Capitulo 15
Maeryn
A noite passou devagar dentro das câmaras de pedra, abafada pelo medo e pelos sons surdos da batalha. O chão vibrava, as paredes rangiam, e a cada estrondo, eu prendia o fôlego. A tensão era uma corrente apertada em torno do meu peito.
Não consegui dormir. Nem pensar. Fiquei horas com os olhos fixos na porta de ferro, as mãos cerradas no tecido do vestido, ouvindo, imaginando, temendo.
Quando a permissão veio, quando nos disseram que poderíamos sair, o coração parecia não saber se corria ou se desfalecia.
Subimos as escadas que davam para o salão e depois para o pátio interno. As tochas ainda ardiam, a fumaça pairava baixa como uma névoa negra, o cheiro de sangue, fuligem e terra molhada se espalhava por todo canto. Valmont estava de pé. Ainda de pé. O castelo sofrera alguns danos, pedaços da muralha estavam chamuscados, partes da madeira da grande porta do salão principal tinham sido lascadas, mas era só quando olhávamos para fora, pelos portões e pelas fendas abertas nas muralhas, que víamos o que realmente havia acontecido.
A cena do lado de fora era quase indescritível.
Horror.
Destruição.
Silhuetas carbonizadas, corpos mutilados, ossos espalhados em meio à lama enegrecida de sangue seco. Os estandartes inimigos, outrora erguidos com arrogância, jaziam rasgados, sujos e pisoteados.
E no meio disso…
Eles.
Aqueles que defenderam nossa casa.
Meus irmãos, nossos aliados, os homens de Skarn.
Os bárbaros.
Rindo. Cantando. Como se o massacre fosse apenas um ritual de caça bem-sucedido.
E lá estava ela.
Meu coração falhou um passo inteiro quando a vi.
Em pé ao lado do meu pai, as mãos nos quadris, as roupas sujas de sangue e barro, mas com aquele sorriso nos lábios. Um sorriso cansado, ferido, verdadeiro.
Aquele que dizia, eu sobrevivi por você.
Ela me viu. Antes mesmo de eu cruzar o pátio, os olhos dela me encontraram.
E o mundo desacelerou.
Meu pai virou o rosto quando me aproximei. Havia fuligem seca nos vincos do pescoço dele, e a barba cinzenta estava desgrenhada. Mesmo cansado, mesmo velho, ele mantinha o porte altivo de um comandante que venceu.
(Aldren) — Estão todos bem no esconderijo? — perguntou, sem rodeios.
Assenti.
(Maeryn) — Sim, pai. As crianças, os anciãos… todos ilesos.
Ele expirou com força. Um sopro pesado, quase alívio, quase frustração. Revirou os olhos, como se aquela situação, a de ter a filha envolvida com uma guerreira de Skarn, ainda lhe custasse cada nervo.
(Aldren) — Não tenho mais voz mesmo. — murmurou, se afastando. — Fiquem, então. Façam o que quiserem.
E se foi.
Deixando o espaço entre nós livre.
Sem pensar, sem planejar, sem medo, corri até ela.
Me joguei em seus braços com força, o corpo colidindo com o dela como se eu pertencesse ali e de fato, eu pertencia.
Varka me envolveu com firmeza, os braços quentes e rijos ao meu redor. Era um casulo de sangue, suor e calor humano. Senti o cheiro da batalha em sua pele, misturado ao cheiro dela mesma. Fechei os olhos e respirei fundo, como se aquele instante pudesse me curar de todas as horas em que temi não tê-la de volta.
(Maeryn) — Você está bem? — perguntei, a voz falhando, embargada. Me afastei só o suficiente para olhar seu rosto. Toquei sua bochecha com as pontas dos dedos, tracei uma linha até o maxilar, depois o pescoço. — Está ferida?
(Varka) — Estou. — ela disse. — Vou precisar dos seus cuidados.
Os olhos dela tinham a mesma cor azul de sempre, mas estavam mais profundos agora. Havia cansaço ali, mas também um brilho selvagem, quase alegre. Um brilho de vitória.
(Varka) — Cortei o braço. Nada que me mate. — disse com um sorriso enviesado. — E matei mais do que sangrei. Isso equilibra as coisas.
Toquei a ferida, ainda aberta e sem nenhum cuidado.
(Maeryn) — E quem cuida de você? — perguntei. — Se não eu?
Ela prendeu meu olhar. A intensidade que havia ali me rasgava por dentro.
(Varka) — Não preciso de mais ninguém.
O coração apertou tanto que precisei fechar os olhos.
Deixei a testa encostar no peito dela, enquanto sentia sua mão subir por minhas costas devagar, até segurar minha nuca.
(Maeryn) — Tenho medo de deixar você ir — sussurrei. — Todas as vezes quero te segurar.
Ela riu, aquele som rouco e caloroso que sempre me desmontava.
(Varka) — Pode me segurar nos seus aposentados mais tarde. Só que sem roupa.
