Capitulo 20 - A volta para o dormitório
Giovana
Hoje acordei um pouco triste, chegamos ontem no fim da tarde e eu já arrumei minhas coisas – que não são muitas – para voltar hoje para o dormitório.
É estranho pensar que há duas semanas eu não imaginava como minha vida mudaria tanto e que agora estou triste de ter que voltar para minha vida normal.
Eu me acostumei a acordar e participar da rotina matinal dessa família, de ter as crianças por perto e ter Olivia por perto também, e pensar nisso me traz o sentimento de solidão. Já faz muito tempo que sou sozinha no mundo, tenho Valentina, sei disso, mesmo assim não é como ter uma família.
Para me livrar desse sentimento, resolvo voltar a minha rotina de exercícios físicos. Estou fazendo minhas flexões quando ouço um barulho de cadeira sendo arrastada, levanto meus olhos apenas para confirmar que é ela, com sua xicara em mãos, me observando.
Quando eu termino minha sequência, sigo até ela e lhe deu um beijo simples nos lábios e me sento na cadeira a sua frente, tentando manter um pouco de distância. Estou completamente suada.
- Já arrumou suas coisas? – Pergunta.
- Sim, ontem mesmo – Vejo seus olhos focarem em suas mãos – Falta só colocar essa roupa na mochila depois de tomar banho. Você quer que eu lhe entregue a chave em mãos ou deixe no quarto que estou usando?
- Chaves? – Me encara confusa.
- Sim, as chaves de casa que você deixou comigo nesse tempo.
- Pode ficar com elas – Desvia o olhar novamente.
- Como assim? São as chaves da sua casa.
- Pelo que eu entendi, decidimos começar a ter algo, a ver onde isso tudo vai dar – Bebe um gole do líquido quente de sua xicara – Você pode precisar dela.
- Você tem certeza? Não quero forçar a barra.
Olivia apenas faz um sinal positivo com a cabeça. Ela está estranha, poucas palavras, olhar distante, pensativa.
- Está tudo bem? – Puxo minha cadeira para um pouco mais perto dela – Aconteceu algo? Você está tão quieta.
- Ontem o Theo demorou muito a dormir – Começa a falar, mas para de repente, parecendo escolher as palavras certas – Ele... não gostou muito da ideia de você voltar a morar em seu dormitório, ele não entende muito bem que você estava aqui apenas por alguns dias. Ele se acostumou a ter você aqui.
- Também vou sentir falta dele – Sussurro.
- Esse sempre foi e ainda é meu maior medo – Continua falando sem me encarar, olhando a paisagem do jardim.
- Qual?
- Que meus filhos se acostumem com sua presença e sofram caso você decida se afastar – Expõe seus pensamentos – Sei que não é o caso, sei que você não está saindo da vida deles, mas vê-lo ontem tão triste me fez pensar nisso novamente, e sei também que Aurora não está contente com isso, ela não fala muito, mas também se acostumou com você.
- Eu não pretendo sair da vida deles.
Digo firme, e por fim consigo atrair o olhar dela para mim.
- Eu estou lhe dando esse voto de confiança Giovana, porque tenho sentido que você está tão dentro disso quanto eu, mas se caso isso tudo for muito para você, se lidar com as crianças for muito além do que você espera para sua vida, me avise. Por favor, não deixe meus filhos sofrerem.
- Ei – Arrasto minha cadeira para ficar completamente ao seu lado agora – Eu não quero machucar eles, nem você, eu decidi que quero fazer parte da vida deles e não é porque vou voltar para o dormitório que irei sumir da vida de vocês.
- Eu sei disso, não é essa a questão – Suspira – Não é o fato de você voltar para seu dormitório, já sabíamos que isso aconteceria.
Olivia se levanta e percebo que está tentando esconder seus olhos, provavelmente quer chorar e não quer me mostrar.
- A questão é perceber que você já faz parte da vida deles e com um simples afastamento eles já sentem, e isso me traz de volta a realidade, me fez lembrar do porquê me fechei tanto tempo, porque não deixei ninguém sem aproximar.
Me aproximo por trás e abraço sua cintura, consigo entender seu medo, no fundo sempre entendi. E saber que os dois pestinhas vão sentir minha falta me faz ter mais certeza de que eu também sentirei muitas.
