Capitulo 49
Bianca estava sentada à frente de Luísa, com um pote de sorvete tamanho família e a cara de quem ia ser internada por overdose de sentimentos contraditórios. Chocolate com pedaços de brownie não ia dar conta daquela montanha-russa emocional, mas a gente tenta.
Luísa, por outro lado, parecia tranquila demais. Tava até escolhendo cobertura como se não tivesse soltado a bomba “tenho uma ex-mulher e um filho” tipo... ontem.
— Então… — Luísa começou, mexendo no potinho com a colher. — A Marcela foi uma pessoa importante, né? A gente se conheceu na pós, deu muito certo por um tempo. E aí resolvemos ter um filho. Foi tudo planejado, nada de acidente.
Bianca assentiu com a cabeça, fingindo que tava entendendo. Por fora, serena. Por dentro: “Como assim ela já amou outra pessoa? Como assim viveram juntos? MEU DEUS, ESSA BISCATE VIU ELA PELADA? COMO ASSIM ALGUÉM NÃO QUIS ELA???”
Luísa continuou:
— No começo, era tudo muito intenso, muito apaixonado. Mas a gente começou a querer coisas diferentes, sabe? E com a morte do Gabriel... acho que não deu mais. E aí… bom, ela pediu o divórcio.
Bianca arregalou os olhos, quase engasgando com o sorvete.
— Ela o quê?
— Pediu o divórcio — repetiu Luísa, com naturalidade.
Bianca ficou em silêncio. Porque a cabeça dela tava como? Um carnaval fora de época. “COMO ASSIM ALGUÉM DISPENSOU A LUÍSA?” “ELA JÁ OLHOU PRA LUÍSA? JÁ OUVIU ELA FALAR? ELA TEM NOÇÃO DO QUE TÁ FAZENDO???”
— E você ficou mal? — Bianca perguntou, tentando não parecer uma adolescente ciumenta. Não conseguiu.
Luísa deu de ombros.
— Tínhamos acabado de perder um filho, Bia. E então eu perdi minha esposa também. Eu não fiquei mal. Eu fiquei destruída. Se não fosse pela Mariana, eu não sei o que teria feito.
Passou.
Faz tempo.
Ela superou.
E a Marcela, a sirigaita, voltou por quê agora?
Bianca espetou o sorvete com a colher, imaginando que era o olho da Marcela. Sorvete de vingança.
— Mas… só uma pergunta — Bianca falou, forçando casualidade. — Você já avisou essa Marcela aí que agora você tem dona?
Luísa parou, encarou Bianca com um meio sorriso.
— Dona?
Bianca mordeu o lábio, já arrependida. Mas foi.
— É, ué. Tipo... eu. Tô só perguntando porque... né? Vai que essa biscate ai volta cheia de intenções. É bom ela saber que você já tem um fã-clube, uma defensora oficial. Uma mulher ciumenta e emocionalmente instável que come sorvete compulsivamente quando tá nervosa. Sabia que eu fiz aula experimental de taekwondo quando era criança? Eu sou perigosa, Luísa.
Luísa riu, balançando a cabeça.
— Então quer dizer que eu tenho dona agora?
Bianca cruzou os braços e fingiu indignação.
— Porr*, não sei. Você quer ter?
Luísa se inclinou um pouco pra frente, os olhos fixos nos dela. As imagens surgindo, repetidamente em sua mente, nossa, sim queria sim ter dona e ser dona dela.
— Acho que quero sim.
E pronto. Bianca derreteu mais rápido que o sorvete do lado de fora da sorveteria. Mas não ia dar o braço a torcer. Pegou mais uma colherada e respondeu só:
— Tá. Mas só se você prometer que não vai mais me deixar surtando sozinha enquanto a sua ex desfila por aí com cabelo sedoso e salto 15.
— Prometo. Mas você vai ter que dividir o sorvete.
Bianca fingiu pesar.
— Hm... difícil. Muito difícil. Mas... talvez eu aceite dividir você. O sorvete, a gente conversa. A não ser que a gente vá pro seu apartamento e você prometa fazer aquele negócio com a língua. Aí eu compro outro pote pra viagem.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]