capitulo vinte e cinco: a calmaria depois da tempestade
CAPÍTULO VINTE E CINCO.
Já se passavam das 21h da noite, Fê e eu estávamos deitadas no tapete felpudo da sala. Sua cabeça encostada em meu peito enquanto eu fazia um cafuné preguiçoso em seus cabelos ruivos. A música que tocava no sound bar da sala era aquela já conhecida por nós duas: enchanted.
Quase dez anos de relacionamento e meu encantamento por ela ainda era único. Aperto-a em meus braços e dou um beijo no topo de sua cabeça, ela entrelaça suas mãos nas minhas e ficamos assim, em silêncio por um bom tempo. Não havia nada de errado com o sofá da sala, só que nós sempre deitávamos no chão quando queríamos ter nossos momentos juntas, nosso tempo de qualidade.
— Você tem algum segredo que nunca contou pra mim? — a voz da Fê veio baixa, quase um sussurro.
— Maria Fernanda... não há nada que eu consiga esconder de você. Mesmo que eu tente, você sempre sabe de tudo, às vezes antecipa meus pensamentos antes de eu mesma chegar à conclusão deles — dou um sorriso, enquanto faço um carinho com as costas dos dedos no rosto dela — e você? Tem algo que nunca contou pra mim?
Ela me olha travessa.
— Na verdade, tem...
— O que é?
— Lembra da noite em que estávamos separadas e eu fui pra balada com a Camila?
Meu coração congela.
— S-sim... o que tem?
— Eu fumei um beck.
— O quê?! — quase grito, olhando para ela espantada
— Shhhh... — ela dá uma gargalhada e coloca o indicador nos meus lábios para que eu faça silêncio — acho que é por isso que fiquei tão mal no dia seguinte, eu misturei com bebida, não lembrava de nada.
— E você me fala isso assim?
— Eu estava doida pra te contar isso, mas nunca tive a oportunidade de tocar no assunto — ela ri — Não surta, vai...
— Não vou surtar. Você gostou disso? — pergunto, meio confusa
— Não. Não é minha praia.
Dou um suspiro de alivio.
— Seus clientes fazem coisas piores, Doutora.
— Eu sei, mas minha esposa é uma santa.
— Tem certeza? — ela retruca
— Bom, exceto naqueles momen-
Ela me interrompe com um beijo calmo, aproveito para fazer um carinho em seus cabelos enquanto sua língua dançava de forma sincronizada com a minha. Finalizamos o beijo com um selinho enquanto ela se apertava mais em mim.
— Posso te fazer outra pergunta?
— Estou com medo dessas perguntas agora, medo de você me revelar uma outra bomba...
Ela me belisca.
— Ai! — reclamo — o que aconteceu com a minha esposa doce, meiga?
— Foi deixada em Buenos Aires depois da lua de mel — ela ri — mas sério... posso?
— Sim.
— Tem algum sonho que você ainda não realizou?
Penso um pouco.
— Ah, vida... a verdade é que eu me sinto muito realizada. Já conquistei muito mais do que imaginei... — fiz uma pausa para pensar — na verdade, tem uma coisa sim.
Quando ela ia levantar o rosto para me perguntar o que era, fomos interrompidas pelo nosso pacotinho de amor com seu pijama amarrotado e os olhinhos marejados.
— Mamãe… tive um pesadelo.
Ela veio direto para o meu colo, sem cerimônia. Se enfiando entre mim e Fernanda. Suspirei, olhei pra Fê com um sorriso torto.
— Amor, será que posso te trocar por uma loirinha?
Fernanda riu, rendida da forma que Cecília se enfiou entre nós duas.
— Por essa loirinha pode...
E assim ficamos: nós três, juntas, no silêncio do tapete, embalando Cecília até que ela relaxasse.
— Canta pra mim, mamãe?
— Qual música você quer?
— “A rua”.
Sorri. Comecei a cantarolar baixinho para minha princesa:
— “Se essa rua, se essa rua fosse minha...”
