Capitulo 8
Maeryn
Evitei Varka porque pensar nela doía.
Doía em cada fibra, em cada músculo tenso do meu corpo.
Como se algo dentro de mim tivesse se rompido de forma tão silenciosa e súbita que nem percebi no momento, mas que agora sangrava por dentro a cada passo que eu dava longe dela.
Fingi indiferença.
Fingi tão bem que quase acreditei.
Mas cada vez que ouvia sua voz no salão, cada vez que a via pela visão periférica entrando em uma sala, cruzando um corredor, subindo à muralha… meu corpo inteiro reagia. Os ombros endureciam, a respiração travava, os dentes rangiam no fundo da boca.
Eu tinha raiva.
Não dela apenas. De mim.
Por ter me permitido.
Por ter acreditado, ainda que por um instante, ainda que em silêncio, que havia algo ali. Que o que compartilhamos na escuridão dos aposentos não era apenas corpo. Que sua mão no meu ventre, sua respiração no meu ouvido, o olhar intenso entre os beijos… significavam algo.
Ingênua.
Idiota.
Porque no fundo, eu já sabia. Sabia que Varka era de Skarn. E Skarn não se curva, não promete, não se entrega. Skarn toma. Usa. Vai embora.
Mas saber não aliviava.
Piorava.
Quando aquelas mulheres riram de mim naquela casa, quando se referiram a ela como se fosse delas, como se cada uma tivesse um pedaço que eu jamais teria, algo dentro de mim se partiu. E a forma como ela ficou ali… parada… muda… como se não houvesse nada demais…
Foi o que mais feriu.
Porque eu não era como elas. Nunca seria.
E não digo isso por superioridade, não. Digo porque não sabia como se deitar com alguém e depois se levantar sem nada. Sem deixar pedaços.
E elas sabiam.
E ela… sabia.
Desde aquele instante, Varka se tornou para mim uma presença tão gritante quanto insuportável. Ela existia em tudo. No cheiro de fumaça dos corredores, no barulho grave das botas no pátio, no som do aço quando treinava com os irmãos.
E eu?
Eu fingia.
Fingia que não via.
Fingia que não ouvia.
Fingia que não sentia.
E todos em volta percebiam. Os olhares que lançavam, os sorrisos enviesados, as provocações veladas, não me importavam. Eu estava acostumada a sobreviver entre feras, ainda que douradas. Em Valmont, aprendi a sorrir para cobras. Em Skarn, bastava suportar os lobos calada.
Mas com ela… era diferente.
Porque ela sabia. Sabia o que tínhamos vivido.
E mesmo assim andava com aquela indiferença de quem não devia nada.
De quem nunca pediu nada.
Talvez isso fosse o mais cruel.
Não havia promessas quebradas.
Não havia juras desfeitas.
Havia apenas o vazio entre nós.
E o fato de que, para ela, talvez nunca tivesse sido mais do que sex*.
Só sex*.
Só isso.
Mais uma entre tantas.
E eu não suportava a ideia de ter sido apenas mais uma.
Não depois do jeito que ela me tocou.
Não depois do jeito que eu tremi em seus braços.
Durante o dia, mantive a postura.
Firme, altiva, fria.
Respondi aos conselheiros com compostura, rebati provocações com elegância, e suportei o frio como se fizesse parte de mim.
Mas à noite… quando ficava sozinha…
Meu peito era uma fornalha contida.
Minha garganta, um grito engasgado.
Minhas mãos, cerradas, como se tentassem segurar tudo o que estava escapando.
Quis odiá-la.
De verdade.
Tentei.
Mas era difícil odiar alguém por ser exatamente aquilo que sempre foi.
Varka não mentiu sobre quem era.
Foi eu quem menti pra mim mesma.
Por esperar mais.
Por desejar mais.
E isso…
Era o que mais doía.
Os dias passavam com a lentidão cortante de um inverno que nunca termina.
As muralhas de Skarn me cercavam como se fossem mais do que pedra. Eram espessas, frias, feitas de tudo aquilo que eu tentava conter dentro de mim.
E dentro delas, eu já não sabia se esperava pela guerra ou por mim mesma.
As mensagens de Valmont chegaram com o selo de meu pai, quebrado às pressas pelas mãos trêmulas de um mensageiro coberto de gelo. Não precisavam ser lidas em voz alta, eu já sabia o que diziam.
As palavras eram sempre diretas: "As fronteiras ao leste foram atacadas. Um vilarejo destruído. Civis mortos. Os reforços são insuficientes. Preparem-se para o inevitável."
O inevitável.
A guerra à porta.
E eu… perdida entre o silêncio das reuniões de Skarn e a lembrança de tudo que deixei para trás.
Tentei me ocupar.
Participei dos conselhos, mesmo quando falavam por cima de mim. Estudei os mapas, li as cartas, reescrevi planos, pedi informações.
Mas a verdade é que estava apenas sobrevivendo às horas.
