Capitulo 11 - Ciúmes
Samanta
Acordo com alguma coisa mexendo em meu rosto, sinto dedos cutucando minha bochecha e abro os olhos bem devagar, encontrando Nicolas em pé ao lado do sofá me encarando. Qual o problema desse garoto? Que gosta de ficar parado nos lugares, igual uma assombração.
— Bom dia, Tia Sam — Abre um sorriso quando vê que estou com os olhos completamente abertos — Você estava dormindo toda torta, resolvi acordar a senhora.
— Bom dia, Nicolino — Lanço um novo apelido para ele.
— Eu não sou Nicolino — Arregala os olhinhos.
— Agora é, esse é meu apelido para você, já que você adora me chamar de fantasma.
— Ok — Balança os pequenos ombros mostrando que não está nem aí.
— Você está melhor? — Pergunto me sentando no sofá.
— Estou, acordei respirando bem melhor.
— Perfeito —Fico aliviada — E onde está sua mãe?
— No quartinho — Aponta para o corredor — Ela está pintando.
— Pintando? —Pergunto completamente confusa — Pintando o quarto?
— Não, tia Sam — Revira os olhos, como se eu tivesse a obrigação de entender o que ele quer dizer — Pintando quadros, a mamãe ama pintar, e faz isso quando quer se distrair.
— E ela te deixa sozinho aqui?
— Eu não estou sozinho, estou com ela, só vim aqui acordar a senhora e já vou voltar para ficar perto dela.
— E eu posso ver esse quartinho?
— Pode, só não pode fazer bagunça — Explica — Porque a mamãe fica brava se faz bagunça no quartinho.
— Não irei fazer.
Me levanto do sofá e sigo com Nico pelo corredor, mas antes passo no banheiro para lavar o rosto e ficar um pouquinho mais apresentável.
Depois de minha aparência estar menos ruim, continuamos o caminho para o quartinho, é a última porta do corredor.
Quando entramos, ouço uma música baixa vindo de uma caixinha de som, uma música instrumental e calma. E Clara está concentrada encarando um quadro, ela está com a mão esquerda em seu queixo, analisando a pintura, enquanto sua mão direita segura um pincel.
— Mamãe — Nico chama a atenção dela — A tia Sam queria conhecer seu quartinho, então trouxe ela.
É somente nesse momento que ela percebe minha presença, e eu me distraio olhando os quadros a nossa volta. O local não é grande, mas nas paredes há vários quadros já pintados expostos, a maioria são paisagens ou pessoas em momentos distraídos.
Incrivelmente incrível.
— Você gostou, tia? — A voz infantil me trás de volta.
— Claro que sim — Digo — Sua mãe tem muito talento.
O pequeno vai até o lado de onde está sua mãe e se deita no chão de barriga para baixo, apoia o cotovelo esquerdo sobre o piso e sua cabeça em sua mãozinha, enquanto com a outra, ele pinta um livro com desenhos de crianças. Ao se distrair, ele levanta as perninhas e fica balançando no ar.
Encaro Clara novamente e a vejo um pouco apreensiva por eu estar em um espaço tão particular dela.
— A tinta não faz mal para ele? — Pergunto lembrando do que o médico disse.
— Não, essa tinta é antialérgica, não possui cheiro justamente para ele poder ficar aqui comigo — Explica.
— Se tiver algum problema para você, posso sair — Aviso.
— Não há problemas, mas não acho que você vá se interessar por algo tão banal.
— Não é banal, é um talento muito grande — Volto a olhar os quadros a minha volta.
— É apenas um passatempo.
— Que você poderia muito bem viver dele — Sorrio quando vejo um quadro de Nico, sorrindo e estendendo uma flor.
— Talvez um dia — Sua voz é melancólica, o que atrai minha atenção.
— Você gostaria de viver da sua arte?
— Claro que sim, foi para isso que fiz artes plásticas, porém ainda não consigo me arriscar nisso.
— Por quê?