- Eu não vou sumir da vida de vocês – Repito e sinto o corpo dela relaxar no meu abraço – Essa sua preocupação me faz te admirar ainda mais como mãe, como mulher e eu estou nessa com você Olivia, sei que não tenho nenhuma experiência, sei que posso errar muitas vezes, mas estou nessa com você.
A giro em meus braços, fazendo-a ficar de frente para mim e limpo uma lagrima solitária que escorre por sua bochecha.
- Me deixa te ajudar a cuidar daqueles dois, sei que sou meio louca e não tenho noção nenhuma, mas você pode ter certeza de que darei o meu melhor e até prometo não desrespeitar suas ordens.
Vejo um sorriso nascer em seus lábios, e nesse momento eu percebo que realmente estou disposta a enfrentar tudo ao lado dela.
- Acredito que as pessoas que passaram pela sua vida – Arrumo uma mecha de cabelo atrás de sua orelha – Não estavam muito dispostas a entender como é o seu mundo, não quiseram ficar, mas eu estou aqui para isso Olivia, mostrar que não sou como as outras.
A mais velha não aguenta segurar as lagrimas e me abraça forte, me comprovando que estou fazendo a escolha certa. Depois de acolhê-la, levanto seu rosto em direção ao meu, e selo nossos lábios, como uma promessa silenciosa, e não apenas para ela, mas para mim também.
- Ops.
Ouvimos uma voz e olho para trás e vejo a ruivinha toda sem jeito tentando fechar a porta de vidro.
- Aurora? – Olivia a chama.
- Oi – Responde – Desculpa atrapalhar, mas não vi que estavam as duas aqui, achei que só estaria você mama.
- Não tem problema, meu amor – A mais velha seca os olhos rapidamente – Só estávamos conversando.
- Percebi – A pequena faz cara de deboche me olhando.
- Ei – Tento me defender – Não vem com esse olhar, pequena julgadora, foi você que me ameaçou se eu não a conquistasse.
- Falei para conquistar, não para ficar beijando-a pela casa – Cruza os braços me desafiando.
- E você acha que namoradas fazem o que? – Só percebo o que falei quando a ruivinha encara sua mãe e pergunta.
- Vocês já estão namorando?
Olivia estava um pouco pálida e me lançou um olhar um pouco sério demais, mas acho que me enfiei em uma fria.
- Não filha, ainda não estamos, mas pode ser que isso aconteça – Minha professora se aproxima dela – Isso seria um problema para você?
A coisinha que Olivia chama de filha me lança mais um olhar ameaçador e minha vontade é responder como uma criança de dez anos, mas eu estava agora a pouco dizendo que seria responsável ao lado da mãe dela, então me controlo.
- Não será um problema se ela entender que não tem que ficar te agarrando o tempo todo – A ruivinha explica ainda de braços cruzados e me encarando – Tudo tem limites.
- Ok! – Levanto os braços em sinal de rendição – Você venceu pequena ditadorazinha, não irei ficar beijando sua mãe na frente de vocês.
- Fechado.
Ela estende a mão para que eu aperte como sinal de comprometimento, vendo se eu estava falando sério, e eu como a adulta que sou, aceitei o desafio.
- Ok, agora que a paz foi selada – A verdadeira adulta do recinto fala – Vamos para dentro para tomar café.
Entramos e eu fui tomar um banho enquanto Olivia preparou o café, depois de mais uma ameaça sobre eu chegar perto da cozinha fedendo a suor. Estou percebendo o quanto sou ameaçada nessa casa.
Ri com meus pensamentos, eu não trocaria isso por nada no mundo.
- Gigi – Theo fala com a voz chorosa – Você vai embora hoje e não vai mais voltar?
Sento-me na mesa ao seu lado e ele logo pula para meu colo. Ver a carinha dele de sofrimento me deixa com o coração apertado.
- Não – Penso em como contornar a situação – Eu preciso voltar para minha casa, mas vou vir ver vocês sempre que puder.
- E se você não voltar igual a mamãe da Olola? – Me olha com olhinhos brilhantes de lagrimas.
- Vou te falar um segredo, mas a Aurora não pode ouvir, tá? – Ele logo confirma e olha rapidamente para ver se a irmã estava ouvindo, e obviamente estava – Eu não sou como a mamãe da Aurora, sou bem mais legal e não vou abandonar vocês, nenhum dos três e agora vocês vão ter que me aturar.
