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Dois Reinos por Natalia S Silva

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Palavras: 4963
Acessos: 1236   |  Postado em: 23/07/2025

Capitulo 1

Ao norte das Colinas Cinzentas, onde os campos verdes terminam em florestas espessas e frias, dois mundos se encaram através das fronteiras antigas de pedra e sangue. De um lado, o Reino de Valmont, próspero e elegante, onde os nobres governam em torres douradas e os salões são banhados pela luz dos candelabros de cristal. Do outro, o Domínio de Skarn, uma terra selvagem, de planaltos gélidos e florestas cerradas, onde os clãs bárbaros se reúnem em torno de fogueiras e aço ensanguentado. A paz entre eles é frágil, sustentada por tratados cuspidos entre dentes cerrados, e por uma ameaça mútua de guerra total que paira como uma tempestade prestes a romper.

 

 

O reino de Valmont é reinado Aldren Valemarch IV. Sua capital é Velmora, uma cidade de mármore branco e telhados de ardósia azul. O reino é rico de ouro, seda, especiarias do sul e cavalos puros-sangue.

 

Valmont é conhecido por sua civilização refinada, sua arte, suas pompas e seu sistema de castas nobres. Os campos férteis ao sul garantem colheitas abundantes, e os portos do leste mantêm rotas comerciais com os reinos longínquos de Saphira e Tolvar. Os nobres de Valmont vivem em mansões luxuosas, e suas famílias mantêm registros genealógicos que remontam a mil anos.

A religião dominante cultua o Deus-Sol, e seus templos brilham com cúpulas douradas em cada vila e cidade. O povo é educado, ordeiro, mas ressentido com os altos tributos cobrados para manter as muralhas e os exércitos. A Guarda real de Valmont é disciplinada, armada com armaduras reluzentes e lanças longas, treinada em estratégias de cerco e guerra de honra.

 

Rei Aldren é velho, mas astuto. Governando com diplomacia e cálculo, ele enxerga os bárbaros como selvagens perigosos, mas compreende que uma guerra aberta contra Skarn devastaria suas caravanas e isolaria o reino dos recursos das montanhas do norte.

 

 

 

 

 

 

Já o Domínio Skarn das Montanhas Negras, é liderado pelo rei Korgun de Tharn. Reino rico em ferro negro, peles raras, âmbar e guerreiros implacáveis.

Skarn é um território rude e indomado. Não há um rei por linhagem, mas sim um rei que venceu qualquer outro guerreiro que ousou desafiá-lo. Um rei de Skarn tem sangue nas mãos. 

Os bárbaros desprezam o luxo e a pompa, vivendo de forma dura, em cabanas simples em vilas fortificadas, onde a força é a lei.

 

Eles caçam, forjam espadas em fornalhas subterrâneas e extraem o ferro negro, um metal raro e mais resistente que o aço, muito cobiçado por mercadores de Valmont, embora a venda seja proibida por decreto do rei.

 

Korgun, com sua barba trançada com ossos de inimigos, é mais do que um rei, é um símbolo vivo de resistência. Respeitado por seu povo, ele sonha com a glória da antiga Skarn, antes da “Paz Fria” imposta por Valmont há vinte invernos, após a última guerra que devastou a fronteira. Ele nunca aceitou o tratado, apenas o tolera para evitar perder os jovens guerreiros em batalhas sem sentido.

 

 

 

 

 

Entre os dois reinos corre o Rio Vardek, profundo e gelado, atravessado por uma única ponte de pedra chamada Passo de Tristur, onde outrora ocorreram as maiores batalhas. Guardas de ambos os lados vigiam seus extremos, e ali ocorrem os raros encontros diplomáticos, ou as inevitáveis escaramuças entre patrulhas.

 

Os espiões de Valmont compram minério de ferro negro de contrabandistas, enquanto mercadores bárbaros arriscam cruzar fronteiras para vender âmbar bruto. Tais atos são considerados traições por ambos os lados.