E, sobretudo, me mantendo longe de Varka.
Porque me aproximar dela seria me quebrar. E eu já estava trincando.
Com o tempo, ela também parou de tentar.
Parou de buscar meus olhos nas reuniões. Parou de ajustar o corpo ao me ver passar. Parou até de me observar com aquele olhar duro que ela usava quando queria esconder tudo que sentia.
E aquilo… doeu mais do que qualquer ferida que a guerra pudesse abrir.
Eu havia sido esquecida.
Ou pior, superada.
Fui me tornando uma sombra no canto dos olhos dela, e não sei explicar por quê, mas desejei que ela voltasse a me provocar.
Que gritasse comigo. Que discutisse. Que me desafiasse.
Qualquer coisa.
Qualquer sinal de que, em algum lugar debaixo daquela couraça, ainda havia algo pulsando por mim.
Mas ela se foi.
Ficou em silêncio, no modo mais cruel de todos: o da resignação.
E então, naquela noite, algo mudou.
Era tarde. Muito tarde. As tochas do pátio tinham sido recolhidas, os corredores estavam vazios, e o vento lá fora assobiava como um aviso antigo.
Eu não dormia. Já fazia dias que não dormia de verdade. Apenas me deitava, olhos abertos, ouvindo a fortaleza respirar.
Foi quando ouvi passos leves, o ranger da madeira e a porta lateral sendo aberta com cuidado demais para ser casual.
Levantei, calcei as botas e puxei o manto. Os corredores pareciam ainda mais longos àquela hora. Desci silenciosa, contornando o pátio por entre as sombras, até ver uma silhueta se afastando pelos fundos da fortaleza.
Era ela.
Varka.
Andava como quem já conhecia todos os cantos do mundo, rápida, precisa, envolta em sombras.
E, como quem não queria ser seguida.
Mas eu a segui.
Não pensei. Apenas fui.
Na escuridão, meu coração descompassou antes mesmo de entender por quê. Talvez eu soubesse. Talvez tivesse sempre sabido. Varka andava como quem não devia nada ao mundo, e isso a tornava perigosa. Não com armas, mas com silêncios. Com os gestos que nunca explicava. Com os lugares que escolhia estar.
Ela andava pelas rotas escondidas de Skarn como se fosse parte do gelo, parte da pedra. E eu, ali atrás, me perguntando o que me movia mais, a raiva ou o desejo de entender.
Mas quando a vi parar diante da casa de madeira gasta, com o toldo vergado pela neve, quando reconheci o brilho das tochas mal posicionadas e a mesma música abafada que ouvi dias antes… senti o estômago cair.
Ela entrou sem hesitar.
Sem olhar pros lados.
Sem medo de ser vista.
E ali, tudo em mim desabou.
Eu tinha seguido com o corpo, mas o coração ficou para trás. A cada passo que dei em direção àquela casa, mais eu sentia as bordas do orgulho se desgastarem.
O prostíbulo estava vivo, mais do que o resto de Skarn àquela hora. Gargalhadas, sons de copos batendo, gemidos abafados entre beijos e promessas baratas.
Aproximei-me da janela lateral, entreaberta para dispersar a fumaça espessa do interior. O calor saía em rajadas, trazendo junto o cheiro de álcool, de peles suadas e corpos entrelaçados.
E então eu a vi.
Varka.
Encostada na madeira escura da parede interna, os cabelos soltos, o manto já pendurado no gancho da entrada. Um caneco na mão. As mulheres a rodeavam como aves de rapina diante de carne fresca. Riam, tocavam seus braços, jogavam o peso do corpo contra o dela com aquela intimidade que só quem conhece sabe simular.
Ela sorria.
Não muito. Mas sorria.
Rinna, a ruiva que zombara de mim dias antes, estava colada a ela, com uma mão em sua cintura, a boca próxima demais. Outra, de cabelos escuros e olhos pequenos, passou por trás e murmurou algo que fez Varka baixar a cabeça e rir, rouca.
Ali, naquele instante, tudo dentro de mim quebrou.
Eu não tinha o direito. Sabia disso.
Não éramos nada. Nunca fomos.
Mas isso não mudava o fato de que eu a desejei como nunca desejei ninguém.
E, pior, desejei que ela tivesse me desejado de volta… só a mim.
Tolice.
Ela era filha de Skarn. Criada entre guerra, sangue e liberdade. Ela não pertencia a ninguém. E não devia satisfação a nada.
Mas doía.
Doía ver que ela escolhia aquilo. Aquela casa, aquelas mãos, aquelas mulheres… em vez de qualquer possibilidade real.
Em vez de mim.
Pensei em ir embora. Pensei em marchar de volta à fortaleza e escrever um corvo para meu pai, pedindo para ser chamada de volta a Valmont.
Mas fiquei. Como se meus pés tivessem cravado no chão gelado.
Minutos depois, vi quando Rinna tomou a mão de Varka e a puxou para dentro de um dos corredores. Ela não resistiu.