Fernanda fazia carinho nas costas de Ceci enquanto eu cantava pra ela, que mantinha seus olhinhos fechados. Quando terminei de cantar, olhei com atenção para minha esposa que estava com os olhos marejados.
— Eu amo vocês duas mais do que tudo nessa vida. — ela sussurrou. — Queria que você cantasse mais vezes… quase nunca canta.
Desviei o olhar, sem jeito. Cantar sempre me levava de volta a um lugar da infância que doía. A música que minha mãe costumava cantar antes de me deixar sozinha na cama. Lembranças... aquilo ainda doía. Meu peito se fechou naquele momento.
Fernanda percebeu, claro. Mas não insistiu. Apenas respeitou meu silêncio.
— Deixa a Cê dormir com a gente hoje — ela sugeriu, com doçura. — Eu arrumo a cama, você leva ela.
Fiz o que ela pediu. Coloquei nossa filha entre nós, aquele corpinho pequeno no meio da cama gigante. Cecília dormia tranquila, e nós ficamos de mãos dadas, no escuro, até o sono nos vencer também.
🌙✨
No dia seguinte, voltei a minha rotina. Entretanto, não parei de pensar na noite anterior. Enquanto eu revisava contratos e respondia alguns e-mails, a minha paranoia tomava conta de mim. E, pior ainda, a lembrança da minha mãe cantando pra mim. Aquela música sempre foi um colo que durava cinco minutos antes de eu ser deixada sozinha no quarto.
Será que eu estou sendo uma boa mãe pra minha filha? Será que a Ceci vai ter boas lembranças de mim ou só de uma mulher estressada, enterrada em processos, que passava mais tempo em reuniões do que com ela? Suspirei. Queria ser mais presente. Muito mais.
Na parte da tarde, a porta da minha sala se abriu sem que eu autorizasse. Só uma pessoa fazia isso: Cibelle. Entrou sem cerimônia, com uma pasta na mão e a cara de quem estava prestes a soltar uma bomba.
— O que aconteceu? — pergunto, já temendo sua agitação
— Acabou, Anna.
— O que acabou, Cibelle? — arqueio a sobrancelha
— O caso Zhang.
Arregalo os olhos, sentindo meu ar sumir.
— Fernanda venceu. Áurea Zhang vendeu sua parte para a irmã — Cibelle joga a pasta na minha mesa como quem soltava uma dinamite.
Pego os papéis e leio a proposta de acordo assinada por Áurea, a irmã má. Recosto na cadeira, ainda absorvendo a informação.
— A Dra. Baldez não vai gostar nada disso... — murmurei
— A proposta da nossa empresa era vender a Zhang para a empresa concorrente, Anna. Por setecentos milhões.
— Isso significaria 210 milhões em honorários advocatícios. Perdemos milhões. — Completo
— Ricardo está escondido na sala dele. Não o vi desde que soube da notícia do acordo.
— Ele que se dane.
Ela não disse nada, apenas assentiu enquanto deixava a sala. Fiquei sozinha, girando a cadeira até ficar de costas para a porta. Cibelle tinha deixado meu café na mesa, e eu o segurei como se fosse um prêmio de consolação.
Puta merd*.
Fernanda era uma advogada do caralh*.
E eu, mesmo sabendo que o meu escritório tinha acabado de perder milhões em honorários, não conseguia sentir raiva. Pelo contrário. Eu estava orgulhosa. Orgulhosa pra cacete.
Peguei o celular para mandar uma mensagem, mas ele vibrou antes. Era ela.
Monstrinha:
"Acabou, amor. Fechamos um acordo. Áurea vai vender a empresa pra Camila e ela vai continuar funcionando."
Sorri sozinha. Ela não tinha feito apenas seu primeiro milhão — tinha feito sessenta.
A segunda mensagem me arrancou uma gargalhada:
Monstrinha:
"Cecília vai pra Disney."
