Capitulo 45
A segunda-feira tinha a audácia de existir. Bianca caminhava pelo corredor da faculdade com a velocidade de quem ainda estava presa emocionalmente no domingo — ou talvez só com sono mesmo. A luz fluorescente não ajudava, e o barulho de conversas aleatórias parecia amplificado pelo modo zumbi em que ela se encontrava.
— Biaaaaaaaanquinhaaaa! — gritou Ana do outro lado do corredor, com os braços abertos como se fosse receber um prêmio da academia.
Bianca deu um meio sorriso e se preparou emocionalmente para o impacto que era a Ana antes das 10h da manhã.
— Lá vem, meu Deus… — murmurou, enquanto a amiga já a agarrava num abraço exagerado.
— Menina, olha essa sua cara! Isso é o que eu chamo de pós-foda emocional. Tá brilhando, tá molinha, tá… com a espinha torta! Que que a Luísa fez com você, hein?!
— Ana, pelo amor de Deus, fala baixo! — Bianca olhou pros lados, vermelha até os fios de cabelo.
— Falar baixo? Bianca, você tá com cara de quem dormiu e acordou no colo do pecado. Se essa boca falasse…
— Ela fala, tá? E come pão com requeijão igual gente normal! — Bianca rebateu, tentando manter a dignidade enquanto andava mais rápido pelos corredores.
— Pão com requeijão, minha filha? O recheio da sua noite foi outro, né? — Ana sussurrou com um falso tom de indignação. — Sua safada…
Bianca só balançou a cabeça, rindo de nervoso.
— Você é um problema ambulante, sabia?
— E você é uma gostosa apaixonada, e isso me irrita profundamente. Por que a gente não pode só ficar solteiras, beber vinho barato e xingar os homens e as mulheres? União flex aqui! Não que o meu tanque esteja devidamente abastecido, se é que me entende…
— Porque você se apaixona até pelo motoboy que te entrega sushi.
— E você se apaixonou por uma professora. E não uma qualquer! Por aquela que não deve ser nomeada. Conta pra tia Ana, Bia… ela tem te corrigido? Rola uns tapas? Se bem que tapa de amor nem dói, né? Nossa, é impressão minha ou tá fazendo calor hoje? Enfim. Isso é tipo… o nível superior da minha bagunça emocional.
As duas riram alto, até que Bianca parou de repente. Ana quase trombou nela.
— O que foi?
Bianca não respondeu. Os olhos estavam presos numa cena a alguns metros de distância.
Luísa, elegante como sempre, conversava com uma mulher desconhecida. Morena, expressão firme, olhar de quem já sobreviveu a um furacão — e agora era o próprio desastre natural. Havia algo naquela postura, na intimidade contida do gesto de Luísa ao tocar no braço da outra... que fez o estômago de Bianca dar uma leve pirueta.
— Ihhh… — Ana sussurrou, captando o clima na hora. — Não pira, não tá acontecendo nada demais. Só o diabo falando com a nova professora gostosona. Suuuuper normal.
Bianca continuava calada. Só observava.
— Oi? Terra chamando Bianca. Você tá pálida. Mais do que o normal. Mais até do que quando eu te mostrei meu boletim de Cálculo.
Luísa virou levemente o rosto, como se tivesse sentido o olhar. Viu Bianca. Houve um segundo de silêncio estranho mesmo com todo o barulho da faculdade. Ela abriu a boca pra dizer algo, mas não disse. Só lançou um olhar indecifrável — e voltou a atenção pra mulher.
Ana arregalou os olhos.
— Ih fudeu.
Fim do capítulo
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