Caps. 15 – Pam – Tentando me manter neutra
– Nossa, que climão, hein? – Minha amiga disse ao meu lado, ao mesmo tempo, em que deixei as lágrimas darem vasão e caírem livre – o que ela estava fazendo aqui... – Ana parou de falar quando me olhou, se aproximou e a olhei, esbocei um sorriso entre as lágrimas. – O que aconteceu, meu anjo?
– Creio que eu nunca terei sorte no amor, minha amiga.
– Porque diz isso, Pam, o que aquela mulher fez com você?
– Ela não fez nada, não a culpe pelas minhas escolhas.
– Mas o que aconteceu para você estar desse jeito?
Inspirei fundo, entramos em casa e contei tudo o que aconteceu naquela noite, desde o sonho maluco que tive, do beijo que dei na Bia, nela preparando o café da manhã para mim, enfim, no fato de finalmente dizer que estava perdidamente apaixonada por ela.
– E foi isso, essa noite foi um sonho, e infelizmente tive que acordar.
– Mas, e ela falou o que sobre tudo isso?
– A Bia é uma mulher discreta, esperou partir de mim, e como não disse nada a respeito, e mesmo assim ela vendo que eu não estava muito bem com a situação, me tratou com delicadeza e carinho, porque ela estava agradecida pelo que aconteceu na madrugada com sua filha.
– Acha mesmo que ela correspondeu o beijo por estar agradecida?
– Tenho certeza... – inspirei fundo desanimada.
– Não sei não, Pam, o clima entre vocês lá fora, me diz outra coisa.
– Como disse, ela é uma mulher discreta, não deixou transparecer nada além de gratidão, consigo ver em seu semblante que ela ainda ama a esposa.
– A esposa que infelizmente o destino tirou do caminho dela, e um dia supostamente ela irá encontrar alguém para amar novamente.
– Eu sei disso, e também sei que esse alguém, não seria eu, por que alguém como a Bia escolheria a mim?
– Está se menosprezando, aí já é de mais – ela levantou indignada – você é uma mulher linda, Pamela, confiante, alegre e que esbanja sensualidade quando quer, menos hoje com esse sua estima baixo e toda descabelada.
Sorri, não tive como, diante da cena que se passava na minha frente, encostei a cabeça no encosto do sofá e fechei os olhos por segundo, pude sentir o toque da Bia em mim, sua língua entrando em minha boca e buscando a minha, me transbordando... inspirei fundo.
– Foi um sonho lindo, Ana, queria não ter acordado.
– Ela é tudo isso mesmo? – Sentou ao meu lado, curiosa, olhei para ela e sorri.
– Me fez ir ao céu e voltar com um beijo, ela é um perigo.
– Estou vendo, chega a estar salivando, Deus me livre.
Olhei para minha amiga e acabei gargalhando, me senti leve.
– O que eu quero dizer, Ana, é que a Bia é um sonho impossível, não queria desejá-la assim, mas não posso controlar meus sentimentos.
– Talvez só devesse deixar acontecer, e ver onde vai dar, se ela retribuiu o seu beijo com gratidão ou não, uma hora isso irá ser revelado, – sorriu gentilmente – mas uma coisa ela tem razão, vocês precisam conversar sobre o ocorrido, uma para você ver o que realmente aconteceu e outra, para decidir diante dessa conversa se tira ou não isso da cabeça e segue em frente, não pode ficar nessa dúvida eternamente.
– Afinal, além de me dar conselhos amorosos, o que a senhora veio fazer aqui em pleno sábado de manhã, não deveria estar descansando?
– Sim, deveria, mas em casa com aquela bagunça, não consegui – revirou os olhos e sorri – liguei pra minha amiga e como ela não atendeu, vim ver se precisava de ajuda, e também a convidar para passar uma tarde de meninas, faz tempo que não almoçamos fora e pegamos um cinema.
– Ah, Ana... não to muito no clima...
– Até parece que vim aqui pedir – ela levantou colocando a mão na cintura – vim comunicar a senhora, e depois do que aconteceu, me recuso e a aceitar um não como resposta.
– Tenho escolhas?
– Não mesmo... – sorri, me deixando levar por ela.
Final de semana passou, as horas se arrastavam, queria saber notícias de Izzie, mas guardei para mim, na segunda certamente iria para a escola, e lá saberia sobre ela. Por diversas vezes fiquei tentada em pegar o carro e ir até a casa delas, mas não fui, não queria me envolver mais do que já estava.
Me escondi em meu ateliê aquele domingo, desenhando, não me ajudou a esquecer a Bia, já que cada desenho tinha ela me olhando de formas diferentes, tive medo de estar virando obsessão, apesar de não desejar o mal dela, meus pensamentos e coração gritavam por ela.
Fui deitar passava da meia-noite, abraçada ao meu travesseiro, deixei as lágrimas caírem, nunca em minha vida havia me apaixonado daquela forma, não com tanta intensidade, chegava a doer só de pensar que não poderia um dia dizer o que sentia por ela.