Balancei a cabeça e digitei a resposta:
"Cecília vai pra Disney! Hahahaha. Orgulhosa de você, meu amor. Te amo! Mais tarde te ligo."
Fiquei ali parada, segurando o celular, com um sorriso idiota no rosto. Porque, no fim das contas, perder duzentos e dez milhões não doía tanto quando a mulher que você ama acabava de conquistar o mundo.
Cibelle me ligou e disse que entraria em reunião em 10 minutos com o Conselho. Li tudo que tinha que saber sobre o caso, peguei meu blazer e saí em direção a sala de reuniões.
Lá dentro, entrei impassível. Deixei Roberta conduzir tudo sobre o caso, não queria me envolver, ainda mais quando a parte contrária era minha esposa, mas ela estava, como dizem por aí, full pistola.
— Incompetência! — ela disparava, cuspindo cada sílaba. — Nem ganharam a ação, nem conseguiram costurar um acordo decente.
Ricardo, como bom covarde, não admitiu. Tentou virar o jogo tentando me atacar.
— É claro que não vencemos, pois a esposa da sua queridinha está de affair com Camila Zhang e convenceu Áurea a aceitar um acordo que nos colocava em desvantagem.
Senti o sangue ferver. Em questão de segundos, eu já estava de pé, pronta pra enfiar a mão na cara dele. Quem ele pensava que era pra falar da minha esposa daquele jeito?
— Repete se tiver coragem, seu merd*. — Minha voz saiu baixa, mas minha mão já estava segurando sua camisa perfeitamente alinhada
Se não fosse Roberta me segurar pelo braço, eu juro acabaria com essa reunião do jeito mais “Anna Florence” possível.
— Chega! — ela gritou. — Ricardo, você está fora.
Ele arregalou os olhos. Tentou argumentar, mas o conselho votou em segundos. Demitido. Rápido, limpo, fora. Para ele, foi um soco no estômago. Saiu batendo a porta, vermelho de ódio.
A reunião terminou com um pequeno escândalo, mas também eu estava satisfeita de ver aquele incompetente indo embora. Foda-se.
Mais tarde, fui até a sala de Roberta. Ela estava sentada no sofá que havia em sua sala com um copo de whisky na mão. Me chamou com um gesto.
— Senta aí.
Obedeci. Ela suspirou fundo e, sem cerimônia, deitou a cabeça na minha perna. Eu não aguentei e comecei a rir.
— Está muito risonha para quem acabou de perder milhões, Anna.
— A advogada da outra parte é do caralh* mesmo. — respondi, sem pensar.
Ela arqueou a sobrancelha.
— Você está feliz, não está?
— Orgulhosa. — confessei. — Muito orgulhosa. Fernanda foi melhor do que até eu achei que ela poderia ser. Ninguém esperava por isso.
Roberta assentiu devagar.
— Ela seria a sócia sênior perfeita pro Civil. Eu nunca quis que ela saísse daqui, pra falar a verdade.
— Ela nunca aceitaria voltar pra cá — dou um sorriso de canto — Isso vai muito além de escritório, Roberta. Ela quer independência. Quer construir o patrimônio da Cecília com as próprias mãos.
Contei sobre a “conta do Mickey”. Roberta gargalhou alto, quase derrubando o copo.
— Essa eu precisava ouvir! — ainda rindo, ela balançou a cabeça. — Mas vou fazer a proposta de qualquer jeito.
— Faça. Mas eu quero ficar responsável pelo recrutamento do próximo sênior de Civil caso ela não aceite. Os dois últimos que você escolheu foram um desastre.
— Cala a boca, Anna. — ela me cortou, virando o resto do whisky.
Eu gargalhei na cara dela, provocando. Ela fingiu não ligar.
— E um aviso: se for comemorar com a sua esposa hoje, que seja dentro de quatro paredes. Florence não pode ser vista celebrando um acordo que nos fez perder milhões.
