Capitulo 8 - Não posso sentir
Clara
Quando vejo Samanta sair brava, sinto vontade de ir atrás dela, mas me contive. Apesar de não entender a reação dela, eu também não entendo a minha, essa mulher só me dá patada e mesmo assim estou me importando com o que a deixou assim, sendo que eu nem sei o que é.
Só sei que o que quer que eu esteja sentindo, não posso sentir.
— Vamos? — A voz de Mateus me traz de volta a realidade.
— Vamos — Digo subindo na moto.
Não demoramos até chegar na casa dele e pela primeira vez não consegui viver muito bem o momento, minha cabeça estava em outro lugar, mas graças a Deus Mateus não notou nada. Ele já está acostumado a me ver fingir um orgasmo e não perceber minha farsa. Não que o sex* com ele seja ruim, mas tenho dificuldade a chegar ao ápice. Sempre achei que o problema fosse eu, mas pelas minhas pesquisas, algumas mulheres realmente têm dificuldades.
Depois que ele se sentiu satisfeito, me leva para meu apartamento para que eu tome um banho antes de ir buscar Nico. Você pode se perguntar: por que não tomou banho na casa dele? E a resposta é bem simples: não gosto, não consigo me permitir ter esse tipo de intimidade e não quero que o momento demore mais do que o necessário.
Depois de me lavar bem e me esfregar melhor ainda, me visto e saio para a casa dos Vasconcelos.
No caminho, tento ligar para Liz avisando que estou indo, mas ela não me atende, deve estar ocupada.
Abro o portão e cumprimento o porteiro do condomínio, ele já me conhece muito bem e não implica com minha entrada. Quando chego na casa dela, lembro que provavelmente Samanta estará aqui, e a mesma sensação de antes surge. Um calor, um frio na barriga. Devo estar louca.
Entro e encontro minha amiga sentada no sofá mexendo no celular.
— Oi — A cumprimento e só então ela percebe minha presença.
— Oi, Clarinha — Sorri ao me ver — Vi sua ligação só agora, ia te retornar, mas imaginei que você estaria a caminho.
— Te liguei para avisar que estava vindo — Me sento ao seu lado — Cadê o Nicolas?
— Ele dormiu quase agora, por isso que não vi sua mensagem, estava com ele até pegar no sono.
— Ele está no seu quarto? — Pergunto já me preparando para me levantar e ir buscá-lo.
— Está, mas sente-se um pouco aqui comigo, nem conseguimos conversar mais depois de tudo o que houve. Como você está?
— Estou bem — Respondo simples.
— Que carinha é essa? Aconteceu alguma coisa no trabalho?
— Não, não aconteceu nada demais e falando no trabalho, por que você não me contou que sua irmã ia trabalhar no clube?
— Nem lembrei dessa informação — Faz cara de culpada — Mas isso é tão ruim assim para você estar tão aérea?
— Não é isso — Encaro minhas mãos considerando se falo ou não — Liz.
— Oi — Se aproxima um pouco ao notar que hesito falar — Pode falar, Clara.
— Você... — Sinto minhas bochechas queimarem e evito encará-la — Como você se sente quando está com o Marcos?
— Como assim? — Pergunta confusa.
— Quando vocês estão juntos, ou em um momento mais... íntimo — Não tenho coragem de olhar para ela — Você sente coisas estranhas?
Acho que por fim ela entende minha dúvida, porque sua expressão se suaviza um pouco quando levanto meu olhar em sua direção.
— Eu me sinto confortável estando com ele, segura, em paz, e sinto que posso ser eu mesma quando estou ao lado dele — Começa a falar — E nos momentos íntimos, eu sinto prazer em estar com ele, gosto do jeito que ele me olha, me deseja, me respeita, mas por que a pergunta?
— Por nada —Falo apressada — Foi apenas uma curiosidade.
— Clarinha — Segura minha mão — Eu torço muito para que um dia você encontre alguém que te faça sentir isso tudo, que te faça se sentir bem em um relacionamento, você nunca teve isso e sempre se envolveu com pessoas que não te deram valor.
