Capitulo 22 - Cuidando
Giovana
Um toque de celular me tira do mais profundo sono, tento evitar, se for urgente a pessoa ligará novamente.
Acho que é urgente, porque meu telefone volta a tocar. Que saco.
Hoje é sábado, a semana que se passou foi extremamente puxada, consegui ver Olivia somente na sala de aula e na terça feira a noite depois do meu estágio. Conversei com as crianças por chamada de vídeo, mas minha vida está tão corrida que quando não estou trabalhando e estudando, estou dormindo.
Olho meu celular e vejo o nome de Olivia brilhar na tela, isso me desperta de vez.
- Alô – Atendo um pouco apressada e me sento na cama.
- Até que enfim, estava morta? Que demora para atender esse telefone – Estranho a voz, é um pouco infantil demais para ser de Olivia.
- Quem tá falando? – Pergunto.
- É a Aurora – Ouço um bufar do outro lado da linha, ela é bem filha da mãe dela mesmo, sem paciência – Quem mais você pensou que poderia ser?
- No momento eu não estou conseguindo pensar nem qual o meu nome, está cedo demais – Respondo voltando a deitar na cama.
- Aff, já são quase nove horas da manhã – Afrontosa – Eu preciso da sua ajuda.
- Da minha? O que houve? – Me sento na cama novamente, porque isso sim é uma surpresa.
- Mama não está bem e a gente não quer ir para a casa da vovó e deixar ela sozinha – Explica – Por isso pensei em você vir pra cá e ficar com a gente, assim eu posso cuidar dela.
- O que sua mãe tem?
Essa informação ativou meu instinto protetor, me fazendo pular da cama e já ir procurando uma roupa para poder ir para casa deles, mesmo não encontrando nada.
- Ela não está se sentindo bem, acordou vomitando bastante e me disse que sente dor no estomago.
- Eu chego aí em meia hora.
- Ok, vou avisar a vovó que não precisa vim buscar a gente.
- Ok.
Acho que nunca me arrumei tão rápido em toda minha vida. Tomei um banho e coloquei a primeira roupa que vi na frente e enviei uma mensagem para Valentina avisando que não estarei no dormitório hoje.
Chamo um carro no aplicativo para ser mais rápido, caso tenha que ir de ônibus demorarei muito a chegar.
Quando chego, toco a campainha, mas logo lembro que tenho ainda a chave da casa, então não espero ninguém me atender. Ao chegar na sala, vejo a ruivinha descendo as escadas, provavelmente iria abrir a porta.
- Que bom que você já chegou, a mama quer se levantar para fazer café para gente, mas consegui enrolar ela mais um pouco na cama – Me atualiza da situação.
- Vou subir e falar com ela.
Enquanto falo já vou subindo as escadas, e quando chego no corredor já ouço a voz de Theo, ele está cantando uma musiquinha infantil, e quanto mais me aproximo do quarto de Olivia, a vozinha vai ficando mais presente.
Bato na porta apenas para anunciar minha chegada, mas não espero permissão para entrar, vou logo abrindo a porta.
É a primeira vez que entro no quarto dela, e nunca imaginei que seria nesses termos, por ela estar doente.
- Toc toc – Digo chamando atenção deles – É aqui que estão precisando de uma enfermeira particular? – Brinco.
Os olhos dos dois se voltam para mim, não sei dizer quem está mais surpreso. Eu termino de entrar no quarto e fecho a porta atrás de mim, Olivia se ajeita melhor na cama, ficando sentada. Ao terminar o movimento, vejo sua cara se contorcer de dor.
- Eu estou cantando pra mama, para a dor dela ir embora – O pequeno me fala inocentemente.
- Muito bem, aposto que assim a dor da sua mama vai embora rápido – Me sento na beirada da cama ao lado de Theo – Mas preciso saber se você já tomou algum remédio e se preciso lhe levar no hospital – Digo me dirigindo a Olivia.
- Não preciso ir ao hospital – Fala – Acho que foi a pizza que comi ontem à noite, o presunto estava com um gosto diferenciado, e hoje vomitei tudo que comi ontem, tomei um remédio para congestão, a dor no abdome está melhorando.
- Perfeito. Então vamos fazer o seguinte, vamos aguardar até a tarde, caso você perceber que não está tendo melhoras significativas, vamos até o hospital. Ok?
- Ok – Seus olhos ainda estão surpresos – Como você soube que eu não estava bem?
- Qual é, Olivia? Acha que não tenho meus contatos? – A faço rir – Talvez uma certa ruivinha tenha me avisado.
- Você não precisava se incomodar e vir até aqui, eu estou bem...
