Caps. 20 – Bia – Eu sou uma idiota
Depois da conversa com Lara, tudo estava muito confuso na minha cabeça e coração, apesar da resistência, procurei ficar o mais longe que pude de Pamela, com Lara em casa, pedia para ela ir levar ou buscar Izzie quando podia. Me chamava de covarde, mas precisava entender o que estava acontecendo comigo, e ficar perto dela não iria me ajudar.
Mas foi sem sucesso, não parava de pensar nela, e das nossas aventuras com Izzie, não podia evitar um sorriso sempre que sua imagem vinha na minha mente. Quando ia buscar ou levar minha pequena na escola, a vontade era imensa de ficar e conversar, mas sempre dava uma desculpa qualquer pra não ficar muito tempo na sua companhia.
Sabia que isso a deixava triste, via em seus olhos a magoa, e ficava triste, não queria magoá-la, mas estava confusa ainda não tinha descoberto o que estava acontecendo comigo, gostava de Pamela, mas não sabia explicar tal sentimento, e eu era assim, corria sempre, precisava me achar para me sentir segura.
Final da segunda semana de outubro, na sexta, iria ter a festa do dia das crianças na escola, Izzie estava eufórica, nunca vi uma criança ser tão agitada, sorria com as peraltices dela. Minha bebe estava crescendo, o tempo voava, e a única coisa que pedia era para ele ir com calma.
Na sexta acordei com aquela sensação de que alguma coisa fosse acontecer, já fiquei em alerta. Fui cedo na editora, pois passaria metade da tarde com Izzie na escola, resolvi o que consegui, Lara estava em casa, quando cheguei, almoçamos, nos arrumamos e fomos para a festa, minha irmã nos acompanhou, ela dissera que Pamela havia perguntado o que estava acontecendo, já que eu estava distante e quase não respondia suas mensagens, mas não me disse o que ela havia dito, isso me deixou bem chateada com minha irmã, e como sempre, nem ligou.
Chegamos na escola por volta das 14h, iria ter a reunião com os pais em sala, como sempre, depois a geral no pátio com a diretora e daria espaço para começar a festa.
– Tia Pamm – a alegria de sempre de Izzie era satisfatória, também ficava feliz em vê-la, e seu carinho com minha filha, me cativava mais.
– Olá, meu amor, como você está?
– To bem, tiaa.
– Que maravilha, está animada?
– Simmm... – sorriu apertando a bochecha da criança, que logo avistou seus amiguinhos e correu para junto deles, ela sorrindo nos olhou.
– Olá, Bia, que bom ver você aqui. – Se aproximou, me deu um beijo no rosto e me abraçou, retribuí. – Senti sua falta sabia.
Dissera isso baixinho, aquilo mexeu com meu coração, quando nos afastamos, tentei justificar.
– Desculpa, não estou na melhor fase da minha vida, quase não conseguia parar em casa... – mentira deslavada, Lara pigarreou atrás de mim, e quase pude ouvi-la me chamar de covarde de novo, se aproximou.
– Oi, Pam, tudo bem? – beijou o rosto dela que sorriu retribuindo.
– Oi, Lara, estou bem e você?
– Estou ótima, ansiosa para a festa, Izzie não para de falar sobre ela.
– Vai ser maravilhosa, como sempre, as crianças vão amar hoje, teremos uma surpresa.
– Gosto de surpresa, estou ansiosa.
– Você pode ficar à vontade, se quiser explorar a escola, irei falar com os pais rapidinho e nos encontramos no salão.
– Ok, ficarei de olho em Izzie.
Agradeci, ela saiu ainda me olhando, desviei o olhar, Pamela estava recepcionando os pais, pedi licença e entrei na sala. Logo ela se juntou a nós, a reunião foi breve, falou do desempenho das crianças, e um pouco sobre a festa, a mesma coisa de sempre. Nos reunimos ao salão com todos os pais, a diretora fez seu discurso, e deu abertura a festa.