Ri baixinho, mesmo com os olhos marejados.
(Maeryn) — Engraçadinha…
Ficamos em silêncio por um momento, abraçadas ali, enquanto o caos da manhã ainda se organizava ao nosso redor. Passos, ordens, sons de espadas recolhidas e gritos abafados. Mas tudo parecia longe.
(Maeryn) — Quando vi você ali, em pé, com aquele maldito sorriso… eu… — respirei fundo, tentando controlar as emoções. — Eu soube que nunca mais suportaria te ver indo embora sem mim.
Ela ergueu minha cabeça com delicadeza, os dedos sob meu queixo.
(Varka) — Então vem comigo. Da próxima vez.
(Maeryn) — Você sabe que não posso.
(Varka) — Mas sei que você quer.
Meus olhos se prenderam nos dela, e pela primeira vez desde o começo daquela guerra, não havia mais medo entre nós. Só escolha. Só presença.
(Maeryn) — Eles nunca vão aceitar — sussurrei.
(Varka) — Já aceitaram. Olhe ao redor. — Ela apontou com um gesto sutil. — Eu lutei por eles. Eles viram. Sabe o que isso faz? Queima o medo até virar cinza. Eles não podem mais impedir, até seu pai já entendeu isso.
A forma como ela dizia isso… com certeza, com fé em mim, era quase insuportável de tão bonita.
(Maeryn) — Eu te amo. — murmurei.
Ela sorriu. Um sorriso pequeno, cansado, mas inteiro. Verdadeiro, havia brilho nos seus olhos. Do jeito dela ela me amava também.
Beijei-a.
Ali mesmo, no pátio manchado de guerra, entre os corpos dos vencidos e os ecos da vitória.
Beijei com a alma de quem sobreviveu para amar.
A tarde parecia quente demais para um salão de pedra.
As grandes chamas das tochas dançavam nas paredes com uma intensidade incomum, e as mesas, antes cenário de recepções formais e jantares diplomáticos, agora estavam cobertas de pratos fartos, jarras de vinho e ossos de carne assada. O banquete da vitória. A celebração da sobrevida.
Todos estavam ali, os guerreiros, os conselheiros, os irmãos, os aliados. Os rostos estavam cansados, alguns ainda com marcas dos ferimentos, faixas improvisadas nos braços ou nas testas, mas havia riso. Alívio. Certeza.
Varka estava à mesa, entre Ragan e meu irmão Alric, sorrindo mais com os olhos do que com a boca. Ela bebera pouco, como sempre, mas o olhar brilhava. Mesmo com os cabelos soltos, ainda levemente úmidos do banho, e com uma túnica simples, ela exalava aquela presença inquieta e firme que parecia deslocada ali entre brindes e discursos. Ela não sabia se comportar em festas. E era isso que a fazia ser o centro de tudo.
Quando seu pai, o rei de Skarn se levantou, o salão silenciou. Bastou o som da cadeira sendo arrastada para que as vozes cessassem.
Ele se ergueu com o porte de quem acabara de vencer uma guerra e estava pronto para outra.
(Korgun) — Temos algo mais a comemorar. Ou… a preparar. — disse ele, a voz grave ecoando entre os arcos de pedra. — Os prisioneiros falaram.
Um murmúrio sutil se espalhou, como o sopro de uma ventania. Todos se inclinaram, atentos.
(Korgun) — Foram pagos — continuou. — Por senhores que não assinam nomes. Homens do nordeste, antigos nobres exilados, mercadores armados e sacerdotes banidos. Uma aliança covarde que se forma entre sombras, usando o ouro como espada. Eles queriam Skarn por posição. Mas querem mais. Querem destruir Valmont, por riquezas. Querem nos empurrar para os confins da terra.
Ele caminhou alguns passos até o centro da mesa, onde o mapa ainda estava estendido sobre uma tábua de madeira.
(Korgun) — Estão se reorganizando a leste das colinas vermelhas. Feridos, mas não rendidos. Se não formos agora, quando esperarem retomar o fôlego, eles voltarão. Com o dobro da força. E com menos misericórdia.
Olhei para Aldren. Estava sentado ao lado de Teyrion, os dedos entrelaçados na taça que não tocava há minutos. Seu olhar estava duro. Frio. Mas atrás disso havia algo mais, medo. E, talvez, vergonha.
(Aldren) — Querem que os homens de Valmont partam em guerra mais uma vez? — ele perguntou, a voz baixa, mas clara.
Korgun o fitou por um instante que pareceu uma provocação. E respondeu:
(Korgun) — Quero que se lembrem de que ainda têm um reino.
Aldren não respondeu de imediato. Mas abaixou a cabeça e assentiu.
Com lentidão. Com peso. Mas com aceitação.
(Aldren) — Reúna os homens — encarou Alric. — Partem ao cair da noite.