Sumiram.
E eu, do lado de fora, respirei fundo, uma, duas, três vezes.
E cada vez que o ar gelado entrava nos pulmões, eu desejava que congelasse o que restava do sentimento dentro de mim.
Porque não havia mais o que entender.
Ela escolheu.
E essa escolha não foi por mim.
Voltei sozinha para a fortaleza, com os dedos congelando e o rosto ardendo, como se o frio fosse punição.
E pela primeira vez desde que pisei em Skarn…
Eu soube com clareza o que era se sentir verdadeiramente sozinha.
Os sinos soaram como um trovão arrastado, partindo o ar denso do salão em dois.
Primeiro foi um, depois dois, três toques, graves, antigos, carregados de urgência. O som ecoou por toda Skarn, ressoando pelas pedras da fortaleza, pelas muralhas, pelas montanhas além.
As conversas cessaram de imediato. Copos congelaram a meio caminho da boca. O fumo dos cachimbos foi esquecido. Cada rosto no salão, até então envolto em risos ásperos e histórias rudes, virou-se em direção às janelas com um mesmo olhar, tenso, sombrio, sabedor.
Eu fui a única que não entendeu.
Mas entendi o suficiente para saber que não era uma batida comum. Não era alarme de treino ou cerimônia.
Era chamado de sangue.
Os homens levantaram-se como por instinto. Korgun ergueu-se com a fúria viva dos deuses antigos no olhar, jogando a cadeira para trás. Dravak já empunhava o machado antes mesmo de alcançar a porta. Kael e Jorum seguiram atrás, com os gritos engasgados na garganta, como se o próprio aço corresse por suas veias.
O salão virou um caos. Soldados correram, servos deixaram bandejas cair no chão, peles voaram, gritos se espalharam entre os corredores.
Eu me levantei devagar. Um calafrio subiu pela minha espinha. Havia algo naquele som, na reação deles, que me dizia que nada, absolutamente nada, voltaria a ser como antes.
Foi então que a vi.
Varka.
Corria pelo salão, empurrando quem estivesse no caminho, o cabelo solto, a expressão carregada de uma urgência que só vi em campo de batalha.
Ela não hesitou. Não me ignorou.
Correu direto até mim.
(Varka) — Você vem comigo. Agora.
A voz dela foi firme, mas os olhos… os olhos tinham algo que não vi nem quando estávamos nuas sob a mesma pele, nem quando me olhava em silêncio após as farpas trocadas.
Era medo.
Medo real.
(Maeryn) — O que está acontecendo?
Ela me agarrou pelo pulso. Não com brutalidade, mas com a força de quem não tinha tempo para explicações.
(Varka) — Os sinos da fronteira. Três toques. Ataque.
As palavras me atingiram como facas curtas.
(Maeryn) — Mas os mensageiros… as patrulhas... ninguém falou em movimentação — sussurrei, tentando acompanhar o passo dela.
(Varka) — Porque o inimigo não mandou avisos. Veio direto.
Cruzamos o corredor aos empurrões. Guardas passavam correndo, vestindo armaduras às pressas, calçando botas de couro enrijecido pela neve, alguns com a barba ainda molhada de cerveja. O som metálico das espadas sendo desembainhadas enchia o ar.
O frio nos atingiu com violência quando saímos nos pátios externos. As torres acendiam tochas, o portão da fortaleza já estava sendo fechado com correntes. Os arqueiros subiam às muralhas.
Vi Korgun montado, gritando ordens como se comandasse o próprio inferno.
Dravak organizava fileiras com os homens de elite.
Kael checava os carros com lanças.
Jorum berrava algo sobre os portões.
E Skarn… Skarn tremia.
Eu segui. Ainda sem saber o que procurar. Mas no fundo, já sentindo.
Quando chegamos ao topo da escadaria espiral, o vento cortava como navalha. O mundo ali embaixo estava escuro, mas havia movimento. Luzes. Fogo. Uma linha tremeluzente se arrastava ao longe.
(Maeryn) — Isso é…?
(Varka) — Um cerco.
Minha boca secou.
Um cerco. Real.
(Maeryn) — Quantos?
(Varka) — Não sei.
A notícia me atingiu com mais força do que qualquer ameaça anterior. Porque agora era real. Estava diante dos meus olhos. O inimigo estava ali. E eu, envolta por alianças frágeis e feridas mal curadas, presa num castelo gelado com uma mulher que partiu meu orgulho ao meio…
Eu me obriguei a respirar fundo.
(Maeryn) — Varka…
Ela virou-se para mim.
Ela me olhou, de verdade. Pela primeira vez em dias, sem raiva, sem orgulho, sem máscara.
A guerra bateu à porta. E tudo o que antes parecia insuportável… agora parecia pequeno diante do que estava por vir.
E ali, naquele vento cortante, sob o som dos sinos e da terra prestes a ruir, nós duas sabíamos:
Não havia mais tempo para orgulho.