 

 

A cada inverno, a paz parece mais fina que o gelo sobre o Vardek. E quando o sol retorna com força, as marchas militares e os tambores bárbaros soam mais altos.

 

Os reinos permanecem lado a lado, tão próximos quanto lâminas cruzadas, mantendo a paz não por amor ou entendimento, mas pelo medo de qual deles sangraria mais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Valmont, com toda sua ordem, pompa e tradição, guarda no sangue de sua Casa Real uma linhagem nobre e vigiada. O rei Aldren Valemarch IV, já velho e cercado por conselheiros e tensões políticas, tem cinco filhos, três homens e duas mulheres que disputam influência e prestígio enquanto esperam (ou temem) a sucessão ao trono.

 

 

O filho primogênito e herdeiro da coroa, é o príncipe Alric de 34 anos, casado e pai de dois filhos.

Alric é um homem leal ao pai, inflexível, devoto do Deus-Sol e da ordem tradicional de Valmont. Um homem honrado e rígido. Despreza mudanças e vê a política como uma arte da contenção.

Ele é o comandante da Guarda Real, é chamado de "Escudo de Valmont". Vive entre mapas de guerra e reuniões do Conselho.

 

Muitos o admiram, mas a família o ama. Sua autoridade pesa mais que sua empatia. Há quem diga que o povo teme seu futuro reinado mais do que o deseja.

 

 

O segundo filho do rei, é o príncipe Corwin de 29 anos.

O rapaz é belo, encantador e hábil com palavras. Vive entre festas, visitas diplomáticas e sedas do sul. Um homem amável, perspicaz, provocador. Tem mais amigos que aliados e mais sorrisos que promessas.

Embora finja desinteresse pelo trono, é mestre em formar alianças discretas e influenciar decisões sem parecer responsável por elas. 

 

O terceiro filho homem do rei, é o príncipe Teyrion, um rapaz de apenas 25 anos, silencioso, nascido sem pretensões ao trono, mas com uma mente aguçada. Mantém-se longe das atenções da corte, mas ouve tudo.

Um rapaz discreto, analítico, cauteloso. Prefere o silêncio ao discurso, os livros aos salões.

Pouco se fala dele, mas todos sabem que suas palavras chegam onde nenhuma espada alcança. Apesar da aparência apagada, tem influência entre magistrados, contadores, e jovens nobres de segunda linha, gente que não brilha, mas move as engrenagens do reino.

 

A filha mulher mais velha, é a princesa Maeryn de 27 anos, treinada para a diplomacia e o casamento político. É uma mulher firme, articulada e elegante. Domina os salões com um sorriso e embora viva rodeada de pretendentes, nunca se casou, talvez por ambição própria, talvez por um amor impossível ou uma promessa antiga.

 

 

Já a princesa mais jovem é Elsera de apenas 20 anos, criada entre música, dança e filosofia. Veste-se com discrição, fala com delicadeza, mas observa como uma águia. Gentil, reservada, inteligente. Não gosta de multidões nem disputas abertas. Prefere caminhar entre jardins e salões vazios.

Prometida ao jovem Timothy Edsgar, viu o rapaz morrer ainda muito jovem, antes do casamento, está à espera de um novo pretendente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As cúpulas douradas da torre oriental refletiam os últimos raios do sol quando os sinos da Ala de Banquetes soaram, anunciando a ceia real em Valmont. No Salão da Luz, onde centenas de velas tremeluzentes pendiam de lustres de cristal, a família real de Valmont se reunia em volta da longa mesa de carvalho escuro, polida como espelho. Tapeçarias bordadas com cenas das antigas vitórias da Casa Valmont adornavam as paredes, e os vitrais filtravam a luz em tons suaves de âmbar e safira.

 

O rei Aldren já estava sentado quando os filhos chegaram, envolto em um manto azul-escuro bordado com fios de ouro. Seus olhos esverdeados observavam tudo, atentos mesmo sob a aparência de serenidade. Seus dedos repousavam sobre o bastão de madeira negra, símbolo de sua autoridade, não porque precisasse dele para andar, mas porque ninguém se atrevia a ignorá-lo enquanto o segurava.