Os gritos de aprovação foram instantâneos. Corwin bateu o punho na mesa, Ragan lançou vinho para o alto, e Korgun sorriu como um homem que saboreava o início da próxima caçada. Varka apenas ergueu os olhos em minha direção, e neles havia algo que partiu meu peito em dois.
Ela ia. Claro que ia.
Não importava que seu braço ainda estivesse enfaixado, ou que não tivesse dormido o suficiente, ou que eu não conseguisse parar de olhar para sua boca como se ela fosse a única coisa real naquele salão.
Ela ia.
E eu…
Queria que ficasse.
Talvez ela soubesse disso. Talvez sentisse. Mas mesmo que sentisse, nada mudaria.
Naquela tarde, depois de me ausentar com uma desculpa qualquer, fui atrás dela.
Sabia onde estaria.
A sala de armas do castelo era um lugar frio e de pedras úmidas, com paredes cobertas por estandartes e armas antigas que jamais seriam usadas de novo. Lá dentro, Varka escolhia entre duas armaduras penduradas, com uma expressão concentrada demais para uma mulher prestes a partir.
A camisa de linho já estava aberta no colarinho, revelando a curva do ombro, a pele marcada pelo roxo da luta. A bainha da espada ainda pingava um pouco de óleo. A bota deixada de lado. Os cabelos presos às pressas. Uma guerreira se preparando para mais uma batalha.
E eu parada à porta, sem saber se chamava, se corria até ela ou se desabava ali mesmo.
(Varka) — Veio me impedir? — ela perguntou, sem olhar.
(Maeryn) — Não.
(Varka) — Mentira.
Me aproximei devagar, como se cada passo aumentasse a dor. Parei ao lado dela, onde uma manopla repousava sobre a mesa de pedra. Toquei o metal. Estava frio como a ausência dela seria.
(Maeryn) — Eu só… queria me despedir.
Ela me olhou então. E aquele olhar continha todas as guerras que já havíamos travado. E vencido. E perdido.
(Varka) — Você não precisa me dizer pra ficar.
(Maeryn) — Eu sei.
(Varka) — Porque eu não ficaria.
Assenti. Uma lágrima escorreu, silenciosa.
Ela viu. Não comentou.
(Maeryn) — Vão partir à noite, não é? — perguntei.
(Varka) — Antes da madrugada. Silenciosos. Pegaremos eles dormindo, com as calças abaixadas.
Tentei rir. Saiu falho.
(Maeryn) — Sempre poética.
Ela deu um passo mais perto. E então, outro. Até que nossos rostos estavam tão próximos que podia sentir a respiração dela em meus lábios.
(Varka) — Quero te beijar. — murmurou. — Mas qualquer um pode entrar…
(Maeryn) — Então beije antes que entrem.
Ela hesitou. Mas só por um instante.
Então me puxou pela cintura e colou nossos corpos como se quisesse deixar sua marca antes de ir. O beijo não foi rápido. Nem casto. Foi tudo o que sentimos e não podíamos dizer ali, entre estantes de escudos e a iminência do adeus.
Eu me desfiz nos braços dela. Senti suas mãos firmes, a urgência, o gosto amargo de vinho ainda preso à sua boca. E ela, Varka, que sempre foi mais força do que ternura, me beijou como se estivesse tentando lembrar como era a vida antes da morte.
Quando nos afastamos, havia lágrimas em meu rosto. E uma certeza mútua.
(Maeryn) — Volta pra mim. — sussurrei.
(Varka) — Sempre volto.
Ela calçou a bota, ajustou a armadura, e sem olhar para trás, saiu.
E eu fiquei.
Com o gosto do adeus nos lábios e a esperança cravada no peito como uma espada que não dói, mas não sai.
Varka
Partimos na calada da noite, quando o frio descia sobre os campos como um véu úmido e o nevoeiro se deitava pesado nas encostas.
Eu sempre soube que as melhores guerras são travadas com o inimigo ainda dormindo. Era isso que buscávamos: surpresa, brutalidade e a interrupção definitiva de qualquer plano que ousassem erguer contra nós.
Korgun, meu pai, cavalgava à frente, o manto negro com pele de urso pendendo pelas costas, a coroa de ferro escurecido presa com força sobre os cabelos já grisalhos. O velho rugia ordens com a naturalidade de quem nasceu no campo de batalha e só envelheceu porque ninguém teve a ousadia de matá-lo.
Ragan ia ao lado dele, calado, os olhos escaneando o horizonte, a expressão tensa. Nunca foi dado a palavras antes da primeira espada desembainhada. Já Corwin, mais atrás, fazia questão de quebrar o silêncio, cantarolando estrofes de velhas canções de guerra de Valmont que nem ele mesmo lembrava direito.
(Corwin) — Se o aço cantar, que seja pelo meu nome… — murmurava entre dentes, afinando com os dedos o tom da própria voz.
(Alric) — Se continuar cantando, vou fazer o aço cantar pelo seu pulmão — rosnou Alric, sem sequer virar o rosto.
