Olivia

            Ontem à noite me encontrei com Gabriela, precisava conversar sobre esse turbilhão de sentimentos dentro de mim, já não dá mais para evitar que aquela garota está em meus pensamentos o tempo todo, e somente minha amiga para me ajudar.

            Doce engano. Gabriela é time Giovana, se ela pudesse faria um fã clube para a mais nova, com cartazes com todas suas qualidades e o porquê eu deveria dar uma chance para ela. Mas depois de algum tempo de conversa, ela me aconselhou a tentar sair com outra pessoa então, que talvez assim eu consiga me abrir a novas possibilidades e por fim me livrar desses sentimentos confusos.

            Não sei quem é mais louca, ela por me aconselhar isso ou eu por aceitar, mas ela teve bons argumentos. 

Hoje pela manhã, Adriana me atualizou sobre como foi o início do estágio da minha aluna, cada vez tenho mais certeza de que fiz a escolha certa em abrir essa vaga, ela realmente é boa.

Agora estou em meu quarto terminando de me maquiar, para um encontro que estou com zero vontades de ir. Escolhi um vestido azul turquesa e saltos altos para esse evento. Hoje mandei uma mensagem para uma velha conhecida, que há tempos tentava fazer com que eu aceitasse sair com ela. Bom, hoje eu aceitei. Iremos jantar no Montalccino, e preciso sair daqui a pouco para não chegar atrasada.

- Mama – Minha filha bate na porta e abre assim que dou a permissão – A Marta está lá embaixo, dizendo que veio para cuidar do Theo e de mim.

- Sim, chamei ela para ficar com vocês por um tempo, preciso sair.

- Aonde a senhora vai? – Cruza os braços e me encara com a cara de poucos amigos.

- Vou sair com uma amiga – Respondo enquanto guardo as minhas maquiagens – Olha, talvez eu demore um pouquinho, então a Marta vai auxiliar vocês quando forem para a cama.

Saio do meu quarto, já pronta para o chilique de Aurora, ela realmente não gosta quando saiu com alguém, ainda mais que seja alguém que ela não conheça.

- Por que você está fazendo isso? – Ela segue em meu encalço.

- É apenas um jantar meu amor, não é nada demais.

- Você não pode fazer isso com a Giovana.

Paro no mesmo instante e me viro para encarar Aurora.

- Eu não tenho nada com a Giovana, e estou apenas saindo com uma amiga – Minha pequena bufa – Eu quem sou a mãe aqui, e não lhe devo satisfação, apenas comunico as coisas porque sempre temos conversas abertas, mas isso não lhe dá o direito de agir assim.

Ela nada diz, e sei que o assunto está dado por encerrado. Deixo todas as instruções para Marta e peço um Uber para o restaurante.

- Boa noite Senhorita, há reserva? – Fui logo atendida.

- Sim, em nome de Antônia.

- Perfeito, ela já se encontra no salão, pode me acompanhar.

Segui com ele até uma mesa mais ao fundo, um pouco mais reservada. Ali já estava a bela mulher me aguardando.

- Boa noite, linda – Ela se levanta para me cumprimentar e puxar a cadeira para mim.

- Boa noite, Antônia – Tento ser educada e não demonstrar meu tédio.

- Fiquei muito feliz quando recebi sua mensagem – Enquanto ela fala, já abro o cardápio para ir dando uma olhada – Sabia que um dia você perceberia que estaria perdendo uma grande oportunidade.

Quando a ouço, meus olhos seguem para seu rosto, ela não pode estar falando sério né? Ela está querendo dizer sobre a oportunidade de estar com ela? Acho que estou começando a lembrar o porquê nunca tinha aceitado sair com ela antes.

- A que oportunidade você se refere? 

- Ué, a oportunidade de estar comigo. Você precisa admitir que sabe que essa noite será incrível – Diz convencida.

- Veremos, só poderei dizer isso ao fim da noite.

- Com licença, Senhoritas – O garçom chama nossa atenção – Gostariam de pedir as bebidas?

- Sim – Antônia se antecipa – Na verdade, já queremos fazer nossos pedidos completos.

- Perfeito – O garçom se prepara para anotar nossos pedidos.

- Mas eu ainda estou olhando o cardápio – Digo.

- Não precisa linda, eu já decidi por nós.

Deus, estou vendo que será perfeito esse encontro.