Nesse instante vejo o quadro que está a sua frente, o que ela está pintando. A imagem ainda está sendo formada, ainda está no início, mas pelos contornos já expostos, parece ser uma fogueira.
— Porque ainda preciso de um emprego fixo, não posso arriscar não ter um salário, e o emprego no clube me paga bem.
— Mas você pode ganhar muito dinheiro com seus quadros.
— Como posso não ganhar nada — Suspira — Infelizmente não posso correr o risco. Nico precisa ter plano de saúde, e eu não conseguiria bancar aluguel, comida, roupas e mais o plano, então o emprego no clube ainda me proporciona isso.
— Não acho que você deveria desistir tão fácil assim — Insisto.
— Talvez seja fácil para você falar — Se irrita um pouco — A vida não é tão simples assim, Samanta. Tenha filhos e você entenderá.
— Não é porque eu não tenho filho que não entendo das dificuldades da vida.
— É bem diferente arriscar tudo quando é só você, quando tem alguém que depende de você, tudo muda.
— Você acha que ninguém dependia de mim? — Minha voz já não é mais tão calma.
— Que eu saiba não.
— Você acha que quem paga os planos de saúde da minha família? Quem pagou a cirurgia do coração que meu pai precisou fazer as pressas? Ou até mesmo os luxos da minha irmã? Ou você pensa que o aposento do meu pai consegue pagar tudo isso? Nunca foi só por mim, Clara.
— Então você deve entender o porquê não posso arriscar.
— Até entendo seu receio, mas não acho que você deva desistir.
— Eu não desisti, só não posso focar só nisso agora.
— Vocês estão brigando? — Nicolas nos encara com olhinhos atentos.
— Não, filho — Clara fala tentando se acalmar — Só estamos conversando.
— Parece que vocês estão brigando — Dá de ombros e volta a pintar seu livrinho.
Respiro fundo para evitar transparecer para ele que realmente estamos nos desentendendo, preciso prestar mais atenção nisso, não é bom que ele veja esses tipos de conversa.
Parece que Clara e eu temos um imã para nos desentendermos, tudo que eu falo ela contraria, e tudo que ela pensa vai contra do que eu penso. É obvio que esse convívio nunca dará certo.
— Bom, eu vou deixar vocês aproveitarem o fim de semana e vou indo nessa — Volto a falar.
— Eu vou preparar um café para a gente, você não pode sair sem se alimentar.
— Não precisa.
— Precisa sim, é o mínimo que posso fazer depois do que você fez por mim e principalmente pelo meu filho.
— Eu faria tudo de novo, e sempre que precisar de ajuda com ele você pode me chamar.
— Obrigada — Seu agradecimento é sincero — Filho, você pode pintar lá na sala enquanto eu faço nosso café?
— Ok — Ele não discute, apenas se levanta e começa a recolher suas coisas — Tia, você quer me ajudar a pintar? Esse desenho é grandão e vai demorar muito tempo para terminar.
— Ajudo sim.
Seguimos para a sala, e Clara vai para a cozinha. O apartamento é minúsculo, a cozinha é pequena, e acredito que seria bem complicado se duas pessoas resolvessem cozinhar ao mesmo tempo. A sala de jantar e a de estar fica no mesmo ambiente. Há um pequeno corredor que leva até os quartos e o banheiro. Mas eles parecem felizes com o espaço deles.
Primeiro de tudo, recolho o cobertor e o lençol que está ainda no sofá e os dobros, deixando no canto e colocando o travesseiro sobre eles.
Depois disso me sento no chão para pintar junto com Nico, e aproveito o momento com ele. É fácil ficar ao lado dele, ele é uma criança boa, e que não faz reina por tudo, só quando está perto da minha irmã, mas porque ela o mima demais, então ele sabe que vai ganhar o que pedir.
Quando a mãe do menino está terminando de colocar a mesa, ouvimos a campainha tocar. A mais nova parece estranhar, provavelmente não está esperando ninguém.
— Podem vir para mesa que já está tudo pronto — Avisa.