— Hoje eu saí com o Mateus de novo — Liz sabe do nosso envolvimento — Achei que com o tempo, eu conseguiria me sentir melhor me envolvendo com alguém, mas isso não tem acontecido.
— Você se sente mal estando com ele? — Tenta me compreender.
— Não me sinto mal — Explico — Mas não sinto nada de especial, nada.
— Mas sente tesão?
— Não — Minha voz sai mais baixa do que eu gostaria com a confissão.
— E por que ainda está com ele então?
— Para não me sentir tão sozinha — Resolvo me abrir — Eu sei que o que temos não é nada sério, então facilita as coisas para mim, tenho alguém para poder passar algumas horas e depois ir para casa.
— Mas se você não sente nem tesão na hora de trans*r, não vejo qual o benefício nisso.
— Antes até que eu me sentia um pouco melhor, mas... — Interrompo minha fala quando percebo o que estou prestes a falar.
— Mas? — Me incentiva.
— Mas eu conheci uma outra pessoa que tem mexido com meus pensamentos e eu sei que não deveria, não me pergunte como ela tem mexido comigo porque ainda não sei explicar, só que eu tenho certeza de que eu não deveria pensar nela com a frequência que penso.
— E quem é essa pessoa? Você não comentou nada comigo — Minha amiga parece animada com a notícia.
Nesse momento percebo que falei mais do que deveria.
— Você não conhece — Tento despistar — Eu a conheci esses dias atrás e nem tivemos muito contato, mas o pouco que tivemos me fez querer ter a aprovação dela, querer que ela me note e mesmo ela sendo uma cavala comigo, ainda acho que valeria a pena manter uma amizade, mas estou muito confusa.
— Você está sempre falando no feminino, é uma garota?
— Sim — Olho em seus olhos a procura de alguma reprovação, mas não encontro, Liz sabe que eu já fiquei com mulheres.
— Talvez ela saiba te tratar melhor do que os homens que você já ficou.
— Isso não será possível — Passo as mãos em meu rosto já impaciente com o que estou sentindo — Ela nem sabe o que vem acontecendo comigo e tenho quase certeza de que eu não sou o tipo de mulher que ela olharia.
— Você é o tipo de mulher que qualquer pessoa olharia, Clara.
— Você não entende...
— O que eu não estou entendendo? Que você está apaixonada por uma garota que não sabe que você se interessa por ela.
— Aí que está o problema — Tento mais uma vez — Eu não estou apaixonada, eu só não estou entendendo o que está acontecendo, eu tenho pensado nela, quero me aproximar e fico possessa quando ela me afasta e depois vem correndo atrás como se eu estivesse o tempo todo disponível para ela.
— Tá, então você não está apaixonada, mas está curiosa sobre essa garota...
— Ela já é uma mulher — A interrompo.
— Ok, essa mulher, e pelo jeito ela não sabe de nada disso, já pensou em conversar com ela?
— Jamais — Nego veemente — Não vou fazer o papel de besta de falar sobre uma coisa que está nítida que acontece apenas na minha cabeça.
— Ela nunca deu a entender que corresponde?
— Não — Confesso — Bom, se bem que já houve umas trocas de olhares e ela ficou estranha quando me viu com o Mateus.
— E você ainda acha que está nessa sozinha? — Ela solta uma risadinha.
— Claro que estou — Me levanto do sofá e começo a andar de um lado para o outro — Se ela se interessasse pelo menos um pouquinho ela já teria falado, ela é uma pessoa experiente.
— As vezes ela é uma pessoa fechada e está esperando você dar alguma brecha.
— Então vai esperar sentada — Digo irritada.
— Você a conheceu onde?
Tremo quando ouço a pergunta, não posso dar muitos detalhes porque sei que Liz não é idiota e me conhece bem.
— No clube — Foi a primeira coisa que me veio a mente.
— É uma cliente? — A confusão volta ao seu rosto.