Só para escolhas.
As torres estremeciam com os gritos e os sinos.
O céu de Skarn, sempre carregado, parecia mais baixo naquela noite, pesado, escuro, prestes a desabar. O vento arrastava consigo a poeira branca da neve, mas havia algo mais no ar. Algo que fazia a pele formigar e o coração bater mais rápido.
Era o presságio da guerra.
E ele estava em toda parte.
Varka não perdeu tempo. Assim que os sentinelas confirmaram que o inimigo se aproximava pelo vale leste, ela me puxou escada abaixo, cortando os corredores como uma flecha viva. Não falava nada, e eu tampouco perguntava.
Sabia que o que quer que estivesse por vir, ela já tinha decidido.
(Maeryn) — Para onde estamos indo? — perguntei quando cruzamos um salão secundário, longe do burburinho da guerra.
(Varka) — Para os túneis. Há um abrigo de guerra, construído nas fundações da fortaleza. Só usamos em último caso. Mulheres, crianças, anciãos. Os inúteis, como diria meu pai. — Ela cuspiu as palavras com um amargor contido.
Eu a segui, o coração descompassado.
Havia um peso diferente em seus passos. Determinação, sim, mas também algo mais. Algo que eu só compreendi ao ver o portão de ferro escondido sob os arcos da fortaleza abrir-se lentamente.
O interior era escuro, úmido, forrado de peles velhas e tochas que mal iluminavam as paredes de pedra. Um a um, os grupos foram chegando. Mulheres com crianças nos braços, idosos apoiando-se em bastões ou braços trêmulos. Muitos deles carregavam bolsas, panos, comida embrulhada às pressas, pequenos objetos de valor. Os olhos, no entanto, diziam tudo: medo.
Varka caminhava entre eles como um lobo entre cordeiros. Não com desprezo, mas com força. Ela mantinha a postura reta, o rosto duro, como se a própria guerra ainda estivesse à espreita do lado de fora.
(Varka) — Fiquem juntos. Nada de subir sem ordem. — ela dizia a cada nova chegada.
(Mulher) — E se as portas caírem? — perguntou uma mulher.
(Varka) — Se as portas caírem, vocês não sairão. Porque não haverá mais Skarn pra sair. — respondeu Varka, seca.
Eu a observava sem dizer nada. Ela mantinha o controle, distribuía ordens, acalmava os rostos assustados sem jamais perder a própria rigidez. Era essa a Varka que Skarn criou: feita de aço e neve, moldada à sombra da morte.
Quando todos estavam acomodados, ela se aproximou de mim. Estávamos sob uma das arcadas do abrigo, onde uma velha tapeçaria escondia uma passagem mais funda ainda, cheia de barris de comida seca.
(Varka) — Você fica aqui. — disse, sem rodeios.
(Maeryn) — Não. — respondi, instintiva.
Ela me olhou. Pela primeira vez, os olhos vacilaram. Havia dor neles. Medo. Não pelo que viria. Mas por mim.
(Varka) — Maeryn…
(Maeryn) — Eu não quero ficar aqui sozinha.
(Varka) — Não estou te escondendo por fraqueza. Estou te protegendo porque se você morrer aqui, a aliança morre com você. Valmont precisa de você viva. E eu…
O silêncio se arrastou entre nós. Ela segurou meu braço. Não com violência, mas com urgência.
(Varka) — Por favor. Fique aqui!
Foi a primeira vez que ela disse algo assim.
“Por favor.”
A palavra soou mais forte que todos os sinos do reino.
Assenti.
Com dificuldade. Com dor.
Mas assenti.
Ela se virou para sair.
A armadura mal colocada tilintava a cada passo. Os cabelos estavam presos às pressas, balançavam com o vento. A espada batia contra a coxa.
(Maeryn) — Varka…
Ela parou.
E se virou devagar. E naquele olhar rápido, quase furtivo, algo disse mais do que qualquer despedida.
(Varka) — Se eu não voltar… procure por Kael. Ele vai cuidar de você!
Então ela se foi.
E eu fiquei.
Entre os velhos e as mães que tentavam fazer seus filhos dormirem no chão de pedra.
Entre o cheiro de medo e o silêncio que crescia cada vez mais a cada grito abafado que vinha das muralhas.
Apenas sentada.
Alguns guardas no interior com as espadas nas mãos.
E com o nome dela queimando em silêncio no fundo da minha garganta.
Varka
O ar lá fora estava mais frio do que nunca.
Não o frio comum de Skarn, esse a gente aprende a ignorar desde criança. Era um frio diferente. Pesado.
Frio de antes da morte.
Deixei Maeryn no esconderijo, e foi como enterrar algo vivo dentro de mim. Mas não havia tempo pra sentir. Não naquela noite.
A cada passo que dava para longe dela, mais o som da guerra engolia o mundo.
Tomei minha posição no flanco oeste, junto de Dravak, Jorun e Kael.