Levei a mão à testa e bati continência.
— Sim, senhora.
Quando voltei a minha sala, fiz uma ligação rápida pra madrinha de Cecília.
— Oi, dindinha. Quer fazer um grande favor pra mim e ficar com a sua afilhada hoje?
— Vai sair com a sua ruiva? — ela ironizou
Desde que Fê e eu havíamos nos separado, Bruna pegou implicância com Fernanda pelo que ela havia feito e não havia prece que eu fizesse que tirasse o ranço da minha melhor amiga com a minha esposa.
— Quebra essa vai, baixinha. Por favor. — Suplico
— Está bem — posso senti-la revirando os olhos — eu a pego na escola, tem algumas roupas dela aqui e Bia vai adorar a companhia hoje.
— Obrigada, irmã. Te amo! — agradeço de coração
— Também amo você. Juízo.
A verdade é que eu já vinha tramando isso desde cedo, desde a hora que Cibelle jogou a bomba do acordo na minha mesa.
Liguei para o meu amigo da Marina da Glória.
— Tá tudo certo pro que combinamos?
— Tudo no esquema, Dra. Florence. — ele respondeu
Eu queria muito fazer uma surpresa pra Fê. Queria muito que ela se sentisse valorizada como mulher, como esposa, queria que ela soubesse o quanto eu a amo e o quanto estou feliz com as suas conquistas. Que nunca seríamos concorrentes em nada e sim parceiras em tudo.
Quando cheguei em casa, minha ruiva praticamente se jogou nos meus braços. Eu a abracei forte e sem pensar, a rodopiei no ar. Beijei sua boca, rindo feito uma idiota.
— Eu tô tão orgulhosa de você… — murmurei contra os lábios dela. — Feliz demais por essa conquista.
Ela sorriu, ainda ofegante.
— O pessoal do escritório vai comemorar hoje na balada… junto com a Camila. Você vem comigo?
Balancei a cabeça, já pronta com a desculpa.
— Não posso ser vista comemorando em público, amor. Ia pegar mal pra mim. Mas me liga quando quiser vir embora, que eu vou te buscar.
Cecília apareceu correndo na sala, os olhos brilhando. Se agarrou no pescoço da Fernanda.
— Você ganhou aquele caso importante, mainha?
Fernanda riu e a beijou na bochecha.
— Ganhei sim, meu amor!
— Parabéns! — Cecília sorriu orgulhosa.
Eu fiquei só observando, coração mole.
Mais tarde, enquanto se arrumava, Fernanda parecia que havia saído da capa da Vogue. Vestido justo, salto, maquiagem perfeita. Eu fiquei parada na porta, só admirando, sem esconder o olhar.
— O que foi? — ela perguntou, ajeitando o batom.
— Nada. — sorri, malicioso. — Acho que Deus me deu em abundância.
Ela riu, se aproximou, e logo estávamos aos beijos, carícias, mãos bobas deslizando em lugares nada inocentes. O clima já ia esquentar quando o telefone dela tocou.
Ah, ótimo. O affair.
Fui com ela até a porta. Quando Camila apareceu, elegante e visivelmente constrangida, Fernanda fez as apresentações.
— Camila, essa é a Anna. Anna, essa é a Camila.
— Prazer. — cumprimentei com um sorriso que era mais navalha do que simpatia. — Parabéns pela aquisição da empresa. E… cuida bem da minha esposa, tá?
Camila ruborizou até a raiz do cabelo. Seus olhos puxadinhos diziam que ela queria cavar um buraco no chão. Fernanda me cutucou na hora.
— Anna!
— O que foi? — dei meu melhor sorriso cínico.
Ela revirou os olhos, mas eu percebi o canto da boca querendo rir.
— Você é feliz demais infernizando os outros.
— É o que me mantém jovem. — pisquei.
Ela me deu um beijo de despedida, rápido, e desceu com Camila. Fiquei parada na porta, olhando até o carro sumir na esquina. E pensei: como eu posso continuar tão apaixonada depois de anos pela mulher da minha vida?