 

O primeiro a entrar foi príncipe Alric, impecável em sua túnica de veludo escuro com o broche da Guarda Real no peito. Cumprimentou o pai com uma reverência curta e seguiu até seu assento, sem desviar os olhos do protocolo.

 

Logo depois veio Corwin, sorridente, coberto em tons rubros e dourados, o colarinho aberto e o cabelo dourado ligeiramente solto. Passou a mão pelos ombros do irmão mais velho num gesto leve, quase provocador, antes de saudar o pai com charme.

 

Maeryn, como sempre, chegou pontual. Elegante num vestido de seda verde-musgo com bordas douradas, seu perfume era discreto e sua postura, impecável. Ela beijou a testa do pai, sorrindo com ternura ensaiada, e murmurou algo que o fez soltar um riso baixo, um som raro vindo de Aldren.

 

Teyrion entrou quase despercebido. Trajava vestes simples de cor vinho escura, e sua presença parecia mais sombra que corpo. Sentou-se num canto, entre Corwin e Alric, com um pequeno livro fechado sobre o colo, como se lamentasse ter que deixá-lo apenas por causa da comida.

 

Por fim, a princesa Elsera adentrou no salão com passos contidos, mas firmes. Seu vestido era de um azul profundo, de linhas suaves, sem joias chamativas. Ela saudou o pai com graça, sentando-se ao seu lado oposto. Seus olhos percorriam os irmãos com gentileza, mas estavam sempre atentos.

 

Os criados serviram as primeiras travessas, carne de cervo assada com mel de flor silvestre, sopas aromáticas de raízes do sul, pães amanteigados e figos secos com nozes e queijos brancos da casa Anselor.

 

As conversas começaram leves, como ditava a etiqueta.

 

 

(Maeryn) — As flores dos jardins do sul estão adiantadas este ano. — comentou Maeryn, cortando delicadamente um pedaço de pera cozida em vinho. — Parece que o inverno se curvou à vontade de Valmont, está quase chegando ao fim.

 

 

(Teyrion) — Ou está apenas tramando um retorno mais cruel. — retrucou Teyrion, sem olhar diretamente para ninguém. — As estações têm seu próprio ritmo, não obedecem à beleza nem à política.

 

 

(Corwin) — Falando em política… — interrompeu Corwin com um sorriso leve. — O embaixador de Tolvar quase caiu da sela ao ver Maeryn ontem no terraço. Se não fosse casado com três esposas, teria proposto ali mesmo.

 

 

Maeryn ergueu uma sobrancelha, divertida.

 

 

(Maeryn) — Tolvar envia embaixadores de olhos fracos e palavras doces. Que sorte não mandarem generais.

 

 

Aldren não riu, mas seus lábios curvaram-se ligeiramente. Bebeu um gole de vinho branco gelado antes de falar:

 

 

(Aldren) — Tolvar envia o que queremos, não o que tem. E saber manter essa ilusão é o nosso ofício.

 

 

Enquanto as risadas se espalhavam suavemente entre os irmãos, Alric permaneceu calado por um momento, observando todos. Quando finalmente falou, sua voz foi firme.

 

 

(Alric) — As patrulhas no Passo de Tristur detectaram movimento além do usual. O frio retira os caçadores, mas leva os contrabandistas à margem. Devemos reforçar o posto norte.

 

 

(Elsera) — Por que sempre guerra à mesa? — murmurou Elsera, dobrando o guardanapo. — Estamos fartos de aço nos corredores e mapas sobre as sobremesas.

 

 

Alric a fitou com respeito, mas sem ceder.

 

 

(Alric) — Porque é isso que nos mantém vivos. E jantando aqui, em vez de entre ruínas.

 

 

Corwin interveio, brincalhão.

 

 

(Corwin) — Paz, irmão. Estamos na companhia de peras ao vinho, e elas não apreciam discursos militares.

 

 

Teyrion riu baixo, de forma quase inaudível. Maeryn lançou um olhar a Alric, como quem avalia o equilíbrio de forças em silêncio. Aldren, com seus olhos como pedra antiga, observava todos, como sempre.

