Capitulo 48
Bianca estava largada no sofá, com um pote de sorvete no colo e o coração na garganta desde que viu a mensagem de Luísa. Ignorar parecia fácil. Na teoria. Porque na prática, cada notificação fazia ela saltar igual gato vendo pepino.
Até que o celular vibrou de novo.
Luísa:
“Oi. Tô aqui fora. Você vai vir falar comigo ou eu toco a campainha e já conheço seus pais de uma vez?”
Bianca travou.
Olhou pra mensagem.
Olhou pra porta.
Olhou pro espelho.
— N-Ã-O. — disse, em pânico absoluto. — ELA NÃO FEZ ISSO.
Correu até o espelho. Cabelo desgrenhado, olheiras olímpicas, blusa do ensino médio com um “Semaninha da Física 2023” estampado no peito. Um look “não estou pronta pra ver o amor da minha vida”. Um crime de figurino. Prisão nas olheiras. Pena máxima no moletom.
Se esgueirou até a janela, estilo agente secreto.
E lá estava Luísa. Escorada no carro, braços cruzados, olhando o celular com a serenidade de quem sabe que vai vencer.
A pior calma: a calma da autoconfiança.
Bianca bufou, calçou o chinelo da vergonha e desceu.
Abriu o portão devagar, como se fosse uma armadilha.
— O que você tá fazendo aqui?
Luísa ergueu a sobrancelha.
— Sei lá. Deu saudade da sua calçada.
Bianca revirou os olhos.
— Luísa…
— Vim saber por que você tá fugindo. Se eu falei alguma besteira, pode xingar, mas sumir não vale. — Luísa cruzou os braços. — Na minha idade, correr atrás de você dá taquicardia, viu? Um infarto aqui e já era!
— Ah, pronto. Chegou a carteirada geriátrica.
Luísa riu, mas o olhar continuava sério.
Bianca hesitou. Não era fácil admitir que ver Luísa com outra mulher tinha mexido. E não só mexido. Remexido. Revolvido.
— Eu só… fiquei confusa, tá? — murmurou. — Achei que você... sei lá. A cabeça fez boom. Aí eu surtei.
Luísa a olhou, sem rir. Mas também sem julgar.
— Confusa? Isso é tipo “tô morrendo de ciúmes, mas tentando bancar a madura”?
Bianca deu um sorrisinho torto.
— Ridícula. Você não me deve explicação, mas… se quiser me contar quem era, eu escuto.
Luísa respirou fundo, como quem se prepara pra abrir a caixa de Pandora versão 2025.
— A Laura… é uma pessoa com quem eu tive uma história. A gente… morou junta. Dividiu conta de luz. Viveu coisa séria.
— Tipo ex-namorada?
Luísa coçou a nuca.
— Tipo… ex-mulher.
Bianca travou.
Estômago fazendo parkour.
— Ex-mulher tipo… casamento? Cartório? Votos? “Na saúde e na treta”?
— Tipo isso. E a gente… teve um filho junto. Bem, quase.
Bianca arregalou os olhos.
— UM FILHO?
Silêncio dramático digno de novela das nove.
— Tipo… com nome e tudo? CPF? Já fez ENEM?
Luísa tentou não rir, mas falhou.
— Não. Mas se tivesse puxado a mãe… iria sofrer em matemática. A outra mãe. Que colava em cálculo, inclusive.
— Você sabe cálculo!
— Pois é. Eu era a que ajudava. E corrigia.
Bianca piscou três vezes. A alma ainda processando.
— Caraca. Eu achei que tava surtando por ciúmes… mas agora tô surtando com razão. CIÚMES COM BOA FUNDAÇÃO!
Luísa soltou uma gargalhada de verdade agora.
— Você sempre surta com piada assim?
— Sim. E eu também como pão com ketch*p. Não é meu melhor momento, tá?
Luísa deu um passo pra frente.
— Eu gosto de você, Bianca. Com ou sem surto. Com ou sem pão com ketch*p. Mas se quiser conversar de verdade, eu tô aqui. Não precisa fugir.
Bianca mordeu o lábio. Olhou pra Luísa. Depois pra dentro de casa. Depois pra Luísa de novo.
— Tá bom. Mas chega de bomba por hoje, tá? Tipo… se você não for mais virgem, me conta semana que vem. Eu ainda acredito na sua pureza.
Luísa sorriu.
— Prometo. Só revelações em doses homeopáticas de agora em diante.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]