Nem vi a hora que dormi, acordei péssima no dia seguinte, fiquei tentada a não ir trabalhar, mas as crianças não tinham nada com isso, então, coloquei aquele sentimento de lado, um sorriso no rosto e segui para a escola.
A manhã foi normal, tanta correria e gritaria das crianças, não me deixaram abater. No almoço comi uma salada de macarrão, e fiquei folheando uma revista na sala dos professores, Ana chegou me olhado.
– Como você está?
– Com a cabeça doendo, quase não dormi essa noite.
– Imagino, e seu dia está como?
– As crianças não me dão tempo para ficar pra baixo, felizmente tenho elas.
– Pam, já te vi em uma situação parecida alguns anos atrás, e não foi nada agradável, por favor, não se deixe abater novamente.
– Tudo bem, Ana, não será assim dessa vez, tenho consciência que preciso seguir, e não vou deixar que isso me derrube.
– Falou tudo, espero que faça o que diz, e não só diga para não me deixar preocupada.
– Credo, você está falando igual a minha mãe.
– Me sinto um pouco sua mãe, esqueceu que sou mais velha que você?
– Sim, mas não tanto... – sorri, ela arqueou a sobrancelha, pegou um café e me serviu também.
Conversamos um pouco, mas logo ela se retirou, tinha uma reunião com a diretora. Porém, logo saí para recepcionar as crianças da tarde.
Faltando pouco para às 13h, Izzie apareceu gritando como sempre, correndo em minha direção.
– Oi tia Pam...
– Olá, meu anjo, como você está? – A abracei forte, beijando seu rosto.
– To bem tia ... – brincou com meu cabelo, fiz cócegas nela.
– Sua mochila, amor... – A voz da Bia ao lado, despertou sensações que nem imaginava que pudesse sentir.
Izzie saiu de meus braços, colocou a mochila nas costas, deu um beijo na mãe e disparou sala adentro.
– Olá, Bia, como vocês estão?
Ela se aproximou, me deu um beijo no rosto, sorriu me olhando.
– Izzie está melhor, graças a Deus, ainda teve febre no sábado, mas depois que tomou a medicação melhorou, até agora, não teve mais.
– Que bom, fico feliz por isso, ela parece bem animada.
– Está eufórica, não para desde que acordou – sorriu colocando a mão no bolso – já eu, devo estar com resfriado, não me sinto bem, desde ontem à noite.
Instintivamente, me aproximei tocando sua testa e pescoço, constatando.
– Está febril, tomou algum remédio?
– Só um analgésico, para dor de cabeça.
– Tem que se cuidar, toma bastante água e tenta se alimentar.
– Obrigada, nem vou trabalhar hoje, Lara está vindo para cá, brava por não ter dito que Izzie estava doentinha.
– Compreensível, ela a ama e se preocupa – sorri da careta que ela fez.
– Ela é mandona, isso, sim, – sorriu – mas eu a amo também, e agradeço por ser a minha irmã.
– Tem sorte... – algo em meu olhar a fez me encarar, se aproximou.
– Você está bem?
– Estou sim, também estou com dor de cabeça, mas isso por que não dormi direito essa noite.
– Preocupada?
– Não, só pensativa...
– Entendi... – ela me olhava como se quisesse ver a minha alma, sustentei o olhar, não conseguia não o fazê-lo – será que podemos jantar um dia desses, gostaria de conversar – pensei, quase que respondi que iria quando e onde ela quisesse, mas freei a resposta, ela sentindo minha hesitação – olha, não parei de pensar no que aconteceu na manhã de sábado, gostaria muito de conversar sobre, se assim você também quiser.
– Bia...
– Por favor, sei que está magoada com alguma coisa, e isso não me deixa bem, preciso saber se está tudo bem.
– Estou falando que está tudo bem... – sorri.
– Você fala, mas não demonstra... – ela abaixou a cabeça, inspirou fundo e disse por fim – não quero ser invasiva, entendo que não queira sair, ou falar sobre, irei respeitar isso... – me olhava com tristeza, aquilo quase me fez pular em seus braços, Deus me de forças – tenho que ir, não vou trabalhar, mas preciso pegar uns documentos na Editora.
– Tem que repousar e se restabelecer.
– Sim, farei isso... – concordou – agradeço pelas dicas, tenha uma boa tarde.
– Obrigada, para você também.
Concordou apenas, me olhou, aguardei o beijo no rosto que ela sempre me dava, mas não o fez, saiu sem olhar para trás, inspirei fundo e tentei não deixar aquilo me afetar mais. Entrei na sala e deixei as crianças comandarem aquele dia.
Fim do capítulo
Oiiee...
Curtinho esse, mas cheio de emoção... espero que tenham curtido... fortes emoções a caminho... eu prometo... rs
Bjs... e um ótimo final de semana para vocês.... se cuidem e até a próxima...
Bia
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