Nossos homens já estavam alinhados. Ombro a ombro.
Vinte fileiras de escudos e lanças.
Os arqueiros se espalhavam pelas torres, prontos.
Os portões trancados, reforçados.
E ao longe… os tambores deles.
Batidas graves, repetidas. A cadência de um exército que não tem pressa, porque já se vê vitorioso.
(Dravak) — São mais do que esperávamos. — Ele falou sem tirar os olhos do horizonte.
Eu não respondi. Apenas encaixei o machado na alça das costas e girei os ombros. O corpo lembrava o peso da armadura. A mente já não lembrava mais nada.
Quando vieram, vieram como enxame.
Luzes se moveram entre a neblina do vale. Tochas. Bandeiras. Homens montados.
E então, flechas.
A primeira chuva cortou o céu como um punhal negro.
(Dravak) — ESCUDOS! — rugiu, enquanto os erguemos a tempo.
O impacto das flechas ressoou como granizo contra pedra. Alguns gritaram. Outros caíram logo no primeiro ataque.
Mas Skarn não recua.
Quando o segundo grupo veio correndo pela colina, rugindo, os portões se abriram num estalo súbito, e fomos ao encontro deles.
O choque foi brutal.
Madeira contra carne.
Metal contra osso.
Gritos.
Sangue quente no rosto.
Barulho de dentes quebrando.
Minha lâmina atravessou o primeiro homem como se rasgasse pano molhado. Girei o corpo, desviei de uma lança e atingi outro no pescoço.
Dravak lutava ao meu lado, seu escudo uma muralha viva. Jorun avançava como um cão selvagem, rindo enquanto esmagava os inimigos com a massa. Kael era força bruta, andava colado a mim, como em todas as batalhas de nossas vidas.
Não havia clareza.
A batalha era fumaça e caos.
Você apenas se movia, matava, sobrevivia ao instante seguinte.
Um golpe me atingiu nas costelas, o suficiente pra me fazer cambalear.
Ouvi gritos do meu lado direito.
Um dos nossos homens caiu, a garganta aberta.
Outro foi arrastado para o meio dos invasores e sumiu entre espadas.
(Varka) — FECHEM A LINHA! — gritei. — NÃO DEIXEM ENTRAR!
Eles tentavam nos romper pela lateral, e eu sabia o que isso significava: uma brecha, e tudo viraria massacre.
Apertei os dentes.
Enterrei o machado em mais um.
Puxei a lâmina de volta com esforço.
Meu braço tremia, mas meu ódio mantinha os joelhos firmes.
O cheiro de sangue era espesso, misturado com terra molhada, fumaça e suor.
As fogueiras ao redor do campo ardiam, lançando sombras dançantes sobre corpos amontoados.
Mais flechas.
Mais gritos.
Mais dor.
Mas nós estávamos de pé.
(Dravak) — A muralha interna está segurando.
(Kael) — Por quanto tempo?
Eu olhei para o horizonte.
Mais homens vinham.
Mais do que eu podia contar.
E mesmo assim…
Não recuei.
Porque era Skarn ali.
Porque Maeryn estava debaixo da terra fria esperando que a gente vencesse.
Porque eu não tinha o direito de cair.
Ainda não.
Ainda não.
O campo era um abismo aberto, e nós dançávamos à beira do fim.
A terra havia desaparecido sob os pés, agora era só lama espessa, tingida de vermelho, negro, ferrugem e morte. O cheiro era insuportável, sangue, suor, vísceras abertas e o fedor de medo dos que tombavam. As fogueiras erguidas pelos invasores lançavam sombras longas que tremulavam entre os corpos caídos, como espectros famintos rondando à espera de mais.
Eu me movia por instinto.
O machado já pesava como um cadáver em minha mão, mas eu não largava. Cada balanço era uma promessa de que Skarn não cairia.
Cravei a lâmina no peito de um guerreiro com elmo estranho, de couro escuro, e empurrei com o ombro antes que o corpo morto me prendesse. O sangue espirrou no meu rosto.
Aquele era o quarto. Ou o quinto.
Já tinha perdido a conta.
(Jorun) — POR SKARN! — Ele rugia, mais fera do que homem, o rosto coberto de cortes, os olhos injetados. Ele esmagava o crânio de um inimigo contra uma pedra, com as mãos nuas.
Mais adiante, Dravak havia perdido o escudo e lutava com duas lâminas curtas, fendendo gargantas com precisão cirúrgica.
A neve ao nosso redor estava manchada de vermelho e marrom.
O chão se tornava escorregadio, e os gritos se sobrepunham, criando uma cacofonia que só os verdadeiros filhos do Norte conseguiam suportar sem enlouquecer.
Uma flecha passou rente ao meu ombro.
Outra atingiu um dos nossos, caiu ao meu lado, arfando, com os olhos vidrados no céu.
Eu me ajoelhei e cravei a ponta do machado no chão por um segundo.
A respiração vinha aos trancos.
