de você. Sei que não é o que você quer ouvir, mas tenho certeza de que há algo acontecendo para ela fazer isso.
- Sabe o que mais dói Val? – Penso em tudo o que ela acabou de dizer – Que não importa mais, afinal está tudo acabado. As razões e os motivos não importam muito agora.
Um silencio se instala novamente no carro e vejo que já estou perto do meu destino.
- Meninas, eu estou chegando e vou precisar desligar – Aviso – Obrigada pela conversa.
- O que precisar, estamos aqui – Gabriela se pronuncia – A qualquer hora.
- Obrigada – Agradeço mais uma vez – Até mais.
- Até – As duas respondem juntas e desligamos a ligação.
Logo estou estacionando na frente do casarão que meus pais moram, mas quando chego, fico um pouco no carro, não quero que eles vejam meu estado deplorável.
Como eu pude ser tão burra de novo? Como fui me entregar tanto e terminar assim? Chorando em meu carro como se fosse meu primeiro coração partido. Por que está doendo tanto?
Apoio minha testa no volante e me permito chorar mais um pouco, limpar o desespero que está dentro de mim. Era óbvio que ela iria se cansar de brincar de casinha, Olivia. Era óbvio.
O que mais me dói é perceber que o que eu conhecia sobre o amor nunca fez sentido antes de Giovana chegar na minha vida, ela me fez sentir um amor leve e descontraído, ela conquistou minha família.
Para que?
Para eu terminar dentro de um carro chorando por ela.
Fim do capítulo
Bom dia Gente...
Esse foi um dos capitulos mais dificeis de escrever....
O que acharam da atitude da Giovana? Alguem se arrisca a dizer o por que ela fez isso?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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Sem cadastro
Em: 05/09/2025
Oi autora, venho acompanhando sua história mais em OFF, sua escrita é maravilhosa, envolvente, confesso que estou ansiosa para saber a história da Gionava e todos os mistérios que a cercam. Com certeza ela fez isso na tentativa de proteger a olivia e as crianças mas mentir nunca é um bom caminho em um relacionamento. Prevejo que ela vai ter que remar muito novamente para entrar para famila Garcia kkkk. Tomara que ela consiga se livrar dos fantasmas do passado e conseguir de fato recomeçar uma nova vida com a familia que escolheu para ser a sua.
Paloma Matias
Em: 06/09/2025
Autora da história
Olá, muito muito obrigada por acompanhar a história e resolver vim dar seu ponto de vista, ele é muito importante.
Penso como você, por mais que tenha um motivo, a mentira nunca é uma boa escolha. Mas torcemos para que a Gio consiga resolver tudo..
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Paloma Matias Em: 06/09/2025 Autora da história
Quer siiiimmmmm que a história ainda não acabou kkkkk ninguém larga a mão de ninguém e vamos até o fim ????????