Ela pediu um vinho caríssimo para nós duas, dois Barbecue Suíno como prato principal e para entrada duas Carpaccio Salad. Enquanto esperávamos a comida chegar, Antônia me explicou como estava sua vida, seu trabalho, sua família e até mesmo sobre a garota com quem ela saiu semana passada e a dispensou dizendo que tinha achado coisa melhor. Obvio que ela se sentiu muito ofendida. Confesso que entendo perfeitamente o motivo da garota falar isso.

- Então eu a bloqueei de tudo, e agora mesmo que ela queira falar comigo, o que obviamente vai acontecer, não conseguirá – Continua o monologo.

- Entendi.

- Mas foi bom que aconteceu isso né, assim você ganhou a chance de sair comigo.

- Ah, claro – Olho meu celular, para ver se não há nenhuma mensagem de Marta.

- Com licença – O garçom aparece novamente para me salvar por alguns segundos – Dois Barbecue Suíno. Bom apetite.

E se retira nos dando privacidade, e era a única coisa que eu não queria. Enquanto ela continuou a falar sobre a vida dela, comecei a analisar o prato a minha frente, não que esteja feio ou coisa do tipo, mas com toda certeza não seria a minha escolha.

- Algum problema? – Minha atenção volta para ela.

- Não, apenas olhando o prato – Explico.

- Ah, você é dessas...

- Dessas? – A encaro já começando a perder o pouco de paciência que me resta.

- Sim, que avalia todo prato que come só porque é chefe de cozinha.

- Não – Respondo.

- Não?

- Não sou dessas, apenas estava vendo como essa não seria nem perto da escolha que eu faria para minha janta, mas você ao menos quis saber disso.

- Ah, Linda – Solta uma risada – Com certeza esse é o melhor prato desse restaurante.

- Para quem? – Ela para de rir – Pode ser para você, mas isso não quer dizer que seja para mim.

- Você também vai achar. Confie em mim.

Prefiro não discutir, afinal estamos em público. Minha querida companhia volta a falar sobre as baboseiras que só interessa a ela, e eu desliguei minha mente, deixo ela falar e não absorvo nada.

Quando terminamos, ela pergunta se quero sobremesa e diz até que me deixa escolher para eu não reclamar, apenas digo que estou satisfeita.

Já estamos terminando o vinho, e percebo que ou faço algo para que essa noite termine pelo menos com algum tipo de ganho, ou irei para casa. Antônia é chata, mas é muito bonita, isso deve servir de algo.

- Acho que podemos pagar a conta e ir para o ponto que interessa nesse encontro – Sou direta.

- Claro.

Ela chama o garçom e acerta a conta, não me deixando pagar minha parte, segundo ela, ela tem dinheiro demais para deixar que eu pague algo. Ridículo. 

Quando saímos do restaurante, aguardamos um pouco o Uber que pedimos para a casa dela. Já que as duas beberiam, nenhuma veio de carro.

Antônia aproveitou que já estamos fora, e se aproximou.

- Você está tão linda – Pelo menos algo gentil saiu de seus lábios.

- Obrigada.

- Quero fazer algo que faz muito tempo que estou esperando...

E me beijou. Por um tempo não consegui responder, mas logo me abro a possibilidade. Ela é linda, e eu preciso esquecer Giovana.

O beijo não é ruim, mas não é o encaixe perfeito, ou ao menos um encaixe. Seguimos tentando ajustar o beijo, até que ela segura mais firme em minha cintura.

“Eu sei que você dará alguma desculpa Olivia – Me interrompe quando começo a falar – Sei que vai vir com o papinho que foi um erro, que sou sua aluna, que sou muito jovem e qualquer outra que você queira inventar.

            - Não é desculpa – Falo mais firme – São todas as realidades, realmente foi um erro.

            - Um erro muito bom, por sinal – Agora quem evita me encarar é ela, mas carrega uma voz magoada”

            As lembranças voltam com força em minha mente, e quando abro os olhos é o rosto dela que vejo a minha frente. Essa garota precisa sair da minha cabeça. Volto a beijar Antônia com mais força.

            “Giovana – Meu nome sai em forma de gemido – A gente não pode.

            - Podemos – Respondo enquanto deixo beijos por seu colo – E vamos continuar, a não ser que você não queira, aí é só me dizer que eu paro agora mesmo.”