 

 

O jantar seguiu, entre risos contidos, comentários sobre reformas, o novo artista de rua que encantava as damas, o vestido de uma marquesa que caiu em plena escadaria do palácio. Entre essas amenidades, havia olhares que diziam mais do que palavras, alianças veladas, ressentimentos antigos, curiosidade sobre o silêncio de uns e o riso de outros.

 

E enquanto a última travessa era retirada, e os criados serviam um licor de amêndoas e cereja, o rei Aldren finalmente quebrou o silêncio prolongado:

 

 

(Aldren) — Não sei quantos desses jantares me restam. Mas espero que, quando eu não estiver mais aqui, vocês ainda se reúnam como hoje. E que a paz, ou o que fingimos ser paz, não dependa apenas da minha presença à mesa.

 

 

O salão ficou quieto por um instante. Não por tristeza, mas por verdade.

 

E então, como se o peso das palavras fosse também tradição, Corwin levantou a taça, sorrindo.

 

 

(Corwin) — Pelo Reino. Pelo sangue. E pelas peras ao vinho.

 

 

A taça do rei tocou a dele com um som leve, quase imperceptível.

 

Mas naquela noite, em meio a tantos risos sutis e promessas não ditas, os filhos de Valmont se lembraram que a mesa da família real era também um campo de batalha, com talheres de prata, sorrisos ensaiados… e olhos que nunca deixavam de pesar intenções.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No frio implacável do Domínio de Skarn, onde o sopro do vento corta como lâmina e a honra se prova no aço e no sangue, os filhos do rei Korgun de Tharn são forjados como espadas, duros, impiedosos e moldados pela violência do mundo que herdarão. Não há títulos de príncipe ou princesa entre eles. Lá, não se herda a coroa: conquista-se.

 

Korgun teve cinco filhos de três mulheres diferentes, todas guerreiras, e não oferece favores ou privilégios. Apenas respeito, conquistado em combate e coragem. Seus filhos não se vestem de ouro, mas de couro, peles e aço batido. São temidos pelos clãs, admirados pelos guerreiros e sussurrados pelos reinos vizinhos.

 

 

 

O filho mais velho de Korgun, é Dravak, de 36 anos. Líder de patrulhas, comandante em batalhas, tem o respeito de todos os clãs. É um homem severo, implacável em campo. Fala pouco, age rápido. Não questiona ordens, mas impõe as suas.

Alto de corpo largo, cicatrizes no rosto, barba espessa trançada com contas de âmbar. Usa um machado de duas lâminas forjado pelo próprio pai.

Apesar da fama, Dravak questiona o futuro de Skarn em silêncio, sabe que força bruta sozinha não vencerá a política de Valmont.

 

 

Já Jorun, tem 33 anos. O mais impulsivo, o mais traiçoeiro nas batalhas. Um lobo entre os homens. Feroz, instintivo, raivoso. Vive para o combate, despreza a diplomacia e acha o tratado de paz uma vergonha.

Tem raiva nos olhos, corpo coberto de tatuagens de guerra. Usa duas espadas curtas e veste apenas peles de lobo.

 

 

 

Varka, de 31 anos, é a única mulher entre os filhos de Korgun. Cresceu disputando tudo com os irmãos e vencendo mais vezes do que eles gostariam de admitir.

É uma guerreira orgulhosa, sagaz, feroz. Sabe usar palavras e armas com igual destreza. Não aceita piedade, nem do pai.

É a mais temida até entre os irmãos, já liderou batalhas, venceu torneios e matou um general valmontês aos 17 anos.

 

Há rumores de que mantém relacionamentos secretos com as mulheres de Skarn, mas ninguém nunca ousou perguntar.

 

 

Kael tem 29 anos, guerreiro de precisão e estratégia. É o mais calado, e talvez o mais perigoso. Reflexivo, frio, calculista. Fala apenas quando necessário, e ouve sempre. Cabelos escuros, olhos penetrantes, movimentos econômicos. Usa uma lança longa com ponta de ferro negro.