(Korgun) — Vocês dois calem a boca — disse Korgun. — O inimigo pode estar mais perto do que parece.
Alric cavalgava ao meu lado, focado, a testa franzida como sempre. Vestia um gibão reforçado sob o manto azul de Valmont, com o emblema de águia costurado no peito. Ele não falava, mas eu via nos olhos: queria fazer valer a promessa. Proteger Valmont. Provar ao pai que merecia mais que conselhos em tempo de paz.
Eu não sabia se pensava em Maeryn, em Aldren ou nos mortos da noite anterior, mas meu próprio pensamento não saía dela. Daquela despedida. Do gosto do beijo roubado na sala de armas, com medo dos criados nos ouvirem e mais medo ainda de não ter outro. O corpo doía da batalha anterior, mas não mais que a ausência dela.
A rota até o acampamento inimigo nos levou para o sul, contornando o Vale do Machado, seguindo pelas passagens estreitas de pedra que só nós, guerreiros de Skarn, conhecíamos de cor. Valmontianos nunca ousaram usar aquelas trilhas, mas agora os seguiam com olhos atentos e respiração presa. O chão estava encharcado de orvalho e sangue seco. O cheiro da guerra passada ainda impregnava o ar.
Passamos por um bosque queimado, vestígios da fuga do inimigo. Ragan examinou rastros com os olhos de um caçador treinado. Encontrou pegadas pesadas e profundas, marcas de carroças e restos de mantimentos.
(Ragan) — Estão perto — murmurou. — Feridos, talvez. Mas não fugiram muito.
Korgun assentiu.
(Korgun) — Então vamos terminar o serviço.
E encontramos. Ao final da noite, entre duas colinas baixas, escondidos nas sombras de um antigo monastério em ruínas. O inimigo estava acampado em círculos apressados, usando pedras como proteção e árvores como cobertura. Suas bandeiras estavam baixas. Os homens, feridos. Armaduras ainda não reparadas. Havia gritos de dor, gemidos, fogo baixo nas fogueiras.
Eles se recuperavam. E achavam que tinham tempo.
(Corwin) — Vão nos ver se descermos por ali — alertou Corwin, apontando o declive de pedra à esquerda. — O vale ecoa fácil demais.
(Alric) — Mas se formos pelo leste, vamos perder o elemento da surpresa — rebateu Alric. — A mata é densa demais, o som das armaduras vai alertar até os surdos.
Korgun esfregou a barba, olhando o mapa que havíamos desenhado às pressas na terra. Ragan se ajoelhou, fincando a adaga como marcador.
(Ragan) — Eles formaram três círculos defensivos — disse meu irmão. — Mas o flanco norte está mais exposto. A terra ali está fofa. Deixaram buracos.
(Varka) — Escondemos homens ali — sugeri. — Um pequeno grupo, silencioso. Os melhores. Quando derem sinal, os outros descem pela encosta oeste, com tudo. Sem aviso. Sem honra. Só morte.
Corwin sorriu.
(Corwin) — Isso soa… absolutamente bárbaro cunhadinha…
(Varka) — Então perfeito. — respondi.
A noite estava quase acabando, logo o dia surgiria, precisávamos agir.
Korgun escolheu os infiltradores: eu, Ragan, Corwin e dez homens de Skarn com passos leves e punhais rápidos. Alric ficaria com a tropa principal, guiando os valmontianos pela encosta, esperando o sinal, um arco incendiário disparado direto no céu.
Antes de nos separarmos, Korgun me puxou pelo ombro.
(Korgun) — Mate o líder. Nenhum sobrevivente de comando. Nenhum que possa reorganizar tropas.
Assenti.
(Varka) — Vamos fazer o chão beber deles, pai.
Descemos como sombras. Entre galhos e pedras, sob o silêncio dos deuses.
Vi os rostos do inimigo nas tendas, alguns dormindo, outros em vigília fraca. Tinham rostos jovens demais. Feridos demais. Pobres demais. Mas nada disso importava. Não quando sua lâmina já conheceu o sangue dos nossos.
Me aproximei de um guarda sozinho. Ragan me cobria por trás. Quando a lâmina atingiu a garganta, ele nem teve tempo de tossir.
Corwin, logo adiante, enfiou uma lança curta no peito de um arqueiro que se agachava para aquecer as mãos. O som foi abafado, preciso.
Posicionamo-nos. Esperamos. A fogueira do centro do acampamento crescia devagar. Eles estavam vulneráveis.
Eu ergui o arco que Alric me dera na manhã anterior, puxei a flecha embebida em óleo, riscada com a runa de Skarn no corpo. Mirei o céu.
(Varka) — Que ardam. — sussurrei.
Soltei.