Meu corpo doía.
Os braços, dormentes.
As mãos ensanguentadas, com calos se abrindo.
E, mesmo assim, havia algo dentro de mim, algo selvagem, primitivo, que crescia a cada grito dos meus irmãos.
A fúria.
Não uma raiva cega.
Mas a fúria dos antigos. Aquela que se acende nos ossos de quem já nasceu pronto pra morrer lutando.
Levantei.
Engoli o sangue na garganta.
Corri.
Avancei por entre os corpos, saltei sobre as lanças caídas, mergulhei contra o inimigo.
Bati com o ombro num escudo. Girei o machado. Rasguei do ombro até a barriga.
Gritos.
Mãos tentando me agarrar.
Lâminas riscando minha armadura, abrindo cortes nas coxas, nas costelas.
Mas eu não parava.
Não podia parar.
Um dos inimigos, grande, coberto por peles cinzentas e com o rosto pintado de branco, veio contra mim com uma espada curva.
Ele gritava algo no idioma deles.
Não me importava.
Bati meu machado contra a lâmina. Senti os ossos vibrarem. Rolei pro lado, chutei seu joelho.
Ele caiu.
Eu o segurei pelos cabelos.
E cortei.
O sangue jorrou como uma maldição, e o rugido de Skarn explodiu ao meu redor.
Os nossos viam.
Os nossos sentiam.
E se eu caísse ali, cairia como filha da fúria e não como espectadora da própria ruína.
Um grito cortou o ar.
Jorun havia sido atingido, uma lança no ombro, tão funda que a ponta aparecia nas costas.
Corri até ele, puxei-o pelo braço.
Dravak apareceu logo atrás, abrindo caminho à força, cortando a lateral do rosto de um inimigo com a empunhadura da espada.
(Varka) — Levem-no pra retaguarda! — eu berrei.
(Dravak) — E você?! — Dravak retrucou.
(Varka) — Eu fico.
Porque alguém precisava ficar.
Porque alguém precisava lembrar aos desgraçados que ousaram cruzar nossos portões que Skarn sangra, sim, mas nunca sangra sozinha.
Levei uma pancada no ombro.
Gemi.
Caí de joelhos.
Vi a lâmina vindo de cima.
Rolei.
O corte pegou de raspão.
Levantei.
E gritei.
Gritei como nunca.
Com toda a fúria, a dor, o luto não chorado, o medo que nunca admiti.
Gritei por Skarn.
Por minha mãe já falecida.
Por Maeryn.
E a noite tremeu.
O céu era negro, a terra quente, os deuses mortos, mas nós estávamos vivos.
A batalha ainda não havia terminado.
Mas eu já sabia que, enquanto houvesse um bárbaro de pé, o inimigo jamais teria paz.
O tempo perdeu o nome ali.
Minutos, horas, dias, não havia diferença. Havia apenas a repetição selvagem de aço, grito, carne, sangue.
A noite era um borrão de fumaça e morte. E eu estava no centro dela.
Meus braços ardiam. O machado já não era só uma arma, era uma extensão do meu próprio corpo. Cada golpe que eu dava era mais por instinto do que por pensamento. Cada inimigo que tombava diante de mim era apenas mais um corpo tentando me deter.
E ninguém ia me deter.
Os guerreiros de Skarn lutavam ao meu redor com a fúria que só nasce em quem não tem nada a perder. Os gritos de Dravak se erguiam como trovões entre as fileiras, seu rosto estava banhado em sangue, mas seus olhos brilhavam, como se tivesse encontrado algum tipo de êxtase na violência. Kael acompanhou Jorun, que foi levado para dentro, ferido, mas até lá havia matado dois com as próprias mãos.
E eu, ali, entre o barro e os corpos, me tornava mais fera do que mulher.
Cortei a garganta de um dos cavaleiros que romperam a linha.
Girei e atingi outro no estômago, deixando que o peso do corpo o arrastasse para a lama.
Pisei no peito de um, cravei o machado em seu crânio e puxei de volta com um estalo seco que ecoou em meus dentes.
E então veio o rugido.
Um som gutural, profundo, quase não humano.
Os cães deles.
Vi quando soltaram as feras, criaturas deformadas, grandes como lobos, mas com os olhos brancos, a boca espumando e as patas com garras afiadas como adagas.
Dois deles vieram em minha direção.
Corri.
Não recuei.
Corri de frente.
Nós éramos os lobos do norte. Não recuaremos.
Saltei contra o primeiro, atingi o focinho com o cabo do machado. Ele me mordeu no ombro. A dor foi quente e instantânea. Gritei. Rodei o corpo. Bati com o punho de ferro no flanco da criatura.
Ela tombou.
O segundo saltou por cima do corpo do irmão.
Me joguei ao chão.
A fera passou por cima, e quando se virou, cravei o machado bem entre seus olhos.
Fiquei ali, ofegante, o sangue escorrendo do ombro, dos braços, da testa.