Nicolas e eu nos sentamos para comer, a porta fica bem próxima a mesa, então nos dá a visão perfeita de tudo que está acontecendo ali.
Clara abre a porta e dá de cara com Mateus, e meu sangue automaticamente ferve. O que ele está fazendo aqui?
— Bom dia, Clarinha — Ele a cumprimenta e estende flores em direção a ela — Trouxe isso para você.
Meu queixo cai, e olho para meu lado e encontro Nicolas com a mesma expressão em seu rostinho.
— Quem é ele? — Me pergunta sussurrando.
— Um amigo da sua mãe — As palavras saem amargas de minha boca.
— E por que ele está trazendo flores para minha mãe? Ele gosta dela?
— Não sei, Nico — Tento soar o mais natural possível — Você pode começar a tomar seu café.
— Eu vou lá ver quem é esse cara e o que ele quer com a minha mãe — Diz determinado.
— Acho que não é legal você atrapalhar eles, Nicolino — O impeço de se levantar.
— Eu não gosto que paquerem minha mãe — Cruza os bracinhos e faz cara de bravo — Ela não vai namorar com ele.
— Mas eles não estão fazendo nada demais — Digo mais para mim do que para ele. Clara continua conversando com o rapaz, parece estar sem jeito porém está atenta ao que ele diz.
— Mas ele trouxe flores, tia — Seu olhar encara os dois — Ele não vai namorar minha mãe — Repete.
— Por que você não quer que sua mãe namore?
— Porque o vovô disse que ela tem que namorar e ter um filho certo, que tenha um pai e uma mãe. Se ela tiver outro filho ela não vai mais gostar de mim, porque eu não tenho um papai.
— Meu pai disse isso? — Pergunto sem acreditar no que ouço.
— Não esse vovô, tia Sam, o vovô pai da mamãe.
— Ah! — Respiro aliviada por não ser meu pai, mesmo assim aflita com o que ele pensa — Isso não é verdade Nicolino, sua mãe vai te amar para sempre.
— Mas ela não vai namorar — Não muda sua opinião.
Ouvimos o barulho da porta novamente e vemos Clara voltar para perto de nós, e enquanto a vejo colocar as flores sobre a mesa, ouço Nicolas se levantar apressado e correr para o quarto.
O olhar da mais nova acompanha o filho, o suspiro que ela solta entrega sua frustração.
— Eu já volto.
Segue na mesma direção que o menino, e eu fico aqui sentada com cara de taxo. Será que é o momento perfeito para eu ir embora sem precisar encarar ela? Afinal, concordo com o pequeno, ela não vai namorar esse rapaz.
Levo algum tempo até entender o que está acontecendo, mas percebo que não tenho mais o que fazer nessa casa. Já me desentendi vezes demais com a dona do apartamento para me achar no direito de a afrontar mais uma vez.
Me levanto da cadeira tentando não fazer barulho, mas sou surpreendida com a garota vindo pelo corredor.
— Desculpa a atitude de Nicolas, as vezes ele age como uma criança mimada — Passa a mão pelo rosto.
— Não tem problema — Digo simples.
— Você já estava de saída? — Pergunta vendo que estava pronta para pegar na maçaneta da porta.
— Sim, lembrei que tenho um compromisso — Invento qualquer coisa.
— Mas você nem tomou seu café.
— Não estou com fome — Tento sair mais uma vez.
— Pelo menos me faça companhia então, eu estou te devendo isso por ontem.
— Você não me deve nada, Clara — Digo isso mais rude do que gostaria.
Antes que ela fale qualquer coisa, vou até a mesa e me sento novamente, porém continuo pensando em mais alguma desculpa para sair daqui o mais rápido possível. Ao encarar as flores em cima da mesa, volto a sentir a sensação estranha, a vontade de impedir que ela volte com esse rapaz.
— Achei que você tivesse terminado com ele — As palavras saem da minha boca sem eu nem perceber.
— Como sabe que eu terminei com ele? — Levanta o olhar em minha direção.