A flecha cortou a escuridão como um cometa maldito. Um traço de fogo sobre a noite, como um grito ancestral. Um risco incandescente que rasgou o céu silencioso por um segundo, antes de cair no centro do acampamento inimigo, estourando em labaredas famintas. O fogo lambeu o tecido das tendas, mordeu os barris de óleo, os suprimentos, as cordas, os mantos secos. O cheiro de gordura queimando invadiu o ar com violência. E então, o inferno se abriu.
Do alto das colinas, meus irmãos de Skarn urraram como lobos soltos da coleira. Desceram com os cabelos ao vento, a pele pintada de guerra, lanças em riste e machados girando. O brilho do fogo dançava nos olhos deles, olhos que não temem a morte.
Desci junto. Saltei de onde estava com a espada curva em punho e o grito preso no peito. As botas afundavam na lama. Senti o coração disparar como um tambor de guerra. Cada passo, cada respiração, era um pacto com a loucura.
O primeiro homem que vi estava saindo da tenda com as calças pela metade. Atordoado, nem entendeu o que via. Um segundo depois, minha lâmina estava cravada em sua clavícula. Ele caiu sem gritar, o som abafado do corpo batendo na terra foi quase poético. Sangue quente espirrou no meu rosto, e a adrenalina me puxou ainda mais fundo.
Atrás de mim, os guerreiros valmontianos vinham como uma onda negra. A armadura prateada de Corwin reluzia no fogo, sua espada erguida como um símbolo de ordem no caos. Mas era inútil. Aquilo não era uma guerra. Era uma caçada.
Tendas explodiam em chamas. Cavalos relinchavam em pânico. Os homens do inimigo corriam de um lado para o outro, sem comando, sem esperança. Alguns tentavam reagir, outros fugiam, mas poucos chegavam a dar mais de três passos antes de serem cortados.
Encontrei um grupo tentando montar uma barricada improvisada com escudos e lanças. Sorri. Me joguei contra eles com o ombro, derrubando dois. Uma lança passou perto demais, cortou de leve meu braço. O cheiro do meu próprio sangue me acordou ainda mais. Trinquei os dentes, rolei no chão, peguei uma faca caída e enterrei na barriga do primeiro que levantou. O segundo tentou correr. Minha espada cravou entre as omoplatas dele. Senti o osso estalar.
Um dos nossos arqueiros passou correndo atrás de mim com uma tocha acesa. Jogou contra uma carroça de mantimentos e o fogo subiu alto, iluminando o rosto dos inimigos como fantasmas apavorados. Um deles, jovem, nem barba tinha, me viu. Ele hesitou. Me olhou como se visse um monstro.
(Inimigo) — Por favor... — murmurou.
Eu avancei. Cortei sua garganta com precisão, sem prazer, sem piedade. Não havia espaço para hesitação naquela noite. Não quando meus aliados haviam morrido um dia antes. Não quando nosso sangue ainda manchava a lama de Skarn e Valmont.
Alric surgiu ao meu lado, o elmo reluzente e o escudo cheio de marcas. Ele derrubava homens como se fosse feito de ferro e fogo. Lutava com a fúria dos antigos, e mesmo ali, no calor da batalha, me lançou um olhar. Não era medo. Não era surpresa. Era respeito. Um reconhecimento silencioso: nós dois nascemos para isso.
Ouvimos uma corneta curta, o inimigo tentando reunir as forças restantes. Ragan, do outro lado do vale, já havia cortado a linha de fuga. As colinas estavam cheias de arqueiros e fundibulários. Vi uma chuva de flechas mergulhar sobre os últimos homens armados, suas silhuetas despencando como marionetes quebradas.
A fumaça começava a dificultar a visão. Mas os sons... os sons seguiam nítidos. Gritos. Lâminas chocando. Ossos se partindo. O crepitar do fogo, e os urros de vitória.
A certa altura, percebi que havia entrado demais. Estava cercada por corpos. Respirei fundo. O calor era sufocante. Uma tenda caiu ao meu lado, incendiada. Quase fui atingida. Rolei para o lado, tossindo. Um inimigo, ferido mas vivo, cambaleou até mim com um machado. Consegui me erguer a tempo. Ele golpeou, eu desviei, e com um grito gutural, cravei minha espada em seu ventre até o punho. O sangue escorreu entre meus dedos. Ele caiu de joelhos e me encarou. Seus olhos pediam clemência.
(Varka) — Está do lado errado dessa guerra. — sussurrei.
Empurrei o corpo para o lado. Meu braço doía. O corte da lança ardia, mas eu nem sentia mais. A raiva era meu bálsamo. A guerra, meu santuário.
Ao longe, ouvi o som dos cascos. Corwin e os cavaleiros varriam os arredores em círculos, caçando os que ainda tentavam escapar pelo bosque. O chão tremia. A batalha estava praticamente vencida, mas não era hora de parar.
Meu pai se ergueu num monte de pedras e gritou.