— Quase isso.
— Seja mais específica Clara, você não está me dando detalhes.
— Porque isso não importa, Liz, o que importa é como vou entender essas coisas estranhas que está acontecendo.
— Deixa rolar, minha amiga — Ela me olha com ternura — Você não vai conseguir entender tudo de uma vez só, vai prestando atenção como se sente perto dela, o que é diferente de quando está perto de outras pessoas, talvez seja só um encantamento e daqui a pouco tudo passa.
— Você está certa — Suspiro — Vou deixar isso para lá e focar no que realmente importa.
— E o que realmente importa?
— Meu filho — Ela sorri quando respondo — Vou buscar ele e ir para casa.
— Ok, eu te levo em casa.
— Não precisa.
— Claro que precisa, você não vai levar o menino dormindo nos braços.
— Tudo bem, você tem um ponto, vou buscá-lo e te encontro aqui.
— Vou pegar a chave do carro do papai, já que meu carro ainda não chegou da revisão.
— Tudo bem.
Saio em direção as escadas que dá acesso ao segundo andar, caminho pelo corredor que dá acesso aos quartos principais que é os das pessoas dessa família, os de hospedes fica para o outro lado.
Quando me aproximo do quarto da minha melhor amiga, noto que a porta do quarto que fica à frente do dela está aberta e me arrependo amargamente de olhar em direção a ela.
Fico estática ao ver Samanta somente de short e sutiã, ela está de costa para mim e posso admirar todos os músculos que há em suas costas. A camiseta está em cima da cama ainda e ela mexe em algo que está em suas mãos, mas que não consigo ver devido a posição dela.
Volto a sentir aquele calor pelo meu corpo, volto a sentir a minha respiração ficar pesada. O que está acontecendo comigo? O que é isso que nunca senti antes?
De repente, ela se vira em direção a porta, como se tivesse sentido que estava sendo observada, e sinto vontade de ter um leve desmaio para não ter que encará-la depois de ser pega no flagra.
— Gostando da vista? — Ela pega a camiseta e a veste, acabando com a parte boa da coisa, deixando só o constrangimento presente.
— Eu... — As palavras morrem quando a vejo caminhando para perto de mim com aquele sorriso que me deixa sem ar.
— Veio buscar o pequeno? — Tenta me ajudar a sair da saia justa.
— Sim — Digo envergonhada.
— Desculpa por ter te feito me ver dessa forma, não me toquei que não é apenas a Liz que sobe para o quarto.
— Não tem pelo que pedir desculpa, o quarto é seu e você fica como quiser nele, eu que peço desculpas — Minha voz volta ao normal.
— Por ter ficado me olhando? — Ri e meus olhos vão novamente para seu sorriso.
— S-sim — Gaguejo.
— Acho que eu não deveria me importar de ser olhada por mulher bonita.
Meu queixo cai, e sei que estou com cara de taxo na frente dela, mas não esperava ouvir isso. Ela me confunde tanto, uma hora está tentando me afastar e em outra está jogando seu charme para cima de mim.
— Seu encontro foi rápido — Solta com uma voz sarcástica e volto a ficar confusa.
— Que encontro?
— Com aquele rapaz que estava te esperando, eu sei que jovens gostam de esconder os lances casuais, só que vocês não são muito bons em disfarçar.
— Você não sabe se é algo casual — Me arrependo de falar no exato momento que as palavras deixam minha boca.
— Ele é seu namorado? — Volta a fazer a mesma pergunta que me fez no refeitório.
— Não — Tenho que ser sincera.
— Então é algo casual — Debocha.
— E isso não é problema seu — Digo brava e cruzo os braços em frente ao meu corpo, ato que não passou despercebido por seus olhos.
— Realmente não é problema para mim, mas deve ser um para você — Ri mais uma vez e isso me irrita.
— Por que seria um problema?
— Porque ele tem cara de que não é bom de cama, de que nem deve se importar com você.
O que deu nessa garota em falar isso? Será que ela ouviu a minha conversa com a irmã dela? Sorte minha que não citei nomes.