É o único que já esteve infiltrado em Valmont. Disfarçado, observou suas muralhas e fraquezas por um inverno inteiro.

 

Ragan é o caçula com apenas 24 anos, o mais jovem já provou seu valor em combate. Busca seu lugar entre os gigantes que são seus irmãos. Destemido, curioso, provocador. Ainda guarda o humor da juventude, mas conhece o peso do nome que carrega. 

Mais magro que os outros, mas ágil. Usa arco longo e espadas curtas. Tatuagens de guerra recentes ainda vermelhas na pele.

Sonha em unificar os reinos sob um ideal diferente, não só honra, mas sabedoria. Guarda mapas, histórias e poemas escondidos, aprendeu a ler com Kael.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Enquanto em Valmont e os filhos de Aldren trocam risos e cortesias ao redor de pratos refinados, o frio do norte já fechou a noite sobre as fortalezas de pedra negra de Skarn. Lá, na cidadela escarpada onde o vento uiva por entre as muralhas e o gelo se forma nos degraus de granito, não há banquetes, há fogo, carne, e sangue recente nos aços pendurados.

 

Na Grande Sala dos Clãs, o calor vem das brasas lançadas num braseiro central. As paredes de pedra carregam estandartes dos clãs juramentados e escudos partidos de inimigos vencidos. Acima, pendem esqueletos de bestas das montanhas, troféus que lembram que nada sobrevive ao inverno sem merecer.

 

Rei Korgun, senta-se na cadeira esculpida diretamente da rocha da montanha. A barba grossa entrelaçada com ossos de chefes caídos balança levemente quando ele respira, e seus olhos, escuros e fundos como cavernas, seguem atentos cada um de seus filhos.

 

Em volta da mesa rústica de madeira de pinheiro negro, os cinco herdeiros da guerra.

 

Dravak, o primogênito, está ao lado direito do pai. Usa apenas uma túnica de couro e pele, mesmo com o frio. Seu machado repousa ao alcance da mão, sobre a mesa, como sempre. Serve-se com lentidão, carne assada de javali, pão seco, cerveja amarga.

 

 

(Dravak) — Os homens do clã Varn reclamam das patrulhas de inverno. Dizem que suas trilhas foram cruzadas pelos homens de Kael.

 

 

Kael, mais à frente, ergue os olhos lentamente.

 

 

(Kael) — As trilhas não têm dono. E meus homens evitam as rotas principais para não assustar a caça. Se os Varn querem exclusividade, que escrevam um tratado em pedra.

 

 

Jorun, sentado do lado oposto, ri alto. A cabeça jogada para trás, a voz grave ecoando como trovão:

 

 

(Jorum) — Tratem a briga com os punhos e deixem os mapas para os velhotes de Valmont. Os Varn são fortes, mas frágeis de orgulho.

 

 

O rei mastiga devagar, sem interromper. Mas Varka, a única mulher à mesa, o faz por ele.

 

 

(Varka) — Essa conversa de trilha é distração de homens que têm medo de enfrentar o que está vindo. O gelo subiu, e os lobos se aproximam dos vilarejos. É isso que deve nos preocupar, não o ego de velhos chefes.

 

 

Ragan, o mais jovem, apoia o cotovelo na mesa e fala num tom quase provocador:

 

 

(Ragan) — Lobos sempre vêm. E sempre são mortos. Os Varn estão se armando, isso é mais perigoso do que lobos.

 

 

Dravak ergue o olhar. Seu tom é firme, mas sem raiva.

 

 

(Dravak) — Eles se armam porque sentem a fraqueza em torno da coroa. Eles sussurram nomes, Ragan. E o teu está entre eles. O meu também.

 

 

Silêncio. O fogo estala. Lá fora, o vento uiva.

 

 

Korgun finalmente fala, sua voz é grave, como se saísse das entranhas da montanha.

 

 

(Korgun) — Que sussurrem. Que testem. É assim que se forja um sucessor. Se não podem suportar os rumores, não merecem a liderança.