- É por isso que prefiro minha informante – A interrompo – Pelo menos ela não mente para mim.
A mais velha revira os olhos, mas percebo em seu rosto que ela está feliz em me ver aqui. Talvez só não saiba como é ser cuidada.
- E eu também soube – Continuo – Que a paciente é bem teimosa e quer se levantar para fazer café para os dois pirralhos que ela chama de filhos.
- Isso também é verdade – Theo diz enquanto balança a cabeça em sinal de positivo.
- Não vou deixar meus filhos passarem fome – Ela se justifica como se fosse a coisa mais óbvia a ser dita.
- Ninguém vai passar fome nessa casa – Estufo o peito – Estou aqui para salvar a nação – Eles riem – Só me diga qual é a rotina deles e eu me encarrego do resto.
- Normalmente aos sábados, eles tomam o café e depois nós vamos ao mercado para comprar as coisas para a semana.
- Entendido comandante – Theo ri quando bato continência – Pode deixar comigo, vou fazer café para todos e depois vamos ao mercado.
- Eu vou com você – O pequeno pula na cama.
- Ok!
Saiu do quarto dela para começar minha missão, quando chego na cozinha, Aurora já está arrumando a mesa e colocando algumas coisas sobre ela.
- Eu não fiz mais coisas porque a mama ainda não me deixa mexer no fogão, então fica por sua conta – Me explica.
- Já está perfeito – Me encaminho até os armários para pegar as coisas que preciso para preparar as panquecas que as crianças comem – Você sabe me dizer, mais ou menos, o que vocês costumam comprar aos sábados? Depois irei até o mercado.
- Sim, sempre compramos as mesmas coisas, posso fazer uma lista para você ou posso ir junto.
- Se puder fazer a lista, eu agradeceria – Começo a mexer a massa – Eu preferiria que você ficasse com sua mãe, caso ela precise de algo, terá alguém com ela.
- Ok, mas garanto que Theo vai querer ir com você.
- Sim, ele já disse isso.
- Boa sorte.
- Por quê?
Aurora não me responde, apenas sai do meu campo de visão. Será que ela acha que eu não consigo fazer as compras sozinha? Se for isso, ela está muito enganada, é claro que eu dou conta.
******
Agora entendi o “boa sorte” daquela garota, estou no mercado com um pequeno terrorista, já estamos aqui há uma hora e meia e não consegui terminar a lista, simplesmente porque esse garoto quer comprar tudo que vê pela frente, e eu tenho o leve pressentimento que a mãe dele não ficaria nada contente de ver esse menino comendo tudo isso de besteira.
- Carinha – Chamo sua atenção novamente – Eu preciso comprar essas coisas que estão na lista, depois a gente vê o que levamos extra, mas preciso que você colabore.
- Mas Gigi, depois eu vou esquecer o que quero, então melhor eu já ir pegando o que quero – Diz enquanto joga dois pacotes de chips dentro do carrinho.
- Mas você não vai levar todas essas besteiras – Digo retirando os pacotes e devolvendo para a prateleira – Sua mãe vai arrancar meu coro.
- Mas ela não precisa saber, pode ser nosso segredo – Tenta.
- Nada disso, nada de me comprar, pequeno chantagista – Sou firme. Ou Não.
- Mas a mama está doente, eu preciso levar coisas gostosas para ela comer – Tenta mais uma vez.
- Ela precisa de comidas saudáveis, não de pirulitos, balas e chocolates.
- Quando eu crescer vou comprar tudo que eu quero e vou comer todos os doces que eu quero – Cruza os bracinhos, emburrado.
- Isso mesmo, quando você crescer você comprar tudo e depois se entende com sua mãe, eu não correrei esse risco.
Mesmo eu tentando ser firme, esse garoto conseguiu me enrolar com seus olhinhos de gato do Sherek e saímos do mercado com balas e chocolates. E ele também conseguiu me convencer a comprar um balão de gás hélio com formato de astronauta e um algodão doce que estava sendo vendido no estacionamento do mercado.
Viemos com o carro de Olivia, ela insistiu que seria mais fácil do que pegar Uber com Theo e voltar com as compras.
Estaciono o carro na garagem e começo a tirar as sacolas e as levo para a cozinha. Olivia está sentada no sofá e não disfarça o olhar quando vê seu filho com as coisas que ele escolheu, então passo por ela fingindo que não a vi.
- Tais ferrada – A ruivinha sussurra quando passo por ela.
- Eu não fiz nada – Me defendo.
- Exatamente, deveria ter impedido ele de comprar tanta coisa.