(Korgun) — NÃO DEIXEM UM VIVO! ESSES COVARDES MATARAM NOSSOS IRMÃOS! FAÇAM-NOS LEMBRAR DE SKARN E VALMONT ATÉ O FIM DOS DIAS!
A resposta veio como um trovão: gritos de guerra, aço golpeando aço. Vi Korgun em meio aos corpos, sem elmo, com o rosto ensanguentado, golpeando com fúria. Mesmo velho, meu pai era um demônio entre homens.
Então, o silêncio veio aos poucos.
Primeiro, pararam os gritos. Depois, os passos. Depois, os sons do inimigo. Só restou o estalo do fogo, o bater dos corvos nos galhos, e o gemido fraco de um ou outro moribundo.
Desci das pedras. Meu corpo tremia. Não de medo, mas de exaustão. Senti o cheiro da morte impregnado em tudo. Na terra, no ar, na pele. Passei a mão no rosto, retirando o sangue que não era meu. Os olhos ardiam da fumaça.
Vi Alric caminhando entre os corpos. Seus ombros caídos, mas o olhar firme. Corwin limpava a espada, os olhos perdidos no nada. Ragan veio até mim, respirando ofegante, coberto de sangue e fuligem.
(Ragan) — Terminamos — disse ele, com a voz rouca.
Olhei ao redor. Era verdade.
O sol já estava alto, o acampamento inimigo estava reduzido a um campo de cinzas e carne. Nenhuma tenda restava em pé. Nenhuma chama deixava de tocar os céus. A caçada havia recomeçado, e terminado em uma única noite.
O silêncio que pairava sobre o campo agora era outro. Não era o silêncio tenso antes da batalha, nem o calado de homens temendo a morte. Era o silêncio da vitória. Da certeza. O som pesado que vem quando até os corvos se satisfazem e se calam, cheios da carne que deixamos para trás.
Caminhei entre os restos do acampamento inimigo com as botas afundando nas cinzas. A terra ainda fumegava em alguns pontos. Havia corpos por todos os lados, alguns inteiros, outros partidos, outros irreconhecíveis. Mas não me detive neles. Não era hora de chorar. Era hora de colher.
Ragan, com um grupo de homens, invadiu o que restava da tenda maior, onde ainda ardia uma fogueira fraca. Vasculharam baús, despedaçaram bancos, rasgaram peles e lonas. Um deles me chamou com a voz rouca:
(Guerreiro) — Varka... vem ver isto.
Aproximei-me com passos firmes, e o que vi fez meu sangue ferver de novo.
Mapas. Rolos e mais rolos de couro com anotações à tinta, marcas em carvão. Posicionamentos. Rota de fuga. Listas de nomes e provisões. Localização de aliados. Códigos e cifras. Os bastardos estavam organizando algo maior e isso agora nos pertencia. Peguei o primeiro pergaminho e vi a marca de um símbolo conhecido, um brasão menor das terras a leste, aquelas onde os senhores fingem lealdade mas escondem soldados nas sombras.
(Varka) — Eles estavam planejando dividir Valmont — murmurei. — Tomar aos poucos, cercar os fortes de dentro.
Ragan assentiu com raiva contida.
(Ragan) — E levar a guerra novamente até Skarn. Com mercenários.
Reuni tudo com cuidado. Os mapas, os planos, os selos, os documentos selados com cera. Aquilo não era apenas papel. Aquilo era poder. Informação suficiente para desmascarar traidores e derrubar nobres que fingiam neutralidade.
Enquanto isso, os outros se dividiam nas tarefas pós-batalha. Os cavalos saudáveis, muitos ainda amarrados em pânico, foram acalmados, reunidos e conduzidos pelos jovens guerreiros. Cavalos bons, fortes, rápidos, treinados. Os feridos, os que mancavam ou estavam abertos em sangue, foram sacrificados com dignidade. Uma lança entre os olhos. Um sussurro em Skarniano antigo: “Vai, corre com os deuses”.
As riquezas... ah, essas estavam por toda parte. Barris com moedas de ouro e prata roubadas de caravanas. Espadas finas, peças de armadura bordadas, capas forradas de veludo. Alguns dos nossos homens riram alto ao encontrar um baú repleto de frascos de vinho e perfumes.
(Alric) — Não sabiam que iam morrer hoje — disse Alric, ao ver um dos frascos cair e se espatifar no chão, liberando um cheiro doce demais para aquele lugar.
Deixamos que cada grupo tomasse seu quinhão. Era justo. Mas tudo o que era valioso demais ou de uso estratégico, remédios, armamento, mapas, foi separado e guardado sob cuidado dos generais.
Enquanto isso, os nossos feridos eram tratados ali mesmo, no chão duro, nas tendas inimigas que adaptamos. Alguns guerreiros mais velhos, experientes com ervas e costuras, viraram curandeiros por necessidade. Queimaduras eram limpas com vinho forte, cortes eram suturados sob gritos contidos. Eu mesma ajudei um jovem de Valmont, ferido na perna por uma lança que passou perto demais. Ele apertou minha mão enquanto eu arrancava o pedaço de ferro. Não chorou. Só disse:
(Jovem) — Ainda consigo lutar, senhora.
