Capitulo 27 - A escolha é sua
Giovana
Esse sempre foi meu maior medo, do meu passado voltar a me atormentar, e por mais que eu soubesse que mais cedo ou mais tarde eles viriam atrás de mim, me iludi achando que tinham esquecido da minha existência.
Desde o dia no parque, Olivia e eu nos afastamos um pouco, obviamente por culpa minha, estou preferindo ficar mais na minha, um pouco sozinha. Ela tentou contato comigo algumas vezes por ligação, mas avisei que ia tirar essa semana para focar nos meus estudos, afinal as semanas de provas estão chegando e preciso me preparar. Então no fim de semana que passou, não fui para casa dela.
Claro que ela não comprou a ideia, respeitou meu espaço, mas sinto que ela sabe que não é apenas os estudos. Hoje, como prometido, vou para a noite do cinema, quero passar um tempo com ela e com as crianças.
“Você tem que voltar, falta só dois meses para você se formar, pode terminar sua faculdade e voltar para casa.”
A fala de Igor permanece em minha cabeça, como ele tem coragem de me propor uma coisa dessa? Agindo como se nada tivesse acontecido.
Eu termino de guardar minhas coisas no armário do restaurante e finalizar de vez meu expediente, meu corpo precisa urgente de uma cama.
Quando saiu do restaurante, abro o aplicativo do Uber e chamo um carro, achando que será mais rápido, mesmo assim ele levará 13 minutos para chegar.
Abro minha conversa com Olivia no WhatsApp para avisá-la que chego daqui a pouco, mas de repente um carro todo preto para a minha frente e um homem todo de preto desce do carro me atacando e me puxando para entrar na porta de trás.
Pelo espanto e pela força do homem, não tenho nem chance de reagir, apenas sinto meu corpo ser jogado no banco com força, e ouço a porta ser fechada e logo o carro está em movimento.
Tento desesperadamente abrir a porta, para saltar do carro.
- Não adianta tentar abrir, as portas estão travadas – A voz se faz presente no carro e só então o vejo sentado ao meu lado.
- O que você está fazendo Igor? – Meu coração dispara – Para onde está me levando?
- Fique tranquila, hoje vamos apenas dar uma voltinha e conversar.
- Eu não quero conversar com você – Berro tentando segurar as lágrimas.
- Mas vai – Dá de ombros.
- Eu já te falei que não tenho dinheiro e que não vou voltar, se quiser me matar fique à vontade, assim evitamos o problema todo – Tento ser firme, mas minha voz treme.
- Te matar? – Solta uma risada – Você é mais útil viva Giovana, será apenas uma conversinha entre irmãos.
- Você não é meu irmão – Berro novamente – Deixou de ser há muito tempo.
- Não fale besteira, mesmo você sendo quem é, fazendo as merd*s que faz, ainda é da família.
- Não faço merd* nenhuma – Me defendo – E nem faço questão de ser da família, então vá direto ao ponto.
- Está com pressa, irmãzinha? – Fala com desdém – Compromisso com a mulher que você chama de namorada?
- Ela não é minha namorada.
- Não é o que dizem por aí.
- Não importa o que dizem, importa o que é.
- Tanto faz – Ele está perdendo a paciência – Eu tentei ser bonzinho com você e tentei falar numa boa, então se você não quer me ouvir e voltar para casa, terá que ser do jeito mais difícil.
- Do que você está falando? – Sinto meu corpo tremer, sabendo que não virá coisa boa.
- Você tem duas escolhas – Começa dizer – Ou você faz o que tem que ser feito ou terá consequências bem piores.
- Já falei que se quiser pode me matar, mas não vou voltar.
- Tsc – Estala a língua e solta uma risada sombria – Não será você a sofrer as consequências, querida irmãzinha.
- Quê? – Pergunto confusa.
- Vamos ver qual o tamanho do seu amor por sua namoradinha e pela família dela.
Ele não pode estar falando sério, por um momento acho que vou desmaiar, perco a força no meu corpo, mas tento me manter consciente, mesmo querendo não estar.
- Você é um monstro – Uma lágrima insiste em cair.
- Monstro são pessoas que fazem mal a criancinhas e mulheres indefesas, e eu nunca fiz isso – Seu sarcasmo me dá vontade de vomitar.
- Só manda fazer.
- Você está avisada – Diz sério antes que o carro pare – A escolha é sua, irmãzinha.
Ouço o trinque da porta ser desbloqueado e não perco tempo de sair do carro, mesmo cambaleando, não olho para trás, não quero ver sua cara, achando que ganhou a batalha.
Quando consigo voltar a respirar, olho a minha volta para ver onde estou e vejo que estou em frente à casa de Olivia. Até nisso ele pensou, sei que ele quis me avisar que sabe onde ela mora.
Desgraçado.