Durante todo o tempo, tentei não manter contato visual com Pamela, as vezes ela me flagrava olhando-a, mas não se aproximou de mim, agradeci e ao mesmo tempo não gostei. Uma confusão danada dentro da minha cabeça e coração, não sabia mais o que queria e aquela briga interna me fez perder metade da festa. Saí um pouco da “muvuca” que estava no salão e fui caminhar, olhar os desenhos das crianças.
– Está distante, o que aconteceu?
Me surpreendi com Pamela ao meu lado, perguntando, a olhei, vi tristeza em seus olhos.
– Nada, só ando com a cabeça cheia, ultimamente.
Segurou meu braço, me fazendo parar, inspirei fundo, não a olhei de imediato.
– Bia... – ao som do meu nome, a olhei, perguntou séria – fiz alguma coisa que tenha desagradado você?
– Não, porque acha isso?
– Está claramente me evitando, não responde minhas mensagens, não aparece aqui na escola, e quando vem me cumprimenta de longe, hoje está evitando contato visual, com certeza está acontecendo algo, e gostaria de saber o que, se possível.
Naquele momento, alguém se aproximou, e para meu desagrado foi o cara com que a vi na sorveteria.
– Pam, Ana está procurado você, precisa que assine um documento, não sei bem, mas ela está bem agitada. – Sorriu, percebendo minha presença estendeu a mão. – Beatriz, né? Tudo bem?
– Sim, tudo bem e você? – O cumprimentei.
– Bem, cansado, essa criançada é muito agitada, não estou acostumado – sorriu divertido, percebi que ele estava com o uniforme da escola, perguntei curiosa.
– Trabalha aqui também?
– Sim, comecei em agosto, na verdade, estou em fase de “teste” ainda como Pamela sempre me diz.
Sorri, mas não achei muita graça, olhei dele para ela que disse.
– O Murilo morava nos Estados Unidos, voltou de viagem, e estava procurando uma escola para lecionar, como tinha uma vaga aqui para professor de línguas, indiquei ele.
– Entendi, que bom, nesse caso – olhei pare ele – seja bem-vindo, espero que se adapte.
– Agradeço – sorriu, mas logo se despediu, indo em direção as crianças.
– Que bom que você indicou seu “amigo” pra trabalhar aqui com você, muito gentil da sua parte – tentei não demonstrar desdém em minha voz, mas falhei miseravelmente, ela me olhou, mas desviei os olhos para Izzie que passou correndo com os amigos, dando tchau, sorri acenando.
– Bia, o Murilo e eu somos... – o que eles eram, não cheguei a ouvir.
– Pamela, estou te procurando faz tempo... – Olá, Beatriz, como vai?
– Oi, Ana, bem e você?
– Vou acabar enlouquecendo, quase desistindo de trabalhar em escola – fez uma careta, sorri.
– Precisa ter um dom para trabalhar com crianças, admiro muito vocês, com uma em casa quase fico maluca.
– Temos os nossos momentos, devo confessar, e as vezes os professores dão mais trabalho que as crianças – olhou para Pam que deu de ombros, sem saber o porquê da bronca – preciso que assine uns papéis e não pode passar de hoje, essa documentação tenho que mandar para a secretaria da educação.
– Sim senhora, já estou indo – Ana deu de ombros, se despediu e saiu correndo para o interior da escola – será que podemos conversar depois?
– Sobre o que? – Perguntei interessada.
– Sobre a forma como está me tratando e do porquê, Beatriz – me encarou decidida, nunca tinha a visto daquele jeito, e ainda ao som de meu nome saindo de seus lábios em um tom não conhecido.
– Tudo bem, espero você quando a festa acabar, vou falar pra Lara levar Izzie pra casa.
– Agradeço, vou te procurar depois que acabar, gostaria de não ser interrompida.
E saiu decidida, nem esperou que eu respondesse, voltei para o salão, Lara me vendo, perguntou.
– E agora?
– E agora o quê?
– Por favor, Bia, ta parecendo uma criança birrenta... – arqueou a sobrancelha, amarrei a cara.
– Acabei de saber que o “amiguinho” de Pamela também trabalha aqui, e foi por indicação dela.
– Jura? – ela pareceu interessada, olhando em volta. – Me mostra ele.
– Moreno alto, conversando com a diretora – discretamente ela procurou e o achou.