(Varka) — E vai lutar. — Respondi. — Mas não esta noite.
Passei por ele e vi Corwin parado sozinho diante de um corpo. O corpo de um comandante inimigo, com a garganta cortada e a insígnia de Valmont manchada de sangue. Corwin olhava para ele com algo estranho nos olhos. Culpa, talvez. Ou vergonha.
(Varka) — Conhecia ele? — perguntei.
(Corwin) — Era filho de um dos conselheiros do meu pai. Crescemos jogando dados no pátio do castelo.
Ficamos em silêncio.
(Varka) — Crescemos aprendendo a ser inimigos, Corwin. Não é culpa sua.
Ele assentiu, sem me encarar, e se afastou.
A noite começava a cair novamente quando reunimos tudo. Os corpos foram queimados, os nossos com honra, os deles com necessidade. O cheiro era insuportável, mas necessário. Deixá-los ali seria atrair doença, corvos, vermes. Alguns tentaram argumentar por enterro, mas a pressa falava mais alto. E a terra ali, dura e negra, não queria mais mortos.
Preparamos os cavalos, as carroças, os suprimentos. Os homens estavam exaustos, cobertos de sangue e cinzas, mas havia em cada rosto um brilho, da justiça feita. O de termos vencido não só com aço, mas com astúcia. Havíamos transformado o acampamento inimigo em pó. E em nossos bolsos, carregávamos suas mentiras.
O céu se fechava num roxo profundo, as primeiras estrelas nascendo tímidas. O ar esfriava. Um dos homens me trouxe um manto escuro, pesado, de lã grossa. Vesti-o sem pensar. Meu corpo ainda ardia, do corte no braço, do esforço, do sangue seco na pele. Mas eu estava de pé.
A coluna se moveu devagar. Primeiro os mais feridos, protegidos. Depois os carros com os documentos e o saque. Em seguida, os soldados a pé. Por fim, os cavaleiros, Alric, Corwin, Ragan e eu, entre os últimos, de olho em qualquer traço de inimigo.
Valmont nos aguardava.
Enquanto cavalgávamos, o silêncio entre nós era espesso. Não precisava de palavras. À minha frente, vi Alric recostar-se levemente na cela, cabeça baixa, os cabelos dourados embaraçados. Ragan, como sempre, observava tudo, atento, frio, mas seus olhos me encontraram por um instante e assentiram. E Corwin… Corwin parecia mais velho. Como se a morte de tantos rostos conhecidos tivesse roubado anos da juventude dele.
Eu fechei os olhos por um momento e respirei fundo. O cheiro da floresta, da fumaça, da terra molhada, tudo ainda tinha gosto de guerra. Mas havia algo mais. Algo que começava a nascer no fundo do peito. Uma sensação estranha. Não era paz. Não era alívio.
Era propósito.
Nós tínhamos vencido. E agora sabíamos a verdade. Sobre o que tramavam, sobre os nomes que os conselhos escondiam, sobre os castelos onde sorriram para nós com vinho e palavras doces, enquanto afiavam facas nas sombras.
O sol já havia subido ao ponto mais alto do céu quando os portões de Valmont surgiram diante de nós.
A cidade, de longe, parecia adormecida em pedra e fumaça, mas ao nos verem aproximar, os sinos soaram. Campainhas dos guardas nos muros, bandeiras içadas às pressas. Uma comitiva pequena saiu para nos receber, correndo pelas ruas de pedra, cruzando a ponte estreita sobre o fosso. E então, o som, gritos, vivas, tambores. O povo se espalhou nas bordas das ruas quando entramos, como um rio abrindo espaço para seus deuses.
Os soldados em nossa companhia carregavam as cores de Skarn e Valmont lado a lado, e os feridos, mesmo cambaleantes, erguiam o queixo com orgulho. Nossas espadas ainda manchadas. Nossas peles cobertas de fuligem, sangue e glória.
Cavalguei com a cabeça erguida. Meu corpo doía, os músculos tensos, o corte no braço ainda ardendo. Mas não era dor que me fazia apertar as rédeas. Era o olhar dela. O olhar que eu sabia que estaria lá.
E estava.
No alto da escadaria, entre colunas cobertas por tecidos nobres, Maeryn observava. Túnica azul-escura, cabelos presos com simplicidade, mãos juntas diante do ventre. Havia um sorriso discreto em seus lábios. Distante. Quase formal. Mas seus olhos... seus olhos não mentiam. Eles me acompanharam enquanto eu passava sob o arco do portão, enquanto meu pai gritava glórias e vitórias. E quando finalmente parei o cavalo e desci, sentindo a perna tremer sob o peso do combate, ela desviou o olhar.
Não havia tempo para mais.