Minha armadura estava rasgada em três pontos.
Meus dedos, quebrados ou luxados, não sei.
Mas ainda estava de pé.
Ainda sentia o chão.
Ainda sentia o ódio queimando na garganta.
Olhei ao redor.
A fortaleza ainda resistia.
Mas a linha estava estreitando.
Já lutávamos quase nas sombras da muralha.
(Varka) — ELES VÃO TENTAR AS PORTAS! — gritei, com a voz rouca. — FECHEM AS PASSAGENS SECUNDÁRIAS! FORMEM OS CÍRCULOS!
Os guerreiros ouviram.
A estratégia era clara. Se eles entrassem na fortaleza, não haveria mais abrigo.
Os túneis que guardavam os velhos, as mães, as crianças — Maeryn — seriam descobertos.
Não podia acontecer.
Nem por cima do meu cadáver.
(Varka) — DRAVAK! — berrei.
Ele me alcançou, o peito arfando, a boca aberta.
(Varka) — Mande dez para os flancos! Escondam homens nas muralhas baixas. Quando os bastardos cruzarem os portões, cortem as pernas deles!
(Dravak) — E você?!
(Varka) — Eu seguro o meio.
Ele hesitou.
Por um instante.
E assentiu.
Enquanto ele partia, me vi sozinha no centro.
Cercada.
Respirando sangue.
Sentindo o frio morder o corte do ombro, o calor ferver nos músculos rasgados.
E mesmo assim, sorri.
Um sorriso pequeno, quase dolorido.
Porque ali, naquele instante, eu soube, era o meu lugar.
O mundo podia ruir.
Skarn podia queimar.
Mas Varka de Tharn morreria lutando.
Como filha de bárbaros.
Como guardiã da fúria.
Como sombra de pedra que não se curva nem à morte.
Levantei o machado.
E fui de novo ao encontro da escuridão.
O sol nasceu sem glória.
Pálido. Frio.
Uma luz trêmula que mal atravessava as brumas cinzentas do campo.
Mas ele nasceu.
E isso significava uma coisa:
Skarn resistiu.
Eu estava ajoelhada no barro.
O machado ainda preso à mão, como se meus dedos tivessem esquecido como abrir.
Meu corpo inteiro pulsava, uma dor surda nos ombros, nos braços, nas costelas. Cada parte de mim ardia, latej*v* ou sangrava. Mas ainda respirava.
E isso bastava.
A primeira coisa que ouvi foi o som das cornetas. Não o toque da vitória, Skarn não comemora. Não com palavras. Mas era o som do cessar.
Do fim da primeira onda.
Olhei ao redor.
Corpos empilhados por toda parte.
Homens de Skarn e do inimigo misturados num tapete grotesco de carne e lama.
Braços decepados.
Cabeças separadas dos pescoços.
Olhos vidrados virados pro céu, como se buscassem por deuses que nunca responderam.
A neve havia derretido onde o sangue jorrou mais quente.
A terra estava preta, saturada.
Os urros tinham cessado.
Mas o silêncio que ficou era pior.
Atrás de mim, os portões da fortaleza estavam manchados de vermelho, e as flechas ainda cravadas nas torres tremulavam com o vento fraco da manhã.
Os estandartes do inimigo jaziam caídos, manchados, pisoteados.
Os que sobraram fugiram quando o sol despontou, deixando os próprios feridos pra morrer na lama.
Covardes.
Mas astutos.
Eles voltariam.
E todos ali sabiam disso.
Dravak veio até mim, mancando. A espada suja ainda nas mãos. Seu rosto trazia um corte fundo sobre a sobrancelha, e ele não falava, apenas assentiu.
O gesto de quem sobreviveu.
De quem ainda está de pé.
Jorun havia sido levado de volta aos salões inferiores, ferido, mas vivo. Kael organizava os arqueiros que restaram para recolher flechas reutilizáveis. Nosso pai, o rei Korgun estava no alto da muralha, observando, tão ou mais sujo de sangue que os filhos.
E eu… me levantei.
Meus joelhos falharam.
Por um segundo, tudo escureceu.
Mas não caí.
Não com tantos olhos me observando.
Os jovens guerreiros de Skarn me olhavam em silêncio.
Havia respeito neles.
E também medo.
Porque eles viram.
Viram o que me tornei naquela noite.
(Dravak) — Separem os vivos dos mortos. — ordenou, a voz rouca, falhada. — Deixem os inimigos onde estão. Os nossos terão o pátio central. Os curandeiros devem começar pelos que ainda podem andar.
Os homens se moveram em silêncio.
Com passos pesados.
O barulho das armaduras se arrastando.
As macas improvisadas sendo montadas com escudos quebrados.
Os gritos de dor voltando pouco a pouco, à medida que o sangue começava a esfriar e a consciência retornava.
Vi um menino, nem barba no rosto ainda, carregando o corpo do pai.