– Nossa, que gato... fez um gesto com a mão como se arranhasse o ar, amarrei a ainda mais a cara e ela gargalhou ao me lado.
– Você pode levar Izzie pra casa quando a festa acabar?
– Porque? – me olhou interessada.
– Pamela quer conversar comigo, ela está diferente – confessei.
– Diferente como?
– Parece decidida, me chamou pelo nome e foi bem categórica.
– Bom, já era hora, não?
– Hora de quê?
– De uma de vocês tomar uma atitude, espero que você não hesite diante dessa conversa.
Não conversamos mais, ao final da festa, a turma da Mônica entrou no salão, o alvoroço foi enorme, as crianças correram ao encontro deles, pulando e gritando, foi uma loucura. Sorri vendo Izzie no meio da algazarra, como gostava de uma bagunça.
A festa acabou, Lara levou Izzie para casa, fiquei imaginando sobre o que Pamela queria conversar e também pensando em umas coisas para dizer gostaria de resolver as coisas antes que desandasse e acabássemos nos afastando mais.
Tinha dito que a esperaria em seu carro, enquanto ela finalizava, quando saiu estava acompanhado do rapaz, que deu um beijo em seu rosto e seguiu para o carro dele, tentei não deixar aquilo me perturbar, Lara tinha razão, estava com ciúmes, mas porque isso agora?
– Que bom que me esperou... – me olhou séria.
– Bom, falei que a esperaria... – ainda me olhando, perguntou se podíamos ir.
Concordei apenas, entramos no carro e saímos, conversamos sobre a festa, falei o que achei, respondi algumas perguntas, ela me olhava de canto de olhos, parecia triste, e estava certa, estava tratando-a com desdém, e isso ia além do que eu era, ela estacionou, próximo à praça, algumas pessoas caminhavam outras sentadas em bancos espalhados. Nos dirigimos para um lugar mais reservado, quando ela se sentou, disse.
– Pamela... – resolvi começar a tal conversa, ela me olhava com tristeza, e isso me incomodou – peço desculpa pela forma como tenho tratado você ultimamente, estou passando por algum processo interno, e isso vem mexendo comigo.
– E isso tem a ver comigo? – perguntou me olhando.
– De certa forma sim, – concordei – mas isso não é desculpa para estar agindo como venho, nas últimas semanas.
– Estou chateada, Bia, achei que fôssemos amigas, sempre disse para conversarmos caso algo nos incomodasse.
– Sei disso, mas para mim, é muito difícil me abrir, falar sobre meus sentimentos.
– E o que exatamente está acontecendo com você? – desviei os olhos dela, aquela pergunta foi bem direta. – Antes que responda, quero falar algo.
– O quê?
– Sobre o Murilo... – inspirei fundo, sabia que ele entraria em nossa conversa, mas não sabia que seria logo no início.
– Pam, não precisa, sei que ele é seu... – me perdi na palavra, talvez nem conseguisse falar – seu...
– Ele é meu irmão, Bia, meu irmão.
– Irmão? – Era como se um peso enorme tivesse sido tirado de dentro do meu estômago, quase pude sorrir, mas aí lembrei da idiota que fui, não tinha como não desanimar.
– Sim, chegou de viagem algumas semanas atrás, está em fase de adaptação, sei que ficou chateada por não ter aceitado ir passear com vocês naquele domingo... – não a deixei terminar.
– Por favor, não se justifique, você não tem culpa de eu ser uma idiota.
– Porque diz isso?
– Sim, eu fiquei chateada naquele dia, mas não por não ter ido conosco, e sim porque a encontrei depois, com ele, fiz julgamento errado, imaginei uma coisa e na verdade era outra.
– Está me deixando confusa, do que está falando? – a olhei e de certa forma, fiquei envergonhada, simplesmente disse.
– Fiquei com ciúmes de você, com o seu irmão, pensei que ele fosse ... não sei... só pensei... – Ela levantou e me encarou, não conseguia olhar para ela – amigos sentem ciúmes, né? – perguntei sem ter mais explicações – de certa forma achei que... não sei o que achei, fui egoísta, deveria ter falado com você antes, mas essa sensação esmagadora dentro de mim, me bloqueou, nunca senti isso antes, não estava sabendo lidar.