❤🥂
Quatro horas da manhã. Estava cochilando no sofá quando ouço meu telefone tocar. Era minha monstrinha, com a voz meio embolada me ligando para busca-la. Peguei o carro e fui rapidamente ao seu encontro. Na porta da balada, quando me viu se jogou em meus braços, cheirando meu pescoço.
— Gostosa... — ela diz — te amo tanto
Eu ri. Ela não falava nada com nada. Completamente embriagada.
— Também te amo, amor. Agora entra aqui. Vamos tirar esses saltos.
A coloquei dentro do carro e fui tirando seus saltos, ela se aproveitava disso pra abrir as pernas pra mim.
— Você não quer tirar a calcinha também? — arqueia a sobrancelha sugestivamente
— Fernanda, Fernanda... — balanço a cabeça negativamente — Vamos. Vou te dar um banho de água fria quando chegarmos.
Ela gargalhou e seguimos para o local que eu havia escolhido, mas antes, tinha que passar no drive do MC Donald’s pro meu amor comer alguma coisa, conheço minha esposa: Fernanda bêbada sem comida era uma tragédia.
O cabelo, antes impecável, agora parecia que tinha brigado com um gato. Dei o lanche na mão dela e fiquei observando a cena: a grande advogada, heroína do caso Zhang, toda lambuzada de molho Big Tasty.
— Você tá rindo de mim, Anna… — ela resmungou, a língua enrolada.
— Imagina, amor. Continua, você tá linda. — tento engolir o riso
Ela começou a falar sem parar, misturando palavras.
— Amanda tava lá… com a Andressa… clima de romance total. — e ria sozinha, como se tivesse contado a piada do século.
Balancei a cabeça.
— Você não tem jeito.
Mas não resisti. Perguntei, meio provocando:
— E o seu affair? Cuidou de você?
— Falou disso a noite toda! Disse que eu não podia beber muito porque minha esposa ia processá-la.
Eu gargalhei alto, quase tive que encostar o carro.
— Eu quero conhecer essa Camila melhor. Vamos marcar um fondue em casa. Você chama ela.
— Ela vai amar isso! — Fernanda respondeu, entusiasmada, sem nem perceber a ironia na minha voz.
Terminou o lanche, comprei uma água e entreguei a ela.
— Melhorou?
— Uhum… só preciso dormir um pouco. Tô cansada.
Acariciei o rosto dela, que já começava a pesar nos meus ombros.
— Vai descansar, amor. Vou te levar pra um lugar melhor que a cama.
E virei o carro em direção à Marina da Glória. O veleiro estava à nossa espera, balançando sob a luz do quase amanhecer carioca.
Acordei Fernanda com delicadeza quando cheguei na Marina.
— Amor… chegamos. — sussurrei, passando a mão no cabelo dela.
Ela abriu os olhos devagar, piscando, ainda grogue.
— Ué… isso aqui não é a nossa casa.
— Não. — sorri, saindo do carro e ajudando-a a descer. — É muito melhor.
Ela olhou em volta, confusa, até que viu o veleiro iluminado, balançando suavemente, como se esperasse só por nós.
— Você não fez isso… — a voz dela saiu num misto de surpresa e incredulidade.
— Fiz. — segurei a mão dela com firmeza. — Vem...
Ela parou na frente do barco, mordendo os lábios e visivelmente emocionada.
— Amor... eu nem sei o que dizer.
— Não diz nada, trouxe você aqui pra descansar e aproveitar sua vitória — beijei seus lábios com carinho
Ela me abraçou e eu a abracei de volta, forte. Como se ela fosse minha âncora, meu tudo. E ela era. Fê era meu alicerce, sem ela eu só conseguia, no máximo, ser mãe de Cecília.
— Sabe... não teria valido a pena e eu não estaria tão feliz se você não tivesse me perdoado, se você tivesse me deixado, eu...