Meu pai, o rei Korgun de Skar, não esperou sequer que os portões se fechassem atrás de nós. Entrou no grande salão como um raio que atravessa o céu limpo, gritando com aquela voz de trovão que fazia os pilares tremerem.
(Korgun) — Onde está Aldren?! — bradou, cruzando o salão com passos largos, abrindo caminho entre guardas, criados, conselheiros. — Temos verdades para cuspir neste chão, e sangue para cobrar com nomes!
As palavras dele ecoaram entre as tapeçarias e colunas, atraindo uma multidão de rostos surpresos, assustados e curiosos. O salão, tão acostumado ao protocolo delicado dos lordes de Valmont, agora fervia com a presença de bárbaros que haviam vencido com sangue.
Alric seguiu atrás dele com sobriedade, assentindo com a cabeça para os guardas que tentavam entender o que se passava. O príncipe era o equilíbrio que a realeza precisava naquele momento: onde Korgun era fúria, Alric era fogo contido.
(Alric) — Vamos reunir o Conselho — disse ele com firmeza. — Imediatamente.
Corwin murmurou algo para um capitão ao lado e desapareceu pelos corredores. Ragan foi até os portões, garantir que os mapas e documentos fossem levados com segurança à câmara do trono.
E eu? Eu fui engolida pelo castelo.
Passamos duas noites fora, mas parecia que séculos haviam nos atravessado. As pedras do palácio estavam intactas, os corredores cheirando a incenso e vinho, as paredes com retratos dos mortos ilustres... mas ali, dentro de mim, tudo havia mudado. Nada daquilo era familiar agora.
Meu corpo queria o alívio de um banho quente, de me deitar numa superfície macia que não cheirasse a fumaça e ferrugem. Mas meu coração... meu coração procurava por Maeryn.
A última vez que a vi fora no meio da noite, sob a tensão do combate prestes a acontecer. Suas mãos em meu rosto, seus lábios dizendo “volte”. E agora, ali, ela estava tão perto e ao mesmo tempo, inalcançável. Cercada por damas e sorrisos calculados, por deveres que a prendiam como correntes invisíveis.
Parei ao pé da escadaria, tentando encontrar algum gesto que me permitisse subir até ela, tocá-la, falar-lhe. Mas então, os olhos dela encontraram os meus e o sorriso permaneceu, discreto, educado, escondendo mais do que revelava.
Ela sabia. Sabia que não era hora. Que palavras trocadas ali seriam armas para os ouvidos errados. Que qualquer toque poderia virar escândalo, qualquer gesto, uma ferida política.
Eu queria gritar. Queria atravessar o salão, tomá-la nos braços, afastar tudo. Mas permaneci onde estava. Um guerreiro sujo de sangue, olhando para uma estrela que brilhava de longe.
(Alric) — Varka, Maeryn…— chamou Alric, a voz firme. — Venham conosco.
O Conselho se reuniu antes mesmo do sol começar a descer. Um feito raro. Lordes, bispos, generais, diplomatas, conselheiros cinzentos com mãos trêmulas, todos arrastados ao trono pela urgência do que havíamos trazido.
O rei Aldren apareceu, pálido, com olheiras fundas e passos mais curtos do que lembrava. Sentou-se com rigidez, os olhos indo de Alric para meu pai, de Ragan para mim, como se esperasse por uma condenação.
E foi o que demos.
(Alric) — Eles conspiravam pelas nossas costas — começou Alric, colocando os mapas e pergaminhos sobre a grande mesa de pedra. — Usavam senhores aliados, mercenários, rotas escondidas.
(Korgun) — Planejavam dividir Valmont como se fosse carne num prato de caçadores — completou meu pai, cuspindo a raiva em cada palavra. — E depois, iriam marchar até Skarn novamente. Queriam enforcar meus filhos em nossa própria fortaleza.
O salão se encheu de vozes. Protestos, sussurros, negações rápidas. Alguns se ergueram, pálidos como cadáveres. Outros tentaram rir da gravidade, fingindo que era um exagero. Mas bastou Ragan erguer um pergaminho com o selo real de um dos nobres presentes... e o salão gelou.
Eu não disse uma palavra. Só observei. Estava de pé atrás dos documentos, com a mão sobre a empunhadura da minha espada, e os olhos fixos em cada rosto que tremia. Queria que soubessem, nada passaria despercebido agora. Nada ficaria impune.
Aldren tentou se recompor, mas era claro que o chão sumia sob seus pés. Corwin falou por ele, por um momento, tentando manter a ordem. E foi ali, enquanto os conselheiros decidiam o destino de nobres que antes julgavam intocáveis, que percebi a ironia cruel daquilo tudo:
Eu venci a batalha fora dos muros. Mas m
inha verdadeira guerra começava ali dentro.
Com sorrisos falsos, alianças frágeis, e o olhar da única mulher que eu queria por perto... sendo apagado pela distância das obrigações e traições.
Fim do capítulo
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