– Porque você sentiu ciúmes de mim? – perguntou me olhando séria, tinha um ar ansioso.
– Olha, você é minha amiga, e nos últimos tempo temos estados juntas, sempre saindo e nos divertindo, sua companhia é a melhor, e sempre que está comigo e Izzie, nossas aventuras acabam sempre as melhores – fui sincera em cada palavra – naquele dia achei que fosse ser assim, mas não foi, embora tenha imaginado coisas erradas, não ter você conosco, foi só mais um dia, consegue me entender?
– Em partes sim, mas onde entra o ciúme? – ela insistiu na pergunta.
– Eu não sei, pra ser sincera – deixei meus ombros caírem – queria poder responder essa pergunta, mas não consigo responder nem a mim. – Ela me olhava, vi um brilho em seus olhos, mas sumiu em segundos – você é importante para mim, Pam, vai ver fiquei com medo de perder sua amizade.
– Compreendo, Bia, mas pra ser sincera, esperava que tivesse outra resposta.
A decepção no olhar dela, ao dizer aquilo, me fez dar um passo para trás, alguma coisa havia se perdido ali.
– Olha... – comecei.
– Tudo bem, Bia, eu entendo, não precisa dizer mais nada – disse séria, mas não me olhava – só peço que dá próxima vez que concluir alguma coisa ao meu respeito, me procure antes, assim podemos conversar e resolver.
– Prometo que não irá se repetir.
O clima ficou bem sério entre nós, e apesar de ser lenta para vários assuntos, percebi o que ela não me falara, estava claro o que sentia por mim, e ia além da amizade, e eu me senti pior por não conseguir corresponder, ainda não desvendara os sentimentos dentro de mim, como poderia explicar a ela o que eu sentia?
Sei que ela é importante para mim, que sua presença me faz bem e me sinto feliz ao seu lado, mas ainda era vivo o que sentia por Sara, queimava dentro de mim, apesar de ela ter nos deixado a algum tempo, e o fato de que não voltaria mais, não amenizava.
Mas perceber que estaria perdendo alguém incrível como Pamela, porque estava confusa, me tornava a pessoa mais idiota da face da terra, contudo, não poderia dar-lhe esperanças, não depois de agora, não vendo estampado em seus olhos aqueles sentimentos.
Ela foi embora, insistiu em me levar em casa, mas a convenci de que precisava pensar um pouco, e aleguei que em casa com Lara no meu pé, não conseguiria. Ela sorriu depois que disse isso, um sorriso triste, porém lindo. Dei um beijo em seu rosto ela se foi.
Não poderia pedir para ela ficar, não era justo, precisava me localizar primeiro, e quem sabe um dia me ajustar a isso.
Fim do capítulo
Boa tarde, meninas, tudo bem??
A Bia é uma idiota, e devo confessar, isso é bem a cara da autora... rs
Esse lance de querer e não saber como agir... acabar perdendo para depois dar valor, são consequências sérias, porém reais.
Já deram um passo aí, agora é esperar pra ver no que vai dar... por favor, peguem leve com ela, depois dessa mancada... rs
Bjs... uma ótima semana para vocês.... se cuidem e até a próxima...
Bia
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HelOliveira
Em: 03/09/2025
Humnnn não sei se consigo pegar leve com a Bia, tá fazendo a Pam sofrer..
Bjos amiga
Bia Ramos
Em: 04/09/2025
Autora da história
Boa tarde, Lenah...
Ah, fica brava com a Bia não... vai ver a autora que a enrolando tbm... hehe...
Agradeço o comentário...
Bjs, se cuida
Bia
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Bia Ramos Em: 04/09/2025 Autora da história
Olá, Caca, boa tarde.
A Bia carrega uma certa "inocência" com ela, quando se entrega é pra valer, e pessoas assim as vezes perdem a noção de certas coisas ao redor, sei disso por experiência... rs
Enfim... o caps da Bia narrando a história dela e Sara está no ar, moça... espero que curta...
Agradeço o comentário...
Bjs, se cuida
Bia