A interrompo, dando beijinhos no seu cangote e fazendo ela sorrir por alguns segundos.
— Você me faz alguém melhor todos os dias, Fernanda. Eu não entendia o que era amar alguém, ser amada por alguém e você veio e me deu isso... você me deu amor, me fez sentir amor, me deu uma filha, tudo o que eu tenho de bom foi dado ou despertado por você, inclusive o perdão. Se eu te perdoei, se eu voltei atrás, foi porque uma ruivinha me ensinou que a gente deve perdoar pra seguir em frente, seja lá qual for a nossa decisão.
Ela me olhava com os olhos cheios d’água, suas mãos trêmulas agora seguravam as minhas.
— Eu te amo tanto... eu juro que não tô bêbada agora, só me abraça, Anna. Por favor.
A puxei pra mim, apertando-a forte em meus braços, a essa altura eu chorava também, não havia nada no mundo que a tirasse do meu abrigo agora. Eu queria esse momento, queria que ela soubesse que eu a amava e que sentia muito orgulho da profissional, da esposa e da pessoa que ela é pra mim.
Somos interrompidas pelo Comandante do veleiro, que sorri na nossa direção.
— Sejam bem-vindas, sou o Comandante Hector e vou guia-las nesses dois dias imersas aqui na Marina. — ele diz batendo continência — fiquem à vontade, eu não saio da minha cabine. Podem desfrutar com total liberdade.
— Dois dias, amor? — ela me olha espantada
— Sim, hoje e amanhã. Fica tranquila, eu falei com a sua sócia para te dar folga. — pisquei — eu trouxe algumas roupas e coisas que estão na mala do carro. A gente vai ficar ancoradas aqui um pouco e vamos sair por volta de 12h. Nesse meio tempo, descansa.
Ela sorri, enlaçando meu pescoço e ficando na pontinha dos pés para selar nossos lábios.
— Você é meu sonho, sabia?
— Você que é meu sonho, amor — faço um carinho nas suas costas nuas
— Quer tornar esse sonho realidade? — ela diz com a voz rouca próxima ao meu ouvido e um arrepio corre meu corpo
Dou uma risadinha.
— Fernanda Alencar, eu quero que descanse. Depois realizamos nossos sonhos.
Ela dá um sorriso lindo pra mim e eu a pego nos meus braços, como sempre faço e a levo para o nosso quarto no veleiro. Não era muito espaçoso, mas era acolhedor. Um espaço compacto, mas que dava a ideia de conforto e intimidade.
— Cuidado com a cabeça — ela alerta
— Ai!
Droga.
Ela ri e se desvencilha dos meus braços, faz carinho onde bati a cabeça.
— Você morde e depois assopra? — digo ainda passando a mão no local
— Isso porque você amou a cama king do hotel, agora me trouxe para uma cama princess. — ela debocha
— Vai dormir sozinha — implico, semicerrando os olhos
— Quem disse que vamos dormir? — ela pisca
Reviro os olhos sorrindo, abraçando-a por trás e a ajudando a tirar o vestido. Ela senta na cama só de calcinha e me chama com o dedinho, me ajudando a tirar a minha roupa também. Quando ela tira minha blusa, dá beijinhos pelo meu abdômen.
— Sossega... — dou um sorriso sapeca — Quero que descanse, mais tarde tenho mais surpresas.
A deitei aos poucos na cama, fazendo suas costas baterem suavemente no colchão. Nossos olhares se encontraram por um segundo e eu a beijei com vontade, arrancando suspiros da minha ruiva, enquanto suas mãos puxavam de leve os cabelos da minha nuca.
Suas unhas arranham minhas costas quando nossos sex*s se tocam por cima do único tecido que estamos vestindo, um gemido escapou sem que eu pudesse controlar.
— É assim que você quer que eu sossegue? — Fernanda provocou
Dei um beijo carinhoso no rosto dela, rindo contra seu pescoço, causando arrepios nela.