- Pomete?
- Prometo.
E mais uma promessa está sendo feita nessa manhã. Logo o café está posto e todos se preocupam em comer e o assunto “Giovana vai embora” morre. Mas quase me engasgo quando o próximo assunto surge.
- Gigi, você quer ser minha mamãe? – Theo fala inocente.
- O que? – Eu e Olivia falamos ao mesmo tempo espantadas.
- Minha mamãe ué – Fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – O Pedrinho tem dois papais, A Olola tem duas mamães e eu só tenho a mama, eu queria ter dois também e eu gosto de você, então se você não vai embora para não voltar mais poderia ser minha outra mamãe.
O pequeno continua comendo sua panqueca com a maior naturalidade do mundo, ao contrário de mim, que não sei como agir nessa situação, acho que preciso retirar as promessas que fiz, eu não sei lidar com uma família. Mas eu quero aprender.
Olivia vendo meu desespero, resolve me salvar.
- Filho – Sua voz é calma – Não é porque seus amiguinhos ou sua irmã tem dois pais que você também precisa ter, cada família é única e você já tem a sua.
- Eu sei mama – Continua inabalado – Eu amo a família que tenho, mas ia ser super maneiro se a Gigi aceitasse, você não acha uma boa ideia?
Quando minha mente volta a realidade, seus olhinhos estão me olhando esperando uma resposta.
- Eu acho uma boa ideia – Começo – Mas também acho que precisamos ir com calma, não sei se sou boa em ser uma mamãe, acho que sou melhor sendo uma boa amiga por enquanto, isso não está bom para você?
- É só você namorar a mama e tudo está resolvido – Mais uma mordida em sua panqueca – A Aninha disse que quando alguém namora nossas mamães, a pessoa automaticamente vira nosso papai ou nossa outra mamãe.
Primeiro, como essa criança sabe o que é automaticamente? Segundo ele precisa ser afastado dessa Aninha. Viu, eu não sei ser uma boa mãe.
- Meu bem – Olivia chama sua atenção novamente – Mas a Giovana e eu não namoramos, para as pessoas namorarem elas precisam se conhecer mais, e a gente ainda está se conhecendo.
- Mas vocês vão namorar? – Sua curiosidade está estampada na sua cara.
- Quem sabe, um dia – Ela me encara com medo de estar falando algo errado, mas não está, sabemos disso já – Mas enquanto isso, ela será apenas sua amiga, pode ser?
- Pode – Dá de ombros – Mas depois ela vai ser minha mamãe.
Theo finaliza o assunto como se sua decisão já estivesse tomada e que ninguém vai tirar isso de sua mente. Bom, teremos que esperar o tempo passar para saber o que vai acontecer.
Depois dessa conversa embaraçosa, terminamos nosso café e nos organizamos para sair para nossos compromissos. Me despedi das crianças quando chegamos na escola delas e aquele aperto no peito apareceu novamente, mas tento me controlar.
Agora estamos paradas na rua de trás da floricultura, como sempre fazemos quando ela me deixa no trabalho.
- Você deixará suas coisas no dormitório antes da aula? – A mais velha pergunta.
- Sim, já combinei com a Val de nos encontrarmos lá ao meio-dia – Explico.
- Perfeito, se precisarem de alguma coisa é só avisar.
- Pode deixar que aviso sim, mas agora preciso ir que já está quase no meu horário.
Olivia apenas concorda com a cabeça, vejo que ela está um pouco tensa desde a nossa conversa mais cedo, mas tento respeitar seu espaço.
Me inclino até ela e deixo um beijo em seus lábios, mas antes de conseguir me afastar, a mais velha segura meu rosto com as duas mãos e aprofunda o beijo, e eu não sou louca em negar isso. Por mim passaria o dia todo aqui a beijando, mas infelizmente preciso ir trabalhar.
Desço do carro e Olivia logo dá partida, estranhamente sinto que estou sendo observada, olho ao meu redor para ver se há alguém conhecido e não reconheço ninguém, e as poucas pessoas que circulam pela rua, parecem envolvidas demais em seus próprios mundos.