 

 

Ele fita os filhos com dureza.

 

 

(Korgun) — Eu não deixarei nenhum nome. Não deixarei um herdeiro. Quando eu cair, cairá com espada na mão aquele que tomar minha cadeira. Só um sentará aqui. Os outros… ajoelham ou morrem.

 

 

Varka não desvia o olhar.

 

 

(Varka) — Então me diga, pai: você ainda nos observa… ou já nos testa?

 

 

Korgun sorri. Um sorriso sem calor, de predador.

 

 

(Korgun) — Eu sempre testei.

 

 

Jorun estala os dedos, como se sentisse o sangue correr mais rápido.

 

 

(Jorun) — Que venha o teste. O gelo não espera. Nem eu.

 

 

Kael, calado até então, fala baixo:

 

 

(Kael) — Talvez o maior teste seja não levantar a espada.

 

 

Dravak bebe um gole longo de cerveja. Ragan fita os irmãos, como quem estuda o mapa de uma guerra ainda não traçada.

 

O braseiro chia com a madeira úmida. Lá fora, o som de tambores distantes. Um novo clã chegando para prestar tributo, ou para medir forças. Em Skarn, é difícil distinguir uma saudação de uma ameaça.

 

Naquela noite, não há risos longos, nem amenidades. Mas há algo mais antigo: tensão crua, respeito seco, e uma promessa silenciosa de que sangue, cedo ou tarde, será derramado.

 

Enquanto Valmont se embriaga de mel e música, Skarn se aquece com carne, silêncio e guerra não declarada.

 

E o trono de pedra escura… permanece vago. Esperando por aquele que ousar tomá-lo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O inverno está dominando os campos, a estação que cobrirá os reinos de Valmont e Skarn, traz consigo uma nova ameaça. 

A ameaça não vem do leste, nem do oeste, tampouco do sul, onde se estende o fértil e civilizado Reino de Valmont. Tampouco do gélido norte, domínio das fortalezas brutais de Skarn, forjado entre neves e aço.

 

A verdadeira ameaça vem do noroeste, de uma terra até então considerada inabitável, as Terras Sombrias de Dareth. Um território de penhascos negros, ventos de enxofre, vales de névoa e pedras rachadas pelo tempo. Por séculos, mapas marcavam essa região com desenhos de crânios ou apenas palavras vagas como “desconhecido” ou “intransponível”. Nenhum reino se importava. Acreditavam que nada vivia lá.

 

Mas agora, algo vive. Algo cresce. Algo marcha.

 

 

 

Os rumores dizem que não existe um povo a noroeste, e sim uma coalizão. 

Chamam de O Pacto de Dareth, uma aliança sombria forjada entre clãs selvagens exilados, tribos de homens de pele marcada por ferro e cicatrizes, e desertores de antigos reinos destruídos. Há quem diga que entre eles estão os últimos descendentes de um império caído chamado Ormath, que há séculos atrás dominava o norte da península até ser esmagado por suas próprias guerras civis. Os sobreviventes se esconderam sob as montanhas, se misturaram com bárbaros e degeneraram, mas não esqueceram.

 

 

Hoje, o Pacto de Dareth é liderado por um homem que os boatos chamam de "O Rei Esfolado", embora ninguém saiba seu nome verdadeiro. Dizem que ele usa a pele dos líderes derrotados como capa e que sua voz é mais fria que o aço de Skarn. Mas o que o torna temido não é apenas sua brutalidade, e sim sua visão estratégica. Ele uniu clãs que antes guerreavam entre si, organizou exércitos e construiu arsenais subterrâneos. Eles têm ferreiros que não dormem e cultivam o hábito de usar máscaras de ferro, para que não possam ser lidos.

 

 

 

 

Os primeiros sinais vieram não por mensageiros ou batalhas, mas por desaparecimentos. Pequenas fortalezas no norte de Skarn deixaram de responder. Vilarejos de caçadores que mantinham vigília nas passagens montanhosas simplesmente sumiram. Nenhum sinal de luta, apenas silêncio.