Vi uma mulher de Skarn, guerreira também, sentada com o braço enfaixado e o olhar perdido no vazio.
Vi um dos nossos moribundos sendo colocado à sombra do muro, o rosto sereno como quem encontrou paz na morte.
O campo ainda ardia em pequenas brasas.
As casas externas, queimadas parcialmente.
Mas a fortaleza estava de pé.
Caminhei até um dos barris de água junto ao portão.
Mergulhei as mãos.
A água tingiu-se de vermelho no mesmo instante.
Lavei o rosto, os braços, os cortes.
Não adiantava, o sangue não sairia tão fácil. Não só o da pele.
E então lembrei.
Maeryn.
O esconderijo.
Caminhei até a entrada das passagens ocultas, passos lentos e cambaleantes, onde Kael já se encontrava, me olhou com olhos arregalados.
(Varka) — Está segura? — perguntei.
Ele assentiu.
(Kael) — Nenhuma porta foi tocada. Quando for seguro vamos tirá-los de lá.
Soltei o ar.
Era um alívio, mas também um peso novo no peito.
Abracei o machado contra mim, apoiei a testa na lâmina ainda quente.
Fechei os olhos por um segundo.
A guerra ainda não tinha acabado.
Aquilo tinha sido apenas o primeiro golpe.
Mas nós estávamos de pé.
Feridos, ensanguentados, exaustos, mas vivos.
O mundo começou a se distorcer diante dos meus olhos.
O gosto de ferro na boca, que antes eu ignorava, agora se intensificava, espesso, quente, amargo.
A dor, aquela dor surda que eu havia empurrado pra algum lugar dentro de mim durante a batalha, agora voltava com fúria.
As pernas pesavam. Os braços tremiam.
Minha respiração vinha aos soluços curtos, como se o próprio ar se recusasse a entrar.
Tentei dar mais um passo. Um só.
O chão se moveu.
Não.
Não o chão.
Minha cabeça.
As pedras pareceram flutuar sob meus pés. O pátio girou, lento e depois rápido. As vozes ficaram abafadas. Os sons da fortaleza, os gritos dos feridos, o bater de aço contra aço, os estalos dos torniquetes sendo apertados, os urros dos que carregavam os mortos, todos começaram a soar distantes, como se estivessem do outro lado de um rio.
Eu pisquei.
As tochas tremeluziam nas muralhas.
Mas as luzes começaram a estourar em pontos brancos.
A perna falhou.
O machado caiu primeiro.
Um som metálico seco.
E eu fui logo atrás.
Minhas mãos tentaram alcançar a parede.
O ombro tocou a pedra.
O corpo desceu, dobrando como um animal ferido.
Senti o gosto do chão. A poeira.
A pele arranhada na rocha.
E algo quente escorrendo p
elas minhas costas.
(Kael) — Varka… — alguém murmurou ao longe, mas eu não consegui distinguir a voz.
Passos apressados.
Gritos abafados.
Alguém me virou de lado. Uma mão gelada tocou minha bochecha.
Outra puxou meu manto rasgado.
Mas eu não enxergava mais.
Só vultos.
Só luz demais… e depois, nada.
Nem frio.
Nem dor.
Nem Skarn.
Apenas o escuro.
Silencioso.
Profundo.
Quente.
E então,
mais nada.
Nem frio.
Nem dor.
Nem Skarn.
Apenas o escuro.
Silencioso.
Profundo.
Quente.
E então, mais nada.
Fim do capítulo
Hoje teve dois capítulos kkkk espero que se divirtam kkkk amanhã talvez eu não consiga postar.
Por isso o bônus de hoje.
Beijos
E me digam o que acharam dessa loucura.
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castanheiro
Em: 11/08/2025
Oi autora
Seus capítulos são uma montanha russa de emoção. As vezes me pego controlando para não acabar rápido o texto kkkkkkk
Muito bom ver a história se construindo, as verdades de cada uma, novos medos, barreiras caindo as vezes se erguendo.
Aguardando os próximos capítulos
Bjos
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HelOliveira
Em: 09/08/2025
Olha que o coração tem ser forte para ler esses capítulos maravilhosos....
Maeryn ....Varka....cada uma com sua verdade e seus sentimentos.....muito ansiosa pra ver como essas duas vão se entender...ou não..
Varka lutou com tudo força...que final foi esse autora..
Natalia S Silva
Em: 12/08/2025
Autora da história
Kkkk eu releio sempre cada frase pra ver se realmente soa bem kkkk que bom que gosta. Tem dois novos capítulos adicionados.
Beijos
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Sem cadastro
Em: 09/08/2025
Uau!!! Ufa!!
que capitulo foi esse...
Natalia S Silva
Em: 12/08/2025
Autora da história
Bom né kkkk tem dois novos pra ti
Beijo
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Natalia S Silva Em: 12/08/2025 Autora da história
Oii que bom que está gostando. Acabei de adicionar dois novos capítulos, espero que se divirta.
Beijos