Quando eu termino de guardar as compras, vou até a sala enfrentar a fera e encontro ela e o seu filho conversando. Theo está cabisbaixo, provavelmente não gostou muito da conversa.
- Agora é sua vez – Diz ela em minha direção, me sento ao seu lado – Pela demora de vocês eu imaginei que estava sendo difícil controlar essa pequena ferinha dentro do mercado.
Troco olhares com ele, sabendo que a nossa barra tá suja.
- Já conversei com Theo sobre ele saber o quanto tudo isso de doces faz mal e mesmo assim insistir em comprar – Começa – Mas sinceramente, Giovana, um menino de três anos te passou a perna?
- Em minha defesa – Digo – Ele queria muito tudo isso.
- E você é a adulta que deveria ter o controle e dizer não.
- Mas ele queria tanto – Tento convencê-la que fiz o certo.
- Ele passa mal quando come muito açúcar, e ele também precisa aprender a ter limites, por isso ele vai escolher apenas uma das coisas que vocês compraram para comer e guardará o resto.
- Mas mama – Exclama o pequeno com os olhos cheios de lágrimas.
Olivia o encara com o olhar firme, não estava brava com ele, apenas tentando ser a mãe que precisava.
Que merd*, falhei na minha primeira missão, mas ela poderia me avisar que a cria dela iria me testar, né?
- Você escolherá apenas uma coisa – Volta a dizer – Você sabe que sua barriguinha dói quando você come muita besteira, e dessa vez deixarei você escolher, mas da próxima será tudo guardado. Ontem já comemos pizza porque você queria muito e hoje é dia de comer comidinhas saudáveis. Ok?
Ele apenas concorda com a cabeça e pede para ir brincar com seu balão em seu quarto e sai da sala nos deixando a sós. A ruivinha sobe com ele, para não ficar sozinho.
- Me desculpa – Começo dizendo – Sei que eu deveria ser mais firme ou te perguntar antes o que eu poderia ter comprado para ele.
- Sim, você deveria.
- Mas você já viu os olhinhos dele quando quer alguma coisa? – Digo indignada – Não tem como resistir, sou nova no ramo.
- Eu conheço aqueles olhinhos há três anos, sei que é difícil, mas você precisa aprender a resistir porque ele vai te testar mais vezes, e não quero que quando eu diga não, ele vá até você para conseguir um sim.
- Vou aprender a resistir.
Me aproximo dela e deixo um cheirinho em seu pescoço.
- Você me desculpa?
- Claro que sim – Diz me abraçando sem se mexer muito – E você vai aprender a lidar com ele. Obrigada por ter ido fazer as compras e ter feito o café para eles.
- Não fiz nada além do mínimo – Olho em seus olhos – Você está se sentindo um pouco melhor?
- Sim, o remédio fez efeito e já estou bem melhor – Faz um carinho em meu rosto – Obrigada por ter vindo.
- Volto a dizer, só estou fazendo o mínimo, estou aqui para os momentos bons e os ruins.
Seus olhos brilham.
- Você ficará conosco o fim de semana?
- Somente se você quiser – Aproveito o carinho gostoso.
- Eu quero – Sussurra e deixa um beijo perto do meu ouvido.
- Então eu fico.
Quando vou beijá-la e aproveitar um pouquinho do momento a sós, ouço a voz ameaçadora de sempre.
- Estou entrando na sala e é melhor você largar minha mãe – A ruivinha diz.
- Você não estava cuidando do seu irmão? – A encaro com cara de poucos amigos.
- Já cuidei e agora vou cuidar da minha mama – Se senta no sofá ao lado de Olivia e cruza os braços me encarando – Já pode se afastar.
Faz sinal com a mão para que eu me afaste, apenas reviro os olhos e faço o que ela diz, sem ter outra escolha.
Fim do capítulo
Boooom diaaaaa, voltei gente.....
O que acharam da Giovana cuidando da familia e sendo enrolada bonitinha pelo Theo hahahaha sem contar no ciúmes da Aurora, a vida da Gio não é facil com essa menina hahahaha
Espero que a leitura tenha te feito uma boa companhia. Até breve.
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Socorro
Em: 26/08/2025
Amei o gigi cuidando da casa e ferrada com esse olho de gato kkk vontade de morder o Theo todinho kkk
história incrível!!! Como já está pronta posta 2 capítulos seguidos e manda brasa e posta a próxima tbm kkk
vilta logo !!!
Paloma Matias
Em: 26/08/2025
Autora da história
Acredito que farei isso mesmo hahaha
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Paloma Matias Em: 02/09/2025 Autora da história
Eu ri muito com esse comentário.... perfeita observação kkkkkkkkkk