Toco a campainha, como não consegui avisar ela que viria, não quis usar a chave. Mas vejo que as luzes estão apagadas, olho em meu relógio e vi que o passeio com meu irmão demorou mais do que eu tinha percebido. Se passou uma hora do horário combinado que eu iria chegar. Droga, mil vezes droga.
Olivia abre a porta com cara de poucos amigos, e meu corpo volta a tremer, porque não sei como vou explicar isso tudo a ela.
A mais velha não diz nada, apenas abre espaço para eu entrar, não tenho coragem de encará-la, então apenas entro.
A sala ainda está montada como toda quarta feira é feito, e ainda há os baldes de pipoca espalhados pela sala. Meu coração aperta. Que saco.
- As crianças já estão dormindo? – Pergunto com vergonha, mas arrisco olhar em seus olhos.
- Sim – Responde simples.
Sua voz não é grosseira, mas vejo mágoa nela, e me dói saber que ela está sentida comigo, por um erro meu, mesmo eu não tendo culpa, porém ela não sabe disso.
- Desculpa – Minha voz sai apenas em um sussurro – Houve um imprevisto.
- Ok.
Olivia sai em direção a cozinha e eu a sigo, o fato dela não brigar ou gritar comigo me machuca mais ainda, acho que se ela berrasse e me xingasse eu me sentisse melhor do que ter apenas seu silencio.
Ela pega uma jarra de água na geladeira e se serve um copo, me arrisco a me aproximar e abraçá-la por trás.
- Desculpa – Repito.
- Não é só a mim que tens que pedir desculpas – A frieza em suas palavras é como uma faca.
- Eu sei – Puxo o ar mais profundamente – Amanhã eu converso com Theo.
- E com Aurora – Se vira para mim – Ela também ficou lutando contra o sono te esperando.
Isso me pega de surpresa, sempre foi Theo quem demonstrou mais seu afeto, sempre deu mais importância para minha presença e saber que a ruivinha também ficou me esperando, esmaga ainda mais meu coração.
- Amanhã converso com eles.
- Ok.
A mais velha se livra dos meus braços e guarda a jarra na geladeira novamente.
- Eu ia avisar – Tento começar a explicar, e os olhos castanhos me encaram – Mas não deu tempo, aconteceu tudo rápido.
- O que aconteceu? – É direta.
- Paula precisou da minha ajuda – Invento a primeira desculpa que me vem à mente.
- Você tá de brincadeira, né? – Olivia fecha a porta da geladeira com um pouco mais de força.
Volta a não me encarar e vai para a sala, eu a sigo sem saber o que fazer, sem saber como poder justificar minha ausência sem que ela fique muito puta comigo. Mas sei que é inevitável.
- Desculpa – Peço mais uma vez.
- Pare de pedir desculpa por algo que você não está arrependida – Diz rude, por fim colocando a raiva para fora – Custava enviar a porr* de uma mensagem? Acha que sou idiota de ficar te esperando quando você está com sua amiguinha fazendo sabe-se lá o que.
Sei que usar Paula era pior do que qualquer outra desculpa, mas se eu falasse que foi Valentina, ela poderia confirmar com Gabriela que estou mentindo. Eu sabia que ela não iria tirar a história a limpo com a outra.
- Não é nada disso que você está pensando – Me apresso mais uma vez em dizer – A gente não tem mais nada.
- Uhum – Concorda, mas vejo completamente seu desagrado.
- Olivia, você tem que acreditar em mim – Me aproximo novamente colocando minhas mãos em seu braço para que ela me encare – Eu estou com você, eu disse que não teria mais nada com ninguém, e não terei.
- Acreditar em você? – O que encontro em seus olhos é apenas frieza, ela está muito brava – Como você quer que eu confie em você se você some durante mais de uma semana, me evita, não aparece na minha aula, quando combinamos de fazer algo você aparece mais de uma hora atrasada e ainda tem coragem de me dizer que estava ajudando a sua peguete?
- Ela não é minha peguete, eu estou com você.
- E é desse jeito que quer estar? Me escondendo as coisas?
- Eu só fui ajudar uma amiga e não deu tempo de te avisar.
Meus olhos enchem de lágrimas, porque vejo que estou perdendo a batalha, e saber que estou falhando com Olivia me traz um sentimento que nunca senti antes, não por outro alguém, me sinto desesperada para acertar as coisas, mas não sei como fazer isso.
- Acredita em mim, Olivia – Não consigo mais segurar as lágrimas – Acredita em mim, por favor – Digo mais baixo.
- Olha, no momento eu estou com muita raiva e acho que não é bom conversarmos – Acalma mais a voz.