 

Os corvos enviados não voltaram. Patrulhas não retornavam. Os primeiros relatos foram desacreditados: “nevasca tardia”, “lobos famintos”. Mas então um único homem apareceu na fortaleza de Svarod, na fronteira mais alta de Skarn. Estava descalço, coberto de sangue congelado, e repetia apenas uma frase, até morrer de frio na madrugada seguinte:

 

 

“Eles vêm. Eles tomam tudo. E depois apagam o nome.”

 

 

Poucos dias depois, os primeiros corpos chegaram, lançados por catapultas improvisadas, como mensagens. Guerreiros de Skarn com as bocas costuradas, as mãos decepadas, e entalhado no peito, com ferro em brasa, o mesmo símbolo: um olho.

 

 

 

Esse inimigo veio devagar, tornando cada dia mais impossível ignorá-lo.

 

Valmont é um reino nobre, de tradições antigas, castelos de pedra clara e campos cultivados. Sua força está na cavalaria pesada, na diplomacia e nos exércitos disciplinados. Mas sua aristocracia está enfraquecida por disputas internas e alianças frágeis.

 

Skarn é rude, endurecido pelo frio e pela guerra constante. Seus soldados são treinados desde crianças, vivem para a luta. Mas o reino é fragmentado em clãs que obedecem o rei mais por tradição do que por lealdade.

 

 

Já o novo e misterioso O Pacto de Dareth não tem leis, nem nobreza, nem orgulho. Só tem fome. Um exército de soldados sujos, silenciosos, fanáticos, treinados para matar e desaparecer. Eles não conquistam, aniquilam e avançam.

 

 

 

 

Os rumores se espalham, em Valmont, um mercador do sul afirma ter visto uma caravana queimada no sopé das Montanhas Frias, com bandeiras desconhecidas hasteadas nos mastros de cadáveres empalados.

 

Em Skarn, os ventos trazem gritos durante a noite. Os caçadores se recusam a subir além da trilha negra. Um guerreiro veterano que retornou de uma expedição jura ter visto um campo de acampamento inimigo com tendas feitas de pele humana, e fogueiras sem fumaça.

 

Na capital de Valmont, chega um mapa antigo, recuperado de um estudioso exilado, onde constam ruínas de uma antiga cidade ormathiana chamada Thuran’Korr, próxima ao local de onde vêm os sinais. O mapa é manchado de sangue, e no verso, há palavras escritas com carvão:

 

 

 “Eles dormiram por cem anos. Agora, marcham.”

 

 

Nem Skarn nem Valmont agem de imediato. Ambos desconfiam um do outro. Pensam: “Será um truque?” ou “Talvez não seja nada.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Na câmara privada do rei Aldren, as janelas altas filtravam a luz dourada do entardecer, projetando sombras longas sobre os rostos tensos de seus filhos. As paredes de pedra fria pareciam mais próximas naquela noite, como se o próprio castelo escutasse. O brasão de Valmont, o sol resplandecente sobre fundo escarlate, tremulava silenciosamente ao vento. O rei sentava-se à cabeceira da longa mesa de carvalho, com as mãos entrelaçadas, os olhos fixos no mapa aberto à sua frente. No canto superior esquerdo, o noroeste, as terras sombrias de Dareth, envoltas em névoa e silêncio, estava marcado com pequenas bandeiras pretas.

 

 

(Aldren) — Não há mensageiros, nem patrulhas. Apenas rumores, sussurros de vilas vazias e cruzes queimadas nos campos de trigo. — disse o rei, a voz grave, quase soturna. 

 

 

Alric, em pé ao lado do mapa, os braços cruzados sobre a couraça reluzente, olhou o pai com o cenho carregado.

 

 

(Alric) — Com todo o respeito, pai... isso é superstição de camponês. O povo teme o escuro porque não entende o que há nele. A ausência de resposta pode ser apenas desorganização. Dareth nunca foi um reino.