— Se quiser descobrir, é só ficar com ele, aí saberá se ele é ou não bom de cama — A provoco e seu semblante fecha.
— Não preciso ficar com ele para descobrir.
— Não? Vai descobrir como então?
— É só olhar para sua cara de frustrada depois de uma trans* com ele, se ele fosse bom era para você estar radiante e não com essa cara.
— Cara essa, que você acabou de chamar de bonita a minutos atrás — Se ela quer brincar, então nós vamos.
— Só falei a verdade.
— Pois guarde as verdades para você, porque não estou nenhum pouco interessada no que você acha ou deixa de achar — Mentira. Eu amei saber o que ela pensa.
— Está muito bravinha para quem deveria estar saltitando.
— Vá para o inferno com o que você pensa.
Me viro, pronta para deixá-la falando sozinha, mas ouço a voz da minha melhor amiga na entrada do corredor.
— Clarinha — Viro meu rosto em sua direção — Infelizmente o carro do papai não está na garagem, achei que ele e a mamãe tinham saído juntos, mas pelo jeito não.
— Não tem problema — Me preparo para abrir a porta novamente, mas a voz e a frase que ouço me causa um arrepio.
— Eu levo vocês em casa — Samanta não parece estar fazendo uma de suas piadinhas.
— Agradeço, mas não precisa.
— Obvio que precisa, Clara — É Liz quem diz — Assim não precisa acordar o Nico.
Sei que será bem inútil eu lutar contra as duas, porque sei que Liz não me deixará em paz e Samanta não vai ceder.
Por fim, abro a porta do quarto da mais nova e pego meu filho que está adormecido, ele apenas passa os bracinhos ao redor do meu pescoço e encosta a cabecinha em meu ombro.
O coloco na cadeirinha no banco de trás, que ainda está no carro dela, achei que já tivesse tirado.
O caminho até meu apartamento é feito em completo silêncio e eu gostaria de estar em qualquer outro lugar do que aqui.
Samanta tem um perfume gostoso, e como tudo nela, isso também me deixa bem perdida, então estar dentro de um carro com ela é bem tentador.
Quando ela estaciona o carro em uma vaga livre bem na frente do meu prédio, me surpreendo quando ela desce e diz que vai me ajudar levando Nicolas para cima.
Meu filho não acorda quando ela o pega no colo, tenho quase certeza de que ele dormirá até amanhã pela manhã, me dando um apertinho no peito de não ter conseguido aproveitar nada dele hoje.
Depois de deixá-lo em sua cama, espero que ela vá embora sem nem dar tchau, mas me surpreende novamente quando para no meio da sala e me direciona o olhar.
— Você tem razão, não é da minha conta com quem você sai — Começa a falar — Mas se eu puder falar só mais uma coisa sobre o assunto.
— O quê?
— Você merece alguém bem melhor, Clara.
— E quem seria essa pessoa?
— Um dia você perceberá.
E como se estivesse em uma de suas competições, ela sai da minha casa tão rápida que não me dá chance de responder.
Ela me confunde tanto.
Fim do capítulo
Oiii gente....
Voltei e espero que vocês gostem do capitulo, comente deixando o que estão achando, é muito importante para o decorrer da história.
Vocês acham que a Samanta está certa em dizer que a Clara merece alguem melhor?
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Atüe breve.
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Crika
Em: 01/09/2025
Encantada estou com essa história,Samanta está certíssima,só está faltando ela baixar a guarda e se jogar mais.Mostrar a Clara que ela veio pra ficar.

Paloma Matias
Em: 02/09/2025
Autora da história
É sobre isso kkkkk
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Pantera
Em: 01/09/2025
Amando a história. Sim, Samanta está certíssima!

Paloma Matias
Em: 01/09/2025
Autora da história
Obrigada pelo comentário :)
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Paloma Matias Em: 02/09/2025 Autora da história
As barreiras precisam ser quebradas, mas elas merecem se permitir logo...