— Tá... você tem razão. — me afastei devagar, deslizando para o lado e puxando-a para os meus braços. — Vem cá, sua tarada.
— Não tenho culpa se minha mulher é uma tentação — ela me dá um selinho
Abracei minha esposa mais forte e ela se encaixou no meu peito como se fosse sua morada. E era mesmo.
Beijei o topo da cabeça dela e a senti relaxar aos poucos. O balanço suave do veleiro e o cheiro da maresia eram as únicas sensações além de estar com o coração acelerado por uma mulher que, há anos atrás, eu não fazia ideia de que ia mexer com o meu mundo.
Os nossos dois dias prometiam e eu ia fazer de tudo para vê-la sorrir.
Fim do capítulo
Genteeeeeeeeee!
Socorro, estava com bloqueio criativo depois de quase um mês sem escrever ONR e esse capítulo acabou de sair do forno, redondinho pra vocês
Espero que tenham gostado, comentem aqui o que vocês estão achando dessa segunda temporada e o que vocês ainda esperam que aconteça
Próximo capítulo: último hot da temporada pra fechar esse ciclo de amor.
Me segue lá no insta: @nathh.autora
Obrigada por acompanharem até aqui! Vcs são demais!
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Sem cadastro
Em: 03/09/2025
Incrível como essas duas se tratam, o amor transborda nas coisas simples, admirável o tanto que a Anna amadureceu nesse tempo, e como a Fê a cresceu... o amor e o cuidado é recíproco. Autora amei o capítulo, Fê conseguiu a vitória e Anna super orgulhosa da sua esposa pela conquista. Amar também é perdoar de coração aberto... Anciosa pelo próximo capítulo
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Sem cadastro
Em: 03/09/2025
Incrível como essas duas se tratam, o amor transborda nas coisas simples, admirável o tanto que a Anna amadureceu nesse tempo, e como a Fê a cresceu... o amor e o cuidado é recíproco. Autora amei o capítulo, Fê conseguiu a vitória e Anna super orgulhosa da sua esposa pela conquista. Amar também é perdoar de coração aberto... Anciosa pelo próximo capítulo
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HelOliveira
Em: 03/09/2025
Anna fantástica fechando e comemorando com.chave de ouro a vitória da Fernanda....eu só amei demais esse capítulo....já imaginando o quanto vai ser maravilhoso esse hot, pena que será o último...
Nossa Fernanda mereceu tudo isso apesar do deslize do início que já foi superado...
Amo essas meninas, que amor lindo
nath.rodriguess
Em: 03/09/2025
Autora da história
Perdoar também é uma forma de amor, isso que eu quis passar pra vocês... e como a Anna tem dificuldades com segundas chances pq já foi muito machucada no passado, eu queria que vocês percebessem o quanto ela amadureceu com isso e o que um amor recíproco e saudável pode fazer na vida de alguém.
Ah, meninas, eu não queria me despedir... mas preciso dar espaço para outras ideias, outras histórias. Tô com o coraçãozinho bem apertado aqui de estar escrevendo os últimos capítulos
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Mmila
Em: 03/09/2025
Que retorno bom demais ......
Muito lindas essas duas.
O furacão Maria Fernanda arrasando em todas as áreas.
Muito bom o desenrolar das situações.
Volte logo autora, tá muito boa essa história.
nath.rodriguess
Em: 03/09/2025
Autora da história
MaFê é uma mulher incrível, né? Não existiria ninguém que pudesse ser o amor da vida da Anna se não ela. E eu fico muito feliz em ver o quanto ela cresceu e se tornou esse mulherão. Obs: ela ainda vai dar muito trabalho pra Anna com esses surtos de loucura kkkkkkk
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nath.rodriguess Em: 04/09/2025 Autora da história
Que bom que vocês gostaram, eu fico muito feliz de ler comentários como esse e ver que vocês entenderam a essência do que eu queria passar ?