Afasto esse pensamento e sigo para a floricultura.
Ao meio-dia em ponto, vou deixar minhas coisas no dormitório, onde não leva nem cinco minutos para chegar. Quando abro a porta, sinto um corpo se chocar contra o meu, Val se agarra ao meu pescoço quase me sufocando.
- Que isso garota? – Digo rindo.
- Isso se chama saudade – Diz me soltando – Nunca imaginei que ia sentir saudade dessa sua cara branca.
- Você não sabe ser fofa sem me ofender? – Largo minha mochila ao lado da minha cama e me sento nela – Como você está? Acabou a lua de mel?
- Eu estou perfeitamente bem e tenho novidades – Levanta a mão direita me mostrando uma delicada aliança de prata, parecia mais um anel do que outra coisa, mas eu sei que isso deve ser presente da Gabriela.
- Ela criou coragem para te pedir em namoro? – Pergunto animada.
- Simmmmmm – Dá alguns pulinhos de felicidade.
Me levanto e a abraço. A felicidade de Valentina também é a minha e ela merece tudo de bom que está acontecendo em sua vida.
Ficamos alguns minutos contando as novidades uma para a outra, contei para ela sobre a conversa que rolou hoje mais cedo, sobre como me sinto estando perto da família Garcia e ela me contou como foi passar esses dias com sua amada.
- Mas vamos ter que falar de algo não tão legal – Começa.
- Diga – A incentivo.
- Paula está empenhada em descobrir com quem você está ficando – Revira os olhos – Ela não aceita o fato de você ter colocado um ponto final e na viagem ter dormido fora uma noite, na cabeça dela se você está ficando com outras pessoas na viagem, poderia estar com ela também.
- Sinto que ainda terei muita dor de cabeça com ela.
- Também acho – Ela pensa por um segundo e diz – Boa sorte com isso, mas acho que você deve tomar cuidado, você sabe que ainda tenho um pé atrás com a Paula, aquela garota não é confiável.
- Ela é inofensiva, Val – Tento convencer a mim mesma disso – Ela só está com dor de cotovelo.
- Você quem sabe, o recado está dado – Olhou as horas em seu celular – Já temos que ir, daqui a pouco já começa nossa aula.
E assim fizemos, fomos para a universidade enfrentar mais um dia de aula.
Fim do capítulo
Booom diaaaaaaa gente....
Demorei um pouquinho para voltar né? mas tive motivos para isso, meus dias foram bem corridos e não consegui vir postar, porém espero que gostem desse capítulo, ele é simples mas bem significativo para a relação das duas. Olivia tem seus medos e traumas, e é cada vez mais importante a Gio se mostrar estar disposta a permanecer na vida dela e das crianças para construir essa confiança.
Espero que a Leitura tenha te feito uma boa companhia.
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jake
Em: 02/09/2025
Olá autora querida, não é de hj que Gio sente sendo observada... Acho que será o passado querendo atrapalhar o caminho das apaixonadas...Autora seja boazinha e nem pense em colocar empecilhos para nossas meninas... Parabéns!!!
Amando a história....
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Socorro
Em: 23/08/2025
Autora,
capítulo show !!!
Theo é lindo e cheiroso kkkk
acorda Gigi, previsão de tempestade a vista
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Paloma Matias
Em: 24/08/2025
Autora da história
O Theo é um docinho de coco de tão gostoso
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Duduka
Em: 23/08/2025
Theo já escolheu sua outra mãe.
Essa Paula vai aprontar com a Gigi.
Prevejo conflito entre Gigi e Olívia.
Paloma Matias
Em: 24/08/2025
Autora da história
Theo já formou sua opinião e ninguém mudará hahahaha
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Adriele Ramos
Em: 22/08/2025
Bom diaaa autora.
Quem será que tá vigiando a Gigi??
Essa Paula vai dar dor de cabeça e essa passividade da Gigi tá me irritando
O Théo é um fofo né?
A inocência e simplicidade das crianças resolveram as coisas me encanta.
Como sempre a leitura tem me feito bem
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Paloma Matias Em: 02/09/2025 Autora da história
Booom diaaaaaaaa
Infelizmente não sou eu que coloco empecilhos, são elas quem fazem as escolhas, eu sou uma mera porta voz delas kkkkkkkkk ou não