— Isso não importa — Reviro os olhos — Você voltou com ele, Clara?
— Você pode ir baixando esse tom, Samanta — Me repreende — Isso não é da sua conta.
— Mas é da conta do seu filho, e ele não parecia nada contente de ver vocês juntos.
— Com meu filho eu me entendo depois, agora me responda, por que isso incomoda tanto você? — Me desafia.
— Não me incomoda — Tento fugir da pergunta.
— Não é o que parece.
— Nem tudo é o que parece — Me levanto da cadeira pela terceira vez — Só continuo achando que esse rapaz não é para você.
— Isso sou eu quem tem que decidir, não acha?
— Não acho, o que acho é que você está cega, achando que só porque ele te trouxe flores, tem que ficar com ele.
— O que você está falando, Samanta? — Se levanta também, completamente sem paciência, e lá vamos nós para mais uma briga oficial — Você fala como se eu tivesse acabado de aceitar um pedido de casamento dele.
— É o que vai acontecer se você não colocar um fim nisso, ele vai se achar no direito de querer ter algo sério com você.
— E se eu quiser ter algo sério com ele? Quem é você para se meter na minha vida?
— Sou sua amiga.
— Não — Ela berra — Você deixou bem claro que não éramos amigas, então não venha exigir qualquer direito de se meter na minha vida, sendo que nem minhas amigas de verdade se metem.
— Porque suas amigas de verdade são tão crianças quanto você, não sabem nada sobre a vida adulta.
— Ah! — Exclama sarcasticamente — E você sabe? Você sabe tanto da vida adulta que afastou todo mundo de você, principalmente sua própria família.
— Você não sabe nada sobre a minha família, não sabe o que me levou a fazer isso.
— Exato, eu não sei nada sobre você e nem você sobre mim, então não venha me acusar de não saber como tocar minha vida, cuide melhor da sua.
— Você é impossível — Levo minhas mãos até meus cabelos tentando buscar o pingo de calma que me resta.
— Você que é, você me afasta e depois quer ter algum direito de questionar minhas escolhas.
— Então ele é a sua escolha?
— Eu não disse isso — Seu olhar me queima, de tanta raiva — Mas mesmo que fosse, isso não lhe diz respeito.
— Eu vou embora, não vale a pena ficar aqui discutindo com você.
— É o que você sempre faz, foge — Me acusa, e sei que ela está certa.
— Não estou fugindo, só não vejo motivos de ficar aqui.
— Você tem razão, não há motivos.
Nossas palavras nos machucam, posso ver nos olhos dela que está tão agredida quanto eu, e não somos maduras suficientes para lidarmos com isso de outra forma.
Eu não sou.
Eu acuso Clara de agir como criança, mas sei que estou agindo bem pior que ela, mas não consigo controlar esse ciúme que sinto quando vejo ela perto dele, e ver Nicolas compartilhando do mesmo sentimento que eu, me deixou ainda mais possessa.
Não falo mais nada, apenas viro as costas e saio do apartamento. Deixo para trás Clara e Nicolas, mas deixo também minha dignidade, minha razão e tudo que sempre perco estando perto dela.
Fim do capítulo
Oiiii Pessoal!!!
Como tá o domingo de vocês? decidi dar um presentinho para encerrar o fim de semana.
Sam está cada vez mais perdendo o controle por conta do ciúmes, não vai demorar quase nada até ela não conseguir mais se segurar.
O que acharam da Clara como pintora?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve!
Comentar este capítulo:

PriCobra0608
Em: 09/09/2025
Eita....
Quem será q irá ceder primeiro hein....
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Ansiosissima pelo próximo capítulo....
Bjs

Socorro
Em: 08/09/2025
Kkkkkk
o Ciúme cega kkkkkk
Que dupla é essa Sam e Nico coitada da Clara vai ter trabalho kkkk
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Paloma Matias
Em: 08/09/2025
Autora da história
Vai ser uma dupla da pesada kkkk
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