 

 

(Elsera) — Mas e os desaparecimentos nas florestas? As vilas queimadas? — replicou Elsera com a voz calma, quase um sussurro, sentada próxima à lareira. 

 

 

Corwin, escorado casualmente na cadeira, com uma taça de vinho entre os dedos, deu um leve sorriso.

 

 

(Corwin) — E se for apenas medo alimentando medo? O silêncio se transforma em lenda. Não é isso que sempre acontece? Em Vardel, juram ter visto espectros rondando os campos. Em Lyssem, falam em maldições antigas. Cada aldeia inventa sua própria profecia.

 

 

(Alric) — Palavras são fáceis, Corwin. Mas não riscam as muralhas. — Alric voltou-se bruscamente para o irmão — Se esperarmos demais, poderemos descobrir que o inimigo não é feito de sombras, mas de aço. E teremos perdido o primeiro movimento.

 

 

(Teyrion) — E se for exatamente isso que eles querem? — rebateu Teyrion pela primeira vez, a voz firme e baixa. Seu rosto permanecia impassível, mas seus olhos estavam atentos. — Queimar vilarejos, desaparecer com mensageiros, instigar rumores. Tudo sem se revelar. Isso força-nos a agir no escuro. E quando movermos nossas forças... pode ser tarde demais.

 

 

O rei inclinou a cabeça para o filho do meio, avaliando-o em silêncio. Depois olhou para Maeryn, que observava tudo com os dedos cruzados sob o queixo.

 

 

(Aldren) — O Conselho de Eldros envia relatórios contraditórios. Em um dia dizem que não há nada, no outro, clamam por reforços. Isso não é coincidência. E as fronteiras de Skarn também estão silenciosas. Muito silenciosas.

 

 

Maeryn respirou fundo antes de responder, escolhendo as palavras com precisão.

 

 

(Maeryn) — Skarn nunca foi amiga de Dareth, mas tampouco confiável. Se há algo se movendo no noroeste, talvez Skarn veja uma oportunidade de nos desestabilizar, dividir nossa atenção. Podemos ser empurrados para um conflito com sombras e espectros... enquanto os verdadeiros inimigos observam do norte.

 

 

(Aldren) — Então é isso? — perguntou Aldren, encarando os filhos. — Estamos cercados de fantasmas? Rumores que se alimentam de nosso medo, de nossa hesitação? 

 

 

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. O crepitar do fogo era o único som.

 

 

(Alric) — Temos que nos preparar, pai — disse Alric com firmeza. — Reforçar a fronteira. Reabrir os postos de vigia. Mobilizar discretamente.

 

 

(Corwin) — Mas sem espalhar o pânico. — disse Corwin. — Nenhum povo marcha bem sob o peso do medo. Posso contatar os líderes das casas e buscar apoio diplomático com as casas de fronteira.

 

 

(Teyrion) — E eu farei o que sempre fiz. — completou Teyrion. — Escutarei. No silêncio, há mais verdades que nos gritos.

 

 

O rei se levantou com esforço. Parecia mais velho naquela noite. Mais cansado. Mas também mais decidido.

 

 

(Aldren) — Muito bem. Sejam céticos. Questionem. Mas não subestimem o vento que sopra do noroeste. Mesmo a sombra nasce de algo.

 

 

Eentão, com um gesto lento, Aldren apagou uma das velas do mapa que marcava a última torre de vigia no limite com Dareth.

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Espero que gostem. Vou tentar postar toda ela ainda essa semana. 

Bjs


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Comentários para 1 - Capitulo 1:
NICOLY S
NICOLY S

Em: 24/07/2025

Oii autora comecei a ler e já amei, gosto desse tipo de história épica me amarro muito,espero que continue postando pois ficaria muito triste se não tiver mais capítulos estou ansiosa pela continuação!A história tem profundidade e é bem escrito não é algo superficial e mais do mesmo que vemos por aí...realmente vale a pena continuar viu? 


Natalia S Silva

Natalia S Silva Em: 24/07/2025 Autora da história
Não se preocupe, a história está completa, logo posto mais.
Obrigada


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