Minhas pernas cedem e desabo, nem eu acredito no que está acontecendo. É a primeira vez que sinto tanto em estar magoando alguém, por estar falhando com alguém. É a primeira vez que me dou conta de que esse tempo todo eu não estou apenas deixando rolar para ver no que vai dar, eu quero essa mulher, eu a quero para sempre.
- Você não pode duvidar do que sinto – Digo sentada no chão, abraçando minhas pernas e chorando igual criança pequena.
- Acho melhor conversamos amanhã.
- Me deixa dormir aqui com você, por favor, não me expulsa da sua vida.
Começo a implorar por algo que nem sei se vai acontecer, mas meu desespero me faz pensar que vai. Porque tudo na minha vida sempre acaba mal, sempre estrago tudo, e pela primeira vez quero que dê certo.
- Por favor, por favor, por favor...
Digo sem parar, mas também sem encará-la, e sem perceber ela se aproximando, sinto suas mãos puxarem meu rosto para olhar para em seu rosto. Posso ver dúvida em seus olhos, mas vejo também compaixão.
- Me explica o que está acontecendo – Seu tom ainda é baixo.
- Eu não posso – Meus olhos se enchem novamente e não aguento a pressão e volto a chorar.
Eu não vou aguentar se ele fizer alguma coisa com eles, eu não vou aguentar isso tudo.
- Por que você não pode? – Tentou mais uma vez – Aconteceu alguma coisa entre vocês duas e você está com medo de contar?
- Não, Olivia – Falo mais uma vez – Eu não consigo mais ficar com ninguém e nem quero, eu só quero você na minha vida. Eu te amo.
Olivia
Ouvir o que ela acabou de dizer me paralisa, ver o desespero de Giovana me deixa confusa, ela está no chão da minha sala, chorando com o maior desespero possível e é nítido seu sofrimento, o que me deixa ainda mais sem saber o que fazer.
Ouvi-la dizer que chegou tarde porque estava com Paula, mexeu comigo, me deixou possessa e minha vontade foi colocá-la para fora de casa, mas sinto que algo não está normal, ela não está bem e é a primeira vez que a vejo tão vulnerável.
- Eu te amo, Olivia – Repete, enquanto puxa minhas mãos que ainda estão em seu rosto e distribui alguns beijos pela palma – Eu te amo.
- Giovana – Tento tirá-la do transe que está – Você não está bem, vamos para a cama e amanhã a gente conversa melhor.
- Eu sei o que estou dizendo – Me puxa em sua direção, me fazendo cair em seu colo e me abraça forte – Eu sei que você não acredita em mim, mas aconteça o que acontecer comigo, saiba que eu te amo e amo as crianças.
- Do que você está falando? – Tento encara-la, mas não consigo me livrar do seu abraço – O que pode acontecer com você Giovana? Você não está falando coisa com coisa.
- Eu sei o que estou dizendo – Fala novamente – Se acontecer algo comigo só saiba que eu te amo, você foi a melhor coisa que me aconteceu, eu preciso que saiba disso.
Esse assunto está me assustando, mas sinto verdade em suas palavras. Espero que ela se acalme para que eu consiga me afastar um pouco e olhar em seus olhos.
- Não vai acontecer nada com você, meu bem – Limpo as lágrimas de seu rosto – Só quero que confie em mim e me conte o que está acontecendo, mas vou esperar seu tempo, Ok?
- Você é tão perfeita, eu não mereço você – Volta a falar com um biquinho em seus lábios.
- Merece – Beijo seu rosto – Mas por favor, não me deixe esperando uma próxima vez, e muito menos meus filhos. Avise se acontecer algo que não puder vir.
- Não irá se repetir – Tenta puxar o ar mais fundo, para não voltar a chorar.
- Vamos subir? Já está tarde.
Ela apenas faz sinal de positivo com a cabeça e se levanta estendendo a mão para me ajudar a fazer o mesmo. Já no meu quarto, ela pede para tomar um banho enquanto eu arrumo a cama para dormirmos. É difícil conseguir assimilar tudo que aconteceu nessa noite. Só espero não estar fazendo papel de trouxa mais uma vez.
Nos deitamos assim que ela sai do banheiro. Giovana veste apenas um camisetão e uma calcinha boxer, como sempre se veste para dormir.
Me ajeito na cama ainda pensando em suas palavras, e sinto que tudo que evitei desde o início acabou de acontecer, percebo que não estamos mais uma na vida da outra por estar, ela já faz parte de mim e eu dela.
A mais nova também se ajeita e desliga o abajur que era a única fonte de energia ainda acessa no quarto, fazendo o breu tomar conta do quarto.
- Gio – A chamo.
- Hum – Faz o som para que eu continue.
- Eu também te amo.
Fim do capítulo
Bom dia, boa tarde, boa noite meu povo e minha povaaaaaaa
As coisas estão mudando e a Gio está sendo encurralada, mas enfim se declarou completamente. O que estão achando?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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