            Não consigo, não consigo seguir beijando outra pessoa quando quem eu quero, está em casa.

            - Desculpa – Peço – Mas não vai rolar.

            - Quê? – Ela me encara confusa – Você tá de brincadeira né? Estamos nos dando tão bem, qual é o problema?

            - Não há problema nenhum, só não me sinto confortável em deixar meus filhos muito tempo sozinhos – Tento achar a primeira desculpa possível.

            - Filhos? Você é mãe? E não me disse isso? – Se afasta como se eu tivesse uma doença contagiosa.

            - Eu até diria, se você me deixasse falar algo – Me altero, mas logo tento voltar a calma – Olha, muito obrigada pelo jantar, mas não vai rolar, te desejo boa sorte com a próxima.

            Fui salva pelo Uber que chegou bem na hora, a mulher entrou nele sem nem olhar para trás e eu chamo outro que não demora nem três minutos para chegar.

            Ao abrir a porta, me deparo com Theo e Aurora sentados no sofá com caras emburradas e Marta tentando convencê-los a ir para a cama. Olho no relógio e são 22:35hr.

            - Posso saber o que vocês ainda estão fazendo acordados? – Chamo atenção deles.

            - Mamaaaaaaa – Theo corre para meu colo.

            - Alguém vai me responder? – Pergunto mais uma vez.

            - Esses dois estavam esperando você chegar, mesmo eu tendo dito que você chegaria tarde eles se recusaram a ir dormir – A jovem me explica.

            - Beleza, então agora pode deixar que eu mesma coloco eles na cama – Explico – Você pode aguardar só mais um tempinho? Só coloco eles para dormir e já desço para acertar com você.

            - Claro, Senhora.

            Subo com meus dois filhos e vou primeiro para o quarto de Theo, não demora quase nada até ele dormir, já estava caindo de sono. Depois de sair do quarto dele vou até o de Aurora, ela ainda está acordada.

            - Ainda acordada? – Vou até ela.

            - Você voltou cedo – Fala em um sussurro.

            - Eu disse que era apenas um jantar com uma amiga – Uma leve mentirinha para minha filha não faria mal – E já estou de volta.

            - Achei que era um encontro – Boceja.

            - Achou errado, mas agora está na hora de dormir – Deixo um beijo em sua testa – Deus te abençoe, meu amor.

            - Boa noite Mama, te amo.

            Desligo a luz e fecho a porta de seu quarto. Não levou nem dez minutos para eu acertar com Marta e ela ir para casa. Quando estou no primeiro degrau da escada ouço um barulho na cozinha, desisto de ir para o quarto e vou até lá.

            Giovana está preparando um sanduiche e me encara quando ouve eu entrando na cozinha.

            - Ah, é você – Digo.

            - Não, é a fantasminha camarada – Diz sarcástica.

            - Seria algo bem ruim se tivesse fantasmas aqui – Tento brincar.

            - Hum – Murmura.

            - Não jantou no restaurante? – Pergunto quando vejo que ela devora o sanduiche como se não houvesse amanhã.

            - Não – Mais uma mordida.

            - Por quê?

            - Não deu tempo, hoje deu muito movimento – Responde irritada.

            - E é por isso que está irritada? – Me aproximo da mesa, onde ela está agora comendo.

            - Serviço nunca vai me deixar irritada.

            - Então o que te deixou assim?

            - Nada – Volta a comer.

            - Voltamos as respostas monossilábicas? 

            - Por que não me responde você, como foi seu encontro?

            Meus olhos se arregalam e sinto meu rosto aquecer um pouco, como ela sabe? 

            - Encontro? – Me faço de desentendida.

            - Não precisa me responder, a vida é sua e não me deve nada.

            Se levanta rapidamente para deixar o prato na pia e começa a organizar o que tinha pegado. 

            - Você quer realmente saber como foi meu encontro? – Me viro em sua direção para ver sua expressa.

            - Quero – Responde baixo, como se tivesse em dúvida.

            - Um verdadeiro desastre.

            Não espero que ela responda, não tenho condições de lhe falar mais nada, porque sei que não vou resistir e atacá-la, e não quero fazer isso hoje, depois da confusão que foi o beijo com Antônia, depois das lembranças, e de não conseguir beijar outra pessoa. Preciso apenas